sexta-feira, fevereiro 16, 2024

Anabismotomia da Revolução - 7. Itinerário do Protesto para o Aero-Plano

Aviso à entrada: Munam-se dum bom fio, para o caso de se perderem... 


                                                                 ----//----

 


«Duas cidades, uma dos justos, outra dos maus, que persistem como entremeadas no tempo até que o julgamento final as separe e que, reunida aos anjos bons sob seu rei, uma obtenha a vida eterna, e a outra, reunida aos anjos maus sob seu rei, seja entregue ao fogo eterno.

(...) Um fio condutor permite, todavia, orientar-se com segurança no dédalo dos textos: é o princípio, muitas vezes proposto por Agostinho, de que as duas cidades de que fala recrutam seus cidadãos unicamente segundo a lei da predestinação divina. Todos os homens fazem parte de uma ou de outra, porque todos os homens são predestinados à bem-aventurança com Deus, ou à miséria com o demónio.»

             E. Gilson, in  "A evolução da cidade de Deus" 


Em Junho de 1520, a bula papal Exsurge Domine, intima a retratar-se, sob ameaça de excomunhão,  um frade agostinho, professor das Sagradas Escrituras em Wittemberg, na Alemanha.  Chama-se Lutero e, segundo o costume da igreja, é intimado a abjurar das suas 95 teses críticas da hierarquia eclesiástica. Longe de se submeter, queima o documento e extrema as posições, transportando a contestação para fora da Igreja Católica. Chega a disputar a infalibilidade do Papa e do Concílio. Em Abril de 1521, convocado pela Dieta de Worms, Lutero inventa a "consciência", base fundamental do liberalismo. Mais adiante irá mais longe ainda, estabelecerá o dualismo nessa mesma consciência.

  «Um cristão é um senhor livre sobre todas as coisas e não é súbdito de ninguém. Um cristão é um servo de todas as coisas e é súbdito de todo o mundo. (...) »

Entenda-se do acima exposto, que, segundo Lutero, o cristão é absolutamente livre na consciência (no nível interno) e submetido à servidão mais completa no mundo (nível externo), isto é, nesta vida terrena. Portanto, o "cristão" é livre na fantasia e servo na realidade. O que resulta disto é que, efectivamente, o cristão é a sua própria negação. Em rigor, este "cristão" equivale àquilo que Aristóteles, na Antiguidade, define como "ferramenta de outro homem", ou seja, o escravo. À data actual, no auge de toda uma evolução eufemística, ostenta o título de "colaborador". Apesar de tudo, permitem-lhe que vote e frequente festivais.

