Não sendo economista, ou, tão pouco, perito reconhecido na matéria, Guilherme de Oliveira Martins foi, em tempos, nomeado Ministro das Finanças. Antes, também em comissão de serviço -no decurso, portanto, de equivalente peregrinação -, desempenhara, entre outros, o frete de Ministro da Educação. É pública e notória a excelência exibida no cumprimento de qualquer uma das tarefas. Ainda hoje uma grata nostalgia nos humedece os olhos.
Agora, para culminar todo um raid TT por altos cargos da nação, lá vai ele, em bom andamento, presidir ao Tribunal de Contas.
Se fôssemos pessoas desconfiadas, invejosos natos, por esta altura já murmuraríamos entredentes: "este tipo é um peregrino!" Ou então: "Chiça, este gajo é um biscateiro!" Ou, pior ainda: "Gaita, mas isto é um homem ou um canivete suiço?..."
Esse não é, todavia, o nosso caso. Não duvidamos, nem por um instante, dos ecléticos multidotes da figura. Também não vamos disparatar insinuando promiscuidades ou stalinimos encapotados (a tal figura do "comissário político", pois). Outros que tratem desses departamentos.
Na verdade, e em resumo, este postal nada mais pretende que enviar daqui os parabéns ao nosso Mr. Bean, aliás Guilherme de Oliveira Martins. Já foi condecorado em Portugal, em Espanha e no Brasil, (triplo comendador, portanto). Se é competente ou não, isso não vem ao caso. Neste país soberanamente democrático, em cargos de direcção, responsabilidade ou chefia, a competência é irrelevante, para não dizer nociva. Basta atentar-se no mais alto cargo da nação: se o Dr. Jorge Sampaio consegue ser presidente da República qualquer um de nós, do Minho ao Algarve, consegue. O país não vive sob um regime: é mais uma lotaria. Exagero meu, claro está: em rigor, tiramos rifas. Pelo que, naturalmente, saem-nos brindes. Às vezes, como agora, até me faz lembrar aqueles detergentes de antigamente -o "Extra", lembram-se? - que ofereciam bonequinhos, cromos ou bugigangas de plástico. Nós pelamo-nos por sorteios. Não compramos aquilo para lavar a roupa: é mesmo só pelo brinde. Está-nos na massa do sangue. Somos um povo extraordinário, único. Mais ainda que fazer de conta, adoramos fazer colecção. E desfrutamos dessa qualidade exclusiva que, entretanto, espalhámos pelo mundo e doravante viceja e prolifera por Brasis e Angolas: a de qualquer um de nós poder ser qualquer coisa em qualquer altura. Habitamos uma tômbola.
Por isso mesmo, o único comentário que esta nomeação merece -além, claro está, da chateza de ser um cromo fácil, daqueles que estão sempre a sair -, é aquele que eu, juntamente com mais dez milhões de portugueses, faço: olhe, senhor primeiro-Ministro, porquê ele e não eu?...
Que diabo, também sou um belo cromo. Só que sou difícil. A festa, a celebração que não seria...
4 comentários:
Muda para tômbola e tens aqui um postal perfeito. De ironia qb, sem cuspir o fogo em brasa, mas com o bafo redutor ao estado gasoso do visado. Passível de publicação na última página do Público.
Melhor que a maioria. De facto, melhor neste caso do que o do VPV. E olha que é dizer algo!
Lá fui. também para lá andava um "fossemos" sem chapéu, uma imcompatibilidade constitucional sujeito/verbo e várias vírgulas desaparecidas em combate.
Isso do "Público" é que não é lá grande elogio. O teu amigo JPH não pertence lá ao bordel?...
que grande post!
D'acordo, Zazie,mas eu acho que os comentários são ainda melhores!...
E anda este país a perder estes tipos geniais!
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