domingo, outubro 08, 2006

Histórias do Arco-da-Velha - Os Foguetões Vivos

«Adams, modesto investigador que atingira já uma idade respeitável, revoltara-se com o ataque da aviação japonesa sobre Pearl Harbour. Algumas horas apenas após o ataque aéreo, apresentou-se no Pentágono e propôs uma intervenção capaz de pôr o Japão inteiro a ferro e fogo. Um pouco incrédulos, e era caso para isso, os oficiais que o receberam escutaram, apesar de tudo, com atenção a teoria do Pro. Adams.
Para incendiar as cidades japonesas, dizia Adams, cujas casas são na maioria de madeira, bastaria colocar pequenas cargas incendiárias debaixo dos tectos. Sim, mas era preciso ir colocar essas cargas incendiárias. Foi então que Adams expôs a sua ideia: os foguetões vivos. Não é preciso dizer que os oficiais começaram a trocar olhares irónicos. A sua ironia foi completa quando Adams explicou o que ele entendia por foguetões vivos: muito simplesmente, morcegos, milhões de morcegos. E Adams, sem se importar com as reacções dos militares, continuou a sua exposição: os morcegos são capazes de transportar numa carga três vezes o seu próprio peso; por outro lado, têm tendência para se esconderem debaixo dos tectos e para se desembaraçarem imediatamente dos objectos que aderem aos seus corpos. Se se tranportassem a bordo de uma dezena de bombardeiros um milhão de morcegos com armadilhas e adormecidos, e se se lançassem sobre o Japão, o sol acordá-los-ia, eles esconder-se-iam debaixo dos tectos, e o dispositivo de que seriam munidos lançaria outros tantos incêndios.
Enquanto o velho professor discorria sobre a sua teoria, a incredulidade divertida dos oficiais transformava-se em entusiasmo. Decidiu-se logo realizar uma conferência sobre o assunto e atribuiu-se ao professor um orçamento de 2 milhões de dólares. O exército prometeu-lhe todo o auxílio de que viesse a precisar.
Nos laboratórios militares começaram a preparar-se microscópicas bombas de napalm, que os morcegos levariam agarrados a si. Centenas de soldados e civis lançar-se-iam à caça de uma espécie particular de quirópteros mexicanos que pareciam os mais adequados para a missão suicida. Fizeram-se experiências minuciosas para que o transporte e o lançamento destes heróis à força se efectuasse nas melhores condições. No decorrer de uma experiência no deserto de El Paso, no Texas, um milhar de morcegos deitaram fogo a vários milhares de caixotes. A segunda experiência prometia ter um êxito ainda maior, e teve-o, mas, contudo, não deixou de pôr termo definitivamente às esperanças do Prof. Adams.
Numa noite de Verão de 1942, vários oficiais superiores foram convocados à base de Carlsbad, no Texas, para assistirem a uma demonstração sensacional. Os cientistas mostraram-lhes meia dzia de morcegos em hibernação trazendo consigo minúsculas bombas. No dia seguinte seriam lançados sobre instalações montadas perto dali, no deserto. Infelizmente, os cientistas não tinham previsto que nesta época do ano o sol aquece muito cedo. Os morcegos, acordados mesmo antes de os generais se levantarem da cama, espalharam-se em todas as direcções, e em pouco tempo os principais edifícios da base aérea estavam transformados em braseiros. Hangares, depósitos, escritórios, tudo desapareceu. O próprio Adams perdeu no incêndio a totalidade dos seus documentos. Os generais americanos não gostaram nada da brincadeira, e, uma semana depois, uma lacónica carta do Estado-Maior informava o Prof. Adams de que o exército renunciava definitivamente ao projecto dos foguetões vivos.»
- Michel Bar-Zohar, "A Caça aos Sábios Alemães"

1 comentário:

josé disse...

Não conhecia esta história incrível. E contudo, fartei-me de ler as Selecções do Reader´s Digest...ahahahah!