Quando Lutero (que Nietzsche descreve justamente como um germano-labrego) coloca o seu umbigo acima da Igreja não está apenas a dar vazão à sua perversidade intrínseca, está a estabelecer um novo paradigma e a inaugurar toda uma anti-cultura. Anti-cultura, porque, doravante, nenhuma tradição é possível ou, genuinamente, sustentável. Em primeiro lugar, porque  esta onfalarquia mascarada de consciência consigna três coisas: a) o egoísmo absoluto - a Igreja sou eu (donde  qualquer um, de ora em diante, pode arvorar-se como igreja, papa ou escritura de si próprio - o acesso instantâneo a deus, pelo imediatismo da consciência, cumulado duma Bíblia em edição de bolso para hermenêutica íntima e estojo de viagem, pavimenta e autoriza quaisquer delírios; b) a redução da Igreja ao seu presente e, pior, á sua mundanidade (quando, em rigor, a Igreja é passado, presente e futuro - é Kleros, isto é, herança da Palavra Divina e, nesse sentido,  embora participe no mundo, não lhe pertence em exclusivo nem nele se esgota,  mas aponta e liga entre o Tempo e a Eternidade, entre o Aquém e o Além; pelo que miniaturizá-la ou afunilá-la a uma qualquer figura papal ou critério purificador (invariavelmente fariseu) da hora ou do capricho a ferver, equivale à birra dum rato contra uma montanha; c) na medida, em que o ego/consciência devém determinante radical, auto-fundamento e critério auto-suficente, então o esquisocrente não apenas talha uma igreja à sua medida, como uma criação e, a limite, um deus a seu gosto: o self-made-man (que o futuro celebrará) culmina fatalmente num self-made-god, (Mercado para os amigos). Em segundo lugar, porque ao atentar contra os fundamentos da própria ordem, vai facilitar, convocar e potenciar toda uma sucessão e proliferação de desordens sucessivas, que funcionam quer como falsificação, quer como desagregação da ordem  regular. O ataque à Igreja é. e permanecerá sucessivamente,  tanto um ataque a Deus como ao Rei e à família. Nesta, aliás, denota-se de imediato um ponto desintegrante fulcral: o casamento deixa de ser uma união para a vida, no bem e no mal. Tal como na questão da própria Igreja, a essência do matrimónio é deslocada para o plano meramente particular, visto não como plenitude, de passado, presente e futuro (o casamento para a Eternidade), mas estrito expediente casual, sujeito ao interesse do momento  e confinado a um presente de conveniência (o divórcio livre, mas altamente oneroso ou vantajoso). Aliás, nesta palavra - "divórcio" resume-se o espírito e a dinâmica protestantes. Divórcio da Igreja, divórcio da comunidade, divórcio do Rei, divórcio da regra e, sobretudo, como se verifica actualmente, decorrido um completo ciclo evolutivo, divórcio da realidade. Convém nunca esquecer, que os calvinistas ingleses, vulgo puritanos, depois de massacrarem um ror de gente e o rei junto com ela, levados do diabo que os animava, embarcaram no Mayflower para as américas. Desembarcaram em péssimo estado, depauperados e moribundos, e não fora a caridade dos indígenas, teriam certamente sucumbido logo ali, miseravelmente, ao empreendimento. Péssima ideia, a dos pele-vermelhas incautos, que a humanidade ainda hoje padece com língua de palmo. Pouco tempo depois, os recompostos puritanos imigrados já estavam a espoliar e a genocidar os indígenas, a pretexto de se tratarem, muito convenientemente, de tribos do diabo. Se levarmos em conta que o diagnóstico era apresentado pela tribo do anticristo, a fazer fé no delírio da mesma, então tratar-se-ia duma briga familiar. Ou então, mais uma vez, novo cisma sectário: agora contra os irmãos mais antigos na demogénese, segundo os psicopatas em processo de auto-canonização.

