terça-feira, dezembro 06, 2022

Mictofísica a jacto

 «Os modernos apóstolos do comércio estão a tentar persuadir as pessoas a aceitar o negócio como um substituto da religião. Fazer dinheiro, asseveram eles, é um acto espiritual; a eficiência e a honestidade vulgar são um serviço à humanidade. O negócio em geral é o deus Supremo, a Firma individual é a deidade subsidiária a quem as devoções são directamentte pagas. Para os ambiciosos, para os clamorosamente prósperos e para aqueles demasiadamente envolvidos numa vida esforçada para poderem realizar qualquer pensar esforçado, a adoração do negócio talvez possa preencher a falta de religião genuína. Mas a sua inadequação é profunda e radical. Ela não oferece nenhuma explicação coerente de qualquer universo fora daquele cujo centro é a bolsa de valores; nos momentos de aflição, ela não pode consolar; não compensa nenhumas misérias; os seus ideais são realizáveis demasiado depressa - abrem a porta ao cinismo e à indiferença. As suas virtudes são praticadas tão facilmente que, literalmente, qualquer ser humano que acredite na religião do negócio pode imaginar-se a si próprio um homem verdadeiramente bom. Daí a tremenda auto-satisfação e farisaísmo consciente tão característicos dos devotos do negócio. É uma religião justificatória para os ricos, e para os que se tornam ricos. E mesmo para eles só dá resultado quando os tempos são bons e estão livres de infelicidade pessoal. Ao primeiro sinal de uma tragédia ela perde toda a eficácia; o mais simples colapso é suficiente para a fazer evaporar. Os pregadores deste substituto comercial da religião são numerosos, barulhentos e pretensiosos.»

          - Aldous Huxley, "Sobre a Democracia e outros textos" 

Mais uma vez, é caso para dizer: nem imaginava ele a que extremos haveria de chegar esta banha-da-cobra metida a hóstia!... Esta espécie de "metafísica instantânea e efervescente", por inalação e arroto, a que poderíamos, talvez, taxar de Cripofísica. Ou Mictofísica. A jacto.

3 comentários:

Vivendi disse...

Para seguir o Deus do negócio é preciso vestir o fato do judeu.

Mas tem coisas melhores na vida para a espiritualidade e para o bem comum.

O mercado livre, as trocas comerciais entre povos, a prosperidade de uma comunidade em boa comunhão e alicerçada no bem comum não interessam aos seguidores do Deus do negócio.

Figueiredo disse...

Prefiro mulheres, eu sei que é pecado nos dias de hoje, mas não resisto, sou da Natureza.

P.S.: Acabou de se dar um golpe de Estado na República do Peru (RP).

marina disse...

Deus não deixou de nos mandar profetas...estou convencida que huxley é um deles :)

https://docs.google.com/file/d/1dwY__lb2bITDfJI5hYscFqVAwn71CkPwyNm7cHuN6lteeFA9aM1QHVhmvkCJ/edit