quarta-feira, junho 15, 2005

Ai Ceifeira, não ceifes mais!...


Era difícil não escutar, tal o pranto. Enquanto o país se entregava a uma das suas modalidades favoritas -o "pontismo"-, a Ceifeira-de-Todos-Nós, como que a dar o exemplo, pôs-se a fazer horas extraordinárias. Não sei se foi para compensar da preguiça alheia. O certo é que, em menos de nada, não esteve com meias medidas e subtraiu-nos três dos mais emblemáticos cidadãos nacionais (aliás, internacionais, porque "nacional" actualmente parece que é injúria).
Fazendo fé nas notícias e obituários, foram recambiados à presença do Criador nada mais nada menos que:
- Uma das grandes figuras da história portuguesa do século XX (um tal de Álvaro qualquer coisa) ;
- O maior poeta português de sempre (o que o próprio pseudónimo já indiciava -"Eu-génio", e um tipo que se autodenomina Eu-génio já a leva fisgada)
- Um dos maiores governantes portugueses dos últimos cem anos (um Vasco que era companheirão e usufruia de muralhas de aço).

Bem, diante duma hecatombe destas, supliquemos à Grande Ceifeira que, embora com a mão na massa, e todos sabemos como é difícil frear nessas circunstâncias, mesmo assim, abrande e não se deixe levar por entusiamos despovoantes. Que faça, pelo menos, uma pausa; que nos conceda um intervalo de todo conveniente para que possamos escoar, ao menos, estes charcos de lágrimas em que nos debulhamos.
Até porque, por exemplo, se nos leva agora o Mário Soares...
- Lá ficamos nós sem a outra grande figura do século XX português - completamente órfãos, portanto (é como se a seguir ao pai, nos morresse a mãe; a juntar aos traumas inerentes de sermos filhos de pais divorciados);
Ou se nos subtrai, já de seguida, a Agustina e o Saramago...
- Lá ficamos nós sem os maiores romancistas portugueses de todos os tempos;
Se nos sonega, de roldão, (a Senhora da Fátima não o permita), o Marco Paulo...
- Lá ficamos nós sem a maior figura da música portuguesa de sempre;
Ou -cruzes,credo!-, se por arte dalguma artimanha rodoviária, sei lá, nos liberta da Margarida Rebelo Pinto...
- Lá ficamos nós, sei lá, sem a mais cintilante esperança das letras lusas, desde que, em data e local incerto, Luís de Camões nasceu.

Por conseguinte, cara Morte, tu que ainda és minha prima, se bem que afastada, vê lá o que é que fazes. Mais que esse cálice, afasta de nós esse serviço de chá completo. A não ser que, por mandato do Altíssimo, se esconda por detrás de tão insondáveis desígnios uma pedagogia deveras útil e oportuna... Ou seja, à falta da água que cai do céu, vamos nós espremer as alminhas e regar os campos sedentos com a água que nos brota dos olhos.
Ora, se só neste fim-de-semana já quase encheram um Alqueva...

14 comentários:

Anónimo disse...

1..

dragão disse...

2...

Anónimo disse...

3...

dragão disse...

4...

Anónimo disse...

5...

dragão disse...

6...

Anónimo disse...

7...

dragão disse...

8...

Anónimo disse...

9...

dragão disse...

10...

zazie disse...

que querias tu...é o que nos resta depois de Alcácer Quibir...

":O.

Afonso Henriques disse...

Constato com surpresa e agrado a reposição, à porta da fortaleza do honorável Dragão, da vetusta caixa de comentários.
zazie tem toda a razão. O que havia de medievo e, portanto, nobre nesta terra de fronteiras em permanente mutação foi-se em Alcácer Quibir. Incluindo os cavalos, sendo o "Lusitano" actual uma amostra mentecapta e quase híbrida do que de nobre e bom havia noutros tempos.
Já tardava. A letra D do shelltox Conciso, ó Dragão.
Cumprimentos.

vs disse...

BOA!!

As caixinhas voltaram!!

Só não concordo com a do Marco Paulo.
Eu estou convencido que a maior figura da música portuguesa é, sem dúvida, a Ruth Marlene, sobretudo com as duas obras maiores da cantora/compositora:

'Truka Truka' e 'A Moda do Pisca Pisca'.

Sublimes.

Melhor só o 'Chupa no Dedo', da incontornável Micaela.

:)

MP disse...

Olha, olha, comentários de novo :)

Como sempre, do melhor!