sábado, outubro 30, 2004

Dragão na Clandestinidade

Em se tratando da Nação, desse Portugal levado da breca, capaz do melhor e do pior e, a maior parte do tempo, do péssimo, sou um perfeito ferrabrás. Sobe-me logo o sangue à cabeça. Perco instantaneamente as estribeiras e a tramontana junto com elas. Fico capaz de trucidar e estrafegar a eito; sem dó nem piedade. Só me ocorrem contas a ajustar com meio mundo: mouros, castelhanos e ingleses, primeiro que todos!... Obsidia-me uma honra suja, emporcalhada, que urge lavar a qualquer custo – com sangue, a tiro, à bomba, à chapada, seja lá como fôr! É uma obsessão!
Quem me conhece sabe que tem que ter cuidado. Pois há palavras perigosas, que não podem ser ditas de ânimo leve à minha frente, ao alcance destes meus pavilhões auriculares de verdadeiro tísico. Têm pólvora lá dentro, as tais; trotil, nitroglicerina, são lume para o meu sequioso rastilho. “Portugal”, repito – é a mais explosiva de todas! Alguém que se descuide, que a profira a menos de mil metros, eu que a oiça, e temos o caldo entornado. Garanto-vos que não é substantivo que eu deixe impune. Já ninguém me sossega:
“Alisto-me aonde?! Embarco aonde?! Está aonde a caravela?! Vamos atacar quem?!...” – rompo, de imediato, aos gritos, aos roncos, levado de seiscentos diabos, todos eles a arder de fervor patriótico.
No minuto seguinte já estou de camuflado e caçadeira na mão, com os olhos injectados e uma raiva de séculos a instigar-me a proezas épicas. Dardejo olhares alucinados, em prelúdio de carnificina. Devastar seca e meca é o mínimo que me ocorre.
-“Hoje é dia de caça?” - pergunta-me a senhora Dragão, ao deparar com a exótica expedição e também porque eu, em prelúdio de blitzkrieg devastador, vou maltratando cadeiras.
-“Caça?!! –Rujo ofendido, escamadíssimo. –Tu achas-me com cara de quem perde tempo com coelhos, quando os filhos da puta infestam o mundo e potências malignas ocupam o rincão?! Diz-me lá, achas?!!”
Aproveito para salientar que não sou um desses traumatizados da Guerra colonial. A mim, tiveram que me arrancar de lá à força e sob escolta armada, que sítio como África, onde um gajo se divirta tanto, nunca vi. Quer isto dizer que não descarrego as frustrações e a cobardia entranhada nos desgraçados dos coelhos, animais meus compatriotas.
Mas voltemos à minha digníssima esposa que, em certas ocasiões de crise nacional, tem o condão de me enfurecer tanto ou mais que as potências ocupantes.
-“Não me digas que estás outra vez com ideias de ir acabar com os bimbos?!” – (Aqui, ela, alarma-se. Os bimbos são os vizinhos para lá do rio que, em tempos, espanquei. Espancar alguém pode viciar. Ciclicamente visita-nos uma nostalgia. Em se tratando de bimbos, a nostalgia chega a tornar-se opressiva. Um amigo meu que teve a sorte de espancar alentejanos, diz-me que com ele se passa o mesmo. Estamos fartos de nos convidar, ele a mim para ir malhar nos alentejanos dele, eu a ele para vir exercer nos meus bimbos, mas a ocasião, lamentavelmente, tem-se vindo sempre a esfumar. Há uma retracção natural nas vítimas, que, lastimavelmente, as torna cautelosas e furtivas. Mas desvio-me do assunto...)
Estava pois a senhora Dragão a alarmar-se. Tranquilizo-a, apesar de tudo; mas sem nunca perder o tom de voz estentóreo que a ocasião exige:
-“Não tenho tempo para bimbos, pôrra! isso é uma questão tribal interna! (Mas porque raio perco eu o meu valioso tempo a explicar a guerra a mulheres?!!) Olha, vou passar à resistência, vou prá clandestinidade! Se a polícia passar aqui a perguntar por mim, diz-lhes que não me viste!!”
-“E levas a boina preta ou a vermelha?” – Inquere, ela, resignada. O que tem o dom de me irascibilizar ainda mais. Mais belicoso que nunca, urro:
-“Mas tu achas que eu vou para algum desfile?!! Irra! Levo o meu gorro “comando”. E tu, vê lá se metes nessa cabeça dura duma vez por todas: Vou prá clandestinidade!!...Prá clandestinidade, ouviste bem?!!Vou bater-me pela honra do meu país! Se eu morrer, não chores!”
E saio porta fora, resfolegando e praguejando, com toda a fúria de que sou capaz. Não sem que, entretanto, em jeito de despedida, ela não me brinde com o seguinte adeus:-“Olha, já que vais sair, quando voltares da clandestinidade, passa no Pingo Doce e traz o pão.”

Grunffthhh!....


1 comentário:

Anónimo disse...

Se és Jovem e Ambicioso e tens uma Tese de Doutoramento (caso não a tenhas vai ao Restelo a casa do senhor que fornece as Universidades)

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