quinta-feira, outubro 20, 2005

Mais Crimes exemplares

«Sou um professor de instrução primária. Há dez anos que sou professor na Escola Primária de Tenancingo, Zac. Inúmeras crianças passaram pelas carteiras da minha aula. Creio ser um bom mestre. Pensava-o até chegar esse tal Pancho Contreras. Não me ligava nenhuma e não aprendia nada, porque não queria. Os castigos, morais ou corporais, não surtiam o mínimo efeito. Olhava para mim com insolência. Eu suplicava. Punha-o fora da aula. Nada feito. Os outros míudos começaram a fazer pouco de mim. Perdi toda a autoridade e o sono e o apetite, até ao dia em que, não aguentando mais, o enforquei na árvore do pátio, para servir de exemplo.»

«Ficha 342
Nome do doente: Agrasot, Luíza
Idade: 24 anos
Nascida em Veracruz, Ver.
Diagnóstico: Erupção cutânea, provavelmente de origem polibacilar.
Tratamento: 2.000.000 unidades de penicilina
Resultado: Nulo.
Observações: Caso único. Recalcitrante. Sem precedentes.
A partir do décimo-quinto dia senti-me vencido. O diagnóstico era perfeitamente claro. Impossível ter a menor dúvida. Perante o fracasso da penicilina, tentei em vão toda a espécie de medicamentos, não sabia o que fazer. Dei voltas ao miolo dia e noite, durante semanas e semanas, até que lhe administrei uma dose de cianeto de potássio. A paciência –mesmo com os pacientes – tem limites.»

«Tentar convencê-lo para quê? Era um sectário da pior espécie, como se se julgasse Deus-Pai. Tinha o cérebro entupido. Abri-o de um só golpe, para lhe ensinar a discutir. Quem não sabe que se cale.»

«Matei-a para não a apoquentar.»

- Max Aub, "Crimes exemplares"

1 comentário:

zazie disse...

ehehehe gosto tanto disto ":O))