terça-feira, agosto 14, 2012

A Metapilinha



A diferença mais evidente que existe entre um ateísta profissional e um leigo religioso - um católico, por exemplo, só para citar o exemplo mais numeroso entre nós -, reside na quantidade de horas semanais que devotam ao (chamemos-lhe assim)  "pensamento na religião". O católico gasta para o efeito cerca de duas horas semanais (geralmente ao domingo), ou seis ou sete, nos casos mais  fervorosos; o ateísta , por seu turno, emprega nisso todas as horas dos sete dias semanais, excepto aquelas em que não consegue, para sua grande pena, continuar acordado a ruminar e  cocabichar no assunto. A explicação para este aparente - e apenas aparente - paradoxo consiste, muito simplesmente,  na disparidade de faculdades psíquicas utilizadas por cada um deles no empreendimento: o católico entrega-se à fé (que, como bem sabemos, na espécie humana, tende a ser pequena, limitada, mesquinha e interesseira); o ateísta, em contrapartida, abandona-se à imaginação, a qual, por natureza e intuito,  transcorre, transpira e transborda, infatigavelmente, entre o absurdo, o obsceno e o infinito. De não espantar, por conseguinte, que o católico deslize em geral para a acédia, fazendo da religião um mero acessório da existência; enquanto o ateísta, por fatalidade agravada em vício, trepe à obsessão mais exaltada, em transbordo para a monomania ultra-feroz, fazendo da religião, mais que essência subtil (pois que toda a subtileza os repugna), o sol concreto da sua logoláxia. Naquele, em resumo, estamos perante o automatismo hebdomadário ao nível do tique; neste, ainda mais sofisticado, o devaneio excitante em recheio, guarnição e transporte para a auto-carícia... Fruto goro, por certo, de todo um  intelecto reduzido a metapilinha.


3 comentários:

zazie disse...

ahahahaha

Não tenhas dúvidas. Eles só pensam nisso e sabem a Bíblia de cor para encontrarem detalhes "imorais" ou anti-científicos

":O)))))

A. disse...

Eu, nestas coisas são um católico muita "badalhoco" (c'má Zazie:))!

Não acho grande piada ao proselitismo religioso (sobretudo se ostensivo).
Já o constante proselitismo ateu faz-me desatar às....gargalhadas.
O proselitismo ateu tem tudo para ser intelectualmente trágico mas torna-se apenas cómico.

Anónimo disse...

Est fides sperendarum substancia rerum, argumentum non aparentium. S. Paulo(?) Carta aos Hebreus, XI, 1