sexta-feira, setembro 16, 2022

O Dinheiro. IV - A outra Face da Moeda




 Voltamos a Aristóteles. É a maior fonte da Antiguidade, por duas razões: é o maior colector e organizador de tudo o que está antes de si; é o maior influenciador de tudo o que vem depois de si. A sua sombra tutora não atravessou séculos, atravessou milénios. Foi a Autoridade do mundo até à Idade Moderna, e foi contra ele que se ergueu a modernidade. Da minha parte só posso dizer uma coisa sobretodas simbólica: de todos os humanos que de algum modo conheci, vivos e mortos, Aristóteles é o único com quem não me atreveria, em modo ou tempo algum, a discutir. É o mestre absoluto. E notem que não sou apenas um gajo de exageros e hipérboles: tenho, desde pequenino, uma noção feroz de justiça. E de saber reconhecer a grandeza quando a vejo. Diante de Aristóteles é como diante de Bach ou da catedral de Chartres. Perdão pela franqueza, mas sobre isto ficamos conversados.

A seguir, um pequeno tratado de economia, válido até aos dias de hoje. Leiam com atenção e depois meditem: isto foi escrito há quase 25 séculos. Do resto, falamos a seguir...


«Nas relações de troca que têm por quadro a comunidade, é este tipo de justo, o recíproco, é verdade, segundo a proporção e não na base de uma estrita igualdade, que mantém a dita comunidade. O que faz subsistir a cidade é o facto de dar na proporção do que se recebeu. Fizeram-nos mal? procuramos retribuir, e se tal não for possível sentimo-nos na situação de um escravo. Fizeram-nos bem? Se não retribuirmos, deixa de haver comunicação, e, no entanto, é a comunicação que nos liga inabalavelmente uns aos outros.

Eis também porque se ergue um templo às Graças (charites) num local onde esteja ao alcance de todas: é para ensinar a retribuir os benefícios recebidos. É isso que é próprio da graça: é preciso Não só pagar na mesma moeda àquele que deu prova de graciosidade, mas ainda tomar por si próprio a iniciativa dum gesto gracioso. O que torna esta troca conforme a proporção é a adição dos termos diametralmente opostos.

Um exemplo: seja A um arquitecto, B um sapateiro, C uma casa e D um par de sapatos. O problema é, pois, este:  arquitecto deve receber do sapateiro o trabalho deste e dar-lhe em troca o seu próprio trabalho. Estabelecendo, em primeiro lugar, a igualdade proporcional destes diferentes produtos e realizando, em seguida, a reciprocidade, obter-se-á o resultado acima mencionado. Senão o mercado não será equilibrado e a comunidade não subsistirá. Nada impede, com efeito, que o trabalho, de um tenha mais valor do que o mercado de outro, e, neste caso, é necessário restabelecer-lhes a igualdade [no sentido do equilíbrio entre os pratos duma balança*].

Isto é igualmente válido para os outros ofícios: estes estariam em perigo se o que o consumidor consome não fosse, em quantidade e qualidade, o mesmo que o consumidor produz. Pois, não são dois médicos que constituem uma comunidade, mas um médico e um cultivador, digamos em geral diferentes e não iguais, mas que é necessário equalizar entre si para que possam entrar em tratos.

