sexta-feira, setembro 30, 2005
Massa de político
«Mentirosos têm um cérebro diferente, revela estudo». E, mais adiante, esclarece-se: «Os cientistas concluíram que aqueles classificados como mentirosos compulsivos têm até 26% mais matéria branca no cérebro do que outros indivíduos. »
Eu ia para fazer uma graçola fácil, do estilo: "Bem que nós suspeitávamos que os políticos eram destituídos de massa cinzenta." Ou então: "Isso, claro está, os mentirosos compulsivos, porque em se tratando de vigaristas encartados, vulgo políticos, a percentagem ascende aos 70%."
A realidade, porém, irrompendo, arruinou-me os projectos de chiste. Lembrou-me que a caca de galinha não é branca. Ora, está mais que provado que é dessa massa que são feitos os cérebros políticos.
O dos eleitores, não. É mesmo caca de papagaio. Ou macaquinho.
Rescaldo de um debate
Bem, de tudo o que aqui foi dito sobre os inefáveis "blasfemos", entre esconjuros e apologias, sobressai uma minudência panegírica que, por não ser a primeira vez que a topo, me desafia e intriga. É onde se diz: «aguentam todo o tipo de embates com aquele fair play que só quem tomou muito chá à nascença é capaz de ter».
Aqui chegado, cumpre-me confessar, publicamente, as minhas abissais limitações nessa matéria. O chá. Efectivamente, não sei, desconheço com quantos neurónios tenho, se aqueles rapazes tomaram chá à nascença, ou se, em contrapartida, preferiram biberão de papas ou se contentaram, como faz o vulgo plebeu, em chuchar no nutritivo e aveludado úbere materno. Da mesma forma que também ignoro, em grau e intensidade semelhantes, se são de raça ariana pura ou se tiveram parentes próximos encarcerados aos cuidados da famigerada PIDE/DGS.
Aqui chegado, cumpre-me confessar, publicamente, as minhas abissais limitações nessa matéria. O chá. Efectivamente, não sei, desconheço com quantos neurónios tenho, se aqueles rapazes tomaram chá à nascença, ou se, em contrapartida, preferiram biberão de papas ou se contentaram, como faz o vulgo plebeu, em chuchar no nutritivo e aveludado úbere materno. Da mesma forma que também ignoro, em grau e intensidade semelhantes, se são de raça ariana pura ou se tiveram parentes próximos encarcerados aos cuidados da famigerada PIDE/DGS.
Mais adianto que o pouco que domino desse assunto, o chá, resume-se a saber que é um meio privilegiado para a diluição do arsénico. Ou da estricnina. Que, como todos sabemos, em quantidades controladas, pode ser um afrodisíaco.
Dada a compulsividade e facilidade com que se masturbam, eu inclinar-me-ia mais para a segunda hipótese.
quarta-feira, setembro 28, 2005
Credibilidade(zinhas), ou Ele há mistérios...
Munam-se, Vªs.Excªs., duma dose avantajada de paciência, leiam isto, e depois tentem acompanhar o seguinte questionário/raciocínio liminarmente derivado:
Porque é que a TVI é a televisão mais credível do país?
- Porque é aquela que reune mais telespectadores.
Porque é que o Emanuel, o Toy e a Ágata são músicos credíveis (já não falando no lendário Zé Cabra) ?
- Porque grandes multidões de ouvintes e catervas imensas de fãs os frequentam.
Porque é que a Companhia Não-Sei-Quantos é mais credível que o Telejornal? Ou porque é que qualquer Reality Show é mais credível que o Canal História?...
-Porque têm mais audiência.
Porque é que o José Castelo-Branco é mais credível que o João Miranda?
- Porque tem, incomparavelmente, mais basbaques atentos às baboseiras que expele e debita em horário nobre.
Porque é que a "Crónica Feminina", ou a "Caras" são muitíssimo mais credíveis que o "Blasfémias"?
- Porque têm muitíssimos mais mentecaptos que as lêem. E não só: que as compram, que pagam para as lerem.
Porque é que Margarida Rebelo Pinto é mais credível que Cervantes, Homero ou Dostoievsky?
- Não preciso de continuar a explicar, pois não?...
E porque é que um tal Rodrigo Adão da Fonseca, não contente de dar tiros no pé(zinho), ainda enfia um cartucho de dinamite no cu e nos convida a acender o rastilho?...
- Grande mistério, pois é.
Porque é que a TVI é a televisão mais credível do país?
- Porque é aquela que reune mais telespectadores.
Porque é que o Emanuel, o Toy e a Ágata são músicos credíveis (já não falando no lendário Zé Cabra) ?
- Porque grandes multidões de ouvintes e catervas imensas de fãs os frequentam.
Porque é que a Companhia Não-Sei-Quantos é mais credível que o Telejornal? Ou porque é que qualquer Reality Show é mais credível que o Canal História?...
-Porque têm mais audiência.
Porque é que o José Castelo-Branco é mais credível que o João Miranda?
- Porque tem, incomparavelmente, mais basbaques atentos às baboseiras que expele e debita em horário nobre.
Porque é que a "Crónica Feminina", ou a "Caras" são muitíssimo mais credíveis que o "Blasfémias"?
- Porque têm muitíssimos mais mentecaptos que as lêem. E não só: que as compram, que pagam para as lerem.
Porque é que Margarida Rebelo Pinto é mais credível que Cervantes, Homero ou Dostoievsky?
- Não preciso de continuar a explicar, pois não?...
E porque é que um tal Rodrigo Adão da Fonseca, não contente de dar tiros no pé(zinho), ainda enfia um cartucho de dinamite no cu e nos convida a acender o rastilho?...
- Grande mistério, pois é.
terça-feira, setembro 27, 2005
Canções. I- O Fim do Verão
E assim acaba o verão
Não tarda chega o inverno,
E as crianças tristes vão
Dormir um sonho eterno.
Sozinho fica o mar
A chorar dum jeito materno,
E os anjinhos vão brincar
Junto às portas do inferno.
Com agulhas, com limões
Com pedacinhos de céu,
atrás de estranhas ilusões
Que o Diabo lhes vendeu.
O vento empurra o ar
O sol já se quer esconder,
As nuvens baixas a passar
lembram que o verão está a morrer.
E dizer já nem sei eu
Do fundo do coração,
Se assisto ao funeral do verão
se apenas assisto ao meu.
segunda-feira, setembro 26, 2005
A Receita realmente filantrópica
«Durante quinze dias tinha-me encerrado no meu quarto, e rodeado dos livros em voga nesse tempo (há dezasseis ou dezassete anos); quer dizer, dos livros em que se tratava da arte de tornar os povos felizes, sábios e ricos, em vinte e quatro horas. Tinha então digerido –ou melhor, devorado – todas as lucubrações de todos esses empreiteiros da felicidade pública -, daqueles que aconselham a todos os pobres que se façam escravos, e daqueles que persuadem de que eles são todos reis destronados. – Não causará pois surpresa que eu me encontrasse então num estado de espírito vizinho da vertigem ou da estupidez.
Parecia-me tão-somente que senti, confinado na âmago do meu intelecto, o germe obscuro duma ideia superior a todas as fórmulas de boa dona de casa de que eu tinha recentemente percorrido o dicionário. Mas não era mais que a ideia duma ideia, qualquer coisa de infinitamente vago.
E saí com uma grande sede. Pois o gosto apaixonado das más leituras engendra uma proporcional necessidade de ar puro e refrescos.
Quando ia a entrar num botequim, um mendigo estendeu-me chapéu, com um desses olhares inolvidáveis que derrubariam os tronos, se o espírito agitasse a matéria, e se os olhos dum magnetizador fizesse amadurecer as uvas.
Ao mesmo tempo, ouvi uma voz que murmurava ao meu ouvido, uma voz que logo reconheci; era a um Anjo bom, ou dum bom Demónio, que me acompanha para toda a parte. Visto que Sócrates tinha o seu bom Demónio, porque não terei eu o meu bom Anjo, e porque não terei eu a honra, como Sócrates, de obter a minha licença de loucura, assinada pelo subtil Lélut e pelo sábio Baillarger?
Existe uma diferença entre o Demónio de Sócrates e o meu: o de Sócrates só se lhe manifestava para defender, advertir, coibir; o meu digna-se aconselhar, sugerir, persuadir. Esse pobre Sócrates não tinha senão um Demónio proibitivo; o meu é um grande afirmador, o meu é um Demónio de acção, ou Demónio de combate.
Ora a sua voz murmurava-me isto: "Só é igual a qualquer outro aquele que o prova, e só é digno da liberdade aquele que sabe conquistá-la."
Imediatamente, saltei sobre o mendigo. Com um único soco esmurrei-lhe um olho que ficou, num segundo, do tamanho duma bola. Parti as unhas a esmurrar-lhe os dentes, e como não me sentia suficientemente forte, pois nasci delicado e tenho feito pouco boxe, para derrubar rapidamente esse velho, segurei-lhe com uma das mãos o colete do fato, e com a outra agarrei-lhe o pescoço, e sacudi-lhe violentamente a cabeça de encontro à parede. Devo acrescentar que tinha antecipadamente inspeccionado os arredores com um golpe de vista, e que tinha verificado que nesse lugar afastado e deserto me encontrava, havia já algum tempo, fora do alcance de qualquer agente da polícia.
Tendo em seguida, com um pontapé dado nas costas e assaz enérgico para lhe partir as omoplatas, estendido por terra esse sexagenário enfraquecido, peguei num forte ramo de árvore que estava no chão, e bati-lhe com a energia obstinada dos cozinheiros que querem tornar tenro um bife.
De repente – ó milagre! Ó alegria do filósofo que verifica a excelência da sua teoria! -, vi aquela antiga carcaça voltar-se, levantar-se com energia que eu nunca teria suspeitado numa máquina tão singularmente desarranjada, e, com um olhar de ódio que me pareceu de bom augúrio, o malandrim decrépito atirou-se a mim, socou-me os dois olhos, partiu-me quatro dentes, e com o mesmo ramo de árvore malhou em mim como em centeio verde. – Com a minha medicação enérgica, tinha-lhe assim restituído o orgulho e a vida.
Então, eu fiz-lhe muitos sinais para lhe fazer compreender que considerava a discussão como finda, e levantando-me com a satisfação dum sofista do Pórtico, disse-lhe: "Senhor, sois o meu semelhante! Queira fazer-me a honra de partilhar comigo a minha bolsa; lembre-se, se é realmente filantropo, que é preciso aplicar a todos os seus confrades, quando eles lhe pedirem esmola, a teoria que eu tive a mágoa de experimentar nas suas costas." »
- Charles Baudelaire , "O Spleen de Paris" (trad. port. da relógio d’Água)
A receita parece-me excelente. Interrogo-me apenas se poderá ser transposta dum indivíduo para um povo inteiro... Dava um jeitão dos diabos que pudesse.
O Strangelovismo
«Golfinhos armados desaparecem devido ao furacão Katrina»
Como se já não bastassem os árabes loucos que eles andaram a treinar e depois deram para o torto, agora são golfinhos licenciados, armados até aos dentes e às barbatanas, prontos sabe-se lá para que razias marinhas!...
