domingo, março 08, 2015

O Poço e o Pêndulo



Postas as imagens, permitam-me algumas considerações e meia dúzia de constatacinhas. Dirijo-me, naturalmente, às pessoas, pois embora entenda e fale umas quantas línguas, esse domínio ainda não se estende aos ruídos comunicantes quer dos fungos, quer dos coleópteros, ainda para mais colectores. Não despresumo que existam, e até funcionem às mil maravilhas (tudo indica que sim), simplesmente, não consigo decifrá-los nem com eles manter qualquer espécie de conversação.
Pois bem, há pessoas que são capazes de jurar a pés juntos que conseguem distinguir o PS do PSD (Ou seja,  PS com D ou sem D). Deixem-me adivinhar: O PS é o veículo descapotável; o PSD é quando põe a capota. Não? Ah, garantem-me uns quantos, nada disso, é a teoria do mal menor. Aliás, é para isso que as eleicinhas servem: para escolher aquele que nos pode fazer menos mal. Hum, entendo... deve ser até por essa razão que o Churchil, esse grande portento da ciência política, atesta e preconiza: a "democracia é o pior dos barretes, excepto todos os outros". Portanto, não há qualquer bem disponível no mundo (pelo menos da política): Apenas o Mal; nos seus múltiplos gradientes - O Mal absoluto, o mal relativo e o menos mal. E a opção a que temos direito é entre o maligníssimo, o mau e o menos mau. Por conseguinte, e em conformidade, de quatro em quatro anos, munimo-nos de toda esta nossa clarividência, e vamos, muito senhores da nossa responsável pessoa, despejar o sagaz papelinho no útero da urna aberta. O resultado de sucessivas e altamente responsáveis escolhas do mal menor está à vista e todos reconhecem que é péssimo. Todos, naturalmente, excepto os apaniguados da actual bosta executiva. Mas esses não contam, pois para eles (como para os seus rivais em anteriores e similares épocas pré-eleiçoeiras) este é o melhor dos governos possíveis, no melhor dos países possíveis, a preparar o melhor dos futuros possíveis, deus o abençoe e os santinhos o protejam. Em resumo, o primeiro-ministro (dito com mais rigor, o ditadorzeco quadrianal que vamos aturando - e neste peculiar caso, para cúmulo do exotismo, um ditadorzeco-papagaio, que apenas repete e mimetiza os ditames que do exterior lhe transmitem - é um ás, um chanceler, um pastor predestinado! 
Haverá alguma virtude neste  regime actual, que nos vem conduzindo metodicamente à servidão, ao absurdo e à irrelevância histórica?  Como não acredito em males absolutos, nem na capacidade humana para tal, escoro-me na experiência de trinta e tal anos para extrair uma conjectura: os períodos mais malignos e que mais aceleraram a nossa desgraça coincidiram com o prolongamento por mais de quatro anos do cancro instalado. Refiro-me concretamente ao Cavaquistão e à Socratislândia. Aquele foi o berço, esta a sepultura. Agora, e consequentemente, a república serve de  repasto a vermes - vermes políticos, vermes morais e vermes económicos. Coisas destítuidas de qualquer resquício endoesqueléctico, honra ou pinga de sentido de Estado. Mas não era esse o destino fatal do empreendimento, uma vez consagrado o hara-kiri nacional que se adoptou a seguir ao 25 de Abril? O horrível Salazar impedia-nos, com áspera paternidade e austero exemplo, de sermos bafejados e acariciados pelos pretendentes estrangeiros à nossa pulcra mãozinha. Ansiávamos ser desposados e conduzidos ao altar do progresso e da democracia por galantes alógenos, replectos de ideias geniais e fundos inesgotáveis. Felizmente, o desmancha-prazeres morreu e nós pudemos, finalmente, abraçar esse jardim de delícias tão desejado. Num ápice - melhor: num milagre da noite para o dia - trocámos a farpela coçada e pindérica do regime rigoroso pelos penduricalhos e trapos garridos da república da vida fácil. Em nome duma democracia de imitação, a nação independente e orgulhosamente só, converteu-se num estado a crédito, vergonhosamente acompanhado - pelos proxenetas, dealers e tutores económicos (mascarados de credores, financiadores e parceiros europeus). Ou seja, pagámos a preço de ouro, sangue e futuro, uma maquineta avariada que nem sequer funciona, nunca