Enfim, seria para rir se não fosse abissalmente trágico. O termo, porém, é todo um programa, se bem que assaz monótono. De "di-vorto" (o mesmo que di-verto), divórcio revela essa bifurcação, esse desvio e separação em direcções opostas no caminho, que não mais deixou de assombrar a civilização, melhor dizendo, o seu extraviamento para parte incerta. Porque, se atentarmos bem, di-vórcio/di-verso é o oposto de uni-verso (católico, em grego, significa universal), ou seja, voltamos à questão dos "heterozelos" (como já exposto num postal anterior desta série) - o confronto entre a parcialidade e a plenitude, a rotura e a redução daquela contra esta. O protestante, e mais ainda, radicalmente, em Calvino do que em Lutero, é por natureza e obsessão exclusiva, um divorciado militante e obsessivo. Um litígio ambulante e permanente. E uma demanda compulsiva de indemnização. O seu método é o da separação, da clivagem, da peneiradela ininterrupta. A palavra grega para estes fenómenos é, muito justamente, "crise"... e análise. Krisis - faculdade de separar, litígio, processo, juízo, desenlace; Analysis - solução, dissolução, análise e (notem bem) libertaçãoOraSe o catolicismo, de algum modo e com maior ou menor êxito, engenho ou justiça, almeja a paz, a concórdia, a estabilidade (ou estabilização), já o protestantismo respira e vive da crise - da sua exploração, implantação e remodelamento.  E opera igualmente na perpétua análise, que funciona como uma espécie de corolário e via de transporte para a anterior. Se a Igreja procura unir numa só família, com os deveres inerentes, todos os filhos de Deus, a crise protestante exige e vocifera pela dissolução dos vínculos, pela solução individualista da fé e pela libertação do elemento cismático de todos e quaisquer deveres ou obrigações para com a Assembleia (Eklesia). Chega-se assim àquele panorama comparativo em que dum lado se cultivam deveres e no outro se engendram e contrafazem direitos. Sendo que aqueles se perseveram ao nível da natureza (a família enquanto manifestação elementar desta na humanidade), ao passo que estes se mistificam no domínio da abstracção, do direito civil de conveniência (o trabalho, a empresa, o mercado, a riqueza enquanto via principal da salvação e prova antecipada da predestinação bendita). Os direitos, em concreto e por primazia, não referem de modo nenhum os "direitos dos mais fracos ou vulneráveis" (esses já são os antecipadamente danados e votados à fornalha eterna), muitos menos da generalidade, mas, outrossim, e radicalmente, os direitos dos mais bem instalados, protegidos e abastados.  Que devem, por lógica absoluta, tender para absolutos, retumbantes e esmagadores. A cacete, a tiro, à bomba,  seja lá como for, mas sem margem para dúvidas nem interstícios. As fantasias e devaneios socialistas ou socializantes não são para estômagos anglo-saxónicos: isso é mais para espargir sobre a concorrência, católica, ortodoxa, muçulmana, etc. Em forma de praga ou manta infectada sobre população sem imunidade nem vacina... Quanto aos escandinavos, estilo reserva de mentecaptos, é apenas para estiolar em lume brando, ou socialismo em forma de caldo maggie para culinárias instantâneas de neo-sopeirismo vicking. À presente data, e com todo o merecimento deste mundo,  estes arianos-de-cima imitam em tudo os arianos-de-baixo: constituem a testosterona crime capital e, devotos da auto-abjecção, despejam-se flacidamente pelo esgoto da História.
De qualquer modo, uma boa definição para o percurso da anti-civilização oxidental (deste o século XVI até hoje) seria qualquer coisa como "de divórcio em divórcio até á impotência (e falência) final".

Mas  di-verso não é apenas o oposto de uni-verso; é também uma contraposição de con-verso. O protestante desconverte-se, desliga-se, amotina-se.  Não apenas inventa e falsifica um novo culto: renega, acusa, julga e sentencia o anterior. Excomungado, demoniza a comunhão; expulso da congregação, proscreve-a para fora da humanidade.  A desumanização devém, aliás, um preceito recorrente do "protestante" bem como dos seus sucessivos avatares no tempo. Em primeiro lugar, desumanização/demonização do "católico", do "papista", do "padre". Depois, do "nobre", do "tirano", do "déspota". Mais tarde, todo e qualquer obstáculo à peregrinação, invariavelmente açambarcadora, da altura. Pelo que, na realidade, o di-verso protestante nunca vai mais além do que ao per-verso - isto é, á perversão do catolicismo. Simultaneamente uma caricatura e uma regressão: um refluxo a certas singularidades mais descabeladas do judaísmo - o imitatio propheti. Se bem que, na generalidade dos casos, o alucinado imagina-se não já apenas como um profeta qualquer avulso, mas como um neomessias efervescente e levado de seiscentas urgências. Thomas Múntzer, um famoso arruaceiro que os próprios marxistas canonizarão séculos adiante, vai ao ponto de regurgitar em si o próprio Cristo. À maneira dos dragões, diga-se em abono da verdade, já que auferindo-se poderes incendiários de lançar pela boca.