Mas aquilo é um país ou um manicómio belicoso entregue a doutores frankensteines, ainda por cima totós?!...
O regime daquela merda, afinal, é o quê? - epinazismo industrial com anestesia?...
Em rescaldo, recomenda-se o revisionamento do filme "Dr Strange Love", de Stanley Kubric. Com carácter de urgência. E terapia de choque.
Alerta vermelho
Valha-nos Deus!... O Caguinchas descobriu como é que se fazem comentários!... Penso - aliás, tenho a certeza - que isto para a blogosfera é mais perigoso que a gripe das aves.
Ectoplasmas
Já lá diz o ditado : "Ou há moralidade, ou comem todos". O problema é que não há moralidade nem comem todos. Daí o saco-de-gatos em que a pátria "democrática", vertiginosamente, chapuça. Vocifera e esbraceja. Principalmente, porque os que comem mais e que menos moralidade praticam querem tirar marisco da boca dos outros e arvorar-se em guardiães da moralidade pública.
Então, pá? Organizem-se!
Será que a partidocracia não percebe uma coisa elementar: a de que é um mero sub-sistema, um ectoplasma dum organismo mais vasto, antigo e preponderante, ou seja, a parasitocracia?...
domingo, setembro 25, 2005
III República ou o Quintal do Soares
Nada de confusões na decifração da alegoria: o transatlântico representa o Estado Novo.
sexta-feira, setembro 23, 2005
Português e estrangeirês
«Apenas 36% dos portugueses falam um idioma diferente», segundo notícia do Diário Digital.
Ora, em boa verdade, isto não é de modo nenhum alarmante, nem sequer merecedor de grandes reparos.
Alarmante e, aí sim, horripilante é o número de portugueses que não falam o próprio idioma. Para cima de 80%, contando por baixo. Se pensarmos na percentagem à saída das universidades, então, o ponteiro abeira-se perigosamente dos 100. Uma amostra exclusivamente concentrada nas redacções plumitivas e rebentamos com a escala.
Pior que o panorama da fala só mesmo o da escrita. A generalidade das obras literárias lavradas por autores com a nacionalidade portuguesa requer tradução. Quando digo lavradas, subentenda-se literalmente uma cavalgadura ou junta bovina atrelados ao respectivo arado escrevinhante. Rasgam parágrafos como quem enfileira couves, semeiam metáforas como quem planta batatas.
Tudo somado resulta num enormíssimo mistério: saber ao certo em que idioma falam e escrevem os portugueses, sobretudo quando jovens ou jornalistas. Não sendo diferente do seu, nem, tão pouco, o seu, então que raio de idioma é?... Ao pé deste, o enigma esfíngico era uma brincadeira de crianças.
Filólogos e linguistas persignam-se, descabelam-se e debalde garimpam. De balde, de pá, de martelo compressor, de peneira e crivo, mas solução razoável é que não encontram. As miríficas escavações etimológicas ora conduzem a becos sem saída nem semântica, ora desembocam em labirintos de hieróglifos que só um Lovecraft nos seus melhores dias conseguiria decifrar. Escutar um destes aborígenes hodiernos (e, apenas em tese, nossos compatriotas) exige um certo sangue frio e não menor dose de ataraxia. Caso contrário, percalços traumatizantes podem suceder. De sustos tremendos a apoplexias súbitas, passando por colapsos nervosos, a galeria é vasta, ininterrupta e quase sempre pavorosa. O ruído que uma das mais belas línguas do mundo esguicha ao ser estropiada, mutilada e expectorada pelas dentuças (mais respectivo palato) dum tal energúmeno lalopata não é nada tranquilizador. Para o espírito menos avisado, a sugestão acode até, imediata e automática: "Estará a dirigir-se a mim ou às almas penadas do Outro-Mundo? Fala comigo ou blasfema a bandeiras despregadas? Convoca a minha atenção ou uma hoste completa de súcubos e íncubos, em passo de corrida e traje de cerimónia? Está a expressar uma opinião ou está a ter um ataque?..."
Ora, em boa verdade, isto não é de modo nenhum alarmante, nem sequer merecedor de grandes reparos.
Alarmante e, aí sim, horripilante é o número de portugueses que não falam o próprio idioma. Para cima de 80%, contando por baixo. Se pensarmos na percentagem à saída das universidades, então, o ponteiro abeira-se perigosamente dos 100. Uma amostra exclusivamente concentrada nas redacções plumitivas e rebentamos com a escala.
Pior que o panorama da fala só mesmo o da escrita. A generalidade das obras literárias lavradas por autores com a nacionalidade portuguesa requer tradução. Quando digo lavradas, subentenda-se literalmente uma cavalgadura ou junta bovina atrelados ao respectivo arado escrevinhante. Rasgam parágrafos como quem enfileira couves, semeiam metáforas como quem planta batatas.
Tudo somado resulta num enormíssimo mistério: saber ao certo em que idioma falam e escrevem os portugueses, sobretudo quando jovens ou jornalistas. Não sendo diferente do seu, nem, tão pouco, o seu, então que raio de idioma é?... Ao pé deste, o enigma esfíngico era uma brincadeira de crianças.
Filólogos e linguistas persignam-se, descabelam-se e debalde garimpam. De balde, de pá, de martelo compressor, de peneira e crivo, mas solução razoável é que não encontram. As miríficas escavações etimológicas ora conduzem a becos sem saída nem semântica, ora desembocam em labirintos de hieróglifos que só um Lovecraft nos seus melhores dias conseguiria decifrar. Escutar um destes aborígenes hodiernos (e, apenas em tese, nossos compatriotas) exige um certo sangue frio e não menor dose de ataraxia. Caso contrário, percalços traumatizantes podem suceder. De sustos tremendos a apoplexias súbitas, passando por colapsos nervosos, a galeria é vasta, ininterrupta e quase sempre pavorosa. O ruído que uma das mais belas línguas do mundo esguicha ao ser estropiada, mutilada e expectorada pelas dentuças (mais respectivo palato) dum tal energúmeno lalopata não é nada tranquilizador. Para o espírito menos avisado, a sugestão acode até, imediata e automática: "Estará a dirigir-se a mim ou às almas penadas do Outro-Mundo? Fala comigo ou blasfema a bandeiras despregadas? Convoca a minha atenção ou uma hoste completa de súcubos e íncubos, em passo de corrida e traje de cerimónia? Está a expressar uma opinião ou está a ter um ataque?..."
De facto, arrepiados diante das fórmulas, sortilégios e acessos verbofagos, criptogósmicos e acrogoéticos destes aborígenes palradores e tecnopalradores, a dúvida perpassa; quando não se instala mesmo, de pedra, cal e estojo de primeiros-socorros, clamando por apocalipses de gramáticas redentoras ou batalhões de exorcistas calejados, senão mesmo Van-Helsinguianos. E ao mesmo tempo que nos arrepia e perturba, tão cacofónico, abstruso e incoercível idioma desafia-nos, intriga-nos... De que galáxia ignota, abominável, provirá? Que nome maldito - torvo, lúgubre, assombroso- lhe será devido:
-Bimboguês? Labreguês? Pimbanhol? Pretoguês? Trolhantino? Alarvanita? Limusino? Gambusino? Herpes labial? Lalogonorreia?
Cercado por academias inteiras, sitiado por exércitos eruditos, esquadrinhado por hordas investigadoras, por curiosos autodidactas de toda a espécie, o mistério, no entanto, mantém-se. Inexpugnável.
Certo é que, mais uma vez, cabe ao concidadão à beira-mar plantado a fatia pioneira dos fenómenos esdrúxulos : é o único que, por regra, para falar (ou escrever), não usa qualquer idioma alheio, nem, ainda menos, o seu próprio idioma.
Paradoxo, esse, que, felizmente, não se verifica ao nível do pensamento. Aí desembarcado, após derivas boiantes ao sabor da maré, o luso-matumbo recorre avidamente -e por imperativo categórico - a um idioma diferente do seu. Nesse particular item, comanda mesmo destacadíssimo as tabelas mundiais: 99%. No mínimo. É um xenoglota viciado. Ou melhor, um xenonoeta. Pensa sempre em estrangeirês. Só fuma, bebe e acelera em ideias de importação. Maravilhemo-nos: Não há toino que não brilhe sob a espessa camada de tão bendito verniz.
quinta-feira, setembro 22, 2005
Lovely Rita
Em Bagdad, Kabul e, dum modo geral, por todo o mundo árabe, os Beatles voltam em força aos tops. A cada esquina trauteia-se, em especial, a canção do Sgt Peppers Lonely "Lovely Rita".
Vá-se lá saber porquê. Estes árabes são loucos.
Para os mais saudosos, aqui fica a letra completa:
Lovely rita meter maid.
Lovely rita meter maid.
Lovely rita meter maid.
Nothing can come between us,
When it gets dark I tow your heart away.
Standing by a parking meter,
When I caught a glimpse of rita,
Filling in a ticket in her little white book.
In a cap she looked much older,
And the bag across her shoulder
Made her look a little like a military man.
Lovely rita meter maid,
May I inquire discreetly,
When are you free,
To take some tea with me.
Took her out and tried to win her,
Had a laugh and over dinner,
Told her I would really like to see her again,
Got the bill and rita paid it,
Took her home I nearly made it,
Sitting on the sofa with a sister or two.
Oh, lovely rita meter maid,
Where would I be without you,
Give us a wink and make me think of you.
Entretanto, nada de confusões: eu, por pilhéria, gosto de me intitular anti-americano, mas é blague. No fundo, eu até gosto dos americanos. Só que gosto ainda mais dos furacões, em especial dos femininos. Também li Maquiavel et al., e adquiri perfeita noção da real politik. Ou julgavam os nossos neoconinhas e demais luso-ornitorrincos que era privilégio exclusivo deles? Nestas coisas, por conseguinte, e como manda a cartilha, é sempre aconselhável estar do lado do mais forte.
Vá-se lá saber porquê. Estes árabes são loucos.
Para os mais saudosos, aqui fica a letra completa:
Lovely rita meter maid.
Lovely rita meter maid.
Lovely rita meter maid.
Nothing can come between us,
When it gets dark I tow your heart away.
Standing by a parking meter,
When I caught a glimpse of rita,
Filling in a ticket in her little white book.
In a cap she looked much older,
And the bag across her shoulder
Made her look a little like a military man.
Lovely rita meter maid,
May I inquire discreetly,
When are you free,
To take some tea with me.
Took her out and tried to win her,
Had a laugh and over dinner,
Told her I would really like to see her again,
Got the bill and rita paid it,
Took her home I nearly made it,
Sitting on the sofa with a sister or two.
Oh, lovely rita meter maid,
Where would I be without you,
Give us a wink and make me think of you.
Entretanto, nada de confusões: eu, por pilhéria, gosto de me intitular anti-americano, mas é blague. No fundo, eu até gosto dos americanos. Só que gosto ainda mais dos furacões, em especial dos femininos. Também li Maquiavel et al., e adquiri perfeita noção da real politik. Ou julgavam os nossos neoconinhas e demais luso-ornitorrincos que era privilégio exclusivo deles? Nestas coisas, por conseguinte, e como manda a cartilha, é sempre aconselhável estar do lado do mais forte.
quarta-feira, setembro 21, 2005
Da Pornografia que nos alumia
Isto -prestem bem atenção!- não é pornografia:
Pelo contrário, esta é uma imagem que nos convida à meditação sobre os méritos da obra do Criador: transformar uma mera costela dum troglodita qualquer, se bem que primordial, num portento destes tem o seu quê de puro inefável.
