segunda-feira, dezembro 28, 2015

Radiografia dos Mercados - I. Confiança na Treta

«O cenário negro que se desenvolveu em 2007 e 2008 não teria decerto sido tão devastador se os nossos príncipes das finanças não tivessem encontrado um truque de cálculo de propabilidades de que usaram e abusaram ao longo dos anos. No fundo, não tinham verdadeiro interesse em pôr travão à deriva do crédito. Este alento, encorajado pela Reserva federal, desejosa de manter o crescimento americano, esbarrou num obstáculo. Os bancos são governados por severas regras internacionais definidas em Basileia, sede do BRI - Banco de Pagamentos Internacionais: os bancos não podem emprestar para lá de uma certa proporção dos seus fundos próprios. Trata-se de uma medida de precaução destinada a assegurar que não vão tomar riscos execessivos. Limitados pelas regras de Basileia, os banqueiros descobriram rapidamente uma escapatória: retiraram os créditos dos seus balanços, transformando-os em títulos revendidos de seguida a grandes investidores (fundos, seguradoras, empresas ou... outros bancos). Ao "titularizarem" os seus créditos (muito grosseiramente, isso significa transformar um empréstimo numa obrigação), escaparam aos tridentes dos gnomos de Basileia. A titularização, essa fórmula mágica! Com o mesmo volume de capitais, os bancos podem realizar muito mais crédito. Deixam de ter limites às suas operações. Simplesmente, em vez de ganharem juros, ganham comissões quando fabricam os títulos e quando os colocam. Astucioso, não é?
O trabalho de transformação efectuou-se nos "ateliers" dos grandes bancos de investimento americanos, os Goldman, Merril Lynch, Lehman, Morgan Stanley, Bear Stearns. Com um virtuosismos sem limites, recompraram os créditos hipotecários, cortaram-nos depois em tranches, misturaram-nos com outros créditos (consumo, exportação...), e por fim compactaram-nos num só título. Um verdadeiro trabalho de ourives deixado aos famosos "estruturadores". Alguns dos títulos estruturados que imaginaram eram de uma sofisticação tal que se falou a propósito deles de "títulos frankenstein" ou até de "armas de destruição massiva".
Credit default swaps (CDS), collateralized debt obligations, (CDO), assets backed securities (ABS) ou, ainda, constant proportion debt obligations (CPDO, que acabam de aparecer... Eis os títulos de nome hermético (não vale a pena tentar compreendê-los) fabricados pelos virtuosos da matemática bancária.
Por vezes, tudo ficou guardado, longe dos bancos, nos SIV (special investment vehicles). os génios da finança entraram em delírio! Era-lhes tão mais fácil fazê-lo que os compradores desses títulos nem se davam ao trabalho de analisar os riscos que corriam. Confiavam nas agências de Notação, que deram durante muito tempo nota máxima (o chamado triplo A) a estes novos produtos.  Muito frequentemente, as agências davam até conselhos aos "estruturadores" para obterem o Triplo A, o que lhes facilitava a colocação de títulos.»

   -  Patrick Bonazza, in "Les Banquiers Ne Paient Pas L'Addition" (trad. port. Guerra e Paz)


A confiança em tretas é apenas um eufemismo para a lorpice. É graças à capacidade de induzir confiança no otário vítima que o vigarista virtuoso perpetra a sua operação depenadora. No caso em epígrafe, naturalmente, estamos ao nível do mega-conto do vigário. O nada não apenas é transaccionado uma vez: vende-se, revende-se - e trivender-se-ia ad infinito (se, entretanto, o esquema não colapsasse). Os tais "tóxicos" de que ainda hoje se fala e repassevita a propósito do BES e do BANIF radicam nestas frankenstoinices made in USA. É evidente que, engodados pela febre ganciosa da comissão fácil, os nossos financeiros da Malveira embarcaram na tomada, contrafacção e revenda de "produtos" destes. Não há golpe mais perfeito de impingidela do que fazer crer ao impingido que está apenas a colaborar no impingimento a outros. É um esquema antiquíssimo, que já os revendedores de enciclopédias para empresas britânicas experimentavam na própria pele aqui há mais de trinta anos atrás. Persuadiam-nos que estavam a ser seleccionados para comissionistas, quando, na verdade, estavam a a ser "trabalhados" para clientes. Eles e o seu núcleo familiar e de amizades, onde, de seguida, corriam a impingir a mixórdia.
É uma chatice quando os otários descobrem? Pois é. Mas uns tentam anestesiar a ferida com eventuais comissões entretanto abichadas (os mais felizardos). Outros nem tanto, ou nem nada mesmo. Todos eles, não obstante, estão longe da inocência e de não merecerm, em maior ou menor grau, aquilo que a sua estupidez congénita, a cavalo na sua ganância imarcescível, tão sofregamente lhes acarreta.

12 comentários:

muja disse...

Pois é.

Numa vigarice há quase sempre dois vigaristas: o que vigariza e o que é vigarizado.

https://www.youtube.com/watch?v=chsoez5WtSA

Vivendi disse...

Hehehe!