Müntzer, aliás, é um personagem paradigmático de tudo isto que vimos dilucidando. Intelectual errante, acumulador de estudos e conhecimentos linguísticos, chega a ser ordenado padre e torna-se seguidor de Lutero. Não demora a romper com este e a extremar a análise. Ei-lo a perorar a esmo, agremiando seguidores e basbaques, exaltados quase todos. Um núcleo de fiéis irredutíveis ganha a categoria de Eleitos (onde é que já ouvimos isto?)  Cumpre-lhes purgar e desinfectar a eito. As fantasias que animam os projectos redentores deste tresloucado são particularmente impiedosas e sangrentas. Exterminar católicos é prioritário; mas os luteranos  também  não perdem pela demora. Os Eleitos organizam batidas a mosteiros e conventos, onde frades e freiras passam um mau bocado. A santa destruição propõe-se abrir caminho ao Milénio - na Bíblia de bolso, o Apocalipse em modo readers digest torna-se a leitura de cabeceira destes visionários. Tudo isto decorre numa Alemanha fragmentada em múltiplos principados e bispados, no pós-desmoronamento do Sacro Império Romano-Germânico. O que também firmará, género predisposição fatal, uma receita para qualquer sarrabulho social  do futuro: a fragmentação e afrouxamento do estado. Isso e a invariável inflacção demográfica. O excesso populacional ocasionará, sistematicamente, desequilíbrios, migrações, misérias, tumultos... A simultaneidade dos dois fenómenos  patentear-se-á fatal.  Paris, de 1789, é caso disso. A revolucionite é sempre um praga urbana, instala-se no tecido hospedeiro da putrefacção social resultante das crises em redor das cidades e centros comerciais/industriais. O protestantismo germina inicialmente dum motivo frívolo, em meio supérfluo; mas evolui depois para um transtorno radical, fundamentalista e revolucionário. O fundamentalismo coincide com a imposição abrupta e violenta dum falso-fundamento, ou in-verso , isto é, um aero-plano. Quer dizer, deriva-se duma questiúncula, uma embirração com a topografia vigente para um "novo-mundo", uma "nova-gente", uma a-topia (utopia, como diz o vulgo) - uma deslocalização maravilhosa, redentora e apocalíptica.  Este aero-plano (ou projecto volátil, urbe neo-celestial, etc), por oposição à realidade terrena, é justamente aquilo  a alegoria swifteana da ilha voadora, donde o soberano alado patrulha o reino, exemplifica. Permitam que abra um parêntesis:

Quando aqui refiro protestantismo, estou à partida  a falar dum fenómeno histórico de índole para-religiosa. Mas, depois, essa índole não esgota esse fenómeno, porque o mesmo, rapidamente, ganha outros contornos. De (des)ordem revolucionária, dito com propriedade e rigor. Que irrompe logo no dealbar da coisa, mas também depois ao longo das épocas e episódios. Tanto assim, que já podemos passar a falar em "protestantismo" não apenas como "luteranismo/calvinismo/etc", mas, de igual modo, como acção de protesto e reivindicação tumultuosa ou mais ou menos organizada. Uma espécie de leitmotif histérico. Assim, os manifestantes do nosso tempo são, de algum modo, "protestantes". Protestam. Reclamam. São, não raro, portadores e crentes num aero-plano. Em que urge embarcar para salvação ou redenção de ...... (preencher a gosto). No nosso malfadado caso de Abril de 74, por exemplo, tudo começou num "protestantismo" militar. Uma questiúncula que já aqui esventrei à minúcia em bom tempo. E notem que o enquadramento é supérfluo (um bando de magalas desocupados em pós-comissão) e a questão frívola. De igual modo a demografia tinha disparado nos anos sessenta, com emigrações e migrações a granel, disparo industrial, aceleração mercantil. E claro, tudo se passa à volta da nova babel lisboeta. Porém, num ápice, passou-se duma questão frívola, em ambiente supérfluo (não essencial, entenda-se) para a exigência nem sequer dum novo regime ou sistema governativo, mas dum novo país. Habitado duma nova gente e votado a um novo mundo. De pronto, lavra-se um divórcio: dos protestantes doravante arvorados e amesendados em Estado, com a antiga nação e respectiva história. Demoniza-se o todo anterior e consagra-se a parte triunfante e usurpadora, que rapidamente se atomiza e rompe em zaragata sectária - onde os protestantes iniciais são sucessivamente ultrapassados por protestantes cada vez mais protestadores e alardeando e reclamando em nome de aero-planos cada vez mais delirantes. Quem quer que se recusasse a celebrar ou comprar bilhete para os múltiplos aero-planos era excomungado da nova para-religião e expulso para fora dos novos templos de culto e das sagradas escrituras, da constituição ao palramento, com interdito eleitoral. A heresia ganhou um ápodo de arremesso: fascistas. Na essência, para não variar da "tradição protestativa", eram católicos. Esse, de resto, é aquele ódio primordial que nunca esmorece.