Também todos os bens que são objecto de troca devem ser comparáveis, de uma ou de outra maneira. Foi por isso que se colocou em circulação a moeda, a qual se tornou de qualquer forma um meio termo (méson): mede todas as coisas e também, por conseguinte, o excesso e o defeito, permite igualmente estabelecer quantos pares de sapatos são necessários para fazer o equivalente a uma casa ou a uma dada quantidade de comida. É preciso, pois, que a relação que existe entre um arquitecto e um sapateiro se encontre entre tantos pares de sapatos e uma casa (ou dada quantidade de comida). De outro modo não haverá nem troca, nem comunidade. Ora, esta troca só poderá ter lugar se os produtos forem iguais de uma certa maneira. É preciso, pois, como dissemos mais acima, que uma única unidade possa medir todos os produtos. Ora, o que esta unidade comum mede é, de facto, a necessidade, que mantém tudo interligado. Supondo, com efeito, que não se tenha qualquer necessidade, ou que as necessidades não sejam idênticas, a troca seria então nula, ou efectuar-se-ia de maneira diferente. Mas foi como substituto da necessidade e por convenção [a tal "ficção"**] que se fez a moeda. Se ela tem o nome de moeda (nómisma), é justamente porque não existe de forma inata, mas por costume convencional (nomos), tendo nós o direito de mudar o seu valor ou de o suprimir. Haverá, pois, reciprocidade quando as mercadorias forem equalizadas, de forma que a relação existente entre um cultivador e um sapateiro se possa encontrar entre o trabalho do cultivador e o do sapateiro [...] É a necessidade que, ao fornecer de algum modo uma unidade comum, mantém tudo interligado. Isto é evidente: se a necessidade recíproca vier a desaparecer - por as duas partes ou unicamente uma delas não tiverem qualquer necessidade -, a troca já não pode efectuar-se. O mesmo acontece se alguém tem necessidade do que não possui pessoalmente - por exemplo, de vinho - e propõe em troca uma licença de exportação de trigo. É preciso pois chegar aqui à equalização das necessidades. É preciso, por outro lado, pensar nas trocas futuras. Se de momento não se tem qualquer necessidade, o dia virá em que tal acontecerá e em que a troca será possível; é preciso, pois, que a moeda seja para nós a caução, porque aquele que dá deve poder receber. Sem dúvida, mesmo a moeda está sujeita a variações, o seu poder de compra não é sempre o mesmo, mas tende, pelo menos, para uma grande estabilidade. É preciso, pois, que todas as coisas sejam apreciadas, é assim que se tornará possível efectuar a troca em qualquer altura e, por consequência, a comunidade. Na verdade, é impossível tornar comensuráveis coisas tão diferentes; mas pode fazer-se convenientemente se se tiver em atenção a necessidade. É-nos, pois, precisa uma certa unidade, e esta unidade não pode ser estabelecida a não ser por convenção. Eis porque se chama moeda. A moeda torna todas as coisas comensuráveis. Não há associação sem troca; não há trocas sem igualdade; não há equalização sem comensurabilidade. Seja A uma casa; B dez minas; C uma cama. A é metade de B, se supusermos que a casa tem um valor de dez minas, quer dizer, igual a cinco minas, e a cama C é um décimo de B. Quantas camas são necessárias para obter um valor igual ao da casa? É evidente que são necessárias cinco. É manifesto que era desta maneira que se operavam as trocas antes de ser instituída a moeda. E, de facto, trocar cinco camas por uma casa ou trocar o seu equivalente em dinheiro por essa mesma casa, acaba por ser a mesma coisa.»

  - Aristóteles, "Ética a Nicómaco" (V)


Dois mandamentos apenas fundaram a Civilização Grega e, decorrentemente,  a nossa, pelo menos até ao seu óbito: "Haja medida; e "conhece-te a ti mesmo".

Num dos diálogos de Platão, visita-se o sofista mais famoso da sua época - Protágoras. Dizia, de sua justiça, que o "homem é a medida de todas as coisas".

Neste texto, em epígrafe, Aristóteles afirma que a moeda (nómisma) é a medida (méson) de todas as coisas. É através dela que a comunidade equaliza/equilibra (pesa) as relações de necessidade recíproca que a congrega. Este será, dito num certo sentido, o emprego natural e justo da moeda. Realço que o Livro V, da Ética, onde o texto se insere, versa sobre a Justiça. Não menos curioso é o termo grego para a tal equalização: omoios. O mesmo termo, noutro contexto, com que os Espartanos se designavam entre si (os semelhantes). Se alguma vez vos interrogastes sobre a origem da palavra "homem", aí o tendes. Não vem do antropos, nem do andros grego. Vem do omoios (e viaja pelo Homo latino). O mapa do labirinto do Mundo está registado nas palavras. Tanto na sua face luminosa, como na sua face negra (que, na decadência, se mascara de iluminada). E não é por acaso que na língua grega as palavras, regra geral, eram ambíguas e dissemânticas: tem a ver com a tal medida - a coisa no seu defeito e no seu excesso. Aquele que mede busca, justamente, a justa medida da coisa. Sem isso não há, como diz o Filósofo, possibilidade de comunicação. Sociabilidade, entenda-se.

