Esta é boa:
«As autoridades de Berlim estão a planear instalar caixotes de lixo que dizem «obrigado» quando se deita qualquer coisa lá para dentro.»
A ideia é excelente. Mas quando chegarem a Portugal, agradecer não basta: vão ter também que dar gorjeta. Ou então, no mínimo, proferir, com grande obséquio:
"Obrigado, sô Doutor!..."
quarta-feira, março 31, 2004
BLOGOSCOPIA V - A Bizarria
Uma série de blogues muito dignos (afinal, todos os blogues o são), exibem no sub-título - onde os respectivos autores se dão ao trabalho de enunciar características idiossincráticas-, confidências e miudezas assaz bizarras do género: "liberal", "neo-liberal" e outras variações sobre o mesmo tema.
E eu pergunto: mas para que raio interessa ao leitor saber da profissão antiquíssima da mãe do autor, das preferências sexuais heterofóbicas deste, ou da poliandria reiterada da esposa?...
Por mim, acho que a vida privada de cada qual só a ele ou ela diz respeito. Ou defendem com unhas e dentes a privatização de mundos e fundos, e nem sabem privatizar o essencial?!...
Pobre gente...É tanta a volúpia do poder, que até se esquecem do pudor!...
E eu pergunto: mas para que raio interessa ao leitor saber da profissão antiquíssima da mãe do autor, das preferências sexuais heterofóbicas deste, ou da poliandria reiterada da esposa?...
Por mim, acho que a vida privada de cada qual só a ele ou ela diz respeito. Ou defendem com unhas e dentes a privatização de mundos e fundos, e nem sabem privatizar o essencial?!...
Pobre gente...É tanta a volúpia do poder, que até se esquecem do pudor!...
ALEGORIA À PORTUGUESA
Era uma vez um avião.
Um belo dia tornou-se evidente um particular facto: o comandante e o co-piloto persistiam numa condução errática, soluçante, cheia de salavancos, que teimava em não chegar a lado nenhum. Começaram os múrmurios entre a tripulação, inquieta e temerosa. Daí à conspiração não demorou nada. Um plano tomou forma: atirar com o comandante e o co-piloto pela borda fora. Era simples, rápido e eficaz. E foi. Atiraram. Em plena pausa para o pequeno-almoço, mal tinham acabado de ligar o piloto automático, lá foram eles, o comandante e o co-piloto, em queda livre, pela porta fora, nuvens abaixo.
Vitoriosos, os comissários e hospedeiras comunicaram o gesto redentor aos passageiros e fez-se uma grande festa. Os passageiros, não perceberam muito bem o que se estava a passar, mas interromperam as rezas e a audição do relato para celebrar.
Entre a tripulação, porém, surgiu um problema: quem seria agora o comandante? Os comissários reclamavam que fosse um comissário; as hospedeiras contestavam que fosse uma hospedeira. Do debate passou-se ao confronto e, em menos de nada, desatou-se no tumulto. Todos, hospedeiras e comissários, achavam que deviam ser comandantes. Por fim, depois de grandes confrontos, decidiram fazer a coisa por turnos. Promoveram-se todos a comandantes e estabeleceram um horário repartido.
Entretanto, os passageiros viam chegar a hora das refeições, mas como toda a tripulação era, doravante, composta por comandantes, já não restavam comissários nem hospedeiras para o serviço de bordo. A fome e o desconforto não tardaram. Começaram os múrmurios. Daí à conspiração foi rápido. Os passageiros da 1ª classe instigaram os da Segunda; os da segunda ampliaram os boatos aos da económica. Até que a paciência se esgotou: desterraram os comandantes e comandantas revolucionários todos pró porão, e organizaram eleições para delegarem novo comandante e restante tripulação. Estabeleceram-se as seguintes regras: pra comandante poderiam concorrer os da 1ª classe; pra comissário os da Segunda; e pra hospedeira os da económica. E assim foi. O acto decorreu sem mais sobressaltos e com elevado civismo. Elegeram um humanista.
Entrou na cabina e encarou toda aquela panóplia de instrumentos, comandos e pedais. Sentou-se na cadeira de comandante e, depois de várias experiências e tentativas, descobriu onde ficavam os intercomunicadores. Conseguiu mesmo entabular conversação com aeroportos estrangeiros. Comunicou a situação. Recomendaram-lhe acções de emergência. Chamou os comissários e ordenou que transmitissem aos passageiros para apertarem o cinto. Os passageiros não gostaram. Começaram os múrmurios, especialmente entre os da 1ª classe. Os economistas, sobretudo, clamavam contra a incompetência e lirismo do humanista. Até que o humanista foi demitido e foram convocadas novas eleições. Ganhou um economista. Entrou na cabine, sentou-se na cadeira de comandante e pôs-se a fazer elaborados cálculos e contas. Por fim, consultando o manual de voo, descobriu qual era o pedal do acelerador e acelerou. Ufano com a conquista, comunicou pró avião: "vamos agora mais depressa, já podem desapertar os cintos!".
A viagem lá prosseguiu, mas, entretanto, deu-se o caso da tripulação começar a comer mais que os passageiros e a entregar-se a orgias privadas em vez de servir o público. Nova agitação a bordo. Murmúrios, protestos, eleições. Escaldados com humanistas e economistas, elegeram um engenheiro. Mas o engenheiro nunca exercera. Entrou na cabine e olhou para o vasto e azul céu lá fora...Comovido, sentindo-se próximo do Senhor, ajoelhou-se e rezou. Depois, benzeu-se e veio dialogar com os passageiros sobre as virtudes e os vantagens da oração. A salvação era rezarem todos, talvez o milagre acontecesse. Mas o milagre não aconteceu e a tripulação, como a anterior, desatou a açambarcar víveres e mordomias. Desgostoso, o engenheiro abdicou e fechou-se na casa de banho, convertida em mosteiro imaginário.
Novo plebiscito e nova nomeação. Fartos de humanistas, economistas e engenheiros, tentaram com um advogado.
O advogado esfregou as mãos; nem queria acreditar naquela verdadeira prenda dos céus. Mal chegou diante da porta da cabine, nem entrou: veio logo queixar-se que o engenheiro tinha levado a chave, que o avião estava em queda livre, que os motores gemiam gripados e as reservas de combustível retumbavam delapidadas.
Estarrecidos, os passageiros agradeceram o treino com o humanista e apertaram-se muito às cadeiras com os cintos; aproveitaram o treino com o economista e puseram-se a chorar muito depressa; aproveitaram o treino com o engenheiro e puseram-se a rezar fervorosamente. Enquanto isso, a tripulação do advovado, iluminada pelo exemplo das anteriores, correu a tratar do espólio urgente dos mantimentos e até dos bolsos e bagagens dos passageiros. Ao mesmo tempo colocaram o avião à venda na Internet.
Entretanto, o avião lá anda, às voltas, numa espiral descendente, cada vez mais baixo, entregue ao piloto automático e aos caprichos da meteorologia. A gasolina, tudo o indica, está-se a acabar.
Agora, espreitem bem lá para dentro...observem com atenção...
Como é que se distinguem os políticos, presentes e passados, dos restantes?
É simples. São os que estão de pára-quedas.
Um belo dia tornou-se evidente um particular facto: o comandante e o co-piloto persistiam numa condução errática, soluçante, cheia de salavancos, que teimava em não chegar a lado nenhum. Começaram os múrmurios entre a tripulação, inquieta e temerosa. Daí à conspiração não demorou nada. Um plano tomou forma: atirar com o comandante e o co-piloto pela borda fora. Era simples, rápido e eficaz. E foi. Atiraram. Em plena pausa para o pequeno-almoço, mal tinham acabado de ligar o piloto automático, lá foram eles, o comandante e o co-piloto, em queda livre, pela porta fora, nuvens abaixo.
Vitoriosos, os comissários e hospedeiras comunicaram o gesto redentor aos passageiros e fez-se uma grande festa. Os passageiros, não perceberam muito bem o que se estava a passar, mas interromperam as rezas e a audição do relato para celebrar.
Entre a tripulação, porém, surgiu um problema: quem seria agora o comandante? Os comissários reclamavam que fosse um comissário; as hospedeiras contestavam que fosse uma hospedeira. Do debate passou-se ao confronto e, em menos de nada, desatou-se no tumulto. Todos, hospedeiras e comissários, achavam que deviam ser comandantes. Por fim, depois de grandes confrontos, decidiram fazer a coisa por turnos. Promoveram-se todos a comandantes e estabeleceram um horário repartido.
Entretanto, os passageiros viam chegar a hora das refeições, mas como toda a tripulação era, doravante, composta por comandantes, já não restavam comissários nem hospedeiras para o serviço de bordo. A fome e o desconforto não tardaram. Começaram os múrmurios. Daí à conspiração foi rápido. Os passageiros da 1ª classe instigaram os da Segunda; os da segunda ampliaram os boatos aos da económica. Até que a paciência se esgotou: desterraram os comandantes e comandantas revolucionários todos pró porão, e organizaram eleições para delegarem novo comandante e restante tripulação. Estabeleceram-se as seguintes regras: pra comandante poderiam concorrer os da 1ª classe; pra comissário os da Segunda; e pra hospedeira os da económica. E assim foi. O acto decorreu sem mais sobressaltos e com elevado civismo. Elegeram um humanista.
Entrou na cabina e encarou toda aquela panóplia de instrumentos, comandos e pedais. Sentou-se na cadeira de comandante e, depois de várias experiências e tentativas, descobriu onde ficavam os intercomunicadores. Conseguiu mesmo entabular conversação com aeroportos estrangeiros. Comunicou a situação. Recomendaram-lhe acções de emergência. Chamou os comissários e ordenou que transmitissem aos passageiros para apertarem o cinto. Os passageiros não gostaram. Começaram os múrmurios, especialmente entre os da 1ª classe. Os economistas, sobretudo, clamavam contra a incompetência e lirismo do humanista. Até que o humanista foi demitido e foram convocadas novas eleições. Ganhou um economista. Entrou na cabine, sentou-se na cadeira de comandante e pôs-se a fazer elaborados cálculos e contas. Por fim, consultando o manual de voo, descobriu qual era o pedal do acelerador e acelerou. Ufano com a conquista, comunicou pró avião: "vamos agora mais depressa, já podem desapertar os cintos!".
A viagem lá prosseguiu, mas, entretanto, deu-se o caso da tripulação começar a comer mais que os passageiros e a entregar-se a orgias privadas em vez de servir o público. Nova agitação a bordo. Murmúrios, protestos, eleições. Escaldados com humanistas e economistas, elegeram um engenheiro. Mas o engenheiro nunca exercera. Entrou na cabine e olhou para o vasto e azul céu lá fora...Comovido, sentindo-se próximo do Senhor, ajoelhou-se e rezou. Depois, benzeu-se e veio dialogar com os passageiros sobre as virtudes e os vantagens da oração. A salvação era rezarem todos, talvez o milagre acontecesse. Mas o milagre não aconteceu e a tripulação, como a anterior, desatou a açambarcar víveres e mordomias. Desgostoso, o engenheiro abdicou e fechou-se na casa de banho, convertida em mosteiro imaginário.
Novo plebiscito e nova nomeação. Fartos de humanistas, economistas e engenheiros, tentaram com um advogado.
O advogado esfregou as mãos; nem queria acreditar naquela verdadeira prenda dos céus. Mal chegou diante da porta da cabine, nem entrou: veio logo queixar-se que o engenheiro tinha levado a chave, que o avião estava em queda livre, que os motores gemiam gripados e as reservas de combustível retumbavam delapidadas.
Estarrecidos, os passageiros agradeceram o treino com o humanista e apertaram-se muito às cadeiras com os cintos; aproveitaram o treino com o economista e puseram-se a chorar muito depressa; aproveitaram o treino com o engenheiro e puseram-se a rezar fervorosamente. Enquanto isso, a tripulação do advovado, iluminada pelo exemplo das anteriores, correu a tratar do espólio urgente dos mantimentos e até dos bolsos e bagagens dos passageiros. Ao mesmo tempo colocaram o avião à venda na Internet.
Entretanto, o avião lá anda, às voltas, numa espiral descendente, cada vez mais baixo, entregue ao piloto automático e aos caprichos da meteorologia. A gasolina, tudo o indica, está-se a acabar.
Agora, espreitem bem lá para dentro...observem com atenção...
Como é que se distinguem os políticos, presentes e passados, dos restantes?
É simples. São os que estão de pára-quedas.
A TRETA E A TANGA
Em vésperas de eleições, o PSD, pela voz dum qualquer cacique distrital, ameaça, pela enésima vez, vir queixar-se da pesada herança guterrista. Como candidato à expiação, elege agora o ex-ministro das finanças Sousa Franco. É o fadinho da desgraça, mais uma vez. Até à náusea.
E o país não sai disto: nos últimos seis anos, anda de Pôncio pra Pilatos. Salta dum governo da treta para um governo da tanga!...
E o país não sai disto: nos últimos seis anos, anda de Pôncio pra Pilatos. Salta dum governo da treta para um governo da tanga!...
terça-feira, março 30, 2004
Branco não: Tinto!
Vai pr'ali uma grande barafunda, no Barnabé. Está tudo a atirar-se ao Velho Saramago, que nem gatos assanhados ao bofe mais incauto. Para pacifistas encartados e ajuramentados, aqueles gajos são um bocado quezilentos. Já nem os cabelos brancos do nobel ancião respeitam. Tudo por causa do lançamento dum livro. Olha se fosse uma bomba...
Em todo o caso, isto faz lembrar aquela fábula do Régio (que muito bem espelha, aliás, as opiniões e desabafos da maralha): se o Velho diz pra votar branco, aqui d'el rei que depois a direita ganha; se o velho desmonta do branco e diz que afinal é pra votar na CDU, aqui d'el rei que o BE perde; se o Velho, desesperado, desiste da viagem e diz para irem votar onde muito bem entendam ou até no raio que os parta, aqui d'el rei que o velho é um impertinente revisionista.
Com filharada desta, não admira que hajam cada vez mais mais velhos a fugir de casa!...
Olhem, e quanto ao voto, eu, por mim, já decidi: não voto em branco, voto no tinto. De preferência muito.