Pois reparem, e para fechar parêntesis, em Paris, numa dimensão muita acima desta liliputante sequela, passou-se algo de extremamente idêntico. Os protestos do princípio, em modo ou tempo algum, reclamavam os resultados do fim. Mas, no entretanto... pois, irrompeu a revolução. Parece que faz parte da dinâmica intrínseca do processo. Que, sendo kafkiano, à sua maneira, descamba geralmente em sádico. Uma avalanche de casos e enredos emblemáticos.

Não obstante, a revolução, como já apontámos, sucedera já com Müntzer e, no rescaldo deste, com os Anabaptistas, em Münster, na Vestfália, deambulou por extremos nada inferiores aos iluministas. Um apocalipse de se lhe tirar o chapéu. Disso falaremos em anexo, mas no próximo postal.

Para terminar, que isto já exorbita, se pegarmos na teoria da predestinação, segundo Agostinho (que servirá de farol em larga medida ao protestantismo) teremos igualmente a pura negação daquilo que se estabelece como a "evolução" cristã em relação ao pensamento grego: a superação do destino e da ausência de liberdade humana na dimensão cósmica. Porque esta predestinação agostiniana (de clara influência maniqueísta - e é preciso não esquecer que Agostinho foi maniqueu antes de se converter ao cristianismo) é ainda mais mecânica e cega do que a Moira grega. De qualquer modo, nem o pensamento grego cerceava tão absolutamente a liberdade humana, nem Agostinho melhorava em relação ao mesmo coisa que se visse. Mais: Era pior no seu pior aspecto e não muito distante no seu melhor.

Se nascemos predestinados, é irrelevante a nossa acção. E esta irrelevância da obra, em Lutero, conduz à tal servidão completa ao nível exterior do homem escorada na liberdade completa ao nível interior, da consciência, ou seja, um servo em concreto, mas livre em abstracto. Calvino irá mais longe e estabelecerá o divórcio total com a Igreja (Lutero propunha-se apenas reformá-la e, de certa forma, empapar-se dela), mas mantendo a predestinação agostineana em absoluto e da forma mais grosseira possível: os sinais de fortuna neste mundo são já sinais da bênção no Além e anteparos da salvação. Só que o que entretanto fica, em forma de suco desta esponja é que o protestantismo (na sua múltipla e transtemporal acepção), significa um individualismo sem indivíduos, em contraponto ao catolicismo:  indivíduos sem individualismo. Na História - e no deambular da civilização - o confronto é entre uma arquitectura terrena (a hierarquia) e uma multiplicidade competitiva de aero-planos. E o conflito insanável verifica-se entre uma liberdade autêntica e o liberticídio mascarado de libertação (analysis), ou seja, dissolução, divórcio. A liberdade autêntica dum homem é ser homem e não outra coisa qualquer, geralmente uma besta. Como a liberdade do sol é ser sol. Liberdade é a faculdade de uma coisa ser aquilo que realmente é. Um Sábio da Antiguidade também, em dado momento, deu o nome próprio ao protestantismo: "O teu nome é legião!"