E não é isso que fazemos, aqui, à nossa medida: comunicação?  E que dou eu, e que recebo em troca? Releiam, sff, aquele parágrafo, lá acima, sobre as Graças. Um blogue também pode ser um acto de "charites".


* - Nota minha para ajudar à compreensão.

** - Idem



27 comentários:

Anónimo disse...

No dia em que perceberem que moeda é dívida... deixam de ser goyins.

A moeda é apenas uma forma de dinheiro de entre várias. Já foi "moeda" uma concha, um pedaço de marfim, sementes etc. O cunho oficial, seja em metal ou papel, surge para instituir um meio de pagamento, alegadamente confiável. A moeda vale pela confiança que todos depositam nela. Ou não.

O fundamento para cunhar moedas ou papel por parte das autoridades surge para poder pagar (dívidas). A primeira moeda oficial foi um título de câmbio de dívida (ou uma confissão de dívida). O titular desse título tinha direitos de saque sobre o devedor.

A passagem da emissão de títulos para a cunhagem de moeda foi decorrente. Pagar dívidas atribuindo a um metal um cunho real.





Vivendi disse...

Salazar conhecia a lição de Aristóteles e fez do Escudo Ouro uma prosperidade inominável e invulgar em acordo com os princípios acima mencionados.

Não foi à toa que no 25 de Abril de 74 estava um barco da Nato nas águas do Tejo e que "... Os cravos vermelhos são, desde o Séc. XIX, um dos principais símbolos dos Rothschilds e dos banqueiros da City de Londres. Simbolizam o poder da banca internacional, como muito bem é caracterizado no final do filme «Mary Poppins»

No dia 26 de Abril o nível de economia em Portugal desceu para isto:

Qual é o valor da tua farramenta?
https://www.youtube.com/watch?v=rlt99WD2UeI

passante disse...

> Um blogue também pode ser uma acto de "caridade".

Donde a frase "Já dei para esse peditório" ...

Piadas à parte, leio com interesse a visita aos clássicos. Aristóteles, tal como Pitágoras (nas partes não culinárias), faz parte das fundações da infraestrutura da vida contemporânea.

O que empilharam em cima de ambos (como por exemplo isto: https://en.wikipedia.org/wiki/Black%E2%80%93Scholes_model) é que é debatível. Como a construção pode começar igualmente para um templo gracioso ou uma prisão tenebrosa. Ou mesmo um manicómio delirante.

dragão disse...

Espero que não tenha interpretado "caridade" no sentido actual do termo...


Quanto ao que empilham em cima da Antiguidade Clássica... Bem, normalmente, entulho. Construção disto ou daquilo é só um baldado optimismo. O ramo instalado é mais demolições.

dragão disse...

pelo sim, pelo não, já alterei. :O)

Senão a gentileza ainda passa por arrotância, e ora chapéu!...

dragão disse...

Outra coisa, ó caro Passante, vá afiando a farpa que o seu amigo Platão não tarda muito e está aí a desfilar.

passante disse...

Não, li o que escreveu. Eros, caritas, agape, essas coisas. (Já não fui a tempo de instrução em grego na escola, e o latim foi tão de raspão que nem tocou num cabelo.)

Tinha guardado esta "street view" para apresentar aqui: https://www.google.com/maps/@38.7085394,-9.1390233,3a,75y,66.17h,119.65t/data=!3m6!1e1!3m4!1snASqgL-znMqfS3u2nhsV_A!2e0!7i16384!8i8192

A Igreja de S.Julião tornou-se Museu do Dinheiro, um anexo do Banco de Portugal. Meh, porque não, os romanos tinham o templo de Juno Moneta ... isto mais bezerro de ouro, menos bezerro de ouro ...

