quinta-feira, julho 22, 2004

Os Bravos e os Mansos


O Manuel, da Digníssima Loja,  que não os poupa, aos safardanas, e são muitos, e só por isso é merecedor da nossa estima e reconhecimento, diz a páginas tantas dum postal seu:
«O que não está correcto é o divórcio existente entre os Partidos Políticos e a população».
O Manuel não é meu irmão, mas é como se fosse. A forma sincera, heróica e sentida como se atira aos moinhos atesta-o. Não pertence à raça dos Sanchos Panças. Pertence àquela estirpe de cavaleiros azougados e descarnados que Cervantes chamou de Triste-Figura.  Pois eu digo-vos que melhor elogio não há -Triste-Figura. Num cabrão dum mundo destes, cada vez mais de patas pró ar,  a Triste-Figura é a mais digna das figuras. E o bandalho que disser o contrário, génio maligno e filho duma grande puta certamente, parto-lhe as trombas e rebento-lhe a chifradura em sítio e local a combinar! No estado de calamidade pública a que isto chegou -refiro-me ao planeta, seus coninhas-, só mesmo canalhas, pederastas e filhos da puta para andarem alegres.
Serve tudo isto para dizer que, apesar das afinidades quixotescas, desta vez, sem exemplo, eu o o Manuel não estamos de acordo. Ele diz que o divórcio não está correcto; eu, pelo contrário, digo que só não está correctíssimo porque peca por tardio e acarreta escassa indemnização.
Eu explico. Nós, cidadãos, somos o marido. Eles, políticos, fazem de esposa. Nós, otários, inexperientes, platónicos, quando contraímos matrimónio, julgámos fazê-lo com uma senhora de sentimentos e virtudes, de passado ilustre e honra impoluta. Amarga desilusão: Passado pouco tempo, descobrimos que não passava duma rameira ninfomaníaca, armada de peneiras e enxaquecas, que fornicava com toda a malta do bairro - sobretudo os merceeiros-, excepto connosco. Nós só trabalhávamos que nem moiros para lhe sustentarmos a madracice e os caprichos. Nós, teóricos maridos, na prática, não passávamos de andarilhos.
E agora que o descobrimos, que demos com em ela em flagrante a abrir as pernas ao pagante avulso, das duas uma: Ou somos cornos mansos ou não somos.
Partindo do princípio que não somos, então o divórcio não basta. Não chega. Há, neste caso, tradições saudáveis a cumprir, genes herdados que urge actualizar. Não saltemos etapas: antes do divórcio, impõe-se a violência conjugal mais que justificada -justíssima! Não é preciso revolução nenhuma: basta uma boa carga de porrada, exemplar, à moda antiga! E, depois,  porta fora, mais os batons e os riméis!
Dos cornos já ninguém nos livra, portanto, usemo-los com bravura.
Dos mansos preferia não falar. Neles, o orgulho substitui a revolta; a ramificação dissimula a parelha. Quase sempre, antes do divórcio, também incorrem na violência conjugal. Só que, bois resignados, vaidosos, apenas lhes servem os cornos para que a vaca lhos parta. É a chamada lógica política: "ponho-tos; e, se refilas, parto-tos!"
Ora, o manso tem tanta vaidade e estima nas armações, que vive no terror e na angústia  que alguém lhas quebre.


8 comentários:

zazie disse...

derivando um pouco, o que achas do João Garcia? eu mandei para a Janela um ligeiro post mas não houve reacções... é um daqueles exemplos do bigger than life e idealismo tão fora dos "pés na terra" que me fascina.

ABA disse...

Caríssimo,
Esse divórcio que refere tem ideias a sustentá-lo?
Por exemplo, o Sócrates(!)
É que ainda estou para descobrir quem é que disse que o homem era socialista!!!
É disto que estamos a falar?!
Saudações Leoninas ;)

dragão disse...

Caros comentadores,

Vocês, agora, baralharam-me. O João Garcia não sei quem é; o Sócrates, o único que conheço, mataram-no com cicuta vai pra 25 séculos; e porque é que não devemos malhar nos políticos, ó Clark?...

zazie disse...

ahahaha e porque é que não devemso matar os políticos?

Dragão : o João Gracia é o gajo que sobe o Everest mesmo sem dedos ":O))
palavra, pensei que daria para falar sobre isto contigo ":O))

dragão disse...

Ah, esse João Garcia!... (Tu sabes que tens que me explicar tudo muito bem explicadinho, ó Zazie, que para armar confusões e bate-fundos ninguém me bate!...)
Então o gajo trepou por ali acima?...Mesmo sem dedos...
Por acaso, depois, uma vez conquistado o cume, não tentou voar cá pra baixo?...Mesmo sem asas...? Culminaria o prodigio com o milagre, eh-eh!...

zazie disse...

ehehehe doidinho sem dedos e sem nariz.
Mas verdade. Estas coisas não te dão que pensar? achas que é só folclore? um desafio sem sentido, uma luta que nada aproveita para o social?
pois eu insisisto. Estas coisas são curiosas pelo gratuito que também têm.
Que diabo, fazem parte da dita "natureza humana" numa escala mínima e acarretam a tal ideia de Bigger than Life que é uma ideia no fio da navalha...
não te diz nada mesmo?

dragão disse...

As únicas coisas que valem a pena neste mundo são gratuitas. Puta que pariu o social!...
É o que eu acho.
A Arte, por exemplo, a verdadeira, é gratuita.
O João Garcia merece todo o meu respeito. Desde que não o tenha feito pelo "troféu".
Um dia ainda me dá na telha e desato para aqui a falar das minhas aventuras neste cabrão de planeta. Um verdadeiro D.Quixote à solta num século XX. Queres coisa mais gratuita que isso?
O único problema é que não me lembro de 70% da minha vida. A melhor parte. Quando se vive a sério, prescinde-se da contabilidade.

zazie disse...

As únicas coisas que valem a pena neste mundo são gratuitas. Puta que pariu o social!...áh ! ate´qeu enfim, caraças! eu sabia que não tinha batido em porta errada quando me lembrei de comentar isto contigo ":O))
pois é, estes quixotismos também são dos meus. E o raio do João Garcia a lutar com a montanha, perdendo dedos, perdndo nariz, com a morte ali à espreita na beleza temível daquelas montanhas... é coisa que me toca.