Mesmo para aquelas pessoas que teimem em reduzir o fenómeno ao mero invólucro, como podem não reconhecer a imagem enternecedora duma rapariga carente, uma tal Ana Nicole Não Sei Quantos, que, de tão desprotegida e melancólica, até nos parte o coração?... Como conseguem ficar indiferentes aos olhos suplicantes do pobre anjo, refém sabe-se lá de que ogres exploradores e burgueses merceeiros?...
Eu, por mim, que sou criatura de sólida moral, bem como cavaleiro de lendária generosidade, até estava capaz de conduzi-la a um altar, onde, em avatar santo, lhe prestaria culto peregrino e renderia babosa e devota homenagem .
Não, senhoras e senhores, damas e cavalheiros, não há qualquer pornografia neste ícone porque nele resplandece beleza e não obscenidade.
Pornografia mesmo, obscenidade em barda, é tal qual se segue e podeis tomar nota:
Obscenidade autêntica é isto. Estes, entre muitos outros, são os verdadeiros actores pornográficos. É gente desta que reina no Hardcore Primeiro Escalão, esse regime de sargeta, para onde resvalou o velho e desgraçado país que, logo por azar, é o nosso.
Tomai e comei. Essa é a elite.
Orgia doméstica
O Poeta Alegre, parafraseando Sousa Tavares, declamou que a Democracia, pobre e angélica criança, é vítima de sequestro. Está refém.
Olha, Manuel, lastimo contradizer-te, mas reféns estamos nós todos. A pequena, essa, é ainda mais desgraçada que isso: padece de incesto e pedofilia. E o crime é público, premeditado e contumaz. O pai não a larga.
Olha, Manuel, lastimo contradizer-te, mas reféns estamos nós todos. A pequena, essa, é ainda mais desgraçada que isso: padece de incesto e pedofilia. E o crime é público, premeditado e contumaz. O pai não a larga.
A Coisa (em inglês: The Thing)
A propósito de um comentário deixado no postal anterior pelo nosso "comentador residente" José...
Descubra as diferenças...
Algumas pistas:
a) Veio do Outro Mundo (reveja o filme de Carpenter)
b) Antes e depois.
c) Fora e dentro
d) Alienígena mutante e metamorfo
Descubra as diferenças...
Algumas pistas:
a) Veio do Outro Mundo (reveja o filme de Carpenter)
b) Antes e depois.
c) Fora e dentro
d) Alienígena mutante e metamorfo
terça-feira, setembro 20, 2005
De Espanha, nem bom vento...
A fazer fé no Diário Digital:
«Primeiro casamento de políticos homossexuais em Espanha».
É só para enviar daqui os parabéns aos noivos, bem como votos das maiores felicidades. A minha homofobia extingue-se, com todo o fair-play, à passagem da fronteira. Sendo em Espanha, rejubilo e festejo. Assim é que é... ah, que país moderno e evoluído, farol das liberdades!... Uma autêntica Dinamarca. Só espero que não esmoreçam na peregrinação e que, a seguir à legalização, ascendam, com toda a lógica, à obrigatoriadade. Até deviam ser criados subsídios comunitários para o efeito (em Espanha, nunca esquecendo; sempre em Espanha).
Entretanto, fico aqui roído de expectativa: faltará ainda muito para legalizarem o canibalismo ou, no mínimo, a pedofagia?...
Aí sim, era oiro sobre azul.
«Primeiro casamento de políticos homossexuais em Espanha».
É só para enviar daqui os parabéns aos noivos, bem como votos das maiores felicidades. A minha homofobia extingue-se, com todo o fair-play, à passagem da fronteira. Sendo em Espanha, rejubilo e festejo. Assim é que é... ah, que país moderno e evoluído, farol das liberdades!... Uma autêntica Dinamarca. Só espero que não esmoreçam na peregrinação e que, a seguir à legalização, ascendam, com toda a lógica, à obrigatoriadade. Até deviam ser criados subsídios comunitários para o efeito (em Espanha, nunca esquecendo; sempre em Espanha).
Entretanto, fico aqui roído de expectativa: faltará ainda muito para legalizarem o canibalismo ou, no mínimo, a pedofagia?...
Aí sim, era oiro sobre azul.
Cavaleiros andantes e navegantes
«Entre os chefes piratas, acontece estar presente uma reflexão social mais elaborada e por vezes bastante vigorosa. Bellamy, também um homem das Antilhas, fornece o exemplo mais impressionante. Este homem está obcecado com a injustiça que rege a sociedade mas, ao contrário de Misson, não retira disso reflexões metafísicas; ao contrário de Lenine, não conclui que há que reformar as estruturas do Estado. Bellamy é um pessimista. Considera que os homens são mesmo assim e que a exploração dos fracos nunca terá fim. Então a única saída é criar, à margem da sociedade, uma sociedade paralela onde o explorador e o explorado trocam de papéis. Diz essas coisas em discursos que não estariam deslocados na tribuna do Parlamento, embora a sua linguagem seja simultaneamente mais brilhante e mais autêntica que a dos homens políticos do nosso tempo.
"Que Deus vos amaldiçoe"; diz Bellamy a um capitão que se queixava de ter sido assaltado, "sois um cão abjecto como todos os que aceitam ser governados pelas leis que os ricos fizeram para sua própria segurança; porque esses cãezinhos covardes não têm coragem de defender de outra maneira o que ganharam graças à sua pulhice. Mas, danai-vos todos! Eles como um bando de astuciosos tratantes que são e vós, que os servis, como um bando de desmiolados com coração de galinha. Eles vilipendiam-nos, esses canalhas, ainda que entre eles e nós só haja uma diferença: eles roubam os pobres a coberto da lei, sim, meu Deus, enquanto nós pilhamos os ricos apenas protegidos pela nossa coragem. Não faríeis melhor se vos tornásseis um dos nossos, em vez de rastejardes atrás desses celerados por um emprego?" Após esta análise político-social, Bellamy cede ao lirismo. A Bakunine sucede agora Nietzsche: "Quanto a mim, sou um príncipe livre e tenho tanta autoridade para fazer a guerra ao mundo inteiro como se tivesse cem barcos no mar ou cem mil homens em campanha, é o que me diz a minha consciência. Mas não serve de nada discutir ncom tais cachorros ranhosos que permitem aos superiores andar aos pontapés pela coberta fora, todos bêbedos, e que confiam a sua fé a um pastor alcoviteiro, um lorpa que não acredita nem pratica nada do que mete nas cabeças ridículas dos ignorantes a quem prega."
Convir-se-á que este Bellamy tem o dom da palavra; teria dado um perigosos tribuno. No soberbo lirismo que o empolga -e sobretudo a orgulhosa apóstrofe: "Quanto a mim, sou um príncipe livre" - ecoam estranhamente os gritos que outros revoltados lançaram de século para século. "Quem ignora", interroga Cervantes, "que os cavaleiros andantes estão isentos de toda a justiça e que a sua lei é a espada, o seu direito a coragem, e as suas ordens as únicas vontades? Qual o cavaleiro andante que alguma vez pagou talha, gabela, direito de núpcias da rainha, moeda foral, porto, peagem ou passagem? Qual o alfaiate que de alguma forma o obrigou a pagar o fato que lhe fez?"»
- Gilles Lapouge , "Os Piratas" (trad. port. da Antígona)
segunda-feira, setembro 19, 2005
O massacre
A grande tarefa do povo de esquerda, proclamou mais uma vez Louçã, é derrotar a direita. A grande missão da direita, juram, para quem os queira ouvir, os respectivos Louções, é derrotar a esquerda. Há trinta anos que andam nisto, essas duas grandes famílias fantásticas. Na aparência, é todos os dias uma grande batalha, um confronto épico, um armagedão apocalíptico. Na realidade, porém, a coisa raramente ultrapassa o regabofezinho sórdido e macabro. Nem a esquerda derrota a direita, nem a direita derrota a esquerda, mas ambas, em alegre e comilona comitiva, derrotam o país.
Tem sido, de resto, um verdadeiro massacre.
Dito com propriedade, os dois bandos não se combatem: revezam-se.
Tem sido, de resto, um verdadeiro massacre.
Dito com propriedade, os dois bandos não se combatem: revezam-se.
Algo que convém nunca esquecer
Este blogue (ou blog, para os mais sofisticados) não professa quaisquer intuitos proselitistas de ordem religiosa, clubista ou ideológica, passe a tripla redundância.
O seu autor principal, que assina sob o heterónimo Dragão, não possui quaisquer dotes oraculares nem faz vida de vendedor de banha-da-cobra ou quaisquer outras substâncias, receitas ou terapêuticas miraculosas ou meramente psicotrópicas.
Posso também adiantar, sem quaisquer encargos adicionais, que é de todo improfícuo tentarem reciclar-me, arregimentar-me ou alistar-me nas vossas confrarias, hostes ou ligas de observadores dos amanhãs canoros. Não acredito na Santa Liberdade, que é condição íngreme e utópica a um ser humano – tiranizado que arqueja este por toda a casta de instintos, manias, contas, (des)governos, leis, juizes, juízas, fobias, taras, espermatozóides, instituições bancárias, senhorios, esposas, amantes, sogras, animais domésticos, pais, filhos, deuses, destinos, azares, etc,etc,etc -, mas acredito na independência (autonomia), tal qual Aristóteles a prescreveu, há mais de dois milénios, na sua "Ética". E que se aplica aos povos, tal qual se aplica aos homens.
Com todos os meus erros, falhas, cegueiras, fraquezas e abissais ignorâncias, mas também com o esqueleto inteiro, erecto e a coragem que Deus e a Natureza me concederam e a Vida aguçou, este espaço pretende ser, nem mais nem menos, um lugar de afirmação da minha cidadania cósmica, por muito insignificante ou até irrisório que isso, nestes tempos pimpões, possa parecer. Se me perguntarem pela finalidade desta demanda, farei minha a bandeira do Quixote e responderei numa palavra: Justiça. Já que livre e sábio me está vedado por inerência da condição humana em que nasci, resta-me essa dupla compensação: a lucidez de não confundir a vida com a retórica; e a tenacidade de não me contentar com a infâmia. Por mais albardada em trapos dourados ou plumas imperiais que a tragam e trafiquem.
sexta-feira, setembro 16, 2005
A Alcova e o altar
Eu, por má influência do Caguinchas, e também (porque não reconhecê-lo) por desporto exótico, até vou às putas. À História, matrona do bordel, também recorro, ocasionalmente. Mas nada de confusões... em matéria de putas sou um dragão de princípios: despejo os testículos, não caso com elas.
Segundo esta perspectiva -não só prudente e útil, como sobremaneira lúcida -, um marxista, por exemplo, é, claramente, o tipo de gajo que, além de cornos exuberantes pela vida fora, cultiva sífilis mental crónica. Quando escapa de manso ufano é só para dar em chulo insaciável.