Um dia destes mande aí o holofote aristotélico à usura, os que são contra e a favor, e os que pularam a cerca aí pelo século XVI. Coincidências do catano.

dragão disse...

«Um dia destes mande aí o holofote aristotélico à usura,»

Podia lá faltar eu a uma coisa dessas!... Vou eu, o Aristóteles e o discípulo mais famoso dele, aquele tipo de Aquino. Pode guardar uma mesinha.

Essa "igreja" demolida, se não estou em erro, julgo que não, era um parque de estacionamento aqui há um par de anos atrás...

Também fizeram um palramento/manjedoura do antigo Mosteiro de S.Bento e isso, sim, isso é que foi crime de lesa-património!...E Pátria.

muja disse...

Um tratado e muito bem tratado.

Mas que parece estar em alguma contradição com o que foi mostrado atrás.

Pois o que se diz aqui é que a moeda é necessária pela comensurabilidade que fornece, através da qual se pode dispensar a cada um conforme a justiça.

Ora, se, como atrás se disse, os primitivos trocavam directamente e os, então, modernos usavam a convenção monetária por ser necessária à comunidade, parece que podemos depreender que a moeda se torna necessária a partir de um certo ponto intermédio.

Por outro lado, se a convenção monetária é necessária a um certo tipo de sociedade, não se tira daí que a sua manutenção é um dever e atributo de quem a rege? Mais, no caso em que não exista, não é dever do regedor instituí-la e fazê-la aceitar por todos?

Estamos, então, perante a tal ambiguidade grega? A moeda boa e a moeda má. A moeda má filha dos comerciantes e das lídias solteiras, e a moeda boa meio da justiça e da sociabilidade?

Afinal de contas, eu não andava assim tão arrepiado do mestre absoluto...

dragão disse...

Acho que está a chegar lá, Muja.

«Mas que parece estar em alguma contradição com o que foi mostrado atrás.»
E a fonte foi a mesma: Aristóteles.
Mas não é contradição: é plenitude.
As duas faces da moeda. O assim e o assado.

É como a ambiguidade da palavra - remédio/veneno. Se em excesso, veneno; se na justa dose, remédio. O bem e o mal coabitam em todas as coisas.
Dizia o Aristóteles que ninguém falha completamente uma porta.
Porque ao contrário de Platão, não atira com o Ser para o Além. Para Aristóteles, manifesta-se através da coisas naturais (nas causas e princípios) e no que delas decorre naturalmente. Ou seja o ser e o não ser estão em cada coisa, como acto e potência. Daí a tal "metabole"/mudança. Trans-formação.
No Homem é o agir que realiza ou desrealiza a sua potencialidade. Ou seja, é na medida em que usa o dinheiro para se realizar como homem, que ele é justamente usado (e nesse sentido é boa moeda), ou que usa o dinheiro para realizar dinheiro, mais e mais dinheiro, sem limite nem, propriamente dito, sentido... (e aí a "má moeda")
Repare que a cidade/polis constitui uma sociedade. Os cidadãos são sócios. A sociedade política antecede, em larga escala, a sociedade comercial. Idem para o con-trato político. As pessoas tratam entre si, trocam, entreajudam-se e entreamparam-se. Prestam serviço umas às outras. Comunicam - é isso que faz a comunidade. A ausência de trato equivale à ausência de comunicação. Não se pode conviver com gente intratável (eu sou um bocado intratável, reconheço). Ora, o homem realiza-se na sociedade e para a sociedade tanto quanto em si e para si. Polis e Ethos. A essência/justa medida do nómisma/dinheiro é servir a sociedade, equalizar os "con-tratos", equilibrar; não é explorar/especular e, aceleradamente, desequilibrar as relações.
Daí a minha sacanice de falar no dinheiro das raparigas solteiras ou dos negociantes... Como contraponto. As duas faces da mesma moeda: o dinheiro por serviço prestado; o dinheiro por estrito negócio, para fazer mais dinheiro.
Mas note-se que o negócio não é necessariamente mau: tudo depende da apreciação, aquilo que Tomás de Aquino chamará séculos adiante o "preço justo". Mesmo "mau" (e lá iremos com artilharia pesada) é a especulação e a usura. A história da literatura ocidental nunca mais se cansará de mostrar o usurário (e o judeu herdará esse trono) como o tipo absolutamente intratável e associal (sociopata, em bom rigor).

dragão disse...