Em todo o caso, isto faz lembrar aquela fábula do Régio (que muito bem espelha, aliás, as opiniões e desabafos da maralha): se o Velho diz pra votar branco, aqui d'el rei que depois a direita ganha; se o velho desmonta do branco e diz que afinal é pra votar na CDU, aqui d'el rei que o BE perde; se o Velho, desesperado, desiste da viagem e diz para irem votar onde muito bem entendam ou até no raio que os parta, aqui d'el rei que o velho é um impertinente revisionista.
Com filharada desta, não admira que hajam cada vez mais mais velhos a fugir de casa!...
Olhem, e quanto ao voto, eu, por mim, já decidi: não voto em branco, voto no tinto. De preferência muito.
VAMPIRARQUIA
Há uma coisa que me intriga:
Porque é que a GNR normal, à semelhança da Brigada de Trânsito com os automobilistas, não faz também testes de alcoolémia aos peões e aos passageiros dos transportes públicos?...
Porque, convenhamos, um peão ou passageiro alcoolizados também podem provocar aparatosos acidentes: o primeiro, irrompendo, ziguezagueante, pelo trânsito a fora; o segundo implicando, quezilento, com algum condutor ou maquinista. Os despistes e choques em cadeia que daí não podem resultar, os descarrilamentos!...
Matutando bem no assunto, só me ocorre uma explicação...
Detecto aqui algo mais que puro acaso ou tradicional desmazelo. Isto tresanda à distância a estratégia política, a hiato premeditado. É que, torna-se cada dia mais evidente: na presente legislatura, fazer testes de álcool ao sangue de peões e passageiros tornar-se-ia deveras embaraçoso para o governo. Não é que os pesquisadores não encontrassem álcool, e bastante. Não; o problema é que dificilmente encontrariam sangue.
Porque é que a GNR normal, à semelhança da Brigada de Trânsito com os automobilistas, não faz também testes de alcoolémia aos peões e aos passageiros dos transportes públicos?...
Porque, convenhamos, um peão ou passageiro alcoolizados também podem provocar aparatosos acidentes: o primeiro, irrompendo, ziguezagueante, pelo trânsito a fora; o segundo implicando, quezilento, com algum condutor ou maquinista. Os despistes e choques em cadeia que daí não podem resultar, os descarrilamentos!...
Matutando bem no assunto, só me ocorre uma explicação...
Detecto aqui algo mais que puro acaso ou tradicional desmazelo. Isto tresanda à distância a estratégia política, a hiato premeditado. É que, torna-se cada dia mais evidente: na presente legislatura, fazer testes de álcool ao sangue de peões e passageiros tornar-se-ia deveras embaraçoso para o governo. Não é que os pesquisadores não encontrassem álcool, e bastante. Não; o problema é que dificilmente encontrariam sangue.
segunda-feira, março 29, 2004
AL QAEDA - UMA CAUSA NATURAL
«Sondagem: atentado da al-Qaeda em Portugal
MAIORIA TEM GRANDE RECEIO DE ATAQUE»
Isto é só pra se armarem. Como sempre, estão só a querer dar nas vistas e aparecer na fotografia. Não podem ver nada ao vizinho, que não se ponham logo a cobiçar. Já se imaginam a abrir os telejornais da CNN e da BBC...
Todavia, esses mega-terroristas serão maus, infames, mas não são concerteza assim tão estúpidos! Que interesse podem eles ter num povo calejado e viciado em sofrer? Que experimenta na desgraça e na catástrofe crónica uma volúpia ímpar, uma vocação transgeracional?
Só se fossem igualmente doidos e não menos masoquistas. Além do mais, não estou a vê-los grandes apreciadores de filas de espera, sendo que ainda correriam o risco -inconcebível risco -, de passarem despercebidos: no meio dos atentados governativos, das chacinas nas auto-estradas, dos telejornais da TVI, das pontes a ruírem, dos hooligans deste verão e dos incêndios à rédea solta pelas matas e vilas, ainda acabavam esquecidos num qualquer processo, à mercê dum juíz peregrino bem capaz de atribuir causas naturais às explosões.
Por tudo isso, um atentado, aqui, da Al Qaeda, era o fim da organização: a sua causa, qualquer que ela seja, deixava de ser boa ou má, sublime ou péssima...Passava, pura e simplesmente, a ser natural. E contra a natureza (ainda pra mais, a nossa) não há política nem organização que resista.
MAIORIA TEM GRANDE RECEIO DE ATAQUE»
Isto é só pra se armarem. Como sempre, estão só a querer dar nas vistas e aparecer na fotografia. Não podem ver nada ao vizinho, que não se ponham logo a cobiçar. Já se imaginam a abrir os telejornais da CNN e da BBC...
Todavia, esses mega-terroristas serão maus, infames, mas não são concerteza assim tão estúpidos! Que interesse podem eles ter num povo calejado e viciado em sofrer? Que experimenta na desgraça e na catástrofe crónica uma volúpia ímpar, uma vocação transgeracional?
Só se fossem igualmente doidos e não menos masoquistas. Além do mais, não estou a vê-los grandes apreciadores de filas de espera, sendo que ainda correriam o risco -inconcebível risco -, de passarem despercebidos: no meio dos atentados governativos, das chacinas nas auto-estradas, dos telejornais da TVI, das pontes a ruírem, dos hooligans deste verão e dos incêndios à rédea solta pelas matas e vilas, ainda acabavam esquecidos num qualquer processo, à mercê dum juíz peregrino bem capaz de atribuir causas naturais às explosões.
Por tudo isso, um atentado, aqui, da Al Qaeda, era o fim da organização: a sua causa, qualquer que ela seja, deixava de ser boa ou má, sublime ou péssima...Passava, pura e simplesmente, a ser natural. E contra a natureza (ainda pra mais, a nossa) não há política nem organização que resista.
TRISTEZA
Incansável, imune ao frio e à chuva, a saga da Brigada de Trânsito prossegue. As suas obstinadas prospecções continuam; com resultados pouco animadores, reconheça-se: encontram cada vez mais automobilistas com álcool excessivo no sangue.
É triste. Que desilusão, isto do álcool. Assim não vamos longe: Nunca mais encontram petróleo!...
É triste. Que desilusão, isto do álcool. Assim não vamos longe: Nunca mais encontram petróleo!...
OPTIMISMO FURIOSO
E eles a dar-lhe, irra!...
«Pessimismo entre os portugueses nunca esteve tão alto
Mais de 44% dos portugueses acredita que o ano de 2005 será pior economicamente...»
Mas qual pessimismo, qual carapuça! Que cisma que têm de distorcer tudo!...Porque é que não dizem antes que, pelo menos, 55% dos portugueses ainda acreditam que o ano de 2005 não vai ser pior, hein?!...
E isso não é pessimismo, gaita! - isso é optimismo furioso, incorrigível!...
«Pessimismo entre os portugueses nunca esteve tão alto
Mais de 44% dos portugueses acredita que o ano de 2005 será pior economicamente...»
Mas qual pessimismo, qual carapuça! Que cisma que têm de distorcer tudo!...Porque é que não dizem antes que, pelo menos, 55% dos portugueses ainda acreditam que o ano de 2005 não vai ser pior, hein?!...
E isso não é pessimismo, gaita! - isso é optimismo furioso, incorrigível!...
BLOGOSCOPIA III - THE ACTION PRIEST
Passei lá por acaso, e dei com esta pérola que, desde já, enalteço, e que, por sua vez, enaltece também um certo portuguesismo, pelos vistos, em extinção.
Foi no « food-i-do.blogspot.com.»
Ora leiam...
Do Arquivo Nacional da Torre do Tombo
SENTENÇA PROFERIDA EM 1487 NO PROCESSO CONTRA O PRIOR DE TRANCOSO
(Autos arquivados na Torre do Tombo, armário 5.o,maço 7)
"Padre Francisco da Costa, prior de Trancoso, de idade de sessenta e dois anos, será degredado de suas ordens e arrastado pelas ruas públicas nos rabos dos cavalos, esquartejado o seu corpo e postos os quartos, cabeça e mãos em diferentes distritos, pelo crime que foi arguido e que ele mesmo não contrariou, sendo acusado de ter dormido com vinte e nove afilhadas e tendo delas noventa e sete filhas e trinta e sete filhos; de cinco irmãs teve dezoito filhas; de nove comadres trinta e oito filhos e dezoito filhas; de sete amas teve vinte e nove filhos e cinco filhas; de duas escravas teve vinte e um filhos e sete filhas; dormiu com uma tia, chamada Ana da Cunha, de quem teve três filhas, da própria mãe teve dois filhos.
Total: duzentos e noventa e nove, sendo duzentos e catorze do sexo feminino e oitenta e cinco do sexo masculino, tendo concebido em cinquenta e três mulheres".
Por isso mesmo:
"El-Rei D. João II lhe perdoou a morte e o mandou por em liberdade aos dezassete dias do mês de Março de 1487, com o fundamento de ajudar a povoar aquela região da Beira Alta, tão despovoada ao tempo e guardar no Real Arquivo da Torre do Tombo esta sentença, devassa e mais papéis que formaram o processo".
Naquele tempo, ao menos, havia justiça!...
Não é por acaso que D.João II, uma das raras excepções ao nosso fado dirigente medíocre, ficou cognominado -e muito bem! - o Príncipe Perfeito.
Foi no « food-i-do.blogspot.com.»
Ora leiam...
Do Arquivo Nacional da Torre do Tombo
SENTENÇA PROFERIDA EM 1487 NO PROCESSO CONTRA O PRIOR DE TRANCOSO
(Autos arquivados na Torre do Tombo, armário 5.o,maço 7)
"Padre Francisco da Costa, prior de Trancoso, de idade de sessenta e dois anos, será degredado de suas ordens e arrastado pelas ruas públicas nos rabos dos cavalos, esquartejado o seu corpo e postos os quartos, cabeça e mãos em diferentes distritos, pelo crime que foi arguido e que ele mesmo não contrariou, sendo acusado de ter dormido com vinte e nove afilhadas e tendo delas noventa e sete filhas e trinta e sete filhos; de cinco irmãs teve dezoito filhas; de nove comadres trinta e oito filhos e dezoito filhas; de sete amas teve vinte e nove filhos e cinco filhas; de duas escravas teve vinte e um filhos e sete filhas; dormiu com uma tia, chamada Ana da Cunha, de quem teve três filhas, da própria mãe teve dois filhos.
Total: duzentos e noventa e nove, sendo duzentos e catorze do sexo feminino e oitenta e cinco do sexo masculino, tendo concebido em cinquenta e três mulheres".
Por isso mesmo:
"El-Rei D. João II lhe perdoou a morte e o mandou por em liberdade aos dezassete dias do mês de Março de 1487, com o fundamento de ajudar a povoar aquela região da Beira Alta, tão despovoada ao tempo e guardar no Real Arquivo da Torre do Tombo esta sentença, devassa e mais papéis que formaram o processo".
Naquele tempo, ao menos, havia justiça!...
Não é por acaso que D.João II, uma das raras excepções ao nosso fado dirigente medíocre, ficou cognominado -e muito bem! - o Príncipe Perfeito.
domingo, março 28, 2004
BLOGOSCOPIA II
Lá andei eu, mais a minha curiosidade mórbida, a ver filmes de terror -isto é, a ler os blogues liberais (tipo Abrupto e sucedâneos: Blasfémias, Jaquinzinhos, No Quinto dos Impérios, Contra-Corrente, Desesperada Esperança, Homem a Dias e outros da mesma estirpe).
Eu sei, fui redundante. Bastava ter lido um: apresentam a homogeneidade típica das manadas compactas; ruminam em uníssono, num verdadeiro coro gregoriano. Mas o estudo científico, a observação exaustiva, de modo a coligir dados empíricos inequívocos, requer destas trabalheiras. Obriga a estas ginásticas.
Conclusões objectivas? Pra já apenas uma: estou cada vez mais ciente que tentam compensar uma nítida atrofia encefálica com uma secreção excessiva de bílis. Em vão. Não melhoram o raciocínio e só arruinam a digestão.
Eu sei, fui redundante. Bastava ter lido um: apresentam a homogeneidade típica das manadas compactas; ruminam em uníssono, num verdadeiro coro gregoriano. Mas o estudo científico, a observação exaustiva, de modo a coligir dados empíricos inequívocos, requer destas trabalheiras. Obriga a estas ginásticas.
Conclusões objectivas? Pra já apenas uma: estou cada vez mais ciente que tentam compensar uma nítida atrofia encefálica com uma secreção excessiva de bílis. Em vão. Não melhoram o raciocínio e só arruinam a digestão.
QUINTO IMPÉRIO
Durão Barroso: «Estamos em guerra com a Al-Qaeda»
Ficará na História, este estratega belicoso. É o Átila dos tempos modernos: depois de derrotar os portugueses, prepara-se para subjugar os árabes malvados. Adivinha-se para breve o V Império. Só que não é o do Espírito e, muito menos, Santo: é o da Sabujice.
Ficará na História, este estratega belicoso. É o Átila dos tempos modernos: depois de derrotar os portugueses, prepara-se para subjugar os árabes malvados. Adivinha-se para breve o V Império. Só que não é o do Espírito e, muito menos, Santo: é o da Sabujice.
sábado, março 27, 2004
O RISO DOS INOCENTES
Anda pr'aí muita gente a rir-se, a bandeiras despregadas, do último e extravagante desejo do nosso PM, Durão Barroso (ou Burrão Darroso, para os disléxicos). Confidenciou ele, ao "The Economist", que «quer obter em 2006 a maior maioria absoluta alguma vez alcançada em legislativas.»
Aqui, na tasca -aliás, ciber tasca -, a galhofa é muita e as teorias explicativas para tão inusitado fenómeno multiplicam-se.
Segundo o Caguinchas:
-"Eh pá, com desejos desses, o gajo só pode estar é grávido!..."
Na douta opinião do Dinossauro:
-"Certamente, o Bush Júnior mandou-lhe uma lâmpada mágica de Bagdad...Ele esfregou-a, apareceu-lhe um génio lamparineiro, e este é o seu primeiro grande desejo!...Aguardemos pelos outros dois..."
Uma série de obscenidades e impropérios, acompanhados de manguitos e benzeduras, interpretados pela restante clientela, manda o decoro e a prudência que não especifique mais que isto.
Mas eu, devo dizer-vos, não só não me rio, como acho que o homem fala a sério e com a certeza sinistra que só uma planificação metódica, maquiavélica e atempada pode proporcionar.
