quarta-feira, setembro 02, 2009

Uma casa portuguesa, com certeza

Também há notícias, raras é certo, que nos convocam à meditação. É duma dessas (no "Global", de 1 de Setembro) que transcrevo a parte mais suculenta e substancial. Na verdade, toda ela, mas não temam que é pequena, sintética e, atrevo-me a dizê-lo, deslumbrante. Ora tenham a bondade de ler:
«Suspeito de tentativa de homicídio, na zona de Famalicão, foi detido pela PJ um homem de 45 anos.
Durante uma discussão com ameaças verbais, também dirigidas ao filho de ambos, de 15 anos, que veio em socorro da mãe, o arguido "terá tentado estrangular a vítima com um cabo eléctrico, tendo sido impedido pelo menor que atingiu o progenitor na cabeça com uma marreta", refere a PJ.
O arguido tentou ainda atingir os dois familiares com um machado, o que também não conseguiu por ter sido impedido por uma terceira pessoa.»

Leitores, uma narrativa destas transporta-me, no mínimo, ao matutanço. Convocam-me, desde logo, dois enigmas: 1.Como é que, depois de ser atingido com uma marreta na cabeça, o arguido ainda teve forças para contra-atacar com um machado?; e 2. Donde surgiu a "terceira pessoa" que impediu, de alguma forma, esta última e selvática carga?
Ora bem, vamos à primeira.
Parto do princípio que, a não ser nos argumentos de Hollywood, qualquer ser humano, mesmo no estado agudo de psicopatia, uma vez atingido na cabeça com uma marreta, fica indisponível para movimentações imediatas. Portanto, das duas uma: ou o menor não atingiu o progenitor na cabeça; ou não o atingiu com uma marreta.
Agora, quanto à "terceira pessoa", a tal que neutralizou a tentativa de familicídio à machadada...
Saiu de dentro do armário? Brotou de baixo da cama? Estava escondido na varanda? E recorreu a que tipo de ferramenta socorrista: picareta? Moto-serra? Gadanha? Arranca-pregos?
Como vêem, caros amigos, um ror de questões inquietantes. Certeza só há uma: é uma casa portuguesa, com toda ela.

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