Última nota:

As generalizações nunca funcionam. Nunca há uma lei geral nestas coisas. Interessa-me a Grécia porque tudo começou lá - o "monetarismo" foi em primeiro lugar uma "nomismática".
Mas a Grécia não é toda igual. Cada cidade um caso.
Durante séculos a doutrina instalada na história ligava a origem da moeda ao comércio. Era sssim. No último século, julgo que influenciado pelos tipos das "mentalidades", passou-se a ver outras questões. Aquela leitora "misteriosa" elencou algumas pistas dessa perspectiva, que, em justa medida, não desconsidero (só não embarco em misticismos exorbitantes e paralelismos deslocados). É o assado. Depois, vai-se a ver, em muitas cidades gregas, até nos jónios que , julga-se, foi quem deu o maior impulso inicial à troca monetária extramuros, não há de facto sinais de moedas correspondentes às rotas comerciais. Ah, então a moeda, se calhar, não estava tão ligada ao comércio como se estipulou durante milénios. Vamos lá rever. Todavia, a esta nova tese revisionista, irrompe uma excepção do tamanho da nova regra: Atenas. Existem moedas em barda por todas as rotas. Ah, se calhar é porque eram de metal valioso e importavam-nas por isso. Não colhe. Todas as outras também eram valiosas. Até o electron era uma mistura natural ouro/prata, não era exactamente pechisbeque.
Tudo isto par dizer o quê? Que o "é assim" ou "é assado" não funcionam. É assim e assado. Com variantes, cambiantes e singularidades.
Quanto aos tais soberanos. É assim na Idade Média, mas também não é igual em toda a parte. Em França, os reis concederam privilégio de cunhar moeda a alguns nobres. Em Portugal, isso nunca aconteceu. Nem pensar. Por isso, eles tiveram aquela cena corta-cabeças e nós não.
Voltando a Atenas - para o bem e o mal, Mãe Atenas: Solon, o grande legislador, foi o primeiro a lançar um "Tributo de senhoriagem" sobre a cunhação de moeda. Estamos, sensivelmente, no séc VI aC; é o governo que cunha a moeda e faz disso, pela primeira vez, uma fonte de receita. Tornou-se, depois, moda, e nasceu aí. As coisas não irrompem já feitas, nem assim, nem assado: vão-se fazendo. :O)

Vivendi disse...

Brilhante explanação, Dragão!

Já é um Mestre de economia porque soube interpretar os melhores mestres.

"Repare que a cidade/polis constitui uma sociedade. Os cidadãos são sócios. A sociedade política antecede, em larga escala, a sociedade comercial. Idem para o con-trato político. As pessoas tratam entre si, trocam, entreajudam-se e entreamparam-se. Prestam serviço umas às outras. Comunicam - é isso que faz a comunidade."

Neste mesmo princípio, o Escudo Ouro fez maravilhas em África, ide ver no YouTube como era Angola e Moçambique nos anos 60.

dragão disse...

«Já é um Mestre de economia porque soube interpretar os melhores mestres»

Nem de filosofia, quanto mais de economia!... :O)

Apenas tenho paixão por estas coisas. E sobre as maravilhas de África tenho uma pequena vantagem: não preciso de ir ao Youtube. Cabora Bassa, por exemplo.

muja disse...

Bom, mas eu não me baseio em nenhum revisionismo, julgo. Baseio-me numa definição que me parece verdadeira e tento entendê-la e ver se se segura mediante a História. E de boa fé porque na realidade não sabia se se aguentava. Mas estou convencido que sim pelo menos em parte.

