domingo, novembro 02, 2008

Do Ghetto ao Globo -IV. Dinheirus rex

«O trabalho dos Rothschild e o nome dos Rothschild (como o de Napoleão, a maior imagem feita por si própria), serviram para substitiuir a era dos títulos e das árvores genealógicas, pela era do dinheiro e da habilidade. Num dos momentos em que mais comeu e bebeu na Rua Laffitte, Heine considerava os cinco irmãos, grandes revolucionários: Não tinham eles usurpado as últimas pretensões do feudalismo? Não tinham abolido a importância estagnada e hirta da propriedade rural? Não a tinham substituído pelo domínio do dinheiro, pelo capital e juros, que qualquer pessoa podia possuir em qualquer altura? Não eram estes os instrumentos de governação mais flexíveis, justos e produtivos, que jamais tinham sido inventados? E os Rothschild não eram os arquidiabos do progresso?
Não é necessário deixarmo-nos arrastar pelo entusiasmo, como Heine, para reconhecer um facto: os rapazes de Mayer ajudaram a abolir o próprio absolutismo que os utilizara a princípio como seu instrumento. Mesmo sem querer, os Rothshild forneceram mais terreno para o florescimento da democracia burguesa, do que quaisquer outros cinco indivíduos da Europa.
(...)
Lytton Strachey, considerando a Rainha Vitória "excessivamente rica", mesmo entre monarcas reinantes, calculava o valor máximo da sua fortuna em cinco milhões de libras. Pobre Vitória. Um ramo da família podia, sem esforço, fazer compras no valor da fortuna inteira de Sua Majestade, de um momento para o outro. Isto ia ser demonstrado pela compra do Canal do Suez.
A fortuna total do clã, durante quase todo o século XIX, foi calculada em mais de 400 milhões de libras (6.000 milhões de dólares). Mais ninguém, desde os Fuggers aos Rockfellers, se aproximou sequer desse número arrepiante.
Mas é preciso mais do que uma vasta fortuna para criar o mito que celebrizou o nome Rothschild. É preciso, acima de tudo, um ar convincente da parte da própria celebridade. Depois de Aix os cinco irmãos ficaram inabalavelmente convencidos de que o direito divino dos soberanos tinha sido destronado pelo direito divino do dinheiro, e de que Amschel, Nathan, Salomão, Kalmann e James (Jacob) eram dinheiro.»
- Frederic Morton, "Os Rothschilds"

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