Mais um raio-x vem tirado.

E a partir de agora cuidado, é melhor ir com calma nos piropos que vai lançando que isto agora dá direito a cana até 3 anos.

Portanto veja lá com quem se mete nos textos e nada de importunar a Marina que andam por aqui muitas testemunhas.

Aprenda a viver em Democracia, Dragão.










Ricciardi disse...

É, os bancos gringos fizeram isso. Transformaram créditos em carteira em pacotes em forma de fundos e revendiam pela aldeia global àvida de melhores rendibilidade. A coisa corria tão bem que a pressão das hierarquias bancarias sobre os bancarios para produzir mais créditos (para depois os revender) era imensa. De forma q produzir mais créditos passou a ser efectuado sem controlo de risco. Porque?
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Porque nos fundos classificados em rating A seriam metidos alguns dos créditos de rating lixo numa percentagem pequena. Enganado os analistas.
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Na prática era como faziam com o azeite antigamente. Ou com o peso das embalagens. Ou como o desalinho das balanças de pesagem. Há um moço na praça portuguesa, hoje muito rico, que começou por vender azeite a granel. No meio do azeite bom misturava um líquido qualquer para volume e peso. A margem, segundo ele, passava para o dobro.
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Porém, o problema dos bancos portugueses nao foi esse. Não foram expostos a activos tóxicos gringos. O problema foi que a carteira de créditos que era boa, de repente, devido a uma estupida análise do governo cessante, passou a ser de má qualidade de supetão. Boas empresas financiadas pelos nossos bancos faliram. Principalmente as de construção.
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Mesmo sabendo q o sector não gera valor sobre o exterior e q teria de reduzir a actividade, não me parece inteligente fazer colapsar as construtoras sem perceber o peso das mesmas nos bancos e no emprego.
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A temperança foi virtude posta de lado. Os resultados só podiamnser estes. Se a banca estava muito esposta a créditos hipotecarios a solução nunca passaria por fazer colapsar os clientes desses bancos. Tendo-o feito TODOS os bancos da praça, de repente, tiveram dificuldades enormes. Só nao faliram todos porque alguns alimentaram-se de lucros obtidos no estrangeiro (angola, Polónia etc) o q equilibrou as contas. O BPI por ex é um caso paradigmático, 80% dos lucros vieram do bfa angola.
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A austeridade (aumento impostos, isto é redução de rendimentos) foi muito mal feita. Obrigaram-nos a faze-la, é certo, mas não devia ter sido feita naquele prazo. O tempo ou a falta dele, na implementacao da ausyeridade foi a causa do colapso dos bancos portugueses.
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Pelo contrário nos EUA. O engraçado é que os gringos reduziram mais a despesa publica do q a UE sem necessidade de tomar medidas de austeridade semelhantes. Largaram dinheiro quando o mercado precisava dele e agora recolhem-no (já começou a secagem Comba subida das taxas). Breath in breath out, wax on, ex off Daniel San.
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Rb

Anónimo disse...

A definição de um cabrão irresponsável enterrado até aos col... na banca "portuguesa" ou antes no roubo organizado em portugal:

Assobiar para o lado e atirar as responsabilidades deles para cima dos outros.

Nomes a relembrar: Espirito santo, Ricciardi, Roque, Oliveira e Costa, Rendeiro. E outros satélites da mesma escumalha com os filhos em escolas privadas e católicas.

Anónimo disse...

2ª Parte : O enganado

O engando trabalha, ao invés dos ladrões dos bancos.
Vota nos lambe-cus dos ladrões (o tal putedo) que injecta dinheiro público nos bancos.
Passa a vida a ver "notícias" fabricadas para lhes lavar o pseudo-cérebro.
Faz dieta para poder ir ao ftebol e pagar a sport-tv.
É crente quanto baste em toda a atrofiação devidamente falsificada: mercados, milagres, massacres kosher (vulgo: holocaustos) , jesuses (jorges e co.), e qualquer aldrabão com "posses".

E até é crente da nossa sra. de fátima (mas só quando está à rasca!).

Ricciardi disse...

O problema nas finanças públicas portuguesas de 2008/2009 deveio devido a uma quebra abrupta nas receitas fiscais e nas exportacoes. Sócrates apenas agravou o problema por causa das eleicinhas de 2009. Agravou a despesa num aumento de salarios e diminuição do IVA pensando q se tratava duma crise passageira. E se fosse, resultaria bem. Mas não foi.
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A queda nas receitas fiscais provocada pela crise internacional e abrandamento económico, foi combatida duma forma imbecil. Tão imbecil como a estupidez socretina em aumentar salários em 2009.
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Em vez de saber esperar (as crises passam invariavelmente) e manter as taxas de impostos, mesmo q isso significasse um defice temporariamente maior, fizeram ao contrário. Agravaram a crise retirando rendimento às pessoas. Com menos rendimento o incumprimento à banca disparou sucessivamente levando os bancos a inventarem formas alternativas de financiamento (BES financiava-se no GES) e outros sem essa possibilidade colapsaram. A CGD, o BCP, o bpi lá sobreviveram com aumentos de capital do estado e com ajudas das operações no estrangeiro. Os mais pequenos colapsaram.
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O que devia ter sido feito?
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O BCE devia ter tido a postura actual logo no início, como o fed. Garantida a confiança nos mercados suportada pelo BCE, o estado portugues podia esperar que a crise passasse sem necessidade de promover aumentos de impostos. A actividade na caia, o incumprimento não disparava, a emigração não teria sido tão violenta.
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O tempo.
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Rb

Anónimo disse...