Muitas vezes a igreja tem sido confundida com o bordel; noutras tantas, mais modernamente, é o bordel que é tomado pela igreja. Há todo um mundo de filhos da puta que, por mais que se lhes explique, recusam-se a lobrigar a diferença.
quinta-feira, setembro 15, 2005
Mulheres modernas - I. A Anadroga
Quando penso num ente como a Ana Drago (raio de apelido mais despropositado!...) ocorrem-me sentimentos contraditórios.
Por um lado, é-me difícil encontrar argumentos contra o aborto. Basta pensar na mãezinha da menina e bloqueia-se-me mesmo toda e qualquer objecção. Mas mais difícil ainda é reconhecer qualquer inconveniente na violência doméstica. Pelo contrário, é todo um mundo de vantagens que subitamente se me desoculta. Num ápice, salta-se da mera hipótese, fruto de telha ou acaso, ao imperativo categórico, subministrado por princípio e método. Até apetrechos tão medievais quanto uma burka ou -não direi cinto mas - uma mordaça-de-castidade me transparecem carregados da maior racionalidade, sentido e urgência.
Certeza, todavia, só me acode uma: por mais empenhada e rigorosa que fosse a segunda modalidade, no melhor dos casos, apenas suavizaria ou atenuaria subtilmente aquilo que a primeira, ela sim, poderia ter resolvido na perfeição.
Por falar nisto, agora, já no fechar da loja, ainda me ocorre uma terceira: a homossexualidade, pois claro. Sou conduzido irresistívelmente aos antípodas das minhas posições habituais, tão pública quão ufanamente homofóbicas. Então não teria sido óptimo, dum interesse elementar para a espécie humana, que quer a mãezinha quer o paizinho da Aninhas se tivessem devotado, desde a mais tenra idade e com militância imarcescível, à gaysisse compenetrada?!...
PS: E quanto ao nome é mais que evidente que o "a" está trocado com o "o". Invertam-nos e vereis se não faz todo o sentido.
quarta-feira, setembro 14, 2005
Brindes e cromos
Não sendo economista, ou, tão pouco, perito reconhecido na matéria, Guilherme de Oliveira Martins foi, em tempos, nomeado Ministro das Finanças. Antes, também em comissão de serviço -no decurso, portanto, de equivalente peregrinação -, desempenhara, entre outros, o frete de Ministro da Educação. É pública e notória a excelência exibida no cumprimento de qualquer uma das tarefas. Ainda hoje uma grata nostalgia nos humedece os olhos.
Agora, para culminar todo um raid TT por altos cargos da nação, lá vai ele, em bom andamento, presidir ao Tribunal de Contas.
Se fôssemos pessoas desconfiadas, invejosos natos, por esta altura já murmuraríamos entredentes: "este tipo é um peregrino!" Ou então: "Chiça, este gajo é um biscateiro!" Ou, pior ainda: "Gaita, mas isto é um homem ou um canivete suiço?..."
Esse não é, todavia, o nosso caso. Não duvidamos, nem por um instante, dos ecléticos multidotes da figura. Também não vamos disparatar insinuando promiscuidades ou stalinimos encapotados (a tal figura do "comissário político", pois). Outros que tratem desses departamentos.
Na verdade, e em resumo, este postal nada mais pretende que enviar daqui os parabéns ao nosso Mr. Bean, aliás Guilherme de Oliveira Martins. Já foi condecorado em Portugal, em Espanha e no Brasil, (triplo comendador, portanto). Se é competente ou não, isso não vem ao caso. Neste país soberanamente democrático, em cargos de direcção, responsabilidade ou chefia, a competência é irrelevante, para não dizer nociva. Basta atentar-se no mais alto cargo da nação: se o Dr. Jorge Sampaio consegue ser presidente da República qualquer um de nós, do Minho ao Algarve, consegue. O país não vive sob um regime: é mais uma lotaria. Exagero meu, claro está: em rigor, tiramos rifas. Pelo que, naturalmente, saem-nos brindes. Às vezes, como agora, até me faz lembrar aqueles detergentes de antigamente -o "Extra", lembram-se? - que ofereciam bonequinhos, cromos ou bugigangas de plástico. Nós pelamo-nos por sorteios. Não compramos aquilo para lavar a roupa: é mesmo só pelo brinde. Está-nos na massa do sangue. Somos um povo extraordinário, único. Mais ainda que fazer de conta, adoramos fazer colecção. E desfrutamos dessa qualidade exclusiva que, entretanto, espalhámos pelo mundo e doravante viceja e prolifera por Brasis e Angolas: a de qualquer um de nós poder ser qualquer coisa em qualquer altura. Habitamos uma tômbola.
Por isso mesmo, o único comentário que esta nomeação merece -além, claro está, da chateza de ser um cromo fácil, daqueles que estão sempre a sair -, é aquele que eu, juntamente com mais dez milhões de portugueses, faço: olhe, senhor primeiro-Ministro, porquê ele e não eu?...
Que diabo, também sou um belo cromo. Só que sou difícil. A festa, a celebração que não seria...
Câmara corporativa
Mais um blogue a fazer serviço de utilidade pública. Não percam os postais do "Dossié magistratura".
Quanto a mim, além de hilariantes, atestam bem da qualidade da república em que vegetamos.
Quanto a mim, além de hilariantes, atestam bem da qualidade da república em que vegetamos.
segunda-feira, setembro 12, 2005
Diz-me com quem treinas...
Tropas dos Estados Unidos treinam com Forças Armadas Angolanas no Bengo, a norte de Luanda. O exercício conjunto -"Med Flag" de seu nome -, visa apurar perícias e agilidades em "intervenções de apoio a populações afectadas por calamidades naturais".
Bem, se são os americanos que procedem ao adestramento dos angolanos, estão certamente a leccionar-lhes sobre os democráticos modos de evacuar à força as populações sinistradas, depois da passagem das catástrofes. Mas se é o contrário, como é mais provável, então, vão concerteza os nossos ex-compatriotas instruí-los nos mil e um truques, mais as infinitas maneiras, de como pilhar e violar essas mesmas populações sinistradas, após a passagem das catástrofes.
Numa coisa, como é óbvio, estão todos de acordo: convém ser, por regra de ouro, depois. As populações encontram-se sempre bastante mais vulneráveis e desorientadas nessa altura.
Entretanto, José Eduardo dos Santos já pediu a geminação da presidência com Bush. Não só pela excelência do regime familocrata que pratica fervorosamente, mas também, e sobretudo, porque tem o país infestado de pretos extremamente pobres, de utilidade mais que duvidosa. Bush, por seu lado, detém para exportação todo um know-how que lhe interessa: não perder tempo nem fundos com combates inúteis e dispendiosos, mas tratar, isso sim, da rentabilização do evento.
Sendo enviada pela Providência Divina, a calamidade, é, sem sombra de dúvida, providencial. Há que tratá-la em conformidade.
A esta pérola não resisto...
Num dos blogues reis do anglo-stalinismo cá do sítio, o João Miranda, na prossecução da sua alucinante saga humorística, sai-se com a seguinte pérola:
Lições do Katrina
«O estado mais poderoso e com o maior orçamento do mundo é o paradigma do estado mínimo.»
Como devem reparar, trata-se dum incrível lapso. Tendo em atenção que o título do post é "Lições do Katrina", o que o nosso João pretendia ter escrito era:
«O estado mais poderoso e com maior orçamento do mudo é o paradigma do estado de sítio. Ou de emergência, no mínimo.»
É claro que estou a brincar. Até porque a segunda versão faz algum sentido e tem algumas semelhanças difusas com a realidade, o que desde logo impossibilitaria que tivesse sido escrito, ou sequer pensado, pelo turbo-blogger em questão.
Lições do Katrina
«O estado mais poderoso e com o maior orçamento do mundo é o paradigma do estado mínimo.»
Como devem reparar, trata-se dum incrível lapso. Tendo em atenção que o título do post é "Lições do Katrina", o que o nosso João pretendia ter escrito era:
«O estado mais poderoso e com maior orçamento do mudo é o paradigma do estado de sítio. Ou de emergência, no mínimo.»
É claro que estou a brincar. Até porque a segunda versão faz algum sentido e tem algumas semelhanças difusas com a realidade, o que desde logo impossibilitaria que tivesse sido escrito, ou sequer pensado, pelo turbo-blogger em questão.
domingo, setembro 11, 2005
Do Animals Farm ao Ant Farm
Mais uma reposição.
Se me perguntassem pelo contrário de “Homem”, eu responderia, sem hesitar: “Formigueiro”. E, não obstante, vamo-nos aproximando cada vez mais dele, do formigueiro. À medida que nos afastamos cada vez mais dele, do Homem.
Mas o mais curioso é que o formigueiro, aos poucos, lá se vai construindo em Nome do Homem, como o Inferno, geralmente, sempre se edificou em Nome de Deus. Os construtores de formigueiros são, regra geral, os mesmos que edificam infernos. Os Procuradores do Homem (também auto-denominados “humanistas”) são herdeiros dos Procuradores de Deus (ou Teófilos). Para todos eles, invariavelmente, os seus aterros são locais pré-paradisíacos, ou, pelo menos, miradouros com vista para o éden. Na maior parte do tempo, porém, não passam de antecâmaras, purgatórios, parques de suplício mascarado de diversão.
De caminho, estes operadores filantrópicos, vão crucificando o homem, vão-no agrilhoando a Cáucasos, vão-no, em suma, adiando sine die. Lá, no fundo da sua ciência epidérmica, uma certeza os anima: Mundo e Homem são incompatíveis. Não adianta, pois, tentar construir mundos para o homem, belos e refinados mundos, porque ele estraga-os e escaqueira-os a todos. Não adianta vesti-lo no melhor traje domingueiro, porque ele, pândego inveterado, cisma de ir saltar para a rua e rebolar-se na terra, enlamear-se à chuva, com os bichos e as árvores. Não adianta encher-lhe a cabeça de coisas sérias, deveres e proibições, porque ele teima em brincar, em rir e divertir-se, e, pior um pouco, em cometer toda a ordem de tropelias e disparates. De pouco serve tentar protegê-lo com redomas, porque ele adora o risco, o perigo, a guerra e enturma-se com eles como um míudo presidindo a cordéis e a todos os cães vadios da sua rua. Fatal, portanto, a conclusão: Não basta construir um Mundo para o Homem; sobretudo, há que moldar um homem para o mundo. Melhor: há que forjar e inventar um. Sem formigas não há formigueiro. Elementar, também, a tarefa destes novos demiurgos: já que a natureza não presta e produziu um homem imprestável, há que obrar contra a natureza e fabricar um homem artificial. Um homúnculo que caiba no Mundo deles; um homúnculo, como esses antigos nanoprodígios da alquimia ou da cabala, reflexo do espírito deles; um homem livre da natureza e escravo dessa sua liberdade. Livre de sentimentos, de angústias, de dúvidas, de pensamentos, enfim: livre das suas grandezas e infâmias; mas servo vitalício da sua utilidade e do seu lugar na engrenagem perfeita, imarcescível. Um homem micróbio, para viver ao microscópio.
Essa gente de cara a transbordar de boas intenções, arrumadores de planetas do universo, desconfiai deles! Esses bufarinheiros que passam na rua apregoando panaceias para todos os males e que vos vendem os males junto com a banha, mandai-os pró Diabo que os descarregou!
