domingo, outubro 31, 2004

Outra Questão

Quando, em Quinhentos, as caravelas portuguesas se lançaram na aventura dos mares iam semear a Fé, ou iam à procura e à descoberta dela?...

«O sonho é ver as formas invisíveis
da distância imprecisa, e, com sensíveis
Movimentos da esp'rança e da vontade,
Buscar na linha fria do horizonte
A árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte -
Os beijos merecidos da Verdade.»
- Fernando Pessoa, "Mensagem" (Horizonte)

PS.- Esta questão serve de também de intróito à explanação daquela que julgo ser a ideia de Quinto Império em Fernado Pessoa, tal qual fui desafiado pelo comentador residente deste blogue, o digníssimo José.

Os restantes leitores, a quem estas questões eventualmente não interessem, queiram ter a bondade de passar ao largo.


16 comentários:

Anónimo disse...

Se és Jovem e Ambicioso e tens uma Tese de Doutoramento (caso não a tenhas vai ao Restelo a casa do senhor que fornece as Universidades)

Estão abertas as candidaturas para

POLICIA MANIPULADOR

Alista-te na

CONGREGATIO DE PROPAGANDA FIDE

dirigida pelo Coronel Fodé Cassamá
(oficial da Força-Aérea - responsável pelo lançamento de Balões de S. João)

A Esquerda é um Cortejo de Mortandades Excessos, é Arrepiante, Imoral e Criminosa. As suas Organizações Juvenis são um antro de assassinos em idade Adolescente.
Vem ganhar jeito de os apanhar desprevenidos dentro do seu próprio território, escancarados ao ridículo, com as calças na mão.

Vem Ajudar a Extinguir a Esquerda!

Programa disponível em:

www.riapa.no.sapo.pt

josé disse...

Ó caro Riapa: e se fosses ripar noutro lado e de modo mais consequente? Não leves muito a mal, mas é irritante esse estilo escondido em metáforas que só tu entendes. Pá! Põe isso em estilo que se possa ler e perceber e até eu lerei o que escreves!
Assim, é poluição blogueira.


Quanto ao assunto do postal:

Percebo pouco de história. Para isso, temos cá a Zazie.
COntudo, mentendo-me por mais um atalho, gostaria de saber a mentalidade das pessoas de quinhentos que se fizeram ao mar encapelado em caravelas movidas a vento.

Gostaria de saber se o Gama e o Albuquerque e o Cabral acreditavam mesmo em Deus que estava em toda a parte e tinha representante consular em Roma. E, se acreditavam, queriam mesmo mostrar ao indigenato malabar que esse Deus era superior aos deuses escondidos no vento e nas cinzas que eles adoravam.
No fundo, o que eu gostava de saber é aquilo que verdadeiramente os movia: a cruz ou a prata? Tudo junto não chega como resposta, pois confunde o essencial com o acessório.

E o Pessoa acreditava em quê?! Num regresso ao passado de glória feita de conquistas de terras e exploração de especiarias e extracção de minério rico em valor de troca? Ou do regresso a uma mentalidade de pessoas com ideias para passar além da Taprobana?

zazie disse...

não exagere josé que esta zazie não sabe tudo e muito menos que mentalidade tinham os gajos. Mas, pelo que se sabe da época acreditavam nas duas coisas. E não as separavam assim, como nós.
E a questão não era só expansão de crença. Havia a luta contra os hereges e a ideia de viagem como peregrinação da alma. Eles queriam combater o infiel (e a ameaça turca estava no horizonte, como se verá com Lepanto) mas também trazer para a fé cristã os povos desconhecidos. A questão da Lenda do Prestes João tem muito mais importância do que se possa pensar. Aliás, é com um assunto desses que anda há uma data de tempo e que até está prometido para o bacano do Conta Natura (falta-me o tempo e tenho coisas ainda por decifrar).