Será que ninguém repara?
Pelo andar da carruagem, daqui a dois anos, quem não for celebrante ou acólito dos partidos governamentais, das duas uma: ou emigrou; ou morreu de fome. Como aqueles que emigrarem, também acabarão por morrer de fome, (excepto os que desaparecerem misteriosamente ou faleceram por espancamento), quem sobra para votar nas legislativas?...
Vai ser uma maioria absoluta e esmagadora. Ao nível do Saddam dos bons velhos tempos. Não tenho dúvidas que vai ser mesmo a maior maioria absoluta alguma vez alcançada em legislativas.
Riam-se, riam-se...
Aqui, na tasca -aliás, ciber tasca -, a galhofa é muita e as teorias explicativas para tão inusitado fenómeno multiplicam-se.
Segundo o Caguinchas:
-"Eh pá, com desejos desses, o gajo só pode estar é grávido!..."
Na douta opinião do Dinossauro:
-"Certamente, o Bush Júnior mandou-lhe uma lâmpada mágica de Bagdad...Ele esfregou-a, apareceu-lhe um génio lamparineiro, e este é o seu primeiro grande desejo!...Aguardemos pelos outros dois..."
Uma série de obscenidades e impropérios, acompanhados de manguitos e benzeduras, interpretados pela restante clientela, manda o decoro e a prudência que não especifique mais que isto.
Mas eu, devo dizer-vos, não só não me rio, como acho que o homem fala a sério e com a certeza sinistra que só uma planificação metódica, maquiavélica e atempada pode proporcionar.
Será que ninguém repara?
Pelo andar da carruagem, daqui a dois anos, quem não for celebrante ou acólito dos partidos governamentais, das duas uma: ou emigrou; ou morreu de fome. Como aqueles que emigrarem, também acabarão por morrer de fome, (excepto os que desaparecerem misteriosamente ou faleceram por espancamento), quem sobra para votar nas legislativas?...
Vai ser uma maioria absoluta e esmagadora. Ao nível do Saddam dos bons velhos tempos. Não tenho dúvidas que vai ser mesmo a maior maioria absoluta alguma vez alcançada em legislativas.
Riam-se, riam-se...
sexta-feira, março 26, 2004
Antidepressivos e hiper-depressivos
Aproveitemos o céu cinzento e chuvoso lá fora, e voltemos às depressões...
A FDA (Food and Drugs Administration), agência americana de controlo da alimentação e medicamentos, descobriu que o consumo de antidepressivos aumenta significativamente o risco de suicídio.
Ora, «Em Portugal, o consumo de medicamentos para combater o stress (antidepressivos, ansiolíticos, hipnóticos, psicotrópicos e tranquilizantes) mais do que duplicou entre 1995 e 2001. Segundo um estudo de Sofia Mac Bride, uma psicopedagoga portuguesa que investigou o consumo de medicamentos para combater o stresse no nosso país, só em 2001 os portugueses consumiram 4,5 milhões de embalagens.»
Deveremos preocupar-nos? Estaremos a um passo do abismo, do suicídio colectivo e generalizado?... Como se já não bastassem as eleições legislativas...
Povo de kamikazes, não é que isto nos perturbe. Não parece que o suicídio constitua risco capaz de nos afligir: basta ver a forma como conduzimos na estrada... E também não é o facto de tomarmos drogas e porcarias que promovem o contrario do que suposta e teoricamente deviam tratar, que nos vai incomodar: basta pensar nos políticos que elegemos, nas pseudo-elites que macaqueamos ou nas pastilhas televisivas que mascamos sem critério nem interrupção.
Mas, então, porque diabo emborcam os portugueses tal quantidade de antidepressivos? Estarão deprimidos?...
Vamos por partes. Alguns dados incontestáveis: 1. a depressão, no português não constitui doença mas feitio; 2. para se suicidar o português, regra geral, despreza o antidepressivo e prefere o herbicida -605 forte, segundo as estatísticas; 3. o português, como hipocondríaco empedernido, é um farmacofago e farmacofilo consumado, ou seja, adora peregrinar médicos e ingerir drogas (como foi um papa-hóstias durante séculos, substitui e transfere agora sendo um papa-remédios).
Por conseguinte, eis a minha tese: se o português emborca antidepressivos que nem um doido, não é porque esteja doido ou a bater válvulas. Não, a minha teoria é que o faz como uma espécie de "gurosan" pós-cardina, quer dizer, como uma espécie de anti-tóxico. Isto, claro está, porque, o que ele, efectivamente, passa a vida a ingerir que nem um pantagruel são depressivos. Depressivos e mais depressivos, e até hiper-depressivos! Para onde quer que se vire, a cada canto e a cada esquina, lá estão eles, prontos a enfiarem-se-lhe pela boca abaixo. São bebedeiras de caixão à cova; intoxicações quase comatosas. A música é depressiva; a literatura é depressiva; a economia é depressiva; a informação é depressiva; a política é depressiva; o desporto é depressivo; a sociedade é depressiva; enfim: na forma de disco, livro, salário, reportagem, entrevista, eleição, votação, é um supositório, uma cápsula ou injecção que não o larga. Inultrapassável junkie da depressão, está mais agarrado a ela que arrumador ao pó branco. Precisa apenas de tomar os antidepressivos como recuo estratégico de saltador campeão, como espaço de respiração e balanço, para ir a correr atirar-se ainda com mais ganas e empenho à depressão olímpica.
Garanto-vos: tinha que ingerir antidepressivos em cargas industriais, diluvianas, para que pudesse sequer pensar, um momento que fosse, em abandonar a mórbida carreira em que, voluptuosamente, se aninha e espreguiça.
Entretanto, o estudo científico menciona fármacos como bupropion, citalpram, fluoxetina, fluvoxamina, mirtazapine, nefazodone, paroxetina, sertralina, escitalopram e venlafaxina, como agentes de potenciais riscos.
Rimo-nos disso. Enquanto houver "manuelina", "duranbarrosina", "catarina", "bagofelixina", "sampaína" e tantos outros hiper-depressivos à disposição, não há antidepressivos que nos afectem. Nem nos metam medo. Ah, isso é garantido!...
A FDA (Food and Drugs Administration), agência americana de controlo da alimentação e medicamentos, descobriu que o consumo de antidepressivos aumenta significativamente o risco de suicídio.
Ora, «Em Portugal, o consumo de medicamentos para combater o stress (antidepressivos, ansiolíticos, hipnóticos, psicotrópicos e tranquilizantes) mais do que duplicou entre 1995 e 2001. Segundo um estudo de Sofia Mac Bride, uma psicopedagoga portuguesa que investigou o consumo de medicamentos para combater o stresse no nosso país, só em 2001 os portugueses consumiram 4,5 milhões de embalagens.»
Deveremos preocupar-nos? Estaremos a um passo do abismo, do suicídio colectivo e generalizado?... Como se já não bastassem as eleições legislativas...
Povo de kamikazes, não é que isto nos perturbe. Não parece que o suicídio constitua risco capaz de nos afligir: basta ver a forma como conduzimos na estrada... E também não é o facto de tomarmos drogas e porcarias que promovem o contrario do que suposta e teoricamente deviam tratar, que nos vai incomodar: basta pensar nos políticos que elegemos, nas pseudo-elites que macaqueamos ou nas pastilhas televisivas que mascamos sem critério nem interrupção.
Mas, então, porque diabo emborcam os portugueses tal quantidade de antidepressivos? Estarão deprimidos?...
Vamos por partes. Alguns dados incontestáveis: 1. a depressão, no português não constitui doença mas feitio; 2. para se suicidar o português, regra geral, despreza o antidepressivo e prefere o herbicida -605 forte, segundo as estatísticas; 3. o português, como hipocondríaco empedernido, é um farmacofago e farmacofilo consumado, ou seja, adora peregrinar médicos e ingerir drogas (como foi um papa-hóstias durante séculos, substitui e transfere agora sendo um papa-remédios).
Por conseguinte, eis a minha tese: se o português emborca antidepressivos que nem um doido, não é porque esteja doido ou a bater válvulas. Não, a minha teoria é que o faz como uma espécie de "gurosan" pós-cardina, quer dizer, como uma espécie de anti-tóxico. Isto, claro está, porque, o que ele, efectivamente, passa a vida a ingerir que nem um pantagruel são depressivos. Depressivos e mais depressivos, e até hiper-depressivos! Para onde quer que se vire, a cada canto e a cada esquina, lá estão eles, prontos a enfiarem-se-lhe pela boca abaixo. São bebedeiras de caixão à cova; intoxicações quase comatosas. A música é depressiva; a literatura é depressiva; a economia é depressiva; a informação é depressiva; a política é depressiva; o desporto é depressivo; a sociedade é depressiva; enfim: na forma de disco, livro, salário, reportagem, entrevista, eleição, votação, é um supositório, uma cápsula ou injecção que não o larga. Inultrapassável junkie da depressão, está mais agarrado a ela que arrumador ao pó branco. Precisa apenas de tomar os antidepressivos como recuo estratégico de saltador campeão, como espaço de respiração e balanço, para ir a correr atirar-se ainda com mais ganas e empenho à depressão olímpica.
Garanto-vos: tinha que ingerir antidepressivos em cargas industriais, diluvianas, para que pudesse sequer pensar, um momento que fosse, em abandonar a mórbida carreira em que, voluptuosamente, se aninha e espreguiça.
Entretanto, o estudo científico menciona fármacos como bupropion, citalpram, fluoxetina, fluvoxamina, mirtazapine, nefazodone, paroxetina, sertralina, escitalopram e venlafaxina, como agentes de potenciais riscos.
Rimo-nos disso. Enquanto houver "manuelina", "duranbarrosina", "catarina", "bagofelixina", "sampaína" e tantos outros hiper-depressivos à disposição, não há antidepressivos que nos afectem. Nem nos metam medo. Ah, isso é garantido!...
PROBLEMA FUNDAMENTAL
Em conversa com um renomado especialista, dizia-me ele:
-"É como lhe digo, pode ficar certo: o problema fundamental dos políticos actuais, ao contrário do que se presume e apregoa, nem é ético, nem ideológico, nem cultural, nem socio-económico!...
E, ante a minha estupefacção, concluiu:
-"De facto, o problema fundamental, aquele de que todos os outros problemas são subsidiários, é ortopédico. Apresentam uma profusão de cordas-vocais e estômagos hiper-desenvolvidos para compensar um raquitismo absoluto da coluna vertebral.".
-"Ah!... -rejubilei eu. - Agora entendo. Que cabeça a nossa!...Julgavamos que eles padeciam de falta de princípios, escrúpulos ou ideias, mas, na verdade, o que os devasta mesmo é a falta de vértebras!..."
Nada como os verdadeiros sábios e eruditos para nos ajudarem a compreender as coisas.
-"É como lhe digo, pode ficar certo: o problema fundamental dos políticos actuais, ao contrário do que se presume e apregoa, nem é ético, nem ideológico, nem cultural, nem socio-económico!...
E, ante a minha estupefacção, concluiu:
-"De facto, o problema fundamental, aquele de que todos os outros problemas são subsidiários, é ortopédico. Apresentam uma profusão de cordas-vocais e estômagos hiper-desenvolvidos para compensar um raquitismo absoluto da coluna vertebral.".
-"Ah!... -rejubilei eu. - Agora entendo. Que cabeça a nossa!...Julgavamos que eles padeciam de falta de princípios, escrúpulos ou ideias, mas, na verdade, o que os devasta mesmo é a falta de vértebras!..."
Nada como os verdadeiros sábios e eruditos para nos ajudarem a compreender as coisas.
DEMOFOBIA
Entretanto, se, no Iraque, os soldados americanos experimentam uma alta taxa de tendências suicídas, por via duma baixa auto estima, já em Portugal, ao contrário, os governantes manifestam elevadas tendências homicidas, fruto duma baixíssima hetero-estima.
O regime abeira-se, perigosa e irreversivelmente, da Demofobia (horror aos governados). Que Deus tenha piedade de nós.
O regime abeira-se, perigosa e irreversivelmente, da Demofobia (horror aos governados). Que Deus tenha piedade de nós.
Círculo Vicioso
BUSH TELEFONA A BARROSO...
...e Barroso telefona a Luís Delgado, e Delgado telefona ao Professor Karamba. É um círculo vicioso.
...e Barroso telefona a Luís Delgado, e Delgado telefona ao Professor Karamba. É um círculo vicioso.
SUICÍDIO ENIGMÁTICO
Dados sobre a taxa de suicídio entre os soldados norte-americanos no Iraque:
«No ano passado, pelo menos 17,3 soldados suicidaram-se por cada 100 mil. A média de todo o Exército é de 12,8 por cada 100 mil.
Na população em geral, a média foi de 21,5 por cada 100 mil habitantes, para homens de 20 a 24 anos nos EUA.»
Conclusões objectivas:
A taxa de suicídio dos soldados no Iraque é superior ao resto do exército; todavia, é menor que entre a generalidade da população masculina, entre 20 e 24 anos, nos Estados Unidos.
Resumindo: é mais deprimente e traumatizante, para um soldado americano, estar em missão de serviço no Iraque, do que noutro sítio qualquer; mas é menos deprimente e traumatizante estar no exército, mesmo no Iraque, do que na vida normal, quotidiana, civil, na sociedade americana.
Isto, no mínimo, é assombroso e incompreensível. Sendo o modelo de sociedade americana, o mais avançado, virtuoso e melhor dos modelos possíveis, não se compreende como é que os jovens se suicidam desta maneira disparatada, e, muito menos se entende como é que chegam ao ponto de considerar a sua vida rotineira e privilegiada no paraíso da Terra mais deprimente e exasperante que o patrulhamento de regiões inóspitas, cercados de árabes hostis e terroristas adversos.
Será por uma contingência de trabalho? - é preferível um mau emprego que emprego nenhum...
Será por uma questão académica? - é mais fácil e menos arriscado enfrentar árabes hostis que os colegas da escola ou assaltantes urbanos...
Será por uma questão de escape mínimo? - ao menos na tropa, em turismo bélico, sempre se pode descarregar no gatilho e dar uns tiros em alguém de vez em quando, sem se ir preso logo a seguir...