À entrada deste Admirável Formigueiro Novo, há uma placa severa, peremptória, que determina:
”Proibida a entrada a Deuses e a Homens.”
Está certa, a placa. Afinal, num formigueiro, deuses e homens são ideias sem o mínimo cabimento.»
”Proibida a entrada a Deuses e a Homens.”
Está certa, a placa. Afinal, num formigueiro, deuses e homens são ideias sem o mínimo cabimento.»
sábado, setembro 10, 2005
Nunca esquecendo a América pela óptica de Francis Vincent Zappa
Bobby Brown goes down
Hey there, people, I’m bobby brown
They say I’m the cutest boy in town
My car is fast, my teeth is shiney
I tell all the girls they can kiss my heinie
Here I am at a famous school
I’m dressin’ sharp ’n’ i’m
Actin’ cool
I got a cheerleader here wants to help with my paper
Let her do all the work ’n’ maybe later I’ll rape her
Oh God I am the american dream
I do not think I’m too extreme
An’ I’m a handsome sonofabitch
I’m gonna get a good job ’n’ be real rich
(get a good
Get a good
Get a good
Get a good job)
Women’s liberation
Came creepin’ across the nation
I tell you people I was not ready
When I fucked this dyke by the name of freddie
She made a little speech then,
Aw, she tried to make me say when
She had my balls in a vice, but she left the dick
I guess it’s still hooked on, but now it shoots too quick
Oh God I am the american dream
But now I smell like vaseline
An’ I’m a miserable sonofabitch
Am I a boy or a lady...
i don’t know which
(I wonder wonder
Wonder wonder)
So I went out ’n’ bought me a leisure suit
I jingle my change, but I’m still kinda cute
Got a job doin’ radio promo
An’ none of the jocks can even tell I’m a homo
Eventually me ’n’ a friend
Sorta drifted along into s&m
I can take about an hour on the tower of power
’long as I gets a little golden shower
Oh God I am the american dream
With a spindle up my butt till it makes me scream
An’ I’ll do anything to get ahead
I lay awake nights sayin’, thank you, fred!
Oh god, oh god, I’m so fantastic!
Thanks to freddie, I’m a sexual spastic
And my name is bobby brown
Watch me now, I’m goin down,
And my name is bobby brown
Watch me now, I’m goin down
And my name is bobby brown
Hi-ho silver!
Way!
And my name is bobby brown
Hi-ho silver!
Oh, never mind...
The name of this song is: keep it greasey
......//......
Registe-se, a título de curisidade, que a letra em epígrafe pertence ao álbum Sheik Yerbouti, de 1979. Leram bem: 1979. O retrato não vos lembra nada? Não reconhecem o estilo colgate fresh duma certa horda de putativos luso-think tanques em rusga pelas praças e mercados do rectângulo, apregoando, a preços de ocasião, o "fast-economics up your ass"?... Pois, há mais de duas décadas atrás já o Francisco Zappa os topava bem.
O que prova como entre a toinice parola que, há séculos, banca a elite entre nós, as modas -outrora francesas, agora anglo-americanas (a tal xenolatria deslavada)-, grassam sempre, no mínimo, com vinte anos de atraso. Donde sucede que quando cá chegam já ultrapassaram o prazo de validade. Isso, adicionado ao requinte de gula e javardice tipicamente saloias com que os nossos "bobis browns" se empanturram pantagruelisticamente nelas, resulta nas monumentais diarreias a que, tão diária quão repugnadamente, vamos assistindo.
sexta-feira, setembro 09, 2005
Reposição: Do neoconismo ao neocomunismo
Parece-me oportuna a reedição de um postal de há um ano atrás.
«Criar desenfreadamente a pobreza é criar as condições efectivas para a erupção de movimentos e géneses comunistas ou socializantes. E quanto mais indigente e desesperada for essa pobreza, pior. Uma vez destituído, despojado de direitos e bens, qualquer ser humano se sente subitamente inundado de vocações fraternas. Se odeia partilhar a riqueza, em contrapartida, anseia por partilhar a desgraça e o despojo. É um facto que tudo isso é muito epidérmico: passa-lhe logo que experimenta, caso experimente, as poltronas do poder. Mas, no entretanto, muita coisa pode acontecer. Alguma coisa geralmente acontece. Quase nunca pacífica. Ora, quando os Neoconas, na senda dos neoliberais, se ensaiam de criar uma indigência de massas à escala mundial, estão a conseguir aquilo que os movimentos de esquerda, sobretudo sovietizantes, nunca conseguiram através dos seus esforços proselitistas. Estão a criar as condições objectivas para que a profecia marxista corra sérios riscos de, finalmente, se realizar: o capitalismo cairá fruto das próprias contradições; a Revolução só resultará à escala mundial. Resumindo: globalizar a pobreza, a exploração furiosa e a injustiça é globalizar a revolução.
Por conseguinte, apostar no neoconismo a curto e médio prazo é, necessariamente, apostar no neocomunismo a longo. Não é que não haja uma certa justiça irónica nisso tudo: de facto, uma variante comunista particularmente virulenta (ao estilo camboja dos gloriosos tempos de Pol Phot) seria o local ideal para uma estadia vitalícia por parte de gentalha da estirpe dos neoconas norte-americanos e, sobretudo, dos seus sequazes por esse mundo fora. Mas apenas para eles, como seu campo de trabalho exclusivo, seu parque privado, bem fardados e dedicados a uma perpétua e extenuante vida agrícola nos arrozais. O resto das pessoas, claro está, apenas lá deviam ir de visita, uma vez por ano, regalar-se com a paisagem e com o regime sadio dos internados. Era pitoresco e pedagógico. Se pudesse ser enxertado na coisa o cavalo-marinho do velho regime colonial, tanto melhor. Sabemos que certos serviços carecem de estímulo apropriado e que certas bestas só lá vão à força de chicote. Convenhamos até que era uma excelente oportunidade para ambas as aberrações (o comunismo e o colonialismo) darem as mão e se redimiram de tantos pecadilhos de outrora. Eram só vantagens.
Seriam, melhor dizendo; se a História e a Prudência nada nos ensinassem. Uma nuvem, de facto, deveras negra, ensombra o horizonte: é que provavelmente o tipo de gentalha que constitui actuamente a “nomenclatura neoconas” – todos esses “think tanks” da puta que os pariu –, transferir-se-á de armas e bagagens para o bando -só em tese- teoricamente oposto e, em larvar metamorfose, virá desempenhar também a “nomenclatura neocomunista” do amanhã. Será mesmo o passo lógico, o desencasular-se. Uma vez criada a massa global e única, é sabido que o método comunista é o melhor para lidar com ela, aquele que tem não só a teoria como também a prática.
E de tanto espiar o monstro soviético, a “inteligência” americana acabou por se apaixonar por ele. E vice-versa.
Quanto à beleza desse neocomunismo futuro, mas cada vez menos longínquo, resume-se a dois conceitos: uma nomenclatura para partilhar os lucros, o poder e a ciência; e uma massa bruta, amorfa e lobotomizada, para partilhar o trabalho, as despesas e a ignorância.
Agora prestem atenção: nada de confundir este “animals farm por vir” com uma “aristocracia” que, em tese e etimologicamente, significa o “poder pelos melhores”. Se quiserem cunhar o novo modelo, tal qual se adivinha, será, ao invés, uma “Quirocracia”, ou seja, o “poder dos piores”. Ou dos “porcos”, se preferirem - para ficar mais de acordo com a alegoria orwelliana.
Do largo excedente de mão de obra e do destino que lhe está reservado, é melhor nem falar.»
Dragoscópio, Novembro de 2004
quinta-feira, setembro 08, 2005
Interlúdio
Posto que a cavalgadura do Caguinchas, com o sentido de oportunidade que o caracteriza, irrompeu, vejo-me compelido a combater mais um foco de incêndio. Desse molde, acudindo às leitoras do Dragoscópio, certamente melindradas por mais uma das tropelias costumeiras daquele famigerado gandulo, passo a postalar o poema que lhes dedico, que era, diga-se em abono da verdade, para ser outro, mas, repito, face à tremenda contingência, tem que ser mesmo este.
ARROJOS
Se a minha amada um longo olhar me desse
Dos seus olhos que ferem como espadas,
Eu domaria o mar que se enfurece
E escalaria as nuvens rendilhadas.
Se ela deixasse, extático e suspenso,
Tomar-lhe as mãos mignonnes e aquecê-las,
Eu com um sopro enorme, um sopro imenso
Apagaria o lume ds estrelas.
Se aquela que amo mais que a luz do dia,
Me aniquilasse os males taciturnos,
O brilho dos meus olhos venceria
O clarão dos relâmpagos nocturnos.
Se ela quisesse amar, no azul do espaço,
Casando as suas penas com as minhas,
Eu desfaria o sol como desfaço
As bolas de sabão das criancinhas.
Se a Laura dos meus loucos desvarios
Fosse menos soberba e menos fria,
Eu pararia o curso dos grandes rios
E a lua afogaria nos meus braços.
Se ela ouvisse os meus cantos moribundos
E os lamentos das cítaras estranhas,
Eu ergueria os vales mais profundos
E abateria as sólidas montanhas.
E se aquela visão da fantasia
Me estreitasse ao peito alvo como arminho,
Eu nunca, nunca mais me sentaria
Às mesas espelhentas do Martinho.
- Cesário Verde
ARROJOS
Se a minha amada um longo olhar me desse
Dos seus olhos que ferem como espadas,
Eu domaria o mar que se enfurece
E escalaria as nuvens rendilhadas.
Se ela deixasse, extático e suspenso,
Tomar-lhe as mãos mignonnes e aquecê-las,
Eu com um sopro enorme, um sopro imenso
Apagaria o lume ds estrelas.
Se aquela que amo mais que a luz do dia,
Me aniquilasse os males taciturnos,
O brilho dos meus olhos venceria
O clarão dos relâmpagos nocturnos.
Se ela quisesse amar, no azul do espaço,
Casando as suas penas com as minhas,
Eu desfaria o sol como desfaço
As bolas de sabão das criancinhas.
Se a Laura dos meus loucos desvarios
Fosse menos soberba e menos fria,
Eu pararia o curso dos grandes rios
E a lua afogaria nos meus braços.
Se ela ouvisse os meus cantos moribundos
E os lamentos das cítaras estranhas,
Eu ergueria os vales mais profundos
E abateria as sólidas montanhas.
E se aquela visão da fantasia
Me estreitasse ao peito alvo como arminho,
Eu nunca, nunca mais me sentaria
Às mesas espelhentas do Martinho.
- Cesário Verde
A América do Caguinchas
Porra, Dragão, também há coisas boas na América!... Não me importava nada que ela me democratizasse. Socratizado é que não, foda-se!...
A América dos betinhos
Eu, anti, anti a valer, só mesmo anti-betinhos. E coninhas de sabão. Julguei que já se tinha percebido isso.