Agora o Pessoa não sei. Por isso é que comecei por dizer que, para quem olha par estas coisas pelo olhar ingénuo de quinhentos o que o Pessoa escreve parece postiço... e acrítico. Mas isto é uma impressão demasiado genérica que nunca estudei o assunto. Por isso aqui estou para ler o nosso Dragão.

zazie disse...

não exagere josé que esta zazie não sabe tudo e muito menos que mentalidade tinham os gajos. Mas, pelo que se sabe da época acreditavam nas duas coisas. E não as separavam assim, como nós.
E a questão não era só expansão de crença. Havia a luta contra os hereges e a ideia de viagem como peregrinação da alma. Eles queriam combater o infiel (e a ameaça turca estava no horizonte, como se verá com Lepanto) mas também trazer para a fé cristã os povos desconhecidos. A questão da Lenda do Prestes João tem muito mais importância do que se possa pensar. Aliás, é com um assunto desses que anda há uma data de tempo e que até está prometido para o bacano do Conta Natura (falta-me o tempo e tenho coisas ainda por decifrar).

Agora o Pessoa não sei. Por isso é que comecei por dizer que, para quem olha par destas coisas pelo olhar ingénuo de quinhentos o que o Pessoa escreve parece postiço... e acrítico. Mas isto é uma impressão demasiado genérica que nunca estudei o assunto. Por isso aqui estou para ler o nosso Dragão.

zazie disse...

ups que isto saltou...


bem, voltando à cruz e à prata. Diria que o povo ia mais pelos trocos e a cruzada ficava mais para os nobres. Mas os aventureiros também tiveram grande importância e, no caso das descobertas esse factor é muito importante. Por isso, também é importante observar como a política do Norte de África teve mais peso com certos monarcas e o mar com outros. O mar sempre foi a grande aventura. O Norte de África e Ceuta, logo de início eram um excelente celeiro que fazia falta ao país.
Depois, quanto à dita dita riqueza também há muita cosia a distinguir. O interesse pelas especiarias ou sangue de drago para a tinturaria não é a mesma coisa que o saque de riqueza e espólio dos vencidos nem sequer a mesma que o trabalho mineiro.
Nós é que hoje em dia falamos disso tudo com o mesmo significado mas na altura o luxo e o brilho dos metais preciosos tinha um valor muito mais simbólico que prático.
Era a velha tradição do tesouro e do luxo. É sempre muito engraçado ler as descrições de viagens de monarcas e comitivas régias e respectivas estadias. Deles e clero. Chegavam a dormir em palheiros com enxergas maltrapilhas mas não esqueciam a mesinha de prata com embutidos.

dragão disse...

"Trazei-me novas de Preste João!", terá dito o Infante aos seus navegadores.
Folgo que a Zazie fale nisso. Daí a minha pergunta.
Por outro lado, as relações da coroa portuguesa com Roma, até D.João II, nunca foram muito profundas. D.Dinis, por exemplo, (um dos nossos grandes reis, a propósito) não persegue os Templários, como recomendava uma Roma ao serviço de França. Ao contrário converte a Ordem do Templo, em Portugal, na Ordem de Cristo. Ordem, esta, de que o Infante era o Grão Mestre. Coincidências...

zazie disse...