Por fim, dizem que a escreveu com a melhor das intenções, à Civitas Dei. Mas não deixa de ser um grandioso aero-plano. E os aero-planos têm consequências.

16 comentários:

Samaritano da Silva disse...

Uff! Consegui chegar ao fim...

vou mandar emoldurar esta:

«um servo em concreto, mas livre em abstracto»

passante disse...

Pegando só no divórcio, foi logo a primeira coisa que legislaram em 1974 - a legalização do divórcio. As bandeirolas diziam "paz, pão, liberdade", etc., ala 1917, mas o que legislaram logo sem demora foi o divórcio.

A igreja tinha dado às mulheres do povo um direito da aristocracia romana - "confarreatio", o casamento indissolúvel - e esse direito foi deitado fora com grande júbilo pelos intoxicados do canto das sereias a prometer felicidades.

Intoxicados que assim continuam, cada vez mais miserávelmente degradados e suicidas, drogados nesse veneno e que resistem violentamente a quem lho tente tirar.

dragão disse...

Foi divórcio a todos os níveis - da história, da verticalidade e da realidade sobretudo. :O)

E não se pode dizer que tenham melhorado ou sequer acalmado desde então...

A Tal disse...

*****



passante disse...

Um dia destes que tenha pachorra, gostava de ver a sua glosa sobre esta opinião (russa) acerca do nosso (europeu) suicídio colectivo: "Europe is not coming back, it's over [...] a brainwashed population with a few islands of common sense here and there"

(blog do camarada Martyanov, https://smoothiex12.blogspot.com/2024/02/a-mistake.html)

Vivendi disse...

+ 1 post *****


Um dia destes que tenha pachorra, gostava de ver a sua glosa sobre esta opinião (russa) acerca do nosso (europeu) suicídio colectivo: "Europe is not coming back, it's over [...] a brainwashed population with a few islands of common sense here and there"


O mundo virou uma barbárie e capitulou a Europa.
O único continente que promoveu civilização e grandes pensamentos de autores foi e só a Europa.

O resto é tudo tribal.

Anónimo disse...

https://m.youtube.com/watch?v=GnXkXRdReyo&pp=ygULSGFndWUgcmlvdHM%3D

( liberalismo a rodos no jardim do Borrell )

dragão disse...

"Europe is not coming back, it's over [...] a brainwashed population with a few islands of common sense here and there"

Esse conceito de "Europa" sempre foi uma ilusão e uma contradição em termos, geográficos sobretudo. A Europa do norte não tem nada a ver com a europa do sul. A própria Alemanha sofre dessa esquizofrenia: o norte e o sul são quase antagónicos culturalmente.

A actual "união" não é apenas fictícia e fátua: é a negação da sua própria ideia (um pouco como todas as grandiloquentes abstracções destas bestas: liberdade, democracia, direito, ocidente, etc). É mantida não já como dinâmica e animação interna, mas como absoluto telecomando e interesse externo. A classe dirigente da burrocracia europosta, após filtragem exaustiva (o tal metabolismo protestante da krise recorrente e da análise permanente) descambou num exclusivo bando de servos do globo do Império.

A Europa não volta, diz o Martyanov. A questão para já não é essa. A expectativa (e a necessidade) é que esta Pseudo-Europa desapareça. Depois disso é que poderemos perscrutar se a autêntica volta ou não.

dragão disse...

Aliás, permanece e nunca foi verdadeiramente debelada a questão original do tempo romano:

A civilização e a barbárie, o sul mediterrânio e o norte das brumas e das bruxas.

Hoje eu já digo, sem rodeios nem contemplações, algo que eu nunca diria na maior parte da minha vida adulta: os bárbaros não são civilizáveis. Devem ser mantidos fora a todo o custo. O erro fatal é tentar civilizá-los ou lidar com eles como se essa possibilidade existisse. E não são civilizáveis na dupla acepção: nem civilizáveis nem cristianizáveis. São, radicalmente e insanavelmente, antitéticos a ambas as vertentes da cultura.

dragão disse...

Note bem o Estado-da-Arte desta Pseudo-europoia actual:

«A 6 de fevereiro concluíram as negociações da revisão intercalar do Quadro Financeiro Plurianual (QFP) 2021-2027, que, além da criação do Mecanismo de Apoio à Ucrânia, inclui um reforço das verbas para a migração, a Plataforma de Tecnologias Estratégicas para a Europa (STEP) e o apoio de emergência (por exemplo, no caso de catástrofes naturais).

A revisão do orçamento do bloco europeu dita um acréscimo de 21 mil milhões de euros nas contribuições dos países membros até ao final do período – Portugal deverá pagar 1,7% deste valor, ou seja, 357 milhões de euros. Deste montante, 17 mil milhões compõem a parcela de subvenções não reembolsáveis destinadas à Ucrânia, sobrando 4 mil milhões de euros para aumentar o financiamento de outros programas.»

Em resumo. as principais prioridades: Apoio à Ucrãnia e a migrações.


Esta última parte é todo um hino:

« Deste montante, 17 mil milhões compõem a parcela de subvenções não reembolsáveis destinadas à Ucrânia, sobrando 4 mil milhões de euros para aumentar o financiamento de outros programas.»

A população europeia já está remetida às sobras. A grande maioria tem o que merece.

dragão disse...

O link para a notícia acima:

https://www.msn.com/pt-pt/noticias/other/entre-cortes-e-apoio-a-kiev-foi-assim-que-a-bruxelas-esticou-o-or%C3%A7amento-portugal-dever%C3%A1-pagar-mais-357-milh%C3%B5es/ar-BB1iswGO?ocid=msedgntp&pc=ASTS&cvid=c1af95f7b0514661998a2843588501f9&ei=30

Vivendi disse...

"Os bárbaros não são civilizáveis. Devem ser mantidos fora a todo o custo. O erro fatal é tentar civilizá-los ou lidar com eles como se essa possibilidade existisse. E não são civilizáveis na dupla acepção: nem civilizáveis nem cristianizáveis. São, radicalmente e insanavelmente, antitéticos a ambas as vertentes da cultura."


Grande aplauso.

Vou repetir-me:
O único continente que promoveu civilização e grandes pensamentos de autores foi e só a Europa.


Anónimo disse...

O fio condutor que liga a reforma às revoluções modernas é muito bem visto.
No nosso caso, a revolucinha de 74 revela paralelos óbvios:
- Lutero vem de dentro da Igreja, do baixo clero de uma vilória alemã, enquanto que os nossos libertadores saem de dentro do regime, médias patentes das forças armadas
- uma questão relativamente menor é escalada até justificar a ruptura total
- a hierarquia vigente, com manifesta falta de imaginação, não se apercebe da auto-estrada que se abriu à sua frente e tenta contemporizar
- quando a coisa atinge velocidade de cruzeiro, já ninguém a pára

E lá está, entre os Anabaptistas e Sade também há coincidências engraçadas.
Uma curiosidade: quem seria o Divino Marquês do Portugal Abrileiro? :-))

Miguel D

dragão disse...

«quem seria o Divino Marquês do Portugal Abrileiro? »

caro Miguel, essa é boa. Mas não vai sem resposta. Também existe, à "nossa" (deles, revolucinhários abrilabundos, entenda-se) diminuta medida. E a resposta é simples... está preparado?

- José Vilhena (em psico transmigração bordalesa).

Afinal, e em dois actos, aquilo sempre foi um Golpe das Caldas. :O))))

dragão disse...

Quer o diário da revolucinha?

- Chamava-se "Gaiola Aberta".

Anónimo disse...

Obrigado, Caro Draco, vou pesquisar :-))

Miguel D