A visão betinha da América mete nojo aos cães. Punheta gora de meias-fodas. Esquema smart de nano-escroques em gestação desuterina. Tampax mental para raparigos com as regras. Idílio saloio de mini-gigolos encantados com o pederasta violador que lhes dá coisas e promete carreiras. Liberorreia barbie de global-boys em biquinhos de pés, num pas de deux canino, a ver se lambiscam umas migalhinhas do grande Império. Choldra a armar ao fino, destilando quintessências de alarvidade através do alambique chique da ignorância pesporrente.
São os nossos, nem sequer neoconas (tenho sido injusto), mas neoconinhas. Uma esquerdazinha bem sinistra, cínica, pedante, bulímica, engravatada, que goza de se travestir de direita. Já lhes chamei a direita-colibri. A direita superficial, frívola, de faz de conta. Flanam num mundo de fantasia coquete, de tiques exagerados, com maquilhagem berrante, vozinha aflautada e meneios escandalosos de puta. E sempre a fazerem olhinhos à esquerda, a fazerem cenas, birrinhas, beicinho; sempre com a esquerda na boca e no pensamento. Outrora a volúpia, agora a nostalgia do Barnabé. "Ai, o Barnabé!...", suspiram.
Na realidade, são direita na exacta proporção em que representam o braço direito do mesmo frankenstein forjado pela cegada dos tomba-Bastilhas, mata-reis e queima deuses e soutiens. Confundem a parte com o todo. Sobrestimam-se. São a continuação da cegada e andam em cegarrega pelo mundo.
Quem não os conhecer, que os compre! Eles vendem-se barato.
E para este peditório não dou mais.
O Dragoscópio, passada esta campanha anual, retoma a sua emissão regular. Já de seguida um poema de Cesário Verde, grande poeta.
quarta-feira, setembro 07, 2005
A América Rebelde
América, qual América?...
É preciso não esquecer que há uma América prepotentemente ocupada e "democratizada"pelos cavalheiros da indústria e fanáticos evangelhistas associados.
Ainda hoje se diz que estão vencidos mas não convencidos... E continuam a não gramar os merceeiros do norte.
Até porque, à velocidade a que os Neoconas estão a fomentar a implosão dos States, não me admira que um dia destes se oiça cantar "Dixie" de novo.
Pilhérias à parte, eis o herói do faroeste de quando eu era ainda dragãozinho:
É preciso não esquecer que há uma América prepotentemente ocupada e "democratizada"pelos cavalheiros da indústria e fanáticos evangelhistas associados.
Ainda hoje se diz que estão vencidos mas não convencidos... E continuam a não gramar os merceeiros do norte.
Até porque, à velocidade a que os Neoconas estão a fomentar a implosão dos States, não me admira que um dia destes se oiça cantar "Dixie" de novo.
Pilhérias à parte, eis o herói do faroeste de quando eu era ainda dragãozinho:
terça-feira, setembro 06, 2005
Ivan, o Terrível; e Fidel, o Samaritano
«Last September, a Category 5 hurricane battered the small island of Cuba with 160-mile-per-hour winds. More than 1.5 million Cubans were evacuated to higher ground ahead of the storm. Although the hurricane destroyed 20,000 houses, no one died. »
Também a Swissinfo, há um ano atrás, deu conta do sucedido.
Ora, ou muito me engano, ou as más notícias, sobretudo para os neoconas cá da paróquia, não cessam. Sabe-se agora que os cubanos, que como todos sabemos arquejam sob os rigores de uma tirania comunista feroz, personalizada naquele facínora hirsuto, se bem que vetusto, que responde pelo nome de Fidel, experimentaram há coisa de um ano atrás o pior furacão de que há memória - um macho belicoso de sua graça Ivan (o Terrível, deve subentender-se) - e conseguiram evacuar cerca de 1.300.000 pessoas (mais coisa menos coisa, frigoríficos incluídos) sem registo de baixas humanas. Meus amigos, é obra.
Claro está que tudo isto obedeceu aos tortuosos caprichos dum ditador sanguinário que não suporta que um furacão lhe roube o privilégio, em seu entender exclusivo, de oprimir e massacrar a população indefesa. Pois, mas mesmo assim, convenhamos: uma república destas, literalmente apinhada de bananas, funcionar melhor, em temos básicos de solidariedade humana diante da mega-intempérie, do que o "paraíso terreal", capitaneado por essa nata benemérita do globo terrestre, é, no mínimo, uma afronta, um despautério merecedor duma invasão justiceira.
Está bem que tudo isto, mais uma vez, só prova a superioridade do sistema americano, onde, ao contrário da ilha presídio, os cidadãos são livres e responsáveis. Claro, em Cuba, pelos métodos despóticos do costume, os cidadãos foram arrancados à força das suas casas e levados, com brutalidade, de rojo, à coronhada, para fora do alcance letal do furacão; enquanto nos Estados Unidos, esse Novo-Éden, porque são livres e responsáveis, aqueles que quiseram, que assumiram essa soberana opção pessoal, armados dum belo livre-arbítrio - e foram aos milhares, os valentes!-, puderam deixar-se ficar nos seus postos, para serem mortos ou defenestrados pela ventania e, depois desta, pelos voluntariosos saqueadores que, em arrastão oportuno, se lhe seguiram. No fundo, foram mártires da liberdade, do self-enterprise e da democracia de mercado; uns bravos encurralados num novo Álamo por uma furacona malfazeja, nem mais . Dedique-se-lhes, pois, um justo obelisco comemorativo e organize-se um concerto rock de beneficiência em prol dos heróicos sobreviventes.
Isto, porém, toda esta verdade cintilante, só estará ao alcance de mentes prodigiosas, paranormais, vitaminadas por doses maciças e permanentes de auto-hipnose (durante as quais, em transe compenetrado, fitam automóveis de grande cilindrada e hipotéticos idílios associados); porque para o ser humano comum, dotado de faculdades normais e inteligência mediana ressaltará apenas o facto trivial, comezinho, de a superpotência de fantasia, e sobretudo quando toca a enfrentar a verdadeira e única superpotência do planeta, ter alcançado um grau de desmazelo, disfunção e trapalhice abaixo até de certas e conceituadas tiranias.
Ou seja, interessa-se mais pelos seus concidadãos um déspota reconhecidamente mitómano e delirante, como é Fidel, que, pelos vistos, uma oligarquia excelsa e benemérita de grandes exportadores de virtude democrática worldwide. Estes, a fazer fé nos indícios que se acumulam e que já levaram o próprio presidente a ordenar um inquérito, não parecem querer saber dos seus para nada, tirando, claro está, extorquir-lhes impostos, explorar-lhes vícios e fobias, e exigir-lhes metas de produção.
Mas mais que a já tradicional bandalheira neoconas, onde quer que opere, desiludiu-me o Fidel. Por duas simples razões: em primeiro lugar por, fazendo jus à sua lenda, não ter libertado os famosos dissidentes por alturas da passagem do Ivan, de modo a que aqueles aproveitassem a boleia deste para alcançarem com rapidez inaudita o almejado oásis da democracia americana (é sabido que o método mais célere de atravessar de Cuba para os States não é via marítima, mas via aérea, apanhando o primeiro furacão que ali passe); e em segundo, mais uma vez contrariando a sua peversidade já mítica, por ter tido a desfaçatez de oferecer ajuda médica aos Estados Unidos, chegando ao ponto de disponibilizar para cima de mil médicos peritos no fenómeno, em vez de ficar entretido com "acusações e retórica política". E mais, justificando tão peregrino desarrincanço, não através da cassete tradicional (outrora tão do agrado do nosso nobel da literatura), mas, imagine-se, (o tratante!) por via de argumentação lógica em perfeitas condições de uso e funcionamento. Reparem só neste breve excerto:
«Cuba, a short distance away from Louisiana, Mississippi and Alabama, was in a position to offer assistance to the American people. At that moment, the billions of dollars the United States could receive from countries all over the world would not have saved a single life in New Orleans and other critical areas where people were in mortal danger. Cuba would be completely powerless to help the crew of a spaceship or a nuclear submarine in distress, but it could offer the victims of hurricane Katrina, facing imminent death, substantial and crucial assistance. And this is what it’s been doing since Tuesday, August 30, at 12:45 pm, when the winds and downpours had barely ceased. We don’t regret it in the least, even if Cuba was not mentioned in the long list of countries that offered their solidarity to the US people. »
Foda-se, ó Fidel, com aliados como tu, não vou longe!... Se hás-de aproveitar a balbúrdia para lhes sabotares mais uma quantas plataformas petrolíferas, que é onde lhes dói, pões-te com essas solidariedades humanitárias!... caralho, pá, estás velho, é o que é!
Espero ao menos que as brigadas médicas fossem equipadas com as proverbiais seringas para tratamento detrás das orelhas dos velhinhos, ou no céu da boca das criancinhas.
Também a Swissinfo, há um ano atrás, deu conta do sucedido.
Ora, ou muito me engano, ou as más notícias, sobretudo para os neoconas cá da paróquia, não cessam. Sabe-se agora que os cubanos, que como todos sabemos arquejam sob os rigores de uma tirania comunista feroz, personalizada naquele facínora hirsuto, se bem que vetusto, que responde pelo nome de Fidel, experimentaram há coisa de um ano atrás o pior furacão de que há memória - um macho belicoso de sua graça Ivan (o Terrível, deve subentender-se) - e conseguiram evacuar cerca de 1.300.000 pessoas (mais coisa menos coisa, frigoríficos incluídos) sem registo de baixas humanas. Meus amigos, é obra.
Claro está que tudo isto obedeceu aos tortuosos caprichos dum ditador sanguinário que não suporta que um furacão lhe roube o privilégio, em seu entender exclusivo, de oprimir e massacrar a população indefesa. Pois, mas mesmo assim, convenhamos: uma república destas, literalmente apinhada de bananas, funcionar melhor, em temos básicos de solidariedade humana diante da mega-intempérie, do que o "paraíso terreal", capitaneado por essa nata benemérita do globo terrestre, é, no mínimo, uma afronta, um despautério merecedor duma invasão justiceira.
Está bem que tudo isto, mais uma vez, só prova a superioridade do sistema americano, onde, ao contrário da ilha presídio, os cidadãos são livres e responsáveis. Claro, em Cuba, pelos métodos despóticos do costume, os cidadãos foram arrancados à força das suas casas e levados, com brutalidade, de rojo, à coronhada, para fora do alcance letal do furacão; enquanto nos Estados Unidos, esse Novo-Éden, porque são livres e responsáveis, aqueles que quiseram, que assumiram essa soberana opção pessoal, armados dum belo livre-arbítrio - e foram aos milhares, os valentes!-, puderam deixar-se ficar nos seus postos, para serem mortos ou defenestrados pela ventania e, depois desta, pelos voluntariosos saqueadores que, em arrastão oportuno, se lhe seguiram. No fundo, foram mártires da liberdade, do self-enterprise e da democracia de mercado; uns bravos encurralados num novo Álamo por uma furacona malfazeja, nem mais . Dedique-se-lhes, pois, um justo obelisco comemorativo e organize-se um concerto rock de beneficiência em prol dos heróicos sobreviventes.
