quarta-feira, novembro 26, 2008

Vasos comunicantes



Em 1913, o Frankfurter Zeitung, reportava detalhadamente as ideias dum milionário americano (um tal Edward Albert Filene) em digressão "evangelizante" pela Europa. Proclamara, então, o dito cujo, por alturas dum banquete com altas individualidades europeias da época:
«Experimentamos um grande movimento histórico, que culminará na transferância do poder deste mundo moderno para os representantes do capital comercial. Somos as pessoas que carregam a maior responsabilidade no mundo e devemos, por conseguinte, deter, politicamente, as maiores influências.
A democracia está a crescer, o poder das massas está a aumentar. O custo de vida está a subir. O parlamentarismo e os jornais, distribuídos em milhões de cópias cada dia, estão a fornecer às massas populares informação cada vez mais detalhada.
As massas esforçam-se por alcançar maior participação na vida política, com a extensão do sufrágio e a introdução duma taxa sobre rendimentos, etc. O poder em todo o mundo deve transferir-se para as mãos das massas, isto é, para as mãos dos nossos empregados.
Os líderes naturais das massas devem ser os industriais e os comerciantes, que, em cada dia, aprendem mais e mais sobre a comunidade dos seus interesses e dos interesses das massas.
Aumento salarial, melhoria das condições laborais, eis o que atará a nós os nossos trabalhadores, e será o que garantirá o nosso poder sobre todo o mundo. Todo aquele no planeta que dispuser de algum talento virá ter connosco de modo a entrar ao nosso serviço.
Precisamos de organização e mais organização - organização forte e democrática, quer nacional, quer internacional. Devemos unir os comerciantes e industriais de todo o mundo civilizado numa única e poderosa organização. Quaisquer problemas internacionais importantes devem ser discutidos e resolvidos por esta organização.»

Todavia, o mais curioso deste discurso, além da profícua premonição nele esboçada, é que ocasionou o seguinte comentário num jornal da época:

«São estas as ideias de um "capitalista avançado", o sr. Filene. O leitor poderá constatar que tais ideias são uma diminuta, estreita, parcial e egoísta aproximação às ideias do Marxismo, propostas há cerca de sessenta anos atrás. "Nós" somos grandes mestres em censurar e refutar Marx; "nós", os mercadores civilizados e os professores de economia política, refutámo-lo completamente!... Mas, ao mesmo tempo, nós roubamos pequenas partes e peças dele e apresentamo-las ao mundo inteiro como marca do nosso "progressismo".»

Quem era este colunista que denunciava esta absorção parcial do Marxismo pela vanguarda capitalista? Não era um leigo qualquer. Ainda não adivinharam? Eu digo: Lenine. No Rabochaya Pravda, de Julho de 1913.
Há uma grande facilidade de hibridação entre bostas. Ou vasos comunicantes.
A razão porque capitalismo e comunismo são substância do mesmo saco tem uma definição exacta: materialismo. Materialismo puro e duro.
Nota: a data de 1813, para a notícia no Frankurter Zeitung, obviamente, era gralha. De apenas 100 anos.

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