Cansado de remar contra a maré, decidi ser pluralista. Quer isto dizer que em cada dia da semana serei sua coisa. Passo a enumerar...
À segunda-feira:
Adopto uma postura juvenilmente nacionalista. Com tatuagem e piercings a rigor, hesitarei entre dedicar-me à criação duma espécie de rafeiro lusitano com pedigree confinado ao rectângulo pátrio, ou uma variante espirituosa de tuga peregrinus, em romaria devota pelo melhor dos mundos. No pior dos casos, ultrapassarei o entorpecimento ancestral dos brandos costumes, urdindo cargas homicidas ou raides punitivos contra a claque do clube rival, ou daquele que estiver mais a jeito nesse dia.
À terça-feira:
Serei marxista-leninista-stalinista et al (caiado a parlamentarismo de conveniência). Acharei bem que se mate, interne ou dê sumiço a quem não concorde comigo porque põe em risco a revolução e o caminho para a redenção humana. Morrem, são lobotomizados ou evaporam-se por uma boa causa e o que conta é a intenção. Os fins justificam os meios. Ámen.
Às quartas:
Serei democrata-liberal, de manhã; e democrata-neoliberal, à tarde. Tecerei louvas e incensos ao indivíduo e prostar-me-ei, às toladas e vénias, virado para Wall Street, em vassalagem ao Alá-Mercado e à pedra negra da Sociedade Anónima. Nada de pegar em armas: apenas calculadoras, telemóveis e portáteis. As armas, abençoadinhas não obstante, apenas as venderei para que outros se matem. De preferência pretos, árabes, monhés, chinocas ou quaisquer dessas escórias que não o branco anglófono made em Harvard, Yale ou Oxford e a sua corte internacional de cheira-cus e beija-rabos. Aproveito a confusão para mandar matar também alguns, cada vez mais, muito maus, que se opõem à redenção da humanidade pelo Milagre do Mercado, e vou sacando matérias primas e mão-de-obra ao preço da uva mijona.
À quinta-feira:
Serei democrata-cristão. Militarei sob um permanente estado de espírito esquizofrénico: a minha metade liberal, qual Caim belicoso, tentará matar a outra metade devota; a parte de mim que venera Mamon, arma emboscadas à minha parte que louva a Deus. Durante o dia, aproprio-me o mais possível; durante a noite, em sonhos, por descarga onírica, distribuo. Pelos lençóis.
À sexta-feira:À segunda-feira:
Adopto uma postura juvenilmente nacionalista. Com tatuagem e piercings a rigor, hesitarei entre dedicar-me à criação duma espécie de rafeiro lusitano com pedigree confinado ao rectângulo pátrio, ou uma variante espirituosa de tuga peregrinus, em romaria devota pelo melhor dos mundos. No pior dos casos, ultrapassarei o entorpecimento ancestral dos brandos costumes, urdindo cargas homicidas ou raides punitivos contra a claque do clube rival, ou daquele que estiver mais a jeito nesse dia.
À terça-feira:
Serei marxista-leninista-stalinista et al (caiado a parlamentarismo de conveniência). Acharei bem que se mate, interne ou dê sumiço a quem não concorde comigo porque põe em risco a revolução e o caminho para a redenção humana. Morrem, são lobotomizados ou evaporam-se por uma boa causa e o que conta é a intenção. Os fins justificam os meios. Ámen.
Às quartas:
Serei democrata-liberal, de manhã; e democrata-neoliberal, à tarde. Tecerei louvas e incensos ao indivíduo e prostar-me-ei, às toladas e vénias, virado para Wall Street, em vassalagem ao Alá-Mercado e à pedra negra da Sociedade Anónima. Nada de pegar em armas: apenas calculadoras, telemóveis e portáteis. As armas, abençoadinhas não obstante, apenas as venderei para que outros se matem. De preferência pretos, árabes, monhés, chinocas ou quaisquer dessas escórias que não o branco anglófono made em Harvard, Yale ou Oxford e a sua corte internacional de cheira-cus e beija-rabos. Aproveito a confusão para mandar matar também alguns, cada vez mais, muito maus, que se opõem à redenção da humanidade pelo Milagre do Mercado, e vou sacando matérias primas e mão-de-obra ao preço da uva mijona.
À quinta-feira:
Serei democrata-cristão. Militarei sob um permanente estado de espírito esquizofrénico: a minha metade liberal, qual Caim belicoso, tentará matar a outra metade devota; a parte de mim que venera Mamon, arma emboscadas à minha parte que louva a Deus. Durante o dia, aproprio-me o mais possível; durante a noite, em sonhos, por descarga onírica, distribuo. Pelos lençóis.
Serei da esquerda evoluída, lacoste. Só matarei embriões e tipos vegetalizados em camas de hospital. Em suma: coisas que não se possam defender. Pensarei também, muito, nas indumentárias, maquilhagens e penteados que melhor se adequam à próxima manifestação: aquela em defesa de facínoras, psicopatas e serial-killers, coitados, que o sistema fassista quer condenar à morte, no Texas ou na Cochinchina. No fundo, serei uma espécie de marxista-leninista desossado. A deslisar, sempre viscoso e babujante, de corninhos retrácteis e a causa às costas.
Aos sábados:
Serei republicano laico e progressista. Aqui é muito simples: comer e buber, ó terrim-tim-tim, passear no mundo. De manhã, à tarde e á noite. Às expensas do erário, evidentemente.
Ao domingo:
Serei conservador. Vou à missa, comungo e confesso todos os meus pecados. Dou banho à alma. Sou absolvido e recomeço tudo de novo. No meio de tudo isto, é importante conservar os escrúpulos e a consciência distraídos com qualquer coisa.
Serei conservador. Vou à missa, comungo e confesso todos os meus pecados. Dou banho à alma. Sou absolvido e recomeço tudo de novo. No meio de tudo isto, é importante conservar os escrúpulos e a consciência distraídos com qualquer coisa.
Agora não me venham dizer que não sou um gajo moderno.
Se isto não é ser moderno, então não sei o que seja. E duvido mesmo que tal disparate exista.
3 comentários:
Só me admira é que na sexta-feira ainda utilize o termo fassista quando poderia ter aproveitado a descarga onírica de quinta-feira ou, preferivelmente, qualquer descarga sanitária interdecorrente para se sanear das terminologias contraídas nas suas
Só me admira é que na sexta-feira ainda utilize o termo fassista quando poderia ter aproveitado a descarga onírica de quinta-feira ou, preferivelmente, qualquer descarga sanitária interdecorrente para se sanear das terminologias contraídas nas suas leituras de quarta-feira à tarde.
Muito moderno mesmo!
Qual camaleão da blogosfera!
Cumprimentos
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