mas voltando ao queriam mostar ao indígena. José, havia uma velha tradição de debate escolástico com os mouros e judeus. E isso era importante para a afirmação da fé. Até se escreveram peças teatralizadas e fantasiadas acerca dessas disputatio. Depois foram expulsos e o combate tinha de procurar outras paragens. Não nos esquçamos que nem a fé nem a coroa foram feitas para viver em paz. A guerra era o curso natural da fé. Fosse pelo verbo ou pela espada. E a ideia da libertação do Santo Sepulcro sempre esteve em mente. Havia uma missão. Depois, a crença do tal reino do Prestes joão e na possibilidade de aliança foi um motor muito forte. para além disso havia o mundo desconhecido, os povos que habitavam nas margens do Paraíso Terrestre. todas essas lendas que o Mandeville contava na fantasiada viagem à Terra Santa e que era o livro mais lido logo a seguir à Bíblia. Isso tinha tal peso que ainda em cima dos acontecimentos eram essas fantasias mais conhecidas que os relatos reais. Quando não eram os relatos que se tinham de adaptar a elas como no caso do Colombo que se fartou de "pintar" para agradar aos Reis Católicos.
Depois, a grande questão vai estar no modo como se lida com os indígenas. Não se esqueça que o D. Manuel até tratava por primo o rei do Congo. E deram-lhes trato de corte num óbvio sentido prático de expansão de poder.
E essa era imagem diplomática, por trás dela também se cuida da rede de venda de escravos e de todo mercantilismo. E isso é curioso porque também são os nobres qpor lá se instalam em tratos de comércio e de poder e até cunhavam moeda.
Agora quanto a Deus e a Roma aí é que já tinha mais reservas. O Deus não precisava tanto de Roma a não ser para legitimar poder interno. Nem a dita instuição tinha controle directo sobre as práticas dos seus quanto mais dos laicos... O Vasco da Gama rezou num templo indígena, e ficou maravilhado pela semelhança com as nossas igrejas. E estava na Ìndia, meu caro!

zazie disse...

Porque pior do que se ser herético era não se ter qualquer crença. Por isso importava conquistar para a fé cristã os que ainda não estavam do lado do Mal. Do lado do crescente turco

josé disse...

Livro mais lido a seguir à Bíblia? Em 1500?
Mas esse foi o ano da divulgação da Hypnerotomachia Poliphili de que há poucos exemplares.
O JPP falou no livro e eu fui no engodo, porque a hostória é fascinante e até ando a ler ( agora nesta parte, passa à frente, Dragão...) a Regra de Quatro, sobre esse livro.É uma historieta sobre uns putos de fac. em que um deles faz uma tese de doutoramento sobre o tal livro raro.

Esse livro do Manville qual era?

zazie disse...

pois é, as nossas relações com Roma nunca foram muito fortes não. Assim como as relações com Itália ou Norte da Europa também alternaram. Por isso é que o humanismo veio tarde a às horas e com D. Manuel até se regrediu. Afonso V e D. João II, sim. Depois foi preciso o D. João III para nos virarmos de novo para lá. A tradição medieva não é a de Roma nem a do Sul e o infante era homem medieval e D. Manuel também.

dragão disse...

O facto do blogue ser um espaço público, aberto aos "riapas" todos deste mundo, cria-me um problema de "comunicação". Há um dever de reserva, em se tratando de certas questões, que nos cumpre cultivar. "Não lanceis pérolas a porcos...", como disse alguém muito sábio.
Apelo, por conseguinte, à vossa futura compreensão (José e Zazie), que o terreno onde vamos entrar é "minado".

zazie disse...

ahhaha é verdade! o ano da publicação da Hypnerotomachia Poliphili! anda com isso, josé! isso é uam delícia! também ando mas por outras razões. Com ela e com toda a emblemata. Mas as Viagens à Terra Santa e as edições em gravura do Liber Chronicorum tinham muito mais divulgação por cá! Essas histórias de secretismo egípicio e de de fantasias simbólicas eram obras de corte. Muito restritas e muito eruditas que tirando as cortes italianas só vã oconseguir adeptos entre O Maximiliano I. E aí sim, até o Durer também inventa emblemata ":O))

zazie disse...

ó Dragão, se é por causa de riapas eles não sabem ler. Eles aprenderam foi a fazer copy paste com o rato ":O)))

josé disse...

O Hypnerotomachia foi traduzido para inglês e vende-se na...Amazon!Na net há reproduções das ilustrações em definição suficiente para ver a qualidade das mesmas. Ainda procurei saber se a ilustração do disco do Leonard COhen New Skin for the old ceremony teria sido trazida do infólio, mas não encontrei informação.
O livro foi uma descoberta para mim. Mais um atalho.

Roberto Iza Valdés disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Anónimo disse...

Best wishes.