Sinceramente, não sei. Este é um daqueles enigmas que só uma mente edipiana como a do Luís Delgado poderá resolver.
«No ano passado, pelo menos 17,3 soldados suicidaram-se por cada 100 mil. A média de todo o Exército é de 12,8 por cada 100 mil.
Na população em geral, a média foi de 21,5 por cada 100 mil habitantes, para homens de 20 a 24 anos nos EUA.»
Conclusões objectivas:
A taxa de suicídio dos soldados no Iraque é superior ao resto do exército; todavia, é menor que entre a generalidade da população masculina, entre 20 e 24 anos, nos Estados Unidos.
Resumindo: é mais deprimente e traumatizante, para um soldado americano, estar em missão de serviço no Iraque, do que noutro sítio qualquer; mas é menos deprimente e traumatizante estar no exército, mesmo no Iraque, do que na vida normal, quotidiana, civil, na sociedade americana.
Isto, no mínimo, é assombroso e incompreensível. Sendo o modelo de sociedade americana, o mais avançado, virtuoso e melhor dos modelos possíveis, não se compreende como é que os jovens se suicidam desta maneira disparatada, e, muito menos se entende como é que chegam ao ponto de considerar a sua vida rotineira e privilegiada no paraíso da Terra mais deprimente e exasperante que o patrulhamento de regiões inóspitas, cercados de árabes hostis e terroristas adversos.
Será por uma contingência de trabalho? - é preferível um mau emprego que emprego nenhum...
Será por uma questão académica? - é mais fácil e menos arriscado enfrentar árabes hostis que os colegas da escola ou assaltantes urbanos...
Será por uma questão de escape mínimo? - ao menos na tropa, em turismo bélico, sempre se pode descarregar no gatilho e dar uns tiros em alguém de vez em quando, sem se ir preso logo a seguir...
Sinceramente, não sei. Este é um daqueles enigmas que só uma mente edipiana como a do Luís Delgado poderá resolver.
quinta-feira, março 25, 2004
QUESTIONÁRIO ELEMENTAR
- "Ó pai, aqueles terroristas que rebentaram com os comboios são maus?..."
-"São sim, meu filho: muito maus."
(Pausa)
-"Ó pai, e quais são os terroristas bons?..."
-"São aqueles que nós podemos escolher, em eleições, de quatro em quatro anos, filho."
(Nova pausa)
-"Ó pai...e como é que se distinguem os maus dos bons?..."
(Última pausa acompanhada de algum embaraço...)
-"Bem, meu filho...é assim: os maus são aqueles que tiram a vida às pessoas; os bons só lhes tiram os sonhos e a esperança."
-"São sim, meu filho: muito maus."
(Pausa)
-"Ó pai, e quais são os terroristas bons?..."
-"São aqueles que nós podemos escolher, em eleições, de quatro em quatro anos, filho."
(Nova pausa)
-"Ó pai...e como é que se distinguem os maus dos bons?..."
(Última pausa acompanhada de algum embaraço...)
-"Bem, meu filho...é assim: os maus são aqueles que tiram a vida às pessoas; os bons só lhes tiram os sonhos e a esperança."
DESFALECIMENTO
«Ponte de Entre-os-Rios caiu de causas naturais, diz juiz.»
Isto, meus amigos, é deveras elucidativo. Primeiro, em termos gramaticais: "caíu de causas naturais", significa certamente que caíu dumas quaisquer causas abaixo. Segundo, em termos anatómicos: tendo caído "de causas naturais", quer dizer que, afinal, não caíu, apenas desmaiou. Se por insolação ou vertigens, o meritíssimo juíz não esclareceu.
Que fique, pois, registado: toda e qualquer vítima posterir só faleceu porque a ponte desfaleceu.
Isto, meus amigos, é deveras elucidativo. Primeiro, em termos gramaticais: "caíu de causas naturais", significa certamente que caíu dumas quaisquer causas abaixo. Segundo, em termos anatómicos: tendo caído "de causas naturais", quer dizer que, afinal, não caíu, apenas desmaiou. Se por insolação ou vertigens, o meritíssimo juíz não esclareceu.
Que fique, pois, registado: toda e qualquer vítima posterir só faleceu porque a ponte desfaleceu.
OLIMPÍADAS DA CORRUPÇÃO
Parece que o pódio está encontrado. Os medalhados, nas Olímpiadas da Corrupção, segundo a TI (Transparency International), são:
Medalha de ouro - SUHARTO, da Indonésia (deitou a unha a qualquer coisa como entre 13 e 35.000 Milhões de dólares) - Novo recorde mundial absoluto
Medalha de prata - MARCOS, das Filipinas (fanou de 5 a 10.000 milhões de dólares)
Medalha de bronze - MOBUTU, do Zaire -actual RD.Congo ( abotoou-se com 5.000 milhões de dólares)
Isto sim, é altíssima competição ao mais baixo nível!
Medalha de ouro - SUHARTO, da Indonésia (deitou a unha a qualquer coisa como entre 13 e 35.000 Milhões de dólares) - Novo recorde mundial absoluto
Medalha de prata - MARCOS, das Filipinas (fanou de 5 a 10.000 milhões de dólares)
Medalha de bronze - MOBUTU, do Zaire -actual RD.Congo ( abotoou-se com 5.000 milhões de dólares)
Isto sim, é altíssima competição ao mais baixo nível!
quarta-feira, março 24, 2004
LÓGICA TERRORISTA (conclusão)
Pois muito bem, agora que já temos a lógica, só falta saber quem são, realmente, os terroristas.
A LÓGICA TERRORISTA
Apesar de perversa, os terroristas usam duma lógica concludente.
Senão, vejamos:
Como todos os nossos videntes, áugures e adivinhos proclamam, eles, os infames, acima de tudo, odeiam o nosso belo sistema de vida e o nosso perfeito regime político: a Democracia. Querem mesmo dar cabo dela à bomba.
Ora, assim sendo, (e com tantos astrólogos e cartomantes a garanti-lo, só pode mesmo ser), ou eu sou muito estúpido ou os tipos que elegemos e a quem pagamos salários na administração pública são umas completas abéculas quadricéfalas e encefalopédicas! É que anda pr'áí toda a gente preocupada em proteger parlamentos, palácios governamentais e quejandos, quando os terroristas não querem saber disso pra nada.
Ao contrário de nós, estudaram detalhadamente o inimigo. Sabem que em democracia vigora a soberania do povo; que é este quem elege os seus representantes, procuradores e mandatários na governação.
Que interesse teriam, pois, em mandar pelos ares, feitos fanicos esturricados, uns quaisquer intermediários engravatados armados em importantes? Bem que o povo soberano se ficaria a rir disso: substitui-los-ia, num ápice, por outros ainda mais imbecis, se é que, em muitos casos não respiraria mesmo de alívio. Portanto, que efeitos práticos teriam essas explosões? Nenhuns, ridículos, ou o contrário daquilo que os digníssimos terroristas pretendem. Esse, de resto, foi um erro repetido no passado, por terroristas arcaicos e pouco evoluídos. Terroristas certamente analfabetos. Ao contrário destes, licenciados, que estudaram nas melhores universidade e aprenderam com os melhores professores.
Por isso sabem utilizar essa arma formidável que é a lógica e, consequentemente, o raciocínio. (Ao contrário, por exemplo, do Pacheco Pereira e do Vasco Pulido Valente que, não só se encontram ainda num estado pré-lógico, como fazem da vesícula o centro do pensamento)...E como sabem utilizá-los, utilizam-nos. Vão direitos ao cerne da questão, ao ponto verdadeiramente nevrálgico da democracia: o seu soberano; ou seja, o povo.
Em Madrid, apanharam-no de manhã cedo, desprotegido, estremunhado, reunido em comboios, a caminho do emprego.
Em Portugal, ainda será mais fácil, no que refere à vulnerabilidade. Em contrapartida, as dificuldades aumentam no que respeita às concentrações em transportes públicos. Estes, lúgubres e fantasmas, rodam cada vez mais vazios.
Mas a esta hora, decerto que os terroristas já perceberam que a melhor forma de apanhá-lo em grandes concentrações, o local garantido, é mesmo nos Centros do Desemprego e Segurança Social.
Senão, vejamos:
Como todos os nossos videntes, áugures e adivinhos proclamam, eles, os infames, acima de tudo, odeiam o nosso belo sistema de vida e o nosso perfeito regime político: a Democracia. Querem mesmo dar cabo dela à bomba.
Ora, assim sendo, (e com tantos astrólogos e cartomantes a garanti-lo, só pode mesmo ser), ou eu sou muito estúpido ou os tipos que elegemos e a quem pagamos salários na administração pública são umas completas abéculas quadricéfalas e encefalopédicas! É que anda pr'áí toda a gente preocupada em proteger parlamentos, palácios governamentais e quejandos, quando os terroristas não querem saber disso pra nada.
Ao contrário de nós, estudaram detalhadamente o inimigo. Sabem que em democracia vigora a soberania do povo; que é este quem elege os seus representantes, procuradores e mandatários na governação.
Que interesse teriam, pois, em mandar pelos ares, feitos fanicos esturricados, uns quaisquer intermediários engravatados armados em importantes? Bem que o povo soberano se ficaria a rir disso: substitui-los-ia, num ápice, por outros ainda mais imbecis, se é que, em muitos casos não respiraria mesmo de alívio. Portanto, que efeitos práticos teriam essas explosões? Nenhuns, ridículos, ou o contrário daquilo que os digníssimos terroristas pretendem. Esse, de resto, foi um erro repetido no passado, por terroristas arcaicos e pouco evoluídos. Terroristas certamente analfabetos. Ao contrário destes, licenciados, que estudaram nas melhores universidade e aprenderam com os melhores professores.
Por isso sabem utilizar essa arma formidável que é a lógica e, consequentemente, o raciocínio. (Ao contrário, por exemplo, do Pacheco Pereira e do Vasco Pulido Valente que, não só se encontram ainda num estado pré-lógico, como fazem da vesícula o centro do pensamento)...E como sabem utilizá-los, utilizam-nos. Vão direitos ao cerne da questão, ao ponto verdadeiramente nevrálgico da democracia: o seu soberano; ou seja, o povo.
Em Madrid, apanharam-no de manhã cedo, desprotegido, estremunhado, reunido em comboios, a caminho do emprego.
Em Portugal, ainda será mais fácil, no que refere à vulnerabilidade. Em contrapartida, as dificuldades aumentam no que respeita às concentrações em transportes públicos. Estes, lúgubres e fantasmas, rodam cada vez mais vazios.
Mas a esta hora, decerto que os terroristas já perceberam que a melhor forma de apanhá-lo em grandes concentrações, o local garantido, é mesmo nos Centros do Desemprego e Segurança Social.
DEBATES, SIM! DIÁLOGOS, NÃO!
«O primeiro-ministro, Durão Barroso, escolheu o tema do "combate ao terrorismo" para o debate mensal de amanhã na Assembleia da República, disse à Lusa fonte do Governo.»
Bem, se a fonte disse à Lusa é porque deve ser verdade.
E, assim, tomamos conhecimento de mais uma grande tendência primavera/verão: o diálogo continua "out", mas o debate parlamentar está "in".
A esta hora o terrorismo estremece mesmo de pavor e verifica que não vai ter vida nada fácil por estas bandas. Depois de debatido na Assembleia da República, de certeza que não vai ficar lá de muito boa saúde. Aquilo não mata, mas desmoraliza!
Bem, se a fonte disse à Lusa é porque deve ser verdade.
E, assim, tomamos conhecimento de mais uma grande tendência primavera/verão: o diálogo continua "out", mas o debate parlamentar está "in".
A esta hora o terrorismo estremece mesmo de pavor e verifica que não vai ter vida nada fácil por estas bandas. Depois de debatido na Assembleia da República, de certeza que não vai ficar lá de muito boa saúde. Aquilo não mata, mas desmoraliza!
O IGLU
Os israelitas andam a construir um muro, uma muralha imensa, para se protegerem dos terroristas. Dizem eles que é essencial. Deve ser, porque até está a virar moda. Agora, são os ingleses que se propõem cercar o Palácio de Westminster com um muro anti-terrorista. "Deverá ter 4,6 metros de altura e o topo coberto por arame farpado".
Em termos estéticos e turísticos, um desastre, portanto! Mas em termos de luta anti-terrorista, um must! , um paradigma que, uma vez edificado, não tardará a promover réplicas suas por todo o mundo civilizado e ocidental. Bem, todo, todo, também é capaz de ser um exagero. Duvido que os franceses e alemães vão nisso (estes, então, nem podem ver muros à frente!...) Mas em Portugal, isso, de certeza absoluta. Do parlamento às vivendas dos políticos e analistas, para felicidade dos empreiteiros, será vê-los crescer, a esses agregados de betão e tijolo (ou pedra e argamassa), coroados de arame farpado e reforçados a cacos de vidro, com rothweilers no lado de dentro.
Digo mais: nesta penosa aprendizagem do que está "in" e "out" para a estação anti-terrorista que se aproxima, é reconfortante, para já, ficar a saber que o muro (bem como o assassínio selectivo) estão "in", e o diálogo está "out". O turismo armado, em expedições numerosas e depredantes, também continua "in", se bem que com vozes crescentes a considerá-lo "out". Mas ficar em casa ou voltar pra casa a correr, decididamente, está "out". É pior que vestir smoking com peúgas brancas. Pelo menos, é o que dizem os comentadores da Moda.
Resta-nos falar de idiossincrassias, isto é, as manias singulares de cada povo ou nação. Lançada a moda do muro na passerelle israelita, eis que os ingleses optam pelo modelo "paredão" clássico, de 4,6 metros, coroado a arame farpado. É a sobriedade e laconismo britânicos a virem ao de cima. Já os franceses, sempre mais perifrásticos e sofisticados, optarão decerto pelo modelo "Maginot" revigorado, linha vasta e complexa de fortificações e baluartes. Os alemães, por seu turno, adeptos da profundidade telúrica, escolherão certamente o padrão "bunker" ou, à superfície, em linhas costeiras, o estilo "grande muralha". Que os gregos, por atavismos helenistas, prefiram a acrópole, e os espanhóis, por tauromáquicos, teimem no redondel, também não será difícil de prever. Tudo isso é óbvio.