funcionou e está programada, adulterada e armadilhada para jamais funcionar. Na encruzilhada que se colocou ao país, por morte do único que, mal ou bem (no essencial, bem, na fórmula, mal), teve uma ideia para o mesmo nos últimos 200 anos, a saloiada cobarde e deslumbrada, assustada com as ventosidades da história-espantalho, entendeu saltar para dentro do primeiro buraco que encontrou:... Infelizmente, era um poço. O grande salto das hordas chinesas do presidente Mao teve em Portugal uma emulação meritória: o grandessíssimo salto para dentro dum poço. Num ano e picos, saltámos do Império para o lugar de hortaliças, onde, sob a inflação galopante de nabos, bananas e cabeças de alho chocho, passou a imperar a completa ausência de tomates. Agora, presumo, entendem que o único rumo autorizado, caso não morram afogados,  será escavar até à Austrália. E a perícia suprema do eleitorado será escolher a melhor toupeira-guia para tão insigne projecto. Não lhes passa pela cabeça, nem às minhocas-dirigentes, nem aos anelídeos dirigidos, que o mais razoável e aconselhável, se algum caminho ou rumo digno desse nome ainda sonham, seria saírem de dentro do buraco. O problema, tudo indica, é que continuam convencidos que aquele orifício redondo e escuro não era um poço: era a toca da Alice. Diga-se, não obstante, em seu favor que há um risco que, pelo menos, nesse universo imaginário, não correm: que a rainha de Copas lhes mande cortar algo que eles deixaram de ter por falta de uso. A cabeça, pois.
O mal menor, então? Se é o mal menor que realmente procurais, se isso vos basta e preenche, tudo indica coincidir com uma coisa muito simples: garantir que cada cancro lá esteja o menos tempo possível. Quando o bando de fulano está a acabar de instalar-se  nos úberes estatais, convém que outro cancro concorrente o desinstale e remova, a fim de se anichar por sua vez. Coisa em que gastará, no pior dos casos, mais quatro anos, até que novo cancro o destrone e desincruste, e assim sucessivamente. Dado que a única opção que, pelos vistos, nos é concedida, nesta melhor das democracias possíveis, se resume a poder eleger cancros, ao menos que os cancros façam um ao outro o que sensatez e a coragem, que pelos vistos nos estão vedadas, recomendariam que fizessemos a ambos. Se só podemos combater um cancro com outro cancro: antes isso que nada. Antes uma batalha perdida, que a resignação! Antes uma ejaculação precoce, que a imppotência total! Mas é de suma importância que percam, da mais ínfima justiça que caiam, que sofram, que padeçam as agruras da derrota, do desmame periódico, da ressaca do banquete, tal qual nós padecemos o martírio das mil e uma extorções, das mil e uma vigarices, das mil e uma aberrações. E nem sequer é o resumo da minha opinião: é a simples sinopse da sabedoria popular. Pô-los lá, para depois ter o prazer de atirá-los abaixo! O preço, todavia, é elevado: ser rebaixado e flagelado durante 1460 dias, para poder despenhá-los apenas em um. No fundo, é um vício adquirido: numa noite, como de início mudámos de regime e constituição, agora mudamos de moscas.
Relembro uma máxima de Nietzsche muito a propósito: "vale mais um mau sentido que sentido nenhum". Aplica-se à compensação atrás exposta: antes magra, esquálida, que nenhuma. Mas encontra a sua excepção clamorosa, neste nosso Portugal presente, em matéria de governo: dada a qualidade dos políticos que se nos apresentam, melhor governo nenhum que qualquer um dos seus governos possíveis.
Entre o Coelho e o Costa, falta-me o microscópio, para poder espiolhar as diferenças. O microscópio e um olfato menos sensível ao fedor, confesso. Eu sei, o defeito é meu, a míngua de equipamento apropriado também é minha - sou um obsoleto, enfim. Outros que possuam essa tecnologia e a megavisão dela decorrente, que esclareçam e industriem as massas pitosgas, sob a forma catita de palearem o requinte de auto-sodomia.
Não sei quem vai ganhar as próximas eleições. E, francamente, é indiferente. Estou-me nas tintas para tão anedótica romaria. Mas sei, com certeza absoluta, quem vai perdê-las. O mesmo de sempre: Portugal. 


47 comentários:

Euro2cent disse...

> teve uma ideia para o mesmo nos últimos 200 anos

Talvez só 180, o povo português e o rei D.Miguel foram derrotados pelos invasores estrangeiros em 1834.

E também não se pode acusar os vencedores de não terem uma ideia. Aliás, o que tinham mais eram ideias, nenhuma delas boa, que tinham recebido naqueles cursos por correspondência que havia dantes.

(Eram vendidos por tipos daqueles que ficam ricos a vender cursos por correspondência a ensinar como ficar rico.)

dragão disse...

De acordo com os 180.

mas as ideias deles não eram para o país, porque
1. não eram deles
2. o país deles era outro.

Ou sejam, eram as ideias de outros para converter o nosso país em país doutros.

Euro2cent disse...

É justo.

Não é que já não andemos nisto desde o Sertório e o Viriato.

O rei de Leão também não deve ter achado graça ao filho do borgonhês que lhe amputou uma lasca grossa do reino.

Enfim.

Euro2cent disse...

Ahahah. Não se devia ir ver coisas nas wikipedias, descobrem-se coisas destas:

"Henry of Burgundy married Teresa of León, an illegitimate daughter of the king and his mistress Jimena Muñoz."

Depois não admira.

josé disse...

Entre dois flagelos haverá sempre a possibilidade de escolher à medida o que nos der mais jeito ou o que nos fizer menos mal mediata ou imediatamente.

É disso que temos agora.

O flagelo PS tem sempre uma bancarrota no horizonte, porque contas não é com eles. Já lá vão três.
O flagelo PSD promete sempre uma mudança dessa agulha e com os custos inerentes que passam por ser os remédios de óleo de fígado de bacalhau para essa maleita.

Essa é a principal distinção. Keynesianismo por keynesianismo prefiro o do PSD porque é mais contido nas promessas e não nos atira logo para a bancarrota.

Com o PS há ainda outra coisa importante e distinta: não se limita à social-democracia porque encasquetou há décadas que é de esquerda e por isso tem sempre que o repetir e provar de vez em quando fazendo o jeito aos panascas do BE e quejandos.

Para isso tem lá aquela aberração ambulante que se chama Galamba que tem um brinquinho na orelha e me parece panascóide acelerado.

Tem sido assim ao longo dos últimos 40 anos

Vivendi disse...

Escrita de Excelência.


dragão disse...

José,

já vi que tens o tal microscópio e uma certa intrepidez olfactiva...

Trata pois de evangelizar as massas nos neo-sacramentos microbianos.

:O))


Agora, essa última preocupação descolhe completamente... Tens um governo com o Super-panasca a Vice-primeiro-ministro ("vice-primeiro-ministro", que merda de porra é esta? - nem na Guatemala ou nas Honduras, se conseguiria tamanha proeza organigramática - só mesmo na ficção), e vens-me apontar os brincos na orelha da escória rival...

zazie disse...

O Superpanasca pelo menos não traz a troupe atrás nem anda a legislar o mundo às avessas.

Tem vergonha, o que já não é nada mau.

zazie disse...

Quanto às diferenças não é preciso microscópio.

Basta pôr os olhos na Grécia.
Pode-se ficar pior, pode e não há reviralho que nos salve.

De resto, podemos querer ser originais e recusar esta treta de democracia.

Ou podemos querer ser iguais ao resto do mundo e melhor a treta.

A segunda tem exemplos à vista; a primeira é tiro no escuro e esperar por novos lateiros.

dragão disse...

Boa, Zazie.

A solução é sempre olhar pró estrangeiro. Ou seja, não é preciso o microscópio, basta um bom par de binóculos...

E o Super-panasca não anda com a seita atrás e tem vergonha na cara... A Catherine. Pois, aquilo não é uma seita, mais parece o infantário "coreia do norte", a reboque do mini-líder.

:O)))

E essa ideia da "igualdade" (ao resto do mundo, neste caso) é um bocado de esquerda, não é?
Faz lembrar aquela aventura dos Lemmings.

zazie disse...

Eu não disse que queria assim ou assado.

Disse que o resultado de achar que o PS é igual tem o exemplo da Grécia para saber no que dá.

E disse que o mundo funciona assim e que a alternativa é novo golpe de Estado.

Não me lembrei de olhar para Cuba ou Coreia do Norte ou arábias nem outras galáxias.

Tu confias nos lateiros; eu não.
Não tenho veia alguma revolucionária.

O superpanasca é um problema mas por outros motivos- porque são tod@s umas retorcid@s e intriguist@s.

Mas não traz aquele circo de monstrinhos com ILGAS e Panteras que é o que nos espera na boa da diferença entre a merda que temos e a merda que há para alternar.

José disse...

Infelizmente, depois de 25/4 andamos sempre a olhar de binóculos para a estranja e o que é pior é porem por vezes os ditos ao contrário...

Na escolha de modelos não há muita variedade.
Na verdade nem me parece que haja alguma, actualmente.

O Fim da História já aconteceu mesmo.

Este cepticismo torna-me de direita ou de esquerda?

dragão disse...

Em resumo,

não há nada a fazer e aderimos ao mal menor. É isso?

No entretanto, elegemos um bode expiatório qualquer, de preferência em forma de moinho, e atiramo-nos a ele com todas as ganas?...

zazie disse...

O que há então a fazer de completamente diferente em vez de curar maus vícios?

zazie disse...

O que há de perfeitamente irritante no nosso alterne é isso mesmo.

Não podes fazer nada porque tens milhares de palermas a irem à urna estando-se completamente nas tintas para Portugal.

lusitânea disse...

Bem o PS distribui mais e ao planeta inteiro.O PSD saca mais ao indigenato rico sem descolonizar ninguém.Uma alternância que tem feito o seu caminho para o buraco negro...

dragão disse...

Zazie,

Como é que eles estão a curar maus vícios se a dívida está a crescer e eles continuam a emitir dívida como se não houvesse amanhã?

Basta que as agências de rating acordem um dia mal dispostas, e aí tens a bancarrota outra vez.

O que é que fizeram para encetar o óbvio: levantar a máquina produtiva do país, para, através dela, atenuar a dependência externa? Carga de impostos brutal, extorção organizada para o estado sociopata, execuções sumárias (para dívidas), privatização de empresas estratégicas e altamente lucrativas, tarifas energéticas delirantes, etc, etc...
Já nem se trata de merceeiros a dirigirem um país: são apenas moços de frete de merceeiros.

zazie disse...

«levantar a máquina produtiva do país»

Como?

Como é o Estado a levantar carga produtiva?

Não sei.

Sei que os juros aumentam porque estávamos mais ou menos em situação de dívida armadilhada.

Escrevi um post na altura- a 7 de maio, mal li o Memorando.

Achei que não íamos conseguir pagar corno de tal modo a coisa tinha estado ao desbarato.

Há uns 17-20 anos pensei que isto ia acontecer e empurrei daqui para fora a prole.

Pelos vistos não me enganei.

Agora o motivo pelo qual achei que ia acontecer não foi por virem uns a privatizarem.

Foi por terem vindo outros a nacionalizarem e a correrem com os capitalistas daqui para fora.

zazie disse...

De forma básica vejo as coisas assim:

Quando a dívida ainda está controlável é que se deve aliviar tudo isso para incentivar crescimento e nunca por intervenção estatal.

Por cá tem acontecido o inverso- no tempo das vacas gordas ainda espatifam mais dentro do Estado e com parcearias para criar essa casta do encosto.

Quando chegam os cobradores e a coisa é a sério- com estrangeiros a ditarem regras e dívida com prazo a pagar-

o mais sensato é pagar o mais rapidamente, da forma possível porque quanto mais demorar mais aumentam juros e mais se torna impossível reverter situação.

Depois disso, sim- devia fazer-se o que fez Salazar que também pensou em pagar primeiro e gastar em desenvolvimento depois.

dragão disse...

Olha, o problema é que o país deu numa de "maria vai com as outras". os outros endividavam-se, nós endividámo-nos também. Se todos faziam assim, como por cá o mais longe que se vislumbra é o que o vizinho faz, toca de imitar. PS e PSD foram gémeos nisso.
Entraram para a moeda única, nunca deveriam ter entrado. Perderam a última réstia de soberania concreta. Agora continuam a toque de caixa, só que não por estupidez macaqueante, mas por imposição externa.
Um país de drogados, de credit-junkies, sem dúvida. Mas com uma série de gente a querer passar o pano, isentar de qualquer culpa os dealers, os santos traficantes.
Mais, a asseverarem que o melhor é fazer tudo como eles dizem, senão acaba-se-nos a droguinha.
Como dizia o constipado, a situação até pode ser desesperada, mas não é séria.
E dizes-me tu que faltam cá é capitalistas... bem, não faltam de certeza nos Estados Unidos, e aquilo não está nada bem nem se recomenda. Em matéria de dívida, então, a coisa já transita da economia para a astrofísica. Então o que é que eles têm que lhes garante o estatuto semi-divino? Pois, os lateiros, com tu dizes. Estás a ver como dão muito jeito os lateiros?...

:O)))

zazie disse...

":O))))

Não há alternativa ao capitalismo.

Tens muitos mais países capitalistas sem bancarrota e sem precisarem de ser americanos- Áustria, Suiça, Alemanha, Inglaterra, França até os dos leste. Por aí fora- até conseguem ser mil vezes mais nacionalistas que nós

Pode haver alternativa à bancarrota e, para isso, tenha a certeza que nunca será com PS e mailos penduricalhos comunas.

Aliás, o PS devia acabar. Ponto. Era esfrangalhar-se e aparecer outro.

Agora dizer que uma trampa daquelas é igual a estes é treta.

Não é. Só pensar nos socretinos, côncias, moreitas, galambas e tudo o resto a fazer novamente merda, dá-me vontade de mudar de nacionalidade.

Há coisas que já nem são política- são moléstia- como dizes.

zazie disse...

Quanto a lateiros, já era.

Está tudo reformado e supimpa da vidinha.

zazie disse...

Os lateiros por cá são como os fps- só se mexem pelo pré.

josé disse...

"O que é que fizeram para encetar o óbvio: levantar a máquina produtiva do país, para, através dela, atenuar a dependência externa?"

Como é que se levanta a máquina produtiva de um país?

Aqui começaria qualquer discussão porque é mesmo aqui que deve começar, neste ponto.

Qual o melhor modelo?

Sim, qual o melhor modelo?

O europeu, o africano, o asiático, o americano ou o nacional que temos de há quarenta anos a esta parte e que é um híbrido de todos esses?

Por mim, há muito que penso que o modelo que tínhamos em 1974, antes do golpe, era o que melhor nos convinha. E poderia ter evoluído, claro, com a criação de grupos industriais a sério como há na Europa dos pequenos países, porque os há.

E neste discussão lá se vão as ideias do PS ser igual ao PSD porque efectivamente não são, neste aspecto. Só são agora porque o modelo híbrido o permite...

dragão disse...

«Não há alternativa ao capitalismo.»

Ora, ora, o capitalismo já era. Já passámos essa fase. Agora é financeirismo transcendental. Hermetarquia inefável. Em bom rigor, Isto até já está mais para o neo-comunismo do que pra capitalismo. Saudades que eu tenho do velho capitalismo!

Mas, enfim, deve ser como vocês dizem, a história acabou e esta discussão nem sequer principiar pode. Porque entre a vontade e a razão, manda sempre a primeira, geralmente fazendo da segunda mera serva ao bacio das necessidades.

Escusam é de se apresentar diante de mim nesses trajes menores, a tentar justificar o injustificável. Continuem lá a vossa campanha, ao lado de abencerragens do porte do Abreu Amorim, da Hiena Matos, do Mirandinha e de outros Descorporativos de estalo. Não nos vamos chatear por causa disso. "Xuxalismo, nunca mais! Abaixo a reacinha! Força, força, companheiro Coelho!"
:O)))

Ah, e aproveitem o calo e a embalagem, porque a seguir têm já o Durão Barroso para alcandorar a novo mono da Pátria. Em substituição daquele portento actual, que por idênticos estampidos destes, lá despejaram há uns anos atrás.





zazie disse...

":O))

Qual é a tua ideia, então?

dragão disse...

José,

com gente proba e séria, mesmo com o pior modelo consegue-se alguma coisa.
Com gente venal e desonesta, não há modelo que resista.
É nesse fundamental que o PSD e o PS são a mesma merda e a mesma gente. peguem no modelo que pegarem, é só para estragarem, sujarem, nanificarem. Terraplenarem à sua altura miserável de anõezinhos eunucos.
Nós não temos apenas um problema de modelo (esse é acessório), o essencial é um problema que já atormentava o próprio Salazar: uma rarefacção infestante de gente capaz, inteira, vertebrada.
Não foi a constituição que estorvou: foi a estupidez, a cobardia, a vacuidade, a baixeza de horizontes.
Explicação para isto? Não queria ser determinista, (até porque não sou) acenando com o refugo de Alcácer-Quibir. Mas é um mistério que merece, sobretodos, a nossa reflexão.

marina disse...

a maquina produtiva do pais levanta se deixando as pessoas trabalhar para elas proprias , deixando as sobreviver , nao estando sempre a pensar em sacar , em chular para eles e para as empresas amigas . levanta se deixando de criar falsos empregos , deixando de criar institutos e tal para por os filhos e amantes na direcçao . levanta se nao favorecrndo os chulos das energias e telecomunicaçoes e construtoras , futuros empregadores dos vermes.

tem noçao que no tempo do terrivel salazar se eu nao tivesse dinheiro mas tivesse uma horta e umas galinhas podia por uma banca na estrada e ganhar um tanto e hoje ia quase presa ?

dragão disse...

«Qual é a tua ideia, então?»

1. criminalização do PS e do PSD, detenção de todos os seus dirigentes passados e presentes, arresto de bens e congelamento de contas.

2. Restaurar a monarquia. O resto decorre desta.

Mas se não gostares destas, eu tenho outras.

:O))

zazie disse...

ahahahahaha

Vota nesta se acrescentares deportação imediata do BE e PCP para as Berlengas.

":O))))))

zazie disse...

Restaurar a monarquia sim.

Mas a monarquia é uma coisa natural. Quando se perde para outra contra-natura tenho ideia que é perda para sempre.

dragão disse...


Marina,

se estivessemos nos tempos dos cavaleiros provençais (que saudades!) eu, juro-lhe, combateria com as suas cores.

josé disse...

"1. criminalização do PS e do PSD, detenção de todos os seus dirigentes passados e presentes, arresto de bens e congelamento de contas.

2. Restaurar a monarquia. O resto decorre desta."

A criminalização com base em que crime concreto? E em que país, sistema, pensamento, teoria e fundamento teórico se iria buscar tal solução?

A monarquia prescindia de um governo? E quem...?

Enfim, por aqui não temos solução.

Sou mais prático: estudemos os modelos que funcionaram entre nós e arranjaremos uma melhor solução.

dragão disse...

Crimes:


Artº 223 - Extorsão
Artº 226 - Usura
artº 229 - favorecimento de credores
Artº 234 - Apropriação ilegítima
artº 299 - Associação criminosa
Artº 308 - Traição à Pátria
Artº 312 - Inteligências com o estrangeiro para constranger o estado português
Artº 335 - Tráfico de influência
Artº 376 - Peculato de uso
Artº 377 - Participação económica em negócio
Artº 382 - Abuso de poder

Chega?

Euro2cent disse...

> A criminalização com base em que crime concreto?

Hrm, os últimos 40 anos, não?

Quer dizer, foi o que eles fizeram em 74, o exemplo parece-me bom neste caso particular.

(Se bem que em 74 perseguiram-se os que tinha tirado o país da merda, nesta caso seria os que o lá puseram de novo. Como naquela anedota da estancia de férias com maridos à procura de raparigas, e raparigas à procura de marido, a situação não é tão simétrica como se poderia pensar.)

josé disse...

Esse Direito Penal é soviético...ahahaha!

Qualquer estudante de primeiro ano de Penal atira isso para o lixo num instantinho, com base na teoria da culpa e da ilicitude.

Por exemplo, dá um exemplo concreto de extorção que tenha reflexos penais...

Se nem a actividade dos bancos privados está devidamente criminalizada a não ser em crimes espcíficos como a burla ou a falsificação como se pode querer criminalizar a actividade política através da judicialização?

Impossível, caro Dragão.


josé disse...

Nem em 74 conseguiram julgar os chamados "pides" porque não havia lei para tal.

bem tentaram com os crimes contra a humanidade e até os prenderam, mas acabou tudo em amnistias poruq e a lei penal não é à medida do freguês.

josé disse...

NO tempo do 44 houve a tentativa de o incriminar num crime concreto e bem explícito: o de atentado ao Estado de Direito.

havia provas e suficientes, mas o presidente do STJ e o PGR acharam que não. Que não era crime algum.

A professora catedrática de Direito Penal Fernanda Palma ( casada com o socialista Rui Pereira) achou logo que tal norma penal é daquelas chamadas "adormecidas". Sério...aahahaha.

Anónimo disse...

«Com gente venal e desonesta, não há modelo que resista.»

« Restaurar a monarquia. O resto decorre desta. »


dragão disse...



"como se pode querer criminalizar a actividade política através da judicialização?"

Naturalmente, caro José, eu não estava a sugerir que na actual conjuntura, quer com os militares, quer com a justiça que temos, que isso fosse possível. Estava a pensar num outro enquadramento, digamos, extraordinário. Do estilo daquele belo Maio dos anos vinte do século passado. Estava, por assim dizer, a colocar a questão num plano "ideal".



zazie disse...

E com o nosso reizinho a comandar

eheheheheh


Desculpa lá, mas só de imaginar mato-me a rir.

dragão disse...




http://realfamiliaportuguesa.blogspot.pt/2012/03/entrevista-d-francisco-de-braganca-van.html

muja disse...

A mim parece-me óbvio que tem de mudar alguma coisa.

Eu creio que vai mudar. Evidentemente, ninguém sabe.

O problema põe-se assim logo em saber como se faz para mudar para melhor, evitando mudar para pior.

Na práctica, penso que o possível se resume em duas formas de actuação política não exclusivas e possivelmente convergentes: o "Si le coup de force est possible" maurrasiano, e a resistência subversiva (ou a subversão resistente) típica da esquerda.

É por isso que acho interessante a actividade do Alain Soral em França com a sua associação Egalité & Réconciliation que é um dos sites mais vistos de França e ninguém o diria pela televisão. Indissociável do que faz Dieudonné com os seus espetáculos. É uma relação simbiótica muito interessante.

E o mais surpreendente é a diversidade de origens e culturas que a compõem, e quem tem a mínima noção sociológica e social da França neste momento, compreende o gabarito do feito. É, de facto, uma fatia transversal da sociedade, tal como ela é e não como o imaginário do teatro politico-mediático diz que é. O que é relevante porque significa que a história ainda não acabou.

É possível conciliar as ideias e as vontades, independentemente das circunstâncias, desde que haja vontade para isso. E a experiência dele mostra, pelo menos, que é possível quebrar os currais onde cada vez mais teimam em nos meter; em virtude da exclusão mediática a que são sujeitos, demonstra que a internet é um recurso crucial; e demonstra que a luta cultural é eficaz se bem conduzida e não tem que funcionar sempre no mesmo sentido...


zazie disse...

Pois é. Portugal não estava como está se tivessemos continuado com a monarquia.

muja disse...

Ora, também não estava como está se tivéssemos continuado na 2ª República.

Isso é que eu não entendo. Dizerem que na 2ª República estava tudo "abafado" e não sei que mais. E depois lamentarem-se por causa da monarquia. Então na monarquia não estava abafado?

Não eram ventos da história?

muja disse...

Eu nem sou republicano nem deixo de ser. É como monárquico.

Mas há uma coisa que não entendo, porque nunca é bem explicadinha:

As Monarquias só podem ser restauradas ou instauradas com uma grande onda popular,

diz o senhor Van Uden.

Então mas isto quer dizer o quê? Que o rei há-de ficar à espera que alguém capture o poder e lho entregue? Que lhe limpem o pó ao trono e o sentem lá?

Mas que raio de rei é esse? Isso não é um rei, é um mordomo! Um presidente hereditário, vá.

Ou reis dantes pelejavam. Iam à liça. E então depois, sim, eram aclamados! Primeiro conquistavam, depois então os reconheciam.

muja disse...

Então para isso, faça-se uma coisa modelada na Igreja.

Eleja-se o soberano para a vida, de e por um grupo de homens para isso aptos.

O tal único que teve ideias nos últimos 200 anos não era, para todos os efeitos, padre? Então...