Os papagaios papagaiam tudo o que lhes pagam e enfiam no cu para dizer em público.

Anónimo disse...

A responasbilidade é sempre dos outros.

Os outros é que fizeram isto e aquilo.

Os outros é que deviam ter feito isto e aquilo.

Um papagaio papagaia e finge que não é nada com ele.

Ricciardi disse...

O caso BES é a cereja em cima da imbecilidade.
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O problema esteve bem resolvido quando Salgado pediu e obteve uma garantia do presidente de angola no valor de 4,5 mil milhões.
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Sim, a garantia tem o valor equivalente a TODOS os problemas do banco.
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A imbecilidade foi simples e demonstra bem o nível da governança que lidou com processo. A governança não sabia o q fazer com a garantia (ou talvez não estivesse nos planos q ela existisse) e o q fez com a garantia?
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Colocou-a no banco mau onde se meteu o lixo todo.
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O Zedu mal soube q uma garantia sua era considerada lixo toma a decisão natural. Retira a garantia. Terá pensado: afinal de contas se a minha garantia é considerada lixo mais vale varre-la. Resultado? A governança portuguesa criou um buraco de 4,5 mil milhões, por faltinha de tacto, experiência, estupidez (provavelmente) . Não tirou um coelho da cartola. Foi o próprio coelho que saiu dela. Uma mágica auto-infligida. O coelho e o mágico são o mesmo.
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O erro (criminal) de Salgado foi este: ter-se socorrido das empresas do GES para financiar o buraco no BES criado pelos incumprimentos massivos. Uma espécie de crime feito por questões de sobrevivência. Semelhante aos crimes q qualquer empresário faz para salvar a empresa duma crise, como por exemplo pagar salários e 'esquecer' de pagar as retencoes na fonte de IRS e IVA.
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Mas se é natural fazer coisas menos claras para sobreviver (é da natureza humana), o mesmo já não se pode dizer do regulador. O BP. O BP tinha a obrigação de saber (e sabia) que o Salgado estava a comercializar no BES dívida do GES. E nao se importou nada em denunciar a coisa. Deixou q as regras bancárias fossem pisadas.
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Ora, o regulador existe é para fazer o contrario, isto é, limitar a natureza humana. Neste caso dos banqueiros. Limitar os abusos. Limitar a libertinagem.
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Rb

Ricciardi disse...

O Zedu também não se ficou a rir durante muito tempo. Riu-se um bom bocado e deu uma gargalhada monumental quando retirou a garantia tida como lixo na tuga. Então quando nacionalizou o BESA ebo transformou no novo 'banco economico' quase lhe deu um ataque de histeria.
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Mas durou pouco a alegria. O nosso coelho emendou a imbecilidade (metendo-se noutra, porém)e foi fazer queixinhas ao BCE. O BCE então passou a considerar tóxico qualquer activo sobre angola. Participações europeias sobre activos em angola passam a contar negativamente nos balanços. Graves problemas para angola, portanto.
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Porém, ao tomar esta decisão o BCE provocou outro problema a outros bancos portugueses. O BPI está a ser obrigado a desfazer as posições sobrenome bfa. Fonte de lucros incríveis que tem ajudado o bpi durante esta crise.
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Foi portanto a machadada na presença portuguesa na ex-colonias. Vamos deixar de estar naquele mercado. O prejuízo é gigantesco. Mas isso é problema dos ricos, não é anónimo?
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Rb

Anónimo disse...

Não estúpido, o que vocês a brincar aos banqueiros andaram a fazer foi encher ainda mais os bolsos à canalha do Edu Santos, que já controla uma boa parte da economia portuguesa.

A presença nas ex-colónias não pode ser feita em contrapartida para nos tornar a nós uma colónia deles.

Lá diz o preceito de telaviv: nada como oferecer o cuzinho e deixar o (seu querido) nonó entrar à vontade.

Anónimo disse...

"E a partir de agora cuidado, é melhor ir com calma nos piropos que vai lançando que isto agora dá direito a cana até 3 anos."


Tá tudo lixado!

Uma "gáija" não gosta de algum comentário, passa logo a "pirôpo" ou a "proposta sexual" e chama a polícia.
Ridiculamente engraçado vai ser ver juízes a avaliarem a "sexualidade" e "indecência" dos piropos e propostas e a respectivas penas. :)))

Fdx ao questa merda chegou.
Se a corja de parasaitas da assembleia do hospício fosse mas é trabalhar em vez de andar a perder tempo com merdas.

Na dúvida, agora já só falo com "porcas" assumidas.