Só o caso português parece mais problemático. Por um lado, o português pela-se por imitar; por outro -e aqui é que as coisas se complicam -, adora exagerar e afoleirar aquilo que imita. Há um filtro qualquer no esquema mental dum português, cujos efeitos são fatais e devastadores. Mesmo um muro não resiste. Nem que tivesse dez metros de altura, não resistia. Somos um povo encefalotrófico: As coisas levedam-se-nos na cabeça. O muro cresce, infla-se, sobe pelo céu acima, dobra-se, curva, até abarcar, feito casulo, todo o horizonte, cobrindo todas as direcções.
Por isso eu quase que aposto...Cá, de certaza quase absoluta, não vai ser apenas um muro: vai ser um iglu!... OU seja, um muro na perspectiva dum pato-bravo. OU chico-esperto.
Em termos estéticos e turísticos, um desastre, portanto! Mas em termos de luta anti-terrorista, um must! , um paradigma que, uma vez edificado, não tardará a promover réplicas suas por todo o mundo civilizado e ocidental. Bem, todo, todo, também é capaz de ser um exagero. Duvido que os franceses e alemães vão nisso (estes, então, nem podem ver muros à frente!...) Mas em Portugal, isso, de certeza absoluta. Do parlamento às vivendas dos políticos e analistas, para felicidade dos empreiteiros, será vê-los crescer, a esses agregados de betão e tijolo (ou pedra e argamassa), coroados de arame farpado e reforçados a cacos de vidro, com rothweilers no lado de dentro.
Digo mais: nesta penosa aprendizagem do que está "in" e "out" para a estação anti-terrorista que se aproxima, é reconfortante, para já, ficar a saber que o muro (bem como o assassínio selectivo) estão "in", e o diálogo está "out". O turismo armado, em expedições numerosas e depredantes, também continua "in", se bem que com vozes crescentes a considerá-lo "out". Mas ficar em casa ou voltar pra casa a correr, decididamente, está "out". É pior que vestir smoking com peúgas brancas. Pelo menos, é o que dizem os comentadores da Moda.
Resta-nos falar de idiossincrassias, isto é, as manias singulares de cada povo ou nação. Lançada a moda do muro na passerelle israelita, eis que os ingleses optam pelo modelo "paredão" clássico, de 4,6 metros, coroado a arame farpado. É a sobriedade e laconismo britânicos a virem ao de cima. Já os franceses, sempre mais perifrásticos e sofisticados, optarão decerto pelo modelo "Maginot" revigorado, linha vasta e complexa de fortificações e baluartes. Os alemães, por seu turno, adeptos da profundidade telúrica, escolherão certamente o padrão "bunker" ou, à superfície, em linhas costeiras, o estilo "grande muralha". Que os gregos, por atavismos helenistas, prefiram a acrópole, e os espanhóis, por tauromáquicos, teimem no redondel, também não será difícil de prever. Tudo isso é óbvio.
Só o caso português parece mais problemático. Por um lado, o português pela-se por imitar; por outro -e aqui é que as coisas se complicam -, adora exagerar e afoleirar aquilo que imita. Há um filtro qualquer no esquema mental dum português, cujos efeitos são fatais e devastadores. Mesmo um muro não resiste. Nem que tivesse dez metros de altura, não resistia. Somos um povo encefalotrófico: As coisas levedam-se-nos na cabeça. O muro cresce, infla-se, sobe pelo céu acima, dobra-se, curva, até abarcar, feito casulo, todo o horizonte, cobrindo todas as direcções.
Por isso eu quase que aposto...Cá, de certaza quase absoluta, não vai ser apenas um muro: vai ser um iglu!... OU seja, um muro na perspectiva dum pato-bravo. OU chico-esperto.
terça-feira, março 23, 2004
DESTROFILIA E SINISTROFILIA
Nos intervalos da Patrulha Hardcore (durante a qual não dão tréguas aos tugúrios e antros pecaminosos da Net), o Dinossauro e o seu ajudante Caguinchas, qual Duo Dinâmico, fazem umas rusgas pela blogosfera e, dizem eles, fartam-se de rir.
-"Para descomprimir e descongestionar, não há melhor!..." - Garante o sénior.
O Caguinchas, então, diverte-se à brava e ri que nem um preto com as bulhas escamadas e peixeiradas afins que, a cada esquina, eclodem entre os auto-denominados de direita e os arvorados da esquerda.
-"Ó Dragão, - apregoa ele, radiante, com alguns gafanhotos à mistura. - isto é demais!...é melhor que o circo dos maluquinhos do Júlio de Matos! É com cada tótó e cada pinóquio que só visto!..."
Mas o mais engraçado advém quando o Dinossauro se arma em pedagogo catedrático e tenta explicar ao seu assistente a razão determinante para essa cisma ancestral. As causas e os porquês da direita e da esquerda. Bem que ele tenta recuar à Revolução Francesa, à assembleia primordial, mas o Caguinchas não lhe dá hipótese:
-"Não precisas explicar, ó Cota!...Não sou burro, chiça! Também sei ler... e, do que tenho lido, é fácil de atestar: uns tocam pívias sempre com a direita; outros tocam sempre com a esquerda. Enfim, manias!..."
Ora, nem mais. Haja alguém que os entenda. Num país onde, pelos vistos, abunda a pedofilia, qual a admiração de grassar também a destrofilia e a sinistrofilia?...
Quanto ao mais e ao resto, vão por mim: em se tratando de punheta, prefiro a de mamas!...
-"Para descomprimir e descongestionar, não há melhor!..." - Garante o sénior.
O Caguinchas, então, diverte-se à brava e ri que nem um preto com as bulhas escamadas e peixeiradas afins que, a cada esquina, eclodem entre os auto-denominados de direita e os arvorados da esquerda.
-"Ó Dragão, - apregoa ele, radiante, com alguns gafanhotos à mistura. - isto é demais!...é melhor que o circo dos maluquinhos do Júlio de Matos! É com cada tótó e cada pinóquio que só visto!..."
Mas o mais engraçado advém quando o Dinossauro se arma em pedagogo catedrático e tenta explicar ao seu assistente a razão determinante para essa cisma ancestral. As causas e os porquês da direita e da esquerda. Bem que ele tenta recuar à Revolução Francesa, à assembleia primordial, mas o Caguinchas não lhe dá hipótese:
-"Não precisas explicar, ó Cota!...Não sou burro, chiça! Também sei ler... e, do que tenho lido, é fácil de atestar: uns tocam pívias sempre com a direita; outros tocam sempre com a esquerda. Enfim, manias!..."
Ora, nem mais. Haja alguém que os entenda. Num país onde, pelos vistos, abunda a pedofilia, qual a admiração de grassar também a destrofilia e a sinistrofilia?...
Quanto ao mais e ao resto, vão por mim: em se tratando de punheta, prefiro a de mamas!...
POLÉMICAS
Agora que os israelitas assassinaram o líder espiritual do Hamas, Sheikh Ahmed Yassin, acenderam-se grandes polémicas na lusa blogosfera. Os de esquerda clamam contra o assassínio, os de direita rejubilam com a justiça sumária, de talião.
Alguns jornalistas, muitos ao que parece, caíram na asneira de sugerir que o malogrado Sheikh era um resistente, e não um assassino desvairado e psicopata, culpado do massacre frio e metódico de centenas de judeus inocentes, entre os quais várias mulheres e crianças de colo. Este claro atentado à verdade, do ponto de vista dos garnizés destrofílicos, gerou nestes um clamor de indignação que só visto (isto, porque se pudessemos ouvi-lo no écran seria ensurdecedor).
Devo dizer-vos: aquele ancião tetraplégico que semi-vegetava agrilhoado a uma cadeira de rodas devia ser um tipo realmente perigososíssimo. Para os israelitas, gente caridosa, se terem dado ao trabalho de montar toda uma operação sofiticada para lhe acertar com um míssil, não era certamente nenhum mija-na-escada ou pilha-galinhas.
Não sei se era um assassino. Era, tudo o indica, um lider. Hollywood nunca fará dele um herói.
Eu, no lugar dele, a esta hora, não me sentiria assassinado, mas pura e simplesmente liberto.
Parece que a especialidade ou fatalidade dos hebreus sempre foi matar profetas.
Quanto às polémicas, por cá, só me ocorre mais uma coisa: Diante da morte e dos mortos, os homens deviam distinguir-se dos chacais.
Alguns jornalistas, muitos ao que parece, caíram na asneira de sugerir que o malogrado Sheikh era um resistente, e não um assassino desvairado e psicopata, culpado do massacre frio e metódico de centenas de judeus inocentes, entre os quais várias mulheres e crianças de colo. Este claro atentado à verdade, do ponto de vista dos garnizés destrofílicos, gerou nestes um clamor de indignação que só visto (isto, porque se pudessemos ouvi-lo no écran seria ensurdecedor).
Devo dizer-vos: aquele ancião tetraplégico que semi-vegetava agrilhoado a uma cadeira de rodas devia ser um tipo realmente perigososíssimo. Para os israelitas, gente caridosa, se terem dado ao trabalho de montar toda uma operação sofiticada para lhe acertar com um míssil, não era certamente nenhum mija-na-escada ou pilha-galinhas.
Não sei se era um assassino. Era, tudo o indica, um lider. Hollywood nunca fará dele um herói.
Eu, no lugar dele, a esta hora, não me sentiria assassinado, mas pura e simplesmente liberto.
Parece que a especialidade ou fatalidade dos hebreus sempre foi matar profetas.
Quanto às polémicas, por cá, só me ocorre mais uma coisa: Diante da morte e dos mortos, os homens deviam distinguir-se dos chacais.
HOMELESS WORLD CUP 2004 - II
Finalmente, depois de profunda análise e várias imperiais, lá conseguimos aceitar a notícia como válida e tranquilizar o Caguinchas. Tive que ser eu a comunicar-lhe a solução pró enigma:
-" Não, ó Caguinchas, quando se diz Sem Abrigo nos Estados Unidos, significa "Sem Abrigo Nuclear"!...
-"Ah!..." - Lá se acalmou o gajo.
É claro que evitámos dizer-lhe que era uma situação de penúria ainda mais trágica e mortificante que a dos seus homónimos europeus.
-" Não, ó Caguinchas, quando se diz Sem Abrigo nos Estados Unidos, significa "Sem Abrigo Nuclear"!...
-"Ah!..." - Lá se acalmou o gajo.
É claro que evitámos dizer-lhe que era uma situação de penúria ainda mais trágica e mortificante que a dos seus homónimos europeus.
segunda-feira, março 22, 2004
HOMELESS WORLD CUP 2004
Aqui na tasca -aliás, ciber-tasca-, está tudo de cara à banda e boca aberta, em risco sério de alguma mosca ou insecto volátil se nos embrenhar pelas goelas abaixo.
O caso não é pra menos: acabámos de saber que também existe uma espécie de mundial de futebol para os Sem Abrigo!...Chama-se Homeless World Cup 2004, o que, dito em anglofónico, ainda é mais embasbacante.
Mas outros detalhes da notícia, deixaram-nos, pr'além de embasbacados, completamente estupefactos. Lia-se mesmo:
«O primeiro Mundial dos Sem-Abrigo realizou-se em Julho do ano passado na Áustria, com 18 equipas - Brasil, Dinamarca, Alemanha, Inglaterra, Holanda, Irlanda, Itália, Áustria, Polónia, Rússia, Escócia, Suécia, Suíça, Eslováquia, Espanha, África do Sul, Estados Unidos e País de Gales.»
Aqui, o Caguinchas ia tendo uma apoplexia. Bradou, alarmadíssimo:
-"Isto só pode ser propaganda terrorista ou comunista, caralho!..."
Está bem que ele é dado a ideias extravagantes, mas aquela exorbitava. Embasbacados e estupefactos, encarámo-lo, agora também perplexos. No que ele aproveitou para desenvolver o raciocínio (ou o seu equivalente no complexo labirinto de sinapses que é o seu cérebro):
-"Terrorismo puro, só pode ser! Bin-Ladismo do pior, é o que é!...Toda a gente sabe que nos Estados Unidos, esse paraíso terrestre, não existem Sem-Abrigos e, mesmo que existissem, seriam tão poucos que nem dariam para formar uma equipa de futebol!..."
Tivemos que concordar com ele.
Esta notícia foi claramente sabotada. Não tem a mínima credibilidade e só pode esconder os objectivos mais insidiosos e obscuros.
Fazem de nós parvos, ou quê?!...
O caso não é pra menos: acabámos de saber que também existe uma espécie de mundial de futebol para os Sem Abrigo!...Chama-se Homeless World Cup 2004, o que, dito em anglofónico, ainda é mais embasbacante.
Mas outros detalhes da notícia, deixaram-nos, pr'além de embasbacados, completamente estupefactos. Lia-se mesmo:
«O primeiro Mundial dos Sem-Abrigo realizou-se em Julho do ano passado na Áustria, com 18 equipas - Brasil, Dinamarca, Alemanha, Inglaterra, Holanda, Irlanda, Itália, Áustria, Polónia, Rússia, Escócia, Suécia, Suíça, Eslováquia, Espanha, África do Sul, Estados Unidos e País de Gales.»
Aqui, o Caguinchas ia tendo uma apoplexia. Bradou, alarmadíssimo:
-"Isto só pode ser propaganda terrorista ou comunista, caralho!..."
Está bem que ele é dado a ideias extravagantes, mas aquela exorbitava. Embasbacados e estupefactos, encarámo-lo, agora também perplexos. No que ele aproveitou para desenvolver o raciocínio (ou o seu equivalente no complexo labirinto de sinapses que é o seu cérebro):
-"Terrorismo puro, só pode ser! Bin-Ladismo do pior, é o que é!...Toda a gente sabe que nos Estados Unidos, esse paraíso terrestre, não existem Sem-Abrigos e, mesmo que existissem, seriam tão poucos que nem dariam para formar uma equipa de futebol!..."
Tivemos que concordar com ele.
Esta notícia foi claramente sabotada. Não tem a mínima credibilidade e só pode esconder os objectivos mais insidiosos e obscuros.
Fazem de nós parvos, ou quê?!...
NEO-MANIQUEÍSMO
O Maniqueísmo baseava-se na crença na existência de dois princípios opostos e inconciliáveis - um, naturalmente, bom; e outro, naturalmente, mau.
Em larga medida, até pela origem geográfica, tratava-se duma variante tardia do mazdaísmo.
O Neo-maniqueísmo baseia-se em idêntica crença, promovida, entretanto, a dogma. Insere-se na panóplia retórica do neo-liberalismo e corresponde, fulgurantemente, à sua mística. Mas vai mais longe que o seu antepassado. Possui uma mira ontológica de alcance ilimitado. Não se trata apenas, agora, de os americanos capitalistas serem os bons e todos os que não colaborem com o seu enriquecimento exponencial os pérfidos e empedernidos de maus. Não, doravante, bom, santo, imaculado é também tudo o que os bons fazem ou mandam fazer. Mesmo que na aparência em nada se distinga dos hediondos actos dos maus. Pois, mesmo nesse complexo caso, não há que haver alarmes ou dúvidas impertinentes - a doutrina tranquiliza-nos: a essência é que conta. E aí, na essência, garantem-nos todos os seus profetas e beatos, até os actos infames são excelentes.
Em larga medida, até pela origem geográfica, tratava-se duma variante tardia do mazdaísmo.
O Neo-maniqueísmo baseia-se em idêntica crença, promovida, entretanto, a dogma. Insere-se na panóplia retórica do neo-liberalismo e corresponde, fulgurantemente, à sua mística. Mas vai mais longe que o seu antepassado. Possui uma mira ontológica de alcance ilimitado. Não se trata apenas, agora, de os americanos capitalistas serem os bons e todos os que não colaborem com o seu enriquecimento exponencial os pérfidos e empedernidos de maus. Não, doravante, bom, santo, imaculado é também tudo o que os bons fazem ou mandam fazer. Mesmo que na aparência em nada se distinga dos hediondos actos dos maus. Pois, mesmo nesse complexo caso, não há que haver alarmes ou dúvidas impertinentes - a doutrina tranquiliza-nos: a essência é que conta. E aí, na essência, garantem-nos todos os seus profetas e beatos, até os actos infames são excelentes.
domingo, março 21, 2004
ORGANISMOS UNICELULARES
É certo, segundo o "Diário Digital":
«Secreta portuguesa tenta localizar célula da Al Qaeda no país.»
Tarefa hérculea, para não dizer impossível, acho eu. Tratando-se, como noticiam, dum protozoário, vai ser muito difícil distingui-lo da generalidade dos políticos e jornalistas deste país.
Adivinha-se uma salgalhada pior que a da Casa Pia.
«Secreta portuguesa tenta localizar célula da Al Qaeda no país.»
Tarefa hérculea, para não dizer impossível, acho eu. Tratando-se, como noticiam, dum protozoário, vai ser muito difícil distingui-lo da generalidade dos políticos e jornalistas deste país.
Adivinha-se uma salgalhada pior que a da Casa Pia.
CHACAIS
A falácia mais comum no discurso político dos nossos dias (operação essencialmente retórica), é a chamada "petição de princípio". Consiste em usar a conclusão (ou seja, aquilo que se pretende demonstrar) como premissa de partida. Por exemplo, partir do princípio que os americanos são muito bons para demonstrar que eles são excelentes; ou partir do princípio que os árabes são muito maus para demonstrar que eles são péssimos e terroristas. De certa forma, petição de princípio e preconceito confundem-se. Os efeitos de ambos na análise e na argumentação, esses, são peculiares.
Se olharmos para os comentadores de pseudo-direita (desde a imprensa à blogosfera) deparamo-nos com uma abundância feérica de petição e preconceito. Regra geral, tomam como fundamento e princípio estruturante da sua argumentação a bondade inquestionável dos seus preconceitos. A realidade e o mundo servem apenas para os confirmar e justificar.
Tornam-se, assim, impermeáveis à crítica: quer enquanto alvos, quer, sobretudo, enquanto operadores. Imunes à dúvida, nunca os perturba a análise. Pelo contrário, o seu ramo é o da síntese judicativa. E, acima de tudo, justificadora.
Ao nunca pôr em causa o mundo -isto é, a aparência do mundo-, o comentarismo de pseudo-direita, identifica-se e conforma-se com essa aparência de mundo; acomoda-se à situação; entrincheira-se nos efeitos e na pseudo-eficácia. Daí que nunca seja um discurso de "causas", mas sempre uma consagração dos efeitos; um sacerdócio dos factos consumados.
Enquanto forma de pensamento, redunda assim num misto de surfer e parasita. Não interpreta: recicla; não investiga:acompanha; não questiona: aproveita.
Diante da carnificina e da predação, escuda-se num pseudo-realismo snobe e cristaliza num pragmatismo -mórbido e necrófago- de chacal.
Se olharmos para os comentadores de pseudo-direita (desde a imprensa à blogosfera) deparamo-nos com uma abundância feérica de petição e preconceito. Regra geral, tomam como fundamento e princípio estruturante da sua argumentação a bondade inquestionável dos seus preconceitos. A realidade e o mundo servem apenas para os confirmar e justificar.
Tornam-se, assim, impermeáveis à crítica: quer enquanto alvos, quer, sobretudo, enquanto operadores. Imunes à dúvida, nunca os perturba a análise. Pelo contrário, o seu ramo é o da síntese judicativa. E, acima de tudo, justificadora.
Ao nunca pôr em causa o mundo -isto é, a aparência do mundo-, o comentarismo de pseudo-direita, identifica-se e conforma-se com essa aparência de mundo; acomoda-se à situação; entrincheira-se nos efeitos e na pseudo-eficácia. Daí que nunca seja um discurso de "causas", mas sempre uma consagração dos efeitos; um sacerdócio dos factos consumados.
Enquanto forma de pensamento, redunda assim num misto de surfer e parasita. Não interpreta: recicla; não investiga:acompanha; não questiona: aproveita.
Diante da carnificina e da predação, escuda-se num pseudo-realismo snobe e cristaliza num pragmatismo -mórbido e necrófago- de chacal.
RILHAFOLES IV
Ainda na mesma empreitada, outro trinado angélico do senhor Bush:
«o Iraque é um exemplo para a região, e a invasão foi boa para o povo iraquiano, boa para os Estados Unidos e boa para o mundo».
Quanta amabilidade redundante. Bastava ter dito que era boa para os Estados Unidos: o povo Iraquiano e o Mundo ficavam implícitos. Aliás, é uma missão de que todo o mundo se deve capacitar e mentalizar o quanto antes: fazer o que é bom para os Estados Unidos, esse farol predestinado da Humanidade.
Entretanto, começa também a perceber-se onde fica o manancial inspirador para a desfaçatez e a aleivosia petulante dos comentaristas de pseudo-direita da nossa praça.
«o Iraque é um exemplo para a região, e a invasão foi boa para o povo iraquiano, boa para os Estados Unidos e boa para o mundo».
Quanta amabilidade redundante. Bastava ter dito que era boa para os Estados Unidos: o povo Iraquiano e o Mundo ficavam implícitos. Aliás, é uma missão de que todo o mundo se deve capacitar e mentalizar o quanto antes: fazer o que é bom para os Estados Unidos, esse farol predestinado da Humanidade.
Entretanto, começa também a perceber-se onde fica o manancial inspirador para a desfaçatez e a aleivosia petulante dos comentaristas de pseudo-direita da nossa praça.
RILHAFOLES III
O Senhor Bush, ídolo dos nossos Delgados, Pulidos e afins, em momento de chilreante inspiração:
«a população do Médio Oriente, ao olhar para o Iraque, fica com uma ideia do que pode ser a vida num país livre».
Portanto, livrem-se senhores países de quererem ser livres: as tropas do senhor Bush vão lá e espatifam aquilo tudo!
Graças a Deus que o nosso Durão não tem veleidades dessas.
«a população do Médio Oriente, ao olhar para o Iraque, fica com uma ideia do que pode ser a vida num país livre».
Portanto, livrem-se senhores países de quererem ser livres: as tropas do senhor Bush vão lá e espatifam aquilo tudo!
Graças a Deus que o nosso Durão não tem veleidades dessas.
sexta-feira, março 19, 2004
RILHAFOLES II
Bem, e como hoje é dia de visita à Ala dos Furiosos e Espumantes, aqui fica mais uma pérola -esta, agora, do já quase lendário Luís Intestíno Delgado.
Golfa ele, a páginas tantas:
-"Não há volta a dar, e esta evidência não é de direita, ou de esquerda, ou do centro. É do bom senso, apenas."
Convenhamos, o Intestino Delgado a apelar ao bom senso equivale, na realidade, a um canibal feroz em campanha pimpona pelo vegetarianismo.
Golfa ele, a páginas tantas:
-"Não há volta a dar, e esta evidência não é de direita, ou de esquerda, ou do centro. É do bom senso, apenas."
Convenhamos, o Intestino Delgado a apelar ao bom senso equivale, na realidade, a um canibal feroz em campanha pimpona pelo vegetarianismo.
O PMEC
Ainda me lembro do PREC, quando os jornais relampejavam e trovejavam de fervor panfletário. Marxistas-leninistas súbitos mas veementes, ajuramentados, vociferavam propaganda e juras de amor eterno ao proletariado e à revolução. Eram tempos de balbúrdia e euforia.
Passados trinta anos, alguns desses celebrantes, passaram-se para o outro lado. Convertidos à finança, devotos do mercado e do sacossantíssimo capital, vociferam na mesma, só que agora em tom ressentido e amargurado, contra a juventude e as ilusões perdidas. Epidérmicos da política e do pensamento, como da ideologia, não resistiram ao burilar rugoso da velhice. Como antes reflectiam a intemperança e a desabrura, ostentam agora o rancor e a esclerose.
De tal modo que, no presente, em vez dum PREC (Processo revolucionário em curso), temos, em moldes invertidos, um PMEC , ou seja: um Processo Mentecaptizante em Curso. Ou em "Catadupa", conforme preferirem.
Um desses alquimistas da coisa, um tal Vasco Pulido Valente, com bastante de asco, pouco de polido e nada de valente, sai-se com a seguinte pérola, num dos seus prodígios de emética mascarada de opinião:
"Sem a América a «Europa» fica desarmada e o Islão (o «bom» ou o «mau», como preferirem), mesmo se lhe derem Israel, nunca aceitará o mais ligeiro compromisso."
Mirabolante, não é? Afinal o Delgado tem um rival. (Ou mentor, vá-se lá saber). Todavia, hoje como ontem, a propaganda, como a poética em geral, para ser eficaz convém que seja, ao menos, verosímil. Já estamos a tremer de medo e horror, imaginando hordas islãmicas, armadas até aos dentes, com fisgas e catapultas. Deus (o nosso) nos acuda!
Mas não deixa de ser um argumento digno. Não de análise ou refutação, mas de colete de forças!...E com a maior urgência.
Passados trinta anos, alguns desses celebrantes, passaram-se para o outro lado. Convertidos à finança, devotos do mercado e do sacossantíssimo capital, vociferam na mesma, só que agora em tom ressentido e amargurado, contra a juventude e as ilusões perdidas. Epidérmicos da política e do pensamento, como da ideologia, não resistiram ao burilar rugoso da velhice. Como antes reflectiam a intemperança e a desabrura, ostentam agora o rancor e a esclerose.
De tal modo que, no presente, em vez dum PREC (Processo revolucionário em curso), temos, em moldes invertidos, um PMEC , ou seja: um Processo Mentecaptizante em Curso. Ou em "Catadupa", conforme preferirem.
Um desses alquimistas da coisa, um tal Vasco Pulido Valente, com bastante de asco, pouco de polido e nada de valente, sai-se com a seguinte pérola, num dos seus prodígios de emética mascarada de opinião:
"Sem a América a «Europa» fica desarmada e o Islão (o «bom» ou o «mau», como preferirem), mesmo se lhe derem Israel, nunca aceitará o mais ligeiro compromisso."
Mirabolante, não é? Afinal o Delgado tem um rival. (Ou mentor, vá-se lá saber). Todavia, hoje como ontem, a propaganda, como a poética em geral, para ser eficaz convém que seja, ao menos, verosímil. Já estamos a tremer de medo e horror, imaginando hordas islãmicas, armadas até aos dentes, com fisgas e catapultas. Deus (o nosso) nos acuda!
Mas não deixa de ser um argumento digno. Não de análise ou refutação, mas de colete de forças!...E com a maior urgência.
DA DIREITA E DA ESQUERDA
Puseram-me a questão no outro dia: "Afinal, ó Dragão, tu és de esquerda ou de direita?..."
Bem, sou nacionalista, não sou ateu, acredito na família heterossexual, não acredito no progresso material nem na ciência milagreira; não acho que o ser humano seja um bom selvagem; considero que a coisa mais estúpida que há no mundo é a multidão; julgo que a melhor e mais válida das leis é o exemplo; abomino burocracias e superficialidades; penso que o regime ideal seria a "aristocracia do espírito", tendo como paradigma um misto de Aristóteles e Jesus..."
-"Bem, isso não é lá muito de esquerda!", dir-me-ão vocês, cobertos de razão.
Mas por outro lado, sou visceralmente anti-burguês, anti-capitalista, não suporto religiões monoteístas arrebanhadoras, acredito sinceramente na fraternidade como factor fulcral de civilização, desprezo o individualismo venal tipo self-made-filho-da-puta, julgo que o dever supremo dum homem é tentar legar um mundo melhor aos seus filhos e combater a injustiça deste mundo...
-"Pois, e isso, decididamente, não é nada de direita!", dir-me-ão vocês,
agora perplexos.
Olhem, se não percebem, façam como o Caguinchas diante da mesma resposta...Olhou pra mim, numa mescla de piedade e resignação e, graças aos portentosos dotes lógico-dedutivos que se lhe reconhecem, concluiu:
-"Portanto, és um Quixote!..."
É isso mesmo.
E sobre este assunto, estamos conversados.
Bem, sou nacionalista, não sou ateu, acredito na família heterossexual, não acredito no progresso material nem na ciência milagreira; não acho que o ser humano seja um bom selvagem; considero que a coisa mais estúpida que há no mundo é a multidão; julgo que a melhor e mais válida das leis é o exemplo; abomino burocracias e superficialidades; penso que o regime ideal seria a "aristocracia do espírito", tendo como paradigma um misto de Aristóteles e Jesus..."
-"Bem, isso não é lá muito de esquerda!", dir-me-ão vocês, cobertos de razão.
Mas por outro lado, sou visceralmente anti-burguês, anti-capitalista, não suporto religiões monoteístas arrebanhadoras, acredito sinceramente na fraternidade como factor fulcral de civilização, desprezo o individualismo venal tipo self-made-filho-da-puta, julgo que o dever supremo dum homem é tentar legar um mundo melhor aos seus filhos e combater a injustiça deste mundo...
-"Pois, e isso, decididamente, não é nada de direita!", dir-me-ão vocês,
agora perplexos.
Olhem, se não percebem, façam como o Caguinchas diante da mesma resposta...Olhou pra mim, numa mescla de piedade e resignação e, graças aos portentosos dotes lógico-dedutivos que se lhe reconhecem, concluiu:
-"Portanto, és um Quixote!..."
É isso mesmo.
E sobre este assunto, estamos conversados.
CONFISSÃO DESNECESSÁRIA
Num acesso penitente de humildade e contrição, Durão Barroso, piloto de naufrágios, reconhece que cometeu erros. Não é grave.
Grave mesmo é não se lhe reconhecerem medidas ou decisões acertadas...Nenhumas!
Grave mesmo é não se lhe reconhecerem medidas ou decisões acertadas...Nenhumas!
quinta-feira, março 18, 2004
O OVO DO CAGUINCHAS
Comentário do Caguinchas a este meu desabafo sobre os ministros e o Hospital Júlio de Matos:
-"Foda-se, Dragão, às vezes nem pareces deste tempo!...Com'é que queres que eles passem por lá, se foi de lá que eles fugiram?!..."
Só não caí de cu, porque já o tinha estacionado, ao dito cu, em cima duma cadeira.
Mas, pelo menos, devém finalmente compreensível a governação nestes últimos anos. É, sem sombra de dúvida, o ovo de Colombo da análise política...Ou melhor: o ovo do Caguinchas.
-"Foda-se, Dragão, às vezes nem pareces deste tempo!...Com'é que queres que eles passem por lá, se foi de lá que eles fugiram?!..."
Só não caí de cu, porque já o tinha estacionado, ao dito cu, em cima duma cadeira.
Mas, pelo menos, devém finalmente compreensível a governação nestes últimos anos. É, sem sombra de dúvida, o ovo de Colombo da análise política...Ou melhor: o ovo do Caguinchas.
O MÍNIMO...
"Governo propõe idas trimestrais de ministros ao Parlamento".
E já agora, pelo menos mensalmente, convinha que fossem também à consulta externa do Hospital Júlio de Matos. Um seguimento clínico, por profissionais competentes, só lhes faria bem. Certamente que a cura não seria possível; o milagre não é do foro científico. Mas umas doses reforçadas de electrochoques e quimioterapia intensiva sempre poderiam atenuar os acessos autistas e os frenesins maníaco-depressivos.
Aliás, não faz qualquer sentido irem ao Parlamento, sem que antes passem pelo Júlio de Matos. É o mínimo exigível, caramba!
E já agora, pelo menos mensalmente, convinha que fossem também à consulta externa do Hospital Júlio de Matos. Um seguimento clínico, por profissionais competentes, só lhes faria bem. Certamente que a cura não seria possível; o milagre não é do foro científico. Mas umas doses reforçadas de electrochoques e quimioterapia intensiva sempre poderiam atenuar os acessos autistas e os frenesins maníaco-depressivos.
Aliás, não faz qualquer sentido irem ao Parlamento, sem que antes passem pelo Júlio de Matos. É o mínimo exigível, caramba!
LOW-PROPHILE, QUE DESPAUTÉRIO!...
"O terrorismo combate-se com o Estado de direito, o direito internacional e os serviços secretos".
Compreende-se o mal estar que esta frase de Zapatero deve estar a gerar na escumalha de pseudo-direita que acha que pode usurpar o mundo e pilhá-lo a seu bel-prazer. É, quanto a eles, uma teoria perigosíssima.
É sabido que preferem o Estádo de Sítio, o direito do mais forte (que, nos tempos actuais, coincide com o mais rico) e, quanto aos serviços secretos, resumem-se a uma estância salarial para os amigalhaços e malta da corda.
Além disso, para eles, o terrorismo nem sequer é, na essência, uma ameaça, mas, sobretudo, um negócio. O importante nem é combatê-lo, mas, isso sim, rentabilizá-lo, torná-lo cada vez mais lucrativo. Como a Segunda Guerra Mundial. Ou a Guerra Fria.
Por outro lado, para lactentes de Hollywood e amantes de cauboiadas, isto do low-prophile deve-lhes causar muita alergia. Imagina-se a comichão...
Compreende-se o mal estar que esta frase de Zapatero deve estar a gerar na escumalha de pseudo-direita que acha que pode usurpar o mundo e pilhá-lo a seu bel-prazer. É, quanto a eles, uma teoria perigosíssima.
É sabido que preferem o Estádo de Sítio, o direito do mais forte (que, nos tempos actuais, coincide com o mais rico) e, quanto aos serviços secretos, resumem-se a uma estância salarial para os amigalhaços e malta da corda.
Além disso, para eles, o terrorismo nem sequer é, na essência, uma ameaça, mas, sobretudo, um negócio. O importante nem é combatê-lo, mas, isso sim, rentabilizá-lo, torná-lo cada vez mais lucrativo. Como a Segunda Guerra Mundial. Ou a Guerra Fria.
Por outro lado, para lactentes de Hollywood e amantes de cauboiadas, isto do low-prophile deve-lhes causar muita alergia. Imagina-se a comichão...
quarta-feira, março 17, 2004
Geo-estratégia Caguinchiana
Vejam lá bem que o Caguinchas, esse crânio predestinado, acha que a Anorexia e a Bulimia não são apenas aplicáveis aos indivíduos, mas também aos países. É uma teoria brilhante, prá qual até já elegeu paradigmas:
Os Estados Unidos como nação bulímica por excelência; e Portugal, como perfeito anorético.
-"Então, e os africanos, ó Caguinchas?..." - Ainda me atrevi a perguntar-lhe.
-"Não pá, esses não são anoréticos! - Atestou ele. - Esses são mesmo é esfomeados, ou dito cientificamente: bulímicos frustrados!..."
-"Ah..." - Returqui, meio abananado... Enquanto o Caguinchas se preparava para tomar a geo-estratégia de assalto.
Os Estados Unidos como nação bulímica por excelência; e Portugal, como perfeito anorético.
-"Então, e os africanos, ó Caguinchas?..." - Ainda me atrevi a perguntar-lhe.
-"Não pá, esses não são anoréticos! - Atestou ele. - Esses são mesmo é esfomeados, ou dito cientificamente: bulímicos frustrados!..."
-"Ah..." - Returqui, meio abananado... Enquanto o Caguinchas se preparava para tomar a geo-estratégia de assalto.
VACINA ANTI-TERRORISTA
Em termos de terrorismo internacional, supondo-o uma espécie de epidemia, podemos considerar que existem países imunes. São países que, em regra, estão sujeitos a níveis de terrorismo doméstico de tal ordem que qualquer acção externa passaria despercebida.
Um exemplo, anedótico, seria o Brasil, onde se conta que os terroristas turistas seriam assaltados antes de terem hipótese de concretizar qualquer atentado.
Outro exemplo, este, dramático, é Portugal. De facto, aqui, Bin Laden não tem a mínima hipótese: já aguentamos, estoicamente, vai pra dois anos, com a Manuela Ferreira Leite.
Estamos, pois, vacinados contra as piores atrocidades.
Algum mérito a grande bruxa havia de ter, não?!...
Um exemplo, anedótico, seria o Brasil, onde se conta que os terroristas turistas seriam assaltados antes de terem hipótese de concretizar qualquer atentado.
Outro exemplo, este, dramático, é Portugal. De facto, aqui, Bin Laden não tem a mínima hipótese: já aguentamos, estoicamente, vai pra dois anos, com a Manuela Ferreira Leite.
Estamos, pois, vacinados contra as piores atrocidades.
Algum mérito a grande bruxa havia de ter, não?!...
domingo, março 14, 2004
DESCOBERTA CIENTÍFICA
Anorexia e bulimia podem ser herdadas, dizem espanhóis.
Andam os estados a gastar uma pipa de massa com cientistas, para eles chegarem a conclusões óbvias destas. Bastava perguntarem ao bom do Zé Povinho, que, nestas coisas, já tem calo no cu como o macaco.
O Caguinchas, por exemplo, que ainda é primo direito do dito Zé, por parte da mãe, depois d'eu lhe explicar em que consistiam aqueles palavrões eruditos (anorexia e bulimia), fartou-se de rir e não teve qualquer dificuldade em esclarecer o assunto:
-"Pois é lógico, ó Dragão. - proclamou ele. - Se a família é pobre, pelintríssima, é mais que evidente que os filhos vão herdar a anorexia dos pais! Exactaqualmente, se a família é de ricaços bem anafados, é obvio que os filhos vão ser bulimicosos com'os precedentes!..."
E aproveitou para concluir o seu raciocínio com um exemplo sugestivo:
- "Já viste alguma cadela dar porcos, ou uma porca parir cães?!..."
Às vezes, dou comigo a pensar, se este Caguincas, apesar de benfiquista empedernido, não mereceria ser subsidiado?!...E internado, já agora...
Andam os estados a gastar uma pipa de massa com cientistas, para eles chegarem a conclusões óbvias destas. Bastava perguntarem ao bom do Zé Povinho, que, nestas coisas, já tem calo no cu como o macaco.
O Caguinchas, por exemplo, que ainda é primo direito do dito Zé, por parte da mãe, depois d'eu lhe explicar em que consistiam aqueles palavrões eruditos (anorexia e bulimia), fartou-se de rir e não teve qualquer dificuldade em esclarecer o assunto:
-"Pois é lógico, ó Dragão. - proclamou ele. - Se a família é pobre, pelintríssima, é mais que evidente que os filhos vão herdar a anorexia dos pais! Exactaqualmente, se a família é de ricaços bem anafados, é obvio que os filhos vão ser bulimicosos com'os precedentes!..."
E aproveitou para concluir o seu raciocínio com um exemplo sugestivo:
- "Já viste alguma cadela dar porcos, ou uma porca parir cães?!..."
Às vezes, dou comigo a pensar, se este Caguincas, apesar de benfiquista empedernido, não mereceria ser subsidiado?!...E internado, já agora...
O HORROR E O TERROR
O que se passou no dia 11 de Março em Madrid foi um acto horrível, uma inominável atrocidade. Mesmo para aqueles que a cometeram, não devem haver muitas dúvidas sobre isso. Provavelmente, também acreditam nessa velha e bela tese do "mal necessário", ou melhor, do "horror necessário". Justificar-se-ão que é uma resposta a outros "horrores", uma retaliação a outras "atrocidades". Ora, em se tratando de "horror necessário", quanto mais horrível, melhor. O que, convenhamos, numa época em que o lema reinante é "quanto pior, melhor", acaba por assentar que nem uma luva.
Mas imaginemos que, por hipótese meramente académica, esse acontecimento, a todos os títulos horrivel e atroz, não devinha super-notícia, orgia mediática por muitos e largos dias...Certamente, não se teria tornado "terrível", "aterrador".
Basta ver que, todos os dias, por toda a Europa e Estados Unidos, só em acidentes de trabalho e viacção, morrem e ficam feridos o equivalente às vítimas do horror de Madrid, senão mais. Esfacelados, mutilados, comatosos também não faltam. No entanto, ninguém no seu perfeito juízo se lembra de acusar de terrorismo os construtores de automóveis ou as empresas exploradoras das auto-estradas. Ou o ritmo de vida cada vez mais frenético e desvairado que é imposto aos cidadãos. Esses mortos e feridos também são horríveis, mas, contudo, não se tornam "aterradores", nem as suas causas são apelidadas de terroristas.
Por conseguinte, o horror só devém terror, quando amplificado e propagado. Os tipos que puseram as bombas nos comboios de Madrid, horrorofactores "hard", assumidos, sabem-no e contam com isso. Eles só cometem a atrocidade, o horror. Dão o mote, o leitmotif. Do terror propriamente dito, da sinfonia macabra, tratam outros: os jornais e as televisões. Em delírio. E os políticos. Em manobra.
Há toda uma indústria necrofágica ansiosa por colaborar. Por transmitir a má nova a todo o mundo. Por transformar o choque em histeria colectiva, em estampido de manadas.
A existir esse tal indivíduo Bin Laden, nem é preciso ser muito inteligente ou maquiavélico: basta-lhe um oportunismo qb. Ele já percebeu que o ocidente histérico, gorduroso, mercantilista, fariseu, entrou na fase autofágica, isto é, do absurdo e da auto-destruição. Basta acrescentar-lhe um bom catalizador.
Este terrorismo sem resquício de quaisquer escrúpulo, ética ou respeito, que transformou o massacre e a carnificina no supremo dos espectáculos, reflecte, por isso, uma tripla infâmia: a daqueles que o semeiam; daqueles que o propagam e amplificam; e da sociedade mórbida, cada vez mais embrutecida e viciada no seu consumo.
Mas imaginemos que, por hipótese meramente académica, esse acontecimento, a todos os títulos horrivel e atroz, não devinha super-notícia, orgia mediática por muitos e largos dias...Certamente, não se teria tornado "terrível", "aterrador".
Basta ver que, todos os dias, por toda a Europa e Estados Unidos, só em acidentes de trabalho e viacção, morrem e ficam feridos o equivalente às vítimas do horror de Madrid, senão mais. Esfacelados, mutilados, comatosos também não faltam. No entanto, ninguém no seu perfeito juízo se lembra de acusar de terrorismo os construtores de automóveis ou as empresas exploradoras das auto-estradas. Ou o ritmo de vida cada vez mais frenético e desvairado que é imposto aos cidadãos. Esses mortos e feridos também são horríveis, mas, contudo, não se tornam "aterradores", nem as suas causas são apelidadas de terroristas.
Por conseguinte, o horror só devém terror, quando amplificado e propagado. Os tipos que puseram as bombas nos comboios de Madrid, horrorofactores "hard", assumidos, sabem-no e contam com isso. Eles só cometem a atrocidade, o horror. Dão o mote, o leitmotif. Do terror propriamente dito, da sinfonia macabra, tratam outros: os jornais e as televisões. Em delírio. E os políticos. Em manobra.
Há toda uma indústria necrofágica ansiosa por colaborar. Por transmitir a má nova a todo o mundo. Por transformar o choque em histeria colectiva, em estampido de manadas.
A existir esse tal indivíduo Bin Laden, nem é preciso ser muito inteligente ou maquiavélico: basta-lhe um oportunismo qb. Ele já percebeu que o ocidente histérico, gorduroso, mercantilista, fariseu, entrou na fase autofágica, isto é, do absurdo e da auto-destruição. Basta acrescentar-lhe um bom catalizador.
Este terrorismo sem resquício de quaisquer escrúpulo, ética ou respeito, que transformou o massacre e a carnificina no supremo dos espectáculos, reflecte, por isso, uma tripla infâmia: a daqueles que o semeiam; daqueles que o propagam e amplificam; e da sociedade mórbida, cada vez mais embrutecida e viciada no seu consumo.
sexta-feira, março 12, 2004
A SEGUIR É O METROPOLITANO
Estavamos nós todos embasbacados, aqui na tasca (aliás, ciber-tasca) com aquela tragédia toda que aconteceu aos espanhóis -minto: o D.Afonso Henriques, na pessoa do Batnavó, não estava e até sorria, vá-se lá saber porquê -, mas, dizia eu, estavamos então nesses compungidos propósitos, quando o Caguinchas, depois de se estarrecer mais que todos (excepto, repito, o D.Afonso, que até propunha brindes e rodadas gerais), entrou em profunda meditação.
Enquanto os jornalistas de toda a parte louvavam os céus por tamanho maná em queda livre e as notícias iam desfilando, num delírio esmiuçante e conjecturalista, o Caguinchas, agora alheado, soturno, entregava-se ao abismo, pelas insondáveis cavernuras da sua mente.
Na televisão, vários emissários de várias televisões competiam pelos destroços. Iam refocilando na carnificina, ao melhor estilo das hienas e chacais. Mutilações e esfacelamentos serviam de plano de fundo. Após a hecatombe humana, seguia-se o festim informativo.
-"Temos pra vários dias! - Murmurou, resignado, o Dinossauro. - Vão remoer, digerir e regurgitar até à náusea!...Até ao vómito."
-"É. -Concordei. - Um verdadeiro banquete!"
Varriamos uns caracóis nestes considerandos, quando o Caguinchas regressou dos abismos onde tinha andado a mergulhar.
-"Estive aqui a pensar... - confessou ele. Primeiro, foi o 11 de Setembro e os gajos atacaram os aviões. Agora é o 11 de Março e rebentam com os comboios..."
Nisto, fez uma pausa, como que pra recapitular e tomar fôlego. Ao mesmo tempo, um brilho alucinado fazia-lhe cintilar as vistas. Nós fitávamo-lo, suspensos e curiosos, pressentindo instintivamente a pérola...E ele, sem mais requebros, não nos desiludiu:
-"Garanto-vos: nos próximos Onzes todos de cada mês, a mim é que ninguém me apanha no metro!... Nem nas proximidades. Foda-se!!..."
Se o Caguinchas não dava um excelente analista...
Enquanto os jornalistas de toda a parte louvavam os céus por tamanho maná em queda livre e as notícias iam desfilando, num delírio esmiuçante e conjecturalista, o Caguinchas, agora alheado, soturno, entregava-se ao abismo, pelas insondáveis cavernuras da sua mente.
Na televisão, vários emissários de várias televisões competiam pelos destroços. Iam refocilando na carnificina, ao melhor estilo das hienas e chacais. Mutilações e esfacelamentos serviam de plano de fundo. Após a hecatombe humana, seguia-se o festim informativo.
-"Temos pra vários dias! - Murmurou, resignado, o Dinossauro. - Vão remoer, digerir e regurgitar até à náusea!...Até ao vómito."
-"É. -Concordei. - Um verdadeiro banquete!"
Varriamos uns caracóis nestes considerandos, quando o Caguinchas regressou dos abismos onde tinha andado a mergulhar.
-"Estive aqui a pensar... - confessou ele. Primeiro, foi o 11 de Setembro e os gajos atacaram os aviões. Agora é o 11 de Março e rebentam com os comboios..."
Nisto, fez uma pausa, como que pra recapitular e tomar fôlego. Ao mesmo tempo, um brilho alucinado fazia-lhe cintilar as vistas. Nós fitávamo-lo, suspensos e curiosos, pressentindo instintivamente a pérola...E ele, sem mais requebros, não nos desiludiu:
-"Garanto-vos: nos próximos Onzes todos de cada mês, a mim é que ninguém me apanha no metro!... Nem nas proximidades. Foda-se!!..."
Se o Caguinchas não dava um excelente analista...
A INDÚSTRIA E O ARTESANATO
Em 9 de Março de 1945, bombardeiros pesados norte-americanos, no ataque a Tóquio, com bombas de fósforo, causaram a morte a 88.793 pessoas.
O ataque a Hiroshima, pelos mesmos norte-americanos, com uma bomba atómica, causou a morte a 71.379 pessoas.
O bombardeamento de Dresden, por bombardeiros ingleses e americanos, na primavera de 1945, causou 135.000 baixas civis. Dresden era uma cidade sem objectivos militares.
Mas isso era guerra, dirão os iluminados.
Ontem, em Madrid, foi terrorismo, o cúmulo da infâmia: morreram duas centenas de pessoas.
Nem que fosse só uma pessoa, era infame, digo eu, ingenuamente. Ontem em Madrid, como sempre neste planeta, quando fruto de pura sanha e vindicta desumana.
Mas não foi menos infame que em Tóquio, Hisroshima, Dresden e tantos outros palcos de ignomínia da nossa história e do nosso mundo.
O século vinte assistiu à industrialização da carnificina; porque nos admiramos tanto com o seu filho bastardo, o artesanato?...
Os terroristas são mais infames porque exercem artesanalmente?...Os B52 e os mísseis das potências são menos terroristas e nada infames porque exercem com alvará, patente e licença industrial?...
Na altura em que semeia o vento, ninguém pensa na tempestade. A violência é uma espiral cruel e antiga. Impiedosa, sinistra, insaciável, só gera mais violência.
O ataque a Hiroshima, pelos mesmos norte-americanos, com uma bomba atómica, causou a morte a 71.379 pessoas.
O bombardeamento de Dresden, por bombardeiros ingleses e americanos, na primavera de 1945, causou 135.000 baixas civis. Dresden era uma cidade sem objectivos militares.
Mas isso era guerra, dirão os iluminados.
Ontem, em Madrid, foi terrorismo, o cúmulo da infâmia: morreram duas centenas de pessoas.
Nem que fosse só uma pessoa, era infame, digo eu, ingenuamente. Ontem em Madrid, como sempre neste planeta, quando fruto de pura sanha e vindicta desumana.
Mas não foi menos infame que em Tóquio, Hisroshima, Dresden e tantos outros palcos de ignomínia da nossa história e do nosso mundo.
O século vinte assistiu à industrialização da carnificina; porque nos admiramos tanto com o seu filho bastardo, o artesanato?...
Os terroristas são mais infames porque exercem artesanalmente?...Os B52 e os mísseis das potências são menos terroristas e nada infames porque exercem com alvará, patente e licença industrial?...
Na altura em que semeia o vento, ninguém pensa na tempestade. A violência é uma espiral cruel e antiga. Impiedosa, sinistra, insaciável, só gera mais violência.
quinta-feira, março 11, 2004
O MONSTRO
De todas as monstruosidades à solta no nosso mundo (e infelizmente são muitas), uma, voltou hoje a ofuscar todas as outras: o Terrorismo. Desde o 11 de Setembro que o chamado "ocidente" não experimentava uma carnificina deste calibre.
O mundo não está a ficar melhor nem mais seguro. Esta monstruosidade, repito, não é única, nem a pior de todas, mas é a que dá mais nas vistas. Na estranha hierarquia dos conceitos mediáticos, matar à bomba é infinitamente mais relevante que matar à fome.
Seja como for, presenciamos impotentes e estarrecidos. Neste particular monstro, a chacina não reflecte a forma como se alivia, mas como se reproduz.
À esquina do medo e dos bastidores tenebrosos, emboscam-nos algumas questões: quem o criou e quem o alimenta? Quem lucra com as suas razias? Quais as suas verdadeiras causas e finalidades?
Frankenstein, Génio maligno ou Golem?...
O mundo não está a ficar melhor nem mais seguro. Esta monstruosidade, repito, não é única, nem a pior de todas, mas é a que dá mais nas vistas. Na estranha hierarquia dos conceitos mediáticos, matar à bomba é infinitamente mais relevante que matar à fome.
Seja como for, presenciamos impotentes e estarrecidos. Neste particular monstro, a chacina não reflecte a forma como se alivia, mas como se reproduz.
À esquina do medo e dos bastidores tenebrosos, emboscam-nos algumas questões: quem o criou e quem o alimenta? Quem lucra com as suas razias? Quais as suas verdadeiras causas e finalidades?
Frankenstein, Génio maligno ou Golem?...
domingo, março 07, 2004
SER LIBERAL
O que é "ser liberal"?
Politicamente bissexual, digo eu. Estou meio no gozo e a usar de metáfora, porque, exactamente, ninguém sabe. Nem os próprios. Questionados -"você, afinal, é homo ou é hetero"?-, respondem: tenho dias; é conforme; depende...
Enfim, está na moda. O Chico, o Zé ou o Francisco também são. Até escrevem artigos nos jornais. Isto de dar prós dois lados é só vantagens e o dobro das oportunidades.
Num tempo de crise e de ausência de referências ou valores, mais que cavalgar a onda, convém não fazer ondas. O "politicamente correcto" equivale à pastilha placebo que importa mascar. Mais que qualquer outro, o chamado "liberal" segue à tona, à superfície, o mais flutuante e enxuto possível. O passado e o futuro não lhe interessam, nada lhe dizem. Barrica-se no presente, entrincheirado na situação e na conjuntura, e recusa-se a espreitar para lá disso. Contempla o mundo, em posição intra-uterina, através do caleidoscópio do seu umbigo. É ele, indivíduo, o alicerce do mundo; o mundo é uma mera ectoprojecção sua.
Essencialmente amorfo, abúlico, indiferenciado, desliza, sem vértice nem vértebra, pelas aparências das coisas.
Apresentem-lhe uma ideia, seja ela qual for, sobre o que quer que seja, e o seu veredicto implacável não tardará: "Extremista!..."
Politicamente bissexual, digo eu. Estou meio no gozo e a usar de metáfora, porque, exactamente, ninguém sabe. Nem os próprios. Questionados -"você, afinal, é homo ou é hetero"?-, respondem: tenho dias; é conforme; depende...
Enfim, está na moda. O Chico, o Zé ou o Francisco também são. Até escrevem artigos nos jornais. Isto de dar prós dois lados é só vantagens e o dobro das oportunidades.
Num tempo de crise e de ausência de referências ou valores, mais que cavalgar a onda, convém não fazer ondas. O "politicamente correcto" equivale à pastilha placebo que importa mascar. Mais que qualquer outro, o chamado "liberal" segue à tona, à superfície, o mais flutuante e enxuto possível. O passado e o futuro não lhe interessam, nada lhe dizem. Barrica-se no presente, entrincheirado na situação e na conjuntura, e recusa-se a espreitar para lá disso. Contempla o mundo, em posição intra-uterina, através do caleidoscópio do seu umbigo. É ele, indivíduo, o alicerce do mundo; o mundo é uma mera ectoprojecção sua.
Essencialmente amorfo, abúlico, indiferenciado, desliza, sem vértice nem vértebra, pelas aparências das coisas.
Apresentem-lhe uma ideia, seja ela qual for, sobre o que quer que seja, e o seu veredicto implacável não tardará: "Extremista!..."
REVOLUÇÃO, NÃO: DEVOLUÇÃO!
Li algures, já não me lembra onde, que a actual pandilha governativa pretende reformar as "Comemorações do 25 de Abril". A reforma é simples e consiste em retirar o "r" de "revolução". Em vez da "revolução", comemorar-se-á, assim, a "evolução do 25 de Abril". Aquele "r", aliás, desde 74 que lhes estava atravessado na garganta.
Esta habilidade é tudo menos inocente e despreendida. "Evolução" lembra-nos logo Darwin e a "teoria das Espécies"...Subentende veladamente que agora, vencidas as macacadas revolucionárias, com este "governo sapiens", se atingiu finalmente, o estágio humano e inteligente. Que se ultrapassou a fase de bestialidade e da barbárie; etc, etc.
Ora, nada menos falacioso e charlatão que isto. Entre os macacos, mesmo os mais obtusos, e alguns ministros (bem como a generalidade dos parlamentares) da actual maioria, a vantagem cognitiva pende para o lado dos macacos. Decididamente, há saguins e babuínos muito mais inteligentes. De gorilas e chimpanzés, é melhor nem falarmos.
Portanto, mutilar a "revolução", através da ablação do "r" não parece boa ideia.
O melhor mesmo é optarem pela cirurgia plástica: transformam o "r" em "d", e não se fala mais nisso.
Em 25 de Abril de 2004, comemoremos, pois, a "devolução": de Portugal à estagnação, à resignação, ao caciquismo e à parasitocracia desenfreada.
É justo.
Esta habilidade é tudo menos inocente e despreendida. "Evolução" lembra-nos logo Darwin e a "teoria das Espécies"...Subentende veladamente que agora, vencidas as macacadas revolucionárias, com este "governo sapiens", se atingiu finalmente, o estágio humano e inteligente. Que se ultrapassou a fase de bestialidade e da barbárie; etc, etc.
Ora, nada menos falacioso e charlatão que isto. Entre os macacos, mesmo os mais obtusos, e alguns ministros (bem como a generalidade dos parlamentares) da actual maioria, a vantagem cognitiva pende para o lado dos macacos. Decididamente, há saguins e babuínos muito mais inteligentes. De gorilas e chimpanzés, é melhor nem falarmos.
Portanto, mutilar a "revolução", através da ablação do "r" não parece boa ideia.
O melhor mesmo é optarem pela cirurgia plástica: transformam o "r" em "d", e não se fala mais nisso.
Em 25 de Abril de 2004, comemoremos, pois, a "devolução": de Portugal à estagnação, à resignação, ao caciquismo e à parasitocracia desenfreada.
É justo.
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