quarta-feira, abril 04, 2007

O escape humano

O fundamentalismo anti-tabágico deu-lhes forte. Por este andar, qualquer dia é mais grave deitar fogo a um cigarro do que deitar fogo a uma mata. O que, convenhamos, num país onde a polícia vigia e reprime com mais empenho o estacionamento dos automóveis do que os crimes contra as pessoas comuns, até nem é de espantar.
Além do mais, pergunto-mo se isto não acarretará riscos acrescidos no Verão...
Com os fumadores a serem claramente escorraçados dos grandes centros urbanos, tudo indica que, à semelhança dos bandoleiros de outras épocas, tenham que refugiar-se nas montanhas e florestas. Ora, isso é o mesmo que proibi-los de fumar em cafés ou restaurantes e mandá-los fumar para paióis. Como de costume, não se augura nada de bom para estes fornicoques fitossanitários e socio-pasteurizantes. Tanta esquisitice com o fumo das pequenas chaminés humanas, ainda acaba a asfixiar - vilas e cidades - com o fumo negro dos grandes incêndios.
Ou então, cenário ainda mais extravagante, não passa tudo duma forma encapotada de repovoar o país. Sim, não deve tardar muito para que, nas placas de berma de estrada que anunciam o início das localidades, logo abaixo do nome das ditas, surja o símbolo de interdição fumegante. Ou mesmo nas placas de aproximação ou orientação. Por exemplo: "Lisboa, 32 km, proibido fumar".
Até já estou a imaginar o Caguinchas, de charuto em riste, ao volante dum chaveco qualquer emprestado, a discutir com o xerife de guarda às portas da cidade.
-"Não posso entrar?! mas porque c****** é que não posso entrar?!!..."
-"O senhor está a fumar. O senhor, pelos vistos, fuma. Se quer entrar, vai ter que apagar o charuto e eu vou ter que lhe confiscar todo e qualquer tabaco que transporte consigo! Caso contrário, não entra! Está na lei, quer que lhe mostre? Forasteiro ou cidadão armados de cigarro, charuto ou cigarrilha, só entram depois de entregarem as armas à autoridade."
-"Ai sim? bonito!... E posso entrar de carro ou vou ter que entrar apeado?..."
-"Pode entrar de carro, obviamente. Não é proibido conduzir, só é proibido fumar."
-"Quer-se dizer, o carro pode fumar à vontade; só eu é que não posso!... Ora c******! Ora c*** da tia!!"

Depois disto, o Caguinchas, furibundíssimo, disposto a sabe-se lá que clandestinidades, viria ter comigo e presentear-me-ia com desabafos do estilo:
-"Dragão, isto está mais fodido do que eu pensava. Agora já não são só os extraterrestres que nos usurparam os bons cargos todos. Agora, vê lá tu bem, até as putas das máquinas já têm mais direitos e liberdades que nós!"
Ao que eu ripostaria, duplamente sardónico:
-"Ora, ora, ó Caguinchas, já devias saber: não é proibido poluir, só é proibido fumar. 'Bora mas é assar sardinhas!... "

Sem comentários: