domingo, novembro 11, 2012

Levantai hoje de novo...







As Forças Armadas também  reduzidas ao queixume. Queixam-se que o governo está a colocá-las num beco. Se pensarmos que são as primeiras responsáveis pela colocação do país em hasta, depois a saque e, finalmente, em liquidação geral, de que se queixam, afinal, as Forças Armadas? De estarem a ser conduzidas ao beco? Deviam queixar-se de si próprias. Afinal, até são uns privilegiados, auferem dum certo tratamento deferencial: o restante país está a ser conduzido ao matadouro. Para já, da esperança; depois, logo se vê.
Há uma diferença entre as Forças Armadas (e todos aqueles que passaram pelas fileiras) e o resto da população civil, dos doutorecos às madames-a-dias: é que aqueles, ao contrário destes, juraram a bandeira, juraram defender a soberania nacional e, se necessário, dar a vida pela pátria dos seus filhos e dos seus antepassados. Portanto quando sabotam, quando colaboram, quando desertam do seu dever, a infâmia da cobardia diante do inimigo é agravada da ignomínia da traição e do estigma do perjúrio. Por alturas de 74 ainda existia, e justamente, a pena de morte na lei portuguesa: no código de Justiça Militar. Pelo crime de Alta-Traição. Claro que foi imediatamente abolida. Afinal, a alta-traição tornava-se a ocupação principal da oficialada em obediência doravante, como lapidarmente timbrou António José saraiva, às vísceras e não à bandeira. A Alta, a Baixa, a Média e todas quantas estivessem ao dispor da conveniência do momento e do capricho peludo.
Escutam-se histórias verídicas de timorenses exilados na Austrália, após a invasão Indonésia, que respeitavam a bandeira portuguesa hasteada à porta das suas casas ao ponto de não pisarem a sua sombra. Se a possuissem, os militares portugueses, deviam experimentar o zénite da  vergonha perante esta gente longínqua mas digna. No tempo e na história. Porque a verdade é que a desonra duma bandeira é tanto maior quando é canibalmente perpretada por aqueles que juraram defendê-la. Mas pedir vergonha a quem abjurou a honra   é pedir água a um penedo.
Não compete às Forças Armadas servir Governos - compete a ambos, Forças Armas e Governo servir a Pátria, nesta se consolidando os vivos e os mortos; o presente, o passado e o futuro. Mas o que aconteceu nestes últimos anos foi a perversão mais rasteira e desprezível disso: foi as Forças armadas e os Governos, em regime de necrófagos, a servirem-se do corpo mutilado, exangue e prostituído da Pátria. 
Proclamam agora, em repenicado assomo corporativo, que as Forças Armadas não servem o governo, mas a Soberania Nacional. A última vez que arvoraram assomos destes, varreram, duma assentada, o governo e a Soberania. Agora, se varrerem, varrem o quê? Governo não se avista, apenas desgoverno recalcitrante e revezado; Soberania também não; por conseguinte as Forças Armadas, das duas uma: ou se varrem a si próprias, e não será pouca a mancha conspurcante que varrem (e a valente poupança prós contribuintes); ou varrem coisa nenhuma, que é a soma exacta do desgoverno e da suja subserviência financeira actuais.
Situação absurda e atroz? Sem dúvida. E de quem a principal responsabilidade por este sórdido desenlace? De quem, em primeira instância, o desencadeou: as Forças Armadas, nem mais.
Quem escreve estas duras linhas é um fascista, um retrógado? Fascista é essa  estupidez que vos oprime! Fascista, mesmo, é essa  cobardia que vos tolhe e despotiza! Fascista, absolutamente fascista, é essa irresponsabilidade soberaníssima, essa frivolidade venal, esse bandulho cruel que vos arrastam e escravizam! E retrógado é quem recambia um país de oitocentos anos ao caos, à balbúrdia, ao neo-feudalismo, ao tribalismo sectário, à partidarite devorista e, por fim, à insolvência e à esmola internacional.
Mas já que ostentam a soberania Nacional deviam então saber que a nação está acima de regimes, governos e partidos. E que a patrulha dessa fronteira, a defesa desse imperativo competiam às Forças Armadas. Não, exactamente, dando tiros, mas exercendo a firmeza e influência que evitam esses extremos, tanto quanto golpadas e revolucinhas. Mas que portentos nobres e elevados desarrincaram as Força armadas, no seu momento MFA? Apearam um mau governo e instalaram o governo nenhum, logo seguido do desgoverno crónico. A título da descolonização, a debandanda pusilânime e criminosa. A título de democracia, umas ditadurazinhas a prazo, uma Desunião nacional aos molhos e aos votos, uma demofagia sectóide, um neofeudalismo insaciável! De tal modo que em vez do tão vituperado colonialismo imperial, passámos ao neo-colonialismo doméstico. A título de desenvolvcimento, betão e asfalto,  shoppings e telenovelas, publicidade e propaganda, extermínio da indústria, da agricultura, das pescas, exportação desenfreada de Dívida e,  para condecoração na história, três bancarrotas exuberantes, a últimas das quais e presente, anunciadora da extinção, pura e simples, do país, sem honra, sem dignidade, sem coluna,  sem independência e sem moeda.
Nestes últimos trinta anos a Soberania foi esquartejada, pesada e vendida a retalho como numa loja de secos e molhados. Tudo à revelia do próprio povo - inimputável encartado fora as periódicas, inócuas e cada vez mais despovoadas peregrinaçãos fúnebres (às urnas); pior, à revelia do próprio Interesee Nacional e do Futuro das gerações. E o que fizeram as Forças Armadas nesse tempo todo? Assistiram zombificadas ao comércio. Coadjuvaram pachorrentamnte nos fretes. Serviram a Pátria? Não; serviram de moço de mercearia. Viajaram pelo mundo, do Kosovo ao Afganistão, a entregar cestos de enlatados anglo-saxónicos e, tão pouco, bacalhaus: hamburgueres, hot-dogs, pizzas!... Fugiram da defesa do Império Português para descambarem em cipaios do Império Americano. E nem sequer necessários, apenas folclóricos!...
Pelo que agora aflige-vos o quê? O beco sem saída da vossa insustabilidade? Mas aonde julgáveis que conduzia a alameda festiva da vossa inconsequência, da vossa impostura e da vossa deserção - ao parque de diversões da  sempiterna vida fácil?  
Acordais, finalmente? Retirais  a cabeça avestruza do buraco maravilhoso, onde visões fascinantes vos entretinham, e que fazeis? Cantais "Grandola. Vila Morena". Mais ainda? Não chega? Não basta? Está aí a terra prometida da fraternidade. Dentro do buraco, caras aves corredoras, provavelmente avistáveis o próspero país dos cangurus, lá nos antípodas. Mas aqui fora, à superfície, são trinta e tal anos de fraterndade grandula, ou seja, prosperidade para alguns e a conta do regabofe para os outros todos. Tínhamos ainda alguma esperança que despertásseis alterados, que a ave corredora desse lugar ao homem firme. Que cantasseis o hino, as vezes que fossem precisas, bem alto, até à rouquidão. Sempre o hino! Até que as palavras não fossem meras palavras, mas convocatória aos vivos e aos mortos, ao passado e ao futuro, à vida contra a morte, ao levantamente contra a submissão, à coragem contra o medo, a Portugal, todo, inteiro, justo, para que se erga da lama e do lixo onde foram despejá-lo, para que se levante da vala imunda onde o planeiam sepultado!
Esta, parece-me, não é coisa nem ocasião de somenos. É a ultima oportunidade que tendes, e a mais dramática, para lavardes a honra da instituição militar, entretanto convertida em tapete de estrebaria, na antecâmara de um albergue espanhol. O povo sempre foi capaz de sacrificar-se para que o Pátria viva; o que não está disposto é a deixar-se enterrar junto com ela. E é mil vezes preferível que as armas acudam ao povo antes que o povo se veja obrigado a pegar em armas.







11 comentários:

José Domingos disse...

Portugal, não se discute.
A Pátria, só nos dá três coisas; o berço, a honra de se chamar de português e a cova.
Os militares, nunca fizeram nada, pelo povo, é histórico, o 25 aconteceu, porque lhes queriam mecher no pré. Decreto lei 373/73.
É preciso honra e dignidade.

Anónimo disse...

Nota máxima para tão brilhante quão patriótico desabafo.

Quando já pràticamente tudo nos foi roubado, designadamente a maior parte do território nacional; a soberania; a independência; os dois tesouros (o Real e o do Estado); a ordem estabelecida; a autoridade, a moral; a honestidade e a integridade como valores supremos a respeitar; e ainda o nosso valioso escudo - uma das moedas mais fortes (e invejadas) do mundo e por isso mesmo a sua anulação vigorosamente programada - e por fim, não contentes, até o conteúdo da Constituição da República maquiavèlicamente alteraram em seu próprio benefício escudando-se no seu adulterado articulado para poderem usufruir eternamente de uma impunidade traidora, por sua vez respaldada numa chantageada Justiça e portanto tornada impotente, que jamais os punirá por crimes gravíssimos cometidos contra a Pátria. E se isto já não fora pouco, somemos-lhe umas Forças Armadas completamente neutralizadas porque cobardemente compradas (ou vendidas, como se queira) por interesses obscuros, temos o filme ignominioso completo. Perante tão trágico cenário, só resta aos portugueses de bem, no meio dos quais felizmente ainda se encontram uns quantos militares honrados e dignos, fazerem um levantamento popular que ponha termo a uma quadrilha de traidores e criminosos do pior coturno, que não só retalhou aos pedacinhos uma Nação quase milenar como espezinhada foi a dignidade do seu nobre povo ao ponto de quase perder o imenso orgulho de ser português.

Que àquele punhado de Bravos portugueses a quem ainda reste uma simples molécula do heroísmo de que já deu múltiplas e valorosas mostras em séculos passados, que "Levante Hoje De Novo o Esplendor" do nosso amado Portugal e tomando a dianteira, numa luta que é imperioso travar, grite alto e bom som aos traidores internos e externos que chegou a hora desta Gloriosa Nação recuperar os Valores que lhe foram cobardemente sonegados e que, atendendo aos clamores pungentes que do fundo dos tempos lhe vêm sendo suplicados, lute com todas as forças pela Pátria com a promessa de que "Seus Egrégios Avós... Hão-de" levá-la "à Vitória".

Só e então a alma sã dos portugueses vivos se apaziguará e condignamente honradas serão as de seus heróicos antepassados.
Maria

Domingos disse...

Um excelente texto que deveria ser lido em sentido pela tropa fandanga.
O problema é os militares compreenderem o que escreveu.

Anónimo disse...

Leia-se na segunda linha do último parágrafo:

"... e condignamente honrada será a memória de todos os seus heróicos antepassados".
Maria

lusitânea disse...

Hoje as FA´s são profissionais e pela "avaliação" e relações políticas,transformadas numa espécie de guarda pretoriana do regime ao qual se subordinam de olhos vendados e sem critério.
Participaram activamente na entrega de tudo o que tinha preto e não era nosso e sem consulta de ninguém como tinham prometido, mas agora recrutam até estrangeiros para as suas fileiras que mostram nas 1ªas páginas com orgulho.Colaboram activamente na reconstrução dum novo império agora só cá dentro e por nossa conta.
O terem abandonado os seus mortos pelos sertões africanos diz tudo.
Mas o que "mexe" e se "manifesta" tem por trás ainda coisa pior do que já temos.A vontade de ditaduras comunistas...coisa que o fim do SMO tornou possível a prazo...com a constante política do "quanto pior, melhor"...e do desarmamento da população
Isto não vai acabar bem...

jsp disse...

Sem ter a honra de o conhecer, permita que lhe "envie" um caloroso e comovido abraço.

muja disse...

Eu acho que nem tanto ao céu, nem tanto à terra.

Nada contesto do que o Dragão escreve. Mas tenho alguma esperança que, se os que se "mexem" ou melhor, vão dando à cornadura, são a miséria que se conhece e que no escrito está espelhada, exposta e dissecada; outros militares haverá capazes ainda de vislumbrar o dever e cumpri-lo ou, pelo menos, morrerem tentando.

Pelo que esperam não sei. Mas que já se faz tarde, lá isso faz...

Unknown disse...

excelente.

Duarte Meira disse...


Dragão:

É um dos seus textos de antologia, e digníssimo ds fotografia que o encima. (Devia ser lido nas mais altas ameias desse castelo!)

Agora, descendo ao rés da vasa pútria em que estamos:

«É a ultima oportunidade que tendes...»

Já passou o tempo deste género de oportunidades. Se vivêssemos os velhos ciclos de vida política em que normalmente estivemos desde 1820, podia-se esperar, e já tardava, que vamos quase em 40 anos de balbúrdia e abjecção.

Mas esse tempo passou. Não haverá mais pronunciamentos militares nenhuns no Império Eurásico em formação. As coisas passam-se, passarão e decidem-se cada vez mais a outros níveis. O meu caro desiluda-se. Mas, por falar em "outros níveis", desiluda-se também de outra coisa: - a de que está aqui a escrever "pró boneco" ou a falar "prás paredes"...

dragão disse...

Duarte,

Não me desiludo. Nem duma coisa nem doutra. Primeiro, porque, como os meus antepassados, confio em Deus; segundo, porque, como diz o povo, as paredes têm ouvidos. O que, de resto, vossência e os seus excelêntíssimos predecessores acabam de comprovar.

Anónimo disse...

Portugal já produziu D.João II, Marquês de Pombal, Salazar e outros Ilustres filhos, e porque não virá outros Lideres no futuro? Enquanto existir Portugal há sempre esperança.