O facto é que as primeiras moedas que se conhecem, as tais atribuídas à Lídia (pré-Creso) são em electrum que não corresponde ao natural que se lá achava. O natural de lá era 70% ouro e as moedas não passam os ~50%. E a razão da mistura varia bastante, ao passo que o peso e o sinal, não. Isto sugere que a moeda já tinha valor fixo acima do metal, porque abaixo seria absurdo.

Como é que moeda sobrevalorizada entra gradualmente em circulação? Não entra. Tem de ser imposta, parece-me. Ou seja, tem de vir do estado, sempre.

De resto, julgo que isto é coerente com a filosofia exposta: a moeda torna-se, a certo ponto, uma necessidade da sociedade cujo estado tem o dever de estabelecer e administrar; o que faz, em simultaneo, surgir o aproveitamento da dita para os fins menos nobres dos comerciantes.

muja disse...

E vejo mais coerência ainda entre essa noção de equalização dos contratos e a parte da “minha” definição que diz ser a moeda um título, o que me parece verdadeiro. É uma convenção (a tal ficção) que entitula alguém a alguma coisa concreta. Ou seja, que não é dinheiro.

Mas a que coisa concreta? À justa medida equilibradora do con-trato?

Mas a partir daqui já é outra vez metafísica a mais para a minha camioneta. Um título é propriedade? É um bem?

muja disse...

Por tudo isto me parece duvidoso e incoerente que um meio de justiça e equilíbrio social houvesse de surgir daqueles que exercem a actividade mais dada ao desequilíbrio e excesso por não ter limite natural.

Deus escreve direito por linhas tortas? Se se for por aí, de facto…

Anónimo disse...

O Aristóteles é mesmo o maior filósofo e a Ética a Nicómaco ainda agora a ofereci, como prenda de aniversário, ao meu "pimpolho".

dragão disse...

Não é forçoso que venha do estado porque o "estado" nem sequer é a entidade superior. :O)

Vossência, caso católico seja, quando agradece à mesa antes da refeição... Agradece ao "Estado"?...

Quanto ao resto, mais ou menos isso. Mas acompanhe os próximos capítulos. Vai ver que não perde nada.

muja disse...

Não seja assim, onde está a charite nessa interpretação?

Tem razão, não dou graças ao estado. Dou graças a Santo António… Oliveira.

Ahahahah!

dragão disse...

Está a fugir à pergunta. E a pergunta é séria.

Então na Antiguidade...

Mais charites é difícil. :O)

dragão disse...

Ou tem medo da palavra?

muja disse...

Medo da palavra, qual? Deus? Da palavra não, da entidade tenho, não diria medo, mas temor. Embora não tanto quanto deveria, dir-me-ia um padre, se eu lhe perguntasse…

Eu digo estado, rei, soberano, para indicar quem governa, simplesmente - as autoridades públicas, vá. E, no caso, em contraste com os comerciantes.

dragão disse...

Agora vou dormir. A ver se amanhã volto a atacar. Como o Bruce.

Entretanto, uma aposta: a dama mistério não vai resistir ao próximo. :O))


PS: Não é falta de olfacto, é mesmo falta de memória. E das grandes. Veja lá que enterrei o machado e esqueci-me completamente do sítio!...

muja disse...

Memória? Uma das componentes da Prudência, li eu há pouco tempo…

A dama mistério? Eu chamar-lhe-ia Z. Que é uma letra bonita e em voga ultimamente… Ahahahah!

muja disse...

Também eu. Boa noite, e obrigado pela charite!

dragão disse...

João, 19, 10-11

Z-Z (Zhang Ziyi) disse...

Antes de estar ligada a rotas comerciais e ser moeda, era efígie/medalha não cunhada com função de troca comercial.

Quando se cunhou foi para prova de depósito bancário (inventado na Suméria com tabuinhas de barro)

Cá fico à espera do Platão.