Isto, porém, toda esta verdade cintilante, só estará ao alcance de mentes prodigiosas, paranormais, vitaminadas por doses maciças e permanentes de auto-hipnose (durante as quais, em transe compenetrado, fitam automóveis de grande cilindrada e hipotéticos idílios associados); porque para o ser humano comum, dotado de faculdades normais e inteligência mediana ressaltará apenas o facto trivial, comezinho, de a superpotência de fantasia, e sobretudo quando toca a enfrentar a verdadeira e única superpotência do planeta, ter alcançado um grau de desmazelo, disfunção e trapalhice abaixo até de certas e conceituadas tiranias.
Ou seja, interessa-se mais pelos seus concidadãos um déspota reconhecidamente mitómano e delirante, como é Fidel, que, pelos vistos, uma oligarquia excelsa e benemérita de grandes exportadores de virtude democrática worldwide. Estes, a fazer fé nos indícios que se acumulam e que já levaram o próprio presidente a ordenar um inquérito, não parecem querer saber dos seus para nada, tirando, claro está, extorquir-lhes impostos, explorar-lhes vícios e fobias, e exigir-lhes metas de produção.
Mas mais que a já tradicional bandalheira neoconas, onde quer que opere, desiludiu-me o Fidel. Por duas simples razões: em primeiro lugar por, fazendo jus à sua lenda, não ter libertado os famosos dissidentes por alturas da passagem do Ivan, de modo a que aqueles aproveitassem a boleia deste para alcançarem com rapidez inaudita o almejado oásis da democracia americana (é sabido que o método mais célere de atravessar de Cuba para os States não é via marítima, mas via aérea, apanhando o primeiro furacão que ali passe); e em segundo, mais uma vez contrariando a sua peversidade já mítica, por ter tido a desfaçatez de oferecer ajuda médica aos Estados Unidos, chegando ao ponto de disponibilizar para cima de mil médicos peritos no fenómeno, em vez de ficar entretido com "acusações e retórica política". E mais, justificando tão peregrino desarrincanço, não através da cassete tradicional (outrora tão do agrado do nosso nobel da literatura), mas, imagine-se, (o tratante!) por via de argumentação lógica em perfeitas condições de uso e funcionamento. Reparem só neste breve excerto:
«Cuba, a short distance away from Louisiana, Mississippi and Alabama, was in a position to offer assistance to the American people. At that moment, the billions of dollars the United States could receive from countries all over the world would not have saved a single life in New Orleans and other critical areas where people were in mortal danger. Cuba would be completely powerless to help the crew of a spaceship or a nuclear submarine in distress, but it could offer the victims of hurricane Katrina, facing imminent death, substantial and crucial assistance. And this is what it’s been doing since Tuesday, August 30, at 12:45 pm, when the winds and downpours had barely ceased. We don’t regret it in the least, even if Cuba was not mentioned in the long list of countries that offered their solidarity to the US people. »
Foda-se, ó Fidel, com aliados como tu, não vou longe!... Se hás-de aproveitar a balbúrdia para lhes sabotares mais uma quantas plataformas petrolíferas, que é onde lhes dói, pões-te com essas solidariedades humanitárias!... caralho, pá, estás velho, é o que é!
Espero ao menos que as brigadas médicas fossem equipadas com as proverbiais seringas para tratamento detrás das orelhas dos velhinhos, ou no céu da boca das criancinhas.
Sem comentários
«Sean Penn foi uma das várias celebridades americanas que, durante o fim-de-semana, se deslocou a Nova Orleães. Entrevistado pelas estações de televisão, o actor afirmou que estava ali para salvar vidas e defendeu que a tarefa de ajudar as vítimas devia ser feita não pelos governos nem pelos militares, mas pelos civis. Contudo, as suas operações de salvamento abortaram mesmo antes de começarem.
Logo que Sean Pean pôs o barco na água, este começou a afundar-se. Enquanto procurava freneticamente retirar a água de dentro do casco com um copo de plástico, descobriu-se que se tinha esquecido de pôr o tampão de limpeza do fundo. Depois, subiram para bordo os seus acompanhantes, que incluíam o fotógrafo privado, encarregado de registar os feitos para o posteridade. Olhando para o bote cheio de gente mesmo antes de partir, um dos populares que assistia à viagem questionou "Como vai conseguir pôr mais gente nessa coisa?"»
Logo que Sean Pean pôs o barco na água, este começou a afundar-se. Enquanto procurava freneticamente retirar a água de dentro do casco com um copo de plástico, descobriu-se que se tinha esquecido de pôr o tampão de limpeza do fundo. Depois, subiram para bordo os seus acompanhantes, que incluíam o fotógrafo privado, encarregado de registar os feitos para o posteridade. Olhando para o bote cheio de gente mesmo antes de partir, um dos populares que assistia à viagem questionou "Como vai conseguir pôr mais gente nessa coisa?"»
segunda-feira, setembro 05, 2005
Afinal, o farol da civilização ocidental é Angola
Para quem gosta de cronologias. Uma deveras elucidativa:
«CHRONOLOGY....Here's a timeline that outlines the fate of both FEMA and flood control projects in New Orleans under the Bush administration. Read it and weep:
January 2001: Bush appoints Joe Allbaugh, a crony from Texas, as head of FEMA. Allbaugh has no previous experience in disaster management.
April 2001: Budget Director Mitch Daniels announces the Bush administration's goal of privatizing much of FEMA's work. In May, Allbaugh confirms that FEMA will be downsized: "Many are concerned that federal disaster assistance may have evolved into both an oversized entitlement program...." he said. "Expectations of when the federal government should be involved and the degree of involvement may have ballooned beyond what is an appropriate level."
2001: FEMA designates a major hurricane hitting New Orleans as one of the three "likeliest, most catastrophic disasters facing this country."
December 2002: After less than two years at FEMA, Allbaugh announces he is leaving to start up a consulting firm that advises companies seeking to do business in Iraq. He is succeeded by his deputy and former college roommate, Michael Brown, who has no previous experience in disaster management and was fired from his previous job for mismanagement.
March 2003: FEMA is downgraded from a cabinet level position and folded into the Department of Homeland Security. Its mission is refocused on fighting acts of terrorism.
2003: Under its new organization chart within DHS, FEMA's preparation and planning functions are reassigned to a new Office of Preparedness and Response. FEMA will henceforth focus only on response and recovery.
Summer 2004: FEMA denies Louisiana's pre-disaster mitigation funding requests. Says Jefferson Parish flood zone manager Tom Rodrigue: "You would think we would get maximum consideration....This is what the grant program called for. We were more than qualified for it."
June 2004: The Army Corps of Engineers budget for levee construction in New Orleans is slashed. Jefferson Parish emergency management chiefs Walter Maestri comments: "It appears that the money has been moved in the president's budget to handle homeland security and the war in Iraq, and I suppose that's the price we pay."
June 2005: Funding for the New Orleans district of the U.S. Army Corps of Engineers is cut by a record $71.2 million. One of the hardest-hit areas is the Southeast Louisiana Urban Flood Control Project, which was created after the May 1995 flood to improve drainage in Jefferson, Orleans and St. Tammany parishes.
August 2005: While New Orleans is undergoing a slow motion catastrophe, Bush mugs for the cameras, cuts a cake for John McCain, plays the guitar for Mark Wills, delivers an address about V-J day, and continues with his vacation. When he finally gets around to acknowledging the scope of the unfolding disaster, he delivers only a photo op on Air Force One and a flat, defensive, laundry list speech in the Rose Garden.
So: A crony with no relevant experience was installed as head of FEMA. Mitigation budgets for New Orleans were slashed even though it was known to be one of the top three risks in the country. FEMA was deliberately downsized as part of the Bush administration's conservative agenda to reduce the role of government. After DHS was created, FEMA's preparation and planning functions were taken away.
Actions have consequences. No one could predict that a hurricane the size of Katrina would hit this year, but the slow federal response when it did happen was no accident. It was the result of four years of deliberate Republican policy and budget choices that favor ideology and partisan loyalty at the expense of operational competence. It's the Bush administration in a nutshell.»
Crony - amigalhaço
«CHRONOLOGY....Here's a timeline that outlines the fate of both FEMA and flood control projects in New Orleans under the Bush administration. Read it and weep:
January 2001: Bush appoints Joe Allbaugh, a crony from Texas, as head of FEMA. Allbaugh has no previous experience in disaster management.
April 2001: Budget Director Mitch Daniels announces the Bush administration's goal of privatizing much of FEMA's work. In May, Allbaugh confirms that FEMA will be downsized: "Many are concerned that federal disaster assistance may have evolved into both an oversized entitlement program...." he said. "Expectations of when the federal government should be involved and the degree of involvement may have ballooned beyond what is an appropriate level."
2001: FEMA designates a major hurricane hitting New Orleans as one of the three "likeliest, most catastrophic disasters facing this country."
December 2002: After less than two years at FEMA, Allbaugh announces he is leaving to start up a consulting firm that advises companies seeking to do business in Iraq. He is succeeded by his deputy and former college roommate, Michael Brown, who has no previous experience in disaster management and was fired from his previous job for mismanagement.
March 2003: FEMA is downgraded from a cabinet level position and folded into the Department of Homeland Security. Its mission is refocused on fighting acts of terrorism.
2003: Under its new organization chart within DHS, FEMA's preparation and planning functions are reassigned to a new Office of Preparedness and Response. FEMA will henceforth focus only on response and recovery.
Summer 2004: FEMA denies Louisiana's pre-disaster mitigation funding requests. Says Jefferson Parish flood zone manager Tom Rodrigue: "You would think we would get maximum consideration....This is what the grant program called for. We were more than qualified for it."
June 2004: The Army Corps of Engineers budget for levee construction in New Orleans is slashed. Jefferson Parish emergency management chiefs Walter Maestri comments: "It appears that the money has been moved in the president's budget to handle homeland security and the war in Iraq, and I suppose that's the price we pay."
June 2005: Funding for the New Orleans district of the U.S. Army Corps of Engineers is cut by a record $71.2 million. One of the hardest-hit areas is the Southeast Louisiana Urban Flood Control Project, which was created after the May 1995 flood to improve drainage in Jefferson, Orleans and St. Tammany parishes.
August 2005: While New Orleans is undergoing a slow motion catastrophe, Bush mugs for the cameras, cuts a cake for John McCain, plays the guitar for Mark Wills, delivers an address about V-J day, and continues with his vacation. When he finally gets around to acknowledging the scope of the unfolding disaster, he delivers only a photo op on Air Force One and a flat, defensive, laundry list speech in the Rose Garden.
So: A crony with no relevant experience was installed as head of FEMA. Mitigation budgets for New Orleans were slashed even though it was known to be one of the top three risks in the country. FEMA was deliberately downsized as part of the Bush administration's conservative agenda to reduce the role of government. After DHS was created, FEMA's preparation and planning functions were taken away.
Actions have consequences. No one could predict that a hurricane the size of Katrina would hit this year, but the slow federal response when it did happen was no accident. It was the result of four years of deliberate Republican policy and budget choices that favor ideology and partisan loyalty at the expense of operational competence. It's the Bush administration in a nutshell.»
Crony - amigalhaço
Let's get down to business
Entretanto, qual é a empresa que já está a conseguir providenciais contratos na recuperação das áreas sinistradas?...
A Halliburton, pois claro. E faz todo o sentido: é certamente aquela com mais know-how, bem como experiência exaustiva em áreas de calamidade pública. Como o Iraque, por exemplo.
