Quem o diz, preto no branco, é Bertrand Russel (capítulo XV da sua História da Filosofia Ocidental):
«Os herdeiros de Locke são: primeiro, Berckeley e Hume; segundo, os philosophes franceses que não pertencem à escola de Rousseau; terceiro, Bentham e os radicais filosóficos; quarto, com acrescentos importantes da filosofia continental, Marx e os seus discípulos.»
Pois é, entra pelos olhos adentro. E também sai, embora ainda mais raramente. Só não vêem os papalvos on-line e toda a sua orbe de jóqueis gurus. Da esquerda Barnabé à esquerda Barnabu (aka "direita liquefeita", aliás "direita milk-shake", aliás "direita ultra-pasteurizada", vulgo "direita liberal"), passando pela esquerda botox, a paleoesquerda e a direita murcha, é tudo vergôntea (ou enxerto) da mesma cepa. Pertence tudo à confraria da capela de São João Locke. Empirotecnia militante!...
Se não valia bem mais que empirassem copos!...
8 comentários:
Eehehe... Ora ai está, nem mais!
Voltaremos.
mas que grande verdade tão bem rcordada!
Já se 'recorre' a Russel?!
Está bonito isto, está!
Aguardo,não sentado, mas de pé, encostado aqui ao balcão da taberna, a "declaração de apostasia" do nosso "ab".
De memória e simplificando bué (como diria a Zazie :)) o pensamento de Locke, podemos considerar que as ideias fundamentais são:
1 - Defesa dos Direitos Naturais: Vida, Liberdade e Propriedade
2 - Noção de Governo com o consentimento dos governados (e subjacente direito à 'rebelião')
3 - A ideia de que o Homem é naturalmente Racional e Tolerante.
Subscrevo o ponto 1.
Subscrevo (latu sensu) o ponto 2.
No ponto 3 é que o eminente filósofo se equivocou completamente.
Na realidade, todos nós andamos ainda de volta do ponto 3 (a 'natureza humana') e da panóplia de problemas por ele originados.
Começo a convencer-me que o problema é insolúvel pois, por natureza, sou mais pessimista que Locke.
O Homem nem sequer é estruturalmente democrata.
A dita só se propagou e se mantem porque existe hoje a plena noção de que as alternativas (sobretudo as que nos foram 'servidas' no séc.XX) conseguem a proeza de serem bastante piores.
PS - Se Marx pegou nas teorias de Locke sobre a propriedade e as inverteu e 'estropiou'....isso não é culpa de Locke.
Vá para lá do verniz, ó Lecrerc!...
Vá ao osso.
Não reparou numa palavrinha que eu coloquei logo no título? -Empirismo. É dele que brota o materialismo. Aquela noçãozinho que de que o homem é uma máquinazinha merdificante: que somos todos iguais à partida, a tal tábua rasa (decerto ouviu falar), onde a educação, a cultura, a classe social, enfim, vão posteriormente moldar e capacitar o mamífero. Ora , se somos todos iguais à partida, porque não havemos de ser todos iguais à saída e, já agora, pelo meio?
Locke - Voltaire - Luzes - revolução Francesa - Hegel -Marx...
Há quem acredite só na genética para explicar as diferenças.
Outros acreditam só nos factores sociais ('a educação, a cultura, a classe social, enfim,...').
Nem uns nem outros têm totalmente razão.
Se é verdade que os factores genéticos podem ser importantes, não é menos verdade que os factores socias o são também. E de que maneira!
O meio em que somos criados, a escola, os amigos, enfim, todo o nosso percurso de vida e as intereacções sociais que fomos tendo ao longo dele são inegavelmente importantes.
Se somos iguais?
Não.
Somos todos diferentes, até porque todos temos percusos de vida diferentes e, daí, temos gostos diferentes, ideias diferentes, apetências diferentes etc, etc...
Destas diferenças vão, necessáriamente, resultar diferentes 'resultados'.
Daí que a sociedade igualitária é não só uma utopia como, também, uma sociedade em que (forçosamente) alguém vai ser privado de exercer todo o seu potêncial.
Convem notar que Igualitarismo é diferente de Igualdade.
Igualdade?
Devem idealmente existir duas (pelo mais elementar senso de Justiça):
- Igualdade perante a Lei
- Igualdade de oportunidades (esta é difícil de estabelecer, até pelas desigualdades preexistentes, daí o possível papel do Estado neste capítulo)
"Ora , se somos todos iguais à partida, porque não havemos de ser todos iguais à saída e, já agora, pelo meio?"
Creio que já lhe respondi.
De qualquer forma fico supreendido por esta sua interrogação!
Não o sabia táo 'empedernidamente' Liberal*!
:o)
"Empirismo. É dele que brota o materialismo."
O Materialismo é imanente.
Sempre esteve lá, só que ou disfarçado ou com outros nomes, por pura hipocrisia.
(o saque, a ambição, a ganância, a rapina, a sanha de sangue e a crueldade são tudo coisas que não são novas. Acompanham o Homem desde Lascaux a Atapuerca
A natureza humana não é essa coisa linda e pueril, cheia de espiritualismos e mais os querubins, a paz universal e as pombinhas a voar e tal.
*doutrina que justifica (e até a defender) as desigualdades. É a única doutrina política moderna que o faz. Todas as outras, de uma forma mais ou menos velada, perseguem o 'sonho' socialista e igualitário.
"Locke - Voltaire - Luzes - revolução Francesa - Hegel -Marx..."
Com excepção do último autor, sou obrigado a dizer-lhe que se mal com eles, muito pior sem eles, ou olvidou-se do que vigorava antes??
Ok, acho que por esta altura já adivinhou o meu nome. Chamo-me Pangloss da Costa Dentro do Possível :O))
A diferença entre os liberais e os marxistas é a que vai do capitalismo oligárquico ao capitalisno de Estado. Portanto, tudo bem somado, uma diferença muito ínfima: entre uma cripto-nomenclatura privada e uma nomenclatura burocrática. Na realidade é assim, está aí o mundo em exposição permanente. Em tese, podemos elaborar um monte de fantasias mais ou menos idílicas.
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