Mais trepidantes aventuras envolvendo esta mesma empresa,- designadamente o que aconteceu à funcionária superior que teve a ousadia (dum anti-americanismo primário, a mundana!) de denunciar favorecimentos grosseiros na atribuição de contratos militares -, podem ser lidas aqui.
Ribeira dos Milagres
A blogosfera portuguesa lembra-me a "Ribeira dos Milagres". A água que era suposto correr cristalina, abrigando rica biodiversidade, estagna e fede sob a espuma das descargas permanentes das grandes suiniculturas, reforçadas pelo esgoto a céu aberto de toda uma saloiada opinorreica completamente destituída de saneamento básico mental. Grande parte habitando ainda em conúbio com gado doméstico.
E ainda há quem se preocupe com censura. Santa ingenuidade ou onfalofilia desmesurada? Nem percebem o elementar: a lobotomia dispensa-a.
A blogosfera não compete com os media tradicionais: macaqueia-os, papagueia-os, lança-lhes olhares dengosos, mortificados por jejuns, castidades e orações, mas bem chispantes de gula e volúpia.
No meio de todo este desastre ecológico, por assombroso que pareça, ainda vão acontecendo milagres. Vão? Ah, pois vão. Ou não fosse esta a Ribeira deles.
sábado, setembro 03, 2005
Intercâmbio cultural
Pode ler-se no Diário Digital:
«A temporada de furacões do Atlântico norte começou a 1 de Junho e termina a 30 de Novembro e os meteorologistas consideram que é uma das mais activas dos últimos 10 anos.»
Nós, por cá, é mais incêndios.
O que, não obstante, parece em tudo geminado nos dois lados do Atlântico é o completo laxismo, incúria e imprevidência das autoridades. Nós continuamos a insistir em florestas anárquicas que ardem que é uma maravilha; eles, que há mais de cem anos experimentam ventania grossa, continuam a construir casas, diques e povoações que os furacões escaqueiram nas calmas.
Podíamos fazer um negócio: eles mandavam para cá os furacões; nós despachávamos para lá a praga de empreiteiros que tomou conta do país e fez missão sagrada de escalavrá-lo em todas as direcções e dias do ano. Ainda ficávamos a ganhar: os furacões, que acompanham invariavelmente com chuva a potes, sempre apagavam os incêndios e a devastação e corrupção deste país talvez amainassem. Bem, nas autarquias é mais que certo que amainavam.
De brinde ainda podíamos doar toda essa chusma de mentecaptos poliglotas que trazem Portugal no Bilhete de Identidade, com amargura, e a América na puta da alminha, com devoção.
Portanto, não há que duvidar: eles que levem o nosso lixo, que nós tomamos conta dos furacões deles.
........
PS: E, junto com os empreiteiros, ainda damos os arquitectos. Já que não podemos esterilizá-los...
Pensa bem, George. É uma oportunidade única!...
sexta-feira, setembro 02, 2005
Uma questão de expertise
Em rescaldo da "katrinada", admira-se muito a basbacaria internacional, capitaneada pelos pivôs dos telejornais, com a incapacidante gritante, quase escandalosa, dos ultra potentes e organizados americanos para resolverem, ou atenuarem sequer, o seu caos interno. Tanta tecnologia, arsenais tão incomparáveis, vaivéns transplanetários únicos e depois, numa questão tão básica, do foro do simples humanitarismo, resulta um tal descalabro, só ao alcance de uma Angola, de um Sri Lanka ou de qualquer república das Bananas por esse desgraçado mundo afora.
Não obstante, tanta perplexidade, tão ingente espanto, só é possível em quem tenha estado mergulhado em coma ou lobotomia suave nos últimos cem anos. Qualquer pessoa desperta e minimamente intacta nas suas faculdades mentais sabe, de ciência certa, que os americanos, no que ao caos concerne, são especialistas em instalá-lo, não em combatê-lo.
Seria o mesmo que pedir a pirómanos dotes ou virtudes de bombeiros. Ou a serial-killers vocações de enfermagem.
A partir do momento que não se pode bombardear um furacão, que mais queríeis vós que eles fizessem?...
A Rês pública II
Outra razão de peso e excelência para que acasalássemos o Avô Soares com o fóssil gaiteiro Lili Caneças e os entronizássemos sem mais delongas na representação da República, tem que ver com um desporto em que ambos são recordistas: Ela, de plásticas à carcaça, combatendo rugas e flacidezes; ele, de plásticas ao pensamento, maquilhando o vácuo e pintalgando - a tons ora dourados, ora rutilantes- a lazeira.
Não exagero se disser que uma tão perfeita complementaridade dificilmente seria igualada por quem quer que fosse e atingiria, para assombro da História e dos vindouros, as raias do prodígio.
Melhor que uma rês pública só mesmo duas.
quinta-feira, setembro 01, 2005
A Rês pública
O Mário Soares, pai extremoso da democracia pluralesma e, por parição subsequente desta, avô baboso do neofeudalismo pimpão, proclama que é ele o remédio vivo, a panaceia aguardada para nos curar da depressão, para nos resgatar, galhardamente, ao pessimismo.
Estou tentado a acreditar. Afinal, farmacon, em grego, tanto quer dizer remédio como veneno. E não há dúvida que o arsénico cura qualquer mal. É claro que quem não goste de arsénico pode sempre optar pelo Ratak, ou, o que já é uma tradição nacional, deitar mão (mais respectivo voto) ao 605 Forte. Mas isso são adaptações, modernices.
Seja como for, uma coisa é certa: a depressão não tem hipótese. A dele, pelo menos, de ginja armado ao mega-prozac. Uma vez acachapado no cadeirão, repimpando a dormir a sesta, palácio ao dispor, viagens, hotéis e jantaradas à conta do otário, Vossa Excelência para aqui, Vª.Excª para ali, há-de ficar mais contente e chilreante que um passarinho.
Uma terapêutica dessas, concordemos: transformaria o mais desalentado desempregado da nossa praça numa Lili Caneças à solta em festarola da "Caras".
Aliás, para que esta fosse uma república justa, não só o presidente devia ser eleito por voto popular, mas também a Primeira Dama. Assim, dessa maneira sensata, é mais que certo que teríamos o Mário mais a Lili no próximo quadriénio. Até porque não se percebe porque raio de prepotência doméstica a dama dele tem também de ser a nossa. Fazia o maior sentido que o Presidente tivesse a particular e a pública. A rês pública, melhor dizendo.
Estou tentado a acreditar. Afinal, farmacon, em grego, tanto quer dizer remédio como veneno. E não há dúvida que o arsénico cura qualquer mal. É claro que quem não goste de arsénico pode sempre optar pelo Ratak, ou, o que já é uma tradição nacional, deitar mão (mais respectivo voto) ao 605 Forte. Mas isso são adaptações, modernices.
Seja como for, uma coisa é certa: a depressão não tem hipótese. A dele, pelo menos, de ginja armado ao mega-prozac. Uma vez acachapado no cadeirão, repimpando a dormir a sesta, palácio ao dispor, viagens, hotéis e jantaradas à conta do otário, Vossa Excelência para aqui, Vª.Excª para ali, há-de ficar mais contente e chilreante que um passarinho.
Uma terapêutica dessas, concordemos: transformaria o mais desalentado desempregado da nossa praça numa Lili Caneças à solta em festarola da "Caras".
Aliás, para que esta fosse uma república justa, não só o presidente devia ser eleito por voto popular, mas também a Primeira Dama. Assim, dessa maneira sensata, é mais que certo que teríamos o Mário mais a Lili no próximo quadriénio. Até porque não se percebe porque raio de prepotência doméstica a dama dele tem também de ser a nossa. Fazia o maior sentido que o Presidente tivesse a particular e a pública. A rês pública, melhor dizendo.
Ocidente, aliás Crepúsculo
Tão pouco a Natureza revela uma harmonia perfeita: catástrofes naturais acontecem; desregramentos ocorrem; um longo e moroso processo de escultura tem vindo a decorrer diante dos nossos olhos. Os ventos, os mares, as neves, os vulcões, os calores abrasadores, as chuvas, continuam a caçar-nos. Na nossa ânsia de defesa e fortificação, desvio e domesticação, muitas das vezes já causamos piores males, mais gravosos desastres, piores desequilíbrios que os originais. Não sabemos qual é realmente o nosso papel neste concerto planetário, mas constatamos que longe de melhorarmos a harmonia sinfónica, contribuímos, isso sim, com doses maciças de cacofonia espectacular. Em vez, pois, de talhar mais parece que metemos às cegas, às doidas, por atalhos, atalhamos e retalhamos sem entender muito bem nem onde estamos, nem para onde vamos e, muito menos, que raio andamos ali a fazer. Barricamo-nos em ilusões, insuflamo-nos, feitos pavões, de próteses e técnicas, mas a insignificância não passa, a ninharia à deriva no universo continua a assombra-nos. A efemeridade não nos larga, a corrupção rói noite e dia, a morte não descansa. Depois de tanto trabalho, experiência e carnificina não só não nos curámos dessa mórbida efemeridade como contaminámos todo o universo com ela: até os deuses se tornaram efémeros, passageiros, voláteis; e as estrelas desataram a envelhecer e a morrer pelos céus. Mesmo esse grandiloquente universo, campo da nossa convulsiva prosápia, é ele a vitrina da nossa conquista ou da nossa doença? Um monumento à ciência ou ao desespero? Talvez nos tenhamos vingado do nosso defeito, cobrado com juros a nossa aleijadela congénita, mas também é certo que nunca deixámos de claudicar. No fim, tudo somado, seremos nós a testemunha da harmonia da Fysis e do Cosmos, ou a prova viva e material do seu desequílibrio?
Terá sido esse stress impiedoso, essa exasperação amarga e insanável de nos pressentirmos à mercê dos caprichos da sorte e de poderes imperscrutáveis e insensíveis, que nos lançou na descrença, no desânimo, no frenesim sádico, macabro e rilhafolesco? Como quem, pela materialização alucinada, se tentasse ver livre dos fantasmas que lhe aterrorizam o espírito. E, todavia, esse stress, os gregos antigos não o padeciam, nem os índios Sioux, nem a minoria de cristãos medievais sinceramente crentes, entre muitos outros. Então, quando é que nós, e como é que nós, ocidentais, vislumbrámos um universo de acaso e violência gratuita, no qual vagamos entregues a nós próprios, como funâmbulos ébrios sobre arames suspensos entre o abismo e o pesadelo?
Terá sido esse stress impiedoso, essa exasperação amarga e insanável de nos pressentirmos à mercê dos caprichos da sorte e de poderes imperscrutáveis e insensíveis, que nos lançou na descrença, no desânimo, no frenesim sádico, macabro e rilhafolesco? Como quem, pela materialização alucinada, se tentasse ver livre dos fantasmas que lhe aterrorizam o espírito. E, todavia, esse stress, os gregos antigos não o padeciam, nem os índios Sioux, nem a minoria de cristãos medievais sinceramente crentes, entre muitos outros. Então, quando é que nós, e como é que nós, ocidentais, vislumbrámos um universo de acaso e violência gratuita, no qual vagamos entregues a nós próprios, como funâmbulos ébrios sobre arames suspensos entre o abismo e o pesadelo?
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