segunda-feira, setembro 03, 2007

Analogias

Diz o Lusgon, numa caixa de comentários mais abaixo:
«Portugal é como uma árvore de fruto que produz fruta que passa de verde a podre, sem que nunca tenha oportunidade de produzir algo maduro...»

Ora aqui está uma analogia merecedora de reflexão.
Dito Aristotelicamente, Portugal é uma nação(zinha) que perdeu a noção e o ponto de equilíbrio. Onde viceja, vigora e triunfa a pequena hubris - a hubrizinha de trazer por casa, de fancaria, de vão-de-escada. Quer dizer, o resultado da putrefacção fétida do brando costume.
Mas parece-me excelente a analogia, embora me suscite algumas dúvidas. Que condenso em duas. A primeira é que não sei se, efectivamente, a árvore de fruto tem por finalidade produzir fruta sã ou apenas servir de suporte à reprodução das moscas, berçariando-lhes as proles respectivas. E a segunda é que, a fazer fé nos presságios e proclamações modernizeiras dos sucessivos sobas eleitos, tudo aponta que o objectivo futuro seja pô-la a dar frutos que abrolhem logo maduros...E plásticos.

29 comentários:

lusgon disse...

O que é uma nação? Uma horda de gente com algum factor que os identifique ou uma manada que é, democraticamente, conduzida por um qualquer pastor e os seus afiliados cães de guarda.
Eu tendo a cair para a primeira possibilidade, logo, uma nação é uma horda. As hordas partilham algo em comum com os exércitos, só existem enquanto se justifica a sua existência. Se uma horda não justifica a sua existência é um exército que existe para coisa nenhuma. Os exércitos que existem para coisa nenhuma para além de consumirem muitos recursos inutilmente são dados às javardices a que todos os exércitos são dados: extorsão, violação, roubo, etc. Logo, como o império Viking o provou, uma nação que crie um exército, deixe de precisar dele e não consiga desmantelá-lo está condenada a ser aniquilada por ele.
De onde se tira que uma horda que não consegue atingir algo em conjunto irá se desmantelar a si própria para obter individualmente aquilo que não conseguiu colectivamente. Então o que falta a Portugal é a porcaria de objectivos que possam ser concretizados e que permitam à horda sentir-se mais forte, mesmo melhor, como grupo. E não estou a falar em subir no ranking de desenvolvimento internacional que isso nunca foi objectivo que se apresenta-se a ninguém.
Escusado será dizer que se estiver errado e a teoria do pastor é que estiver certa, então o objectivo é mesmo produzir fruta podre para que se possam justificar quantas mais moscas possíveis melhor, mas é melhor chamar-lhes cães ou tachos para facilitar a compreensão.

lusgon disse...

Portugal dispersa-se porque não tem objectivos que lhe imponham o grupo como única maneira para atingir os seus objectivos (Se é que tem algum que eu cá nunca lhos vi). Como os recursos são limitados, quase sempre os frutos das suas dispersões são devorados por outra qualquer nova dispersão que nos apareça pelo caminho e quando não o são é porque foram esquecidos e deixados a apodrecer. Portugal é o país dos mandos, desmandos que, no fundo, redundam sempre em enganos. Cá cada um puxa para seu lado e juntos puxamo-nos para lado nenhum. Desde D. João II que ninguém tem uma porra de ideia de jeito para Portugal.

Anónimo disse...

É verdade que desde D.João II ninguém teve uma porra de ideia de jeito.
E mesmo alguém que tenha, é melhor estar calado senão dão-lhe cabo do canastro.

:O)

Dragão

PS: Mas cuidados com os determinismos.

josé disse...

Uma ideia de jeito para Portugal, no séc XXI é a retoma de ideias antigas. Não é preciso inventar nada que já existiu: uma educação coerente com princípios consensuais e capaz de formar indivíduos competentes para inventar, criar, produzir bens e serviços.

Basta esse objectivo. Os meios para o atingir, já foram estudados antes. Mas pouco ou nada têm a ver com o sistema que produziu esta anémona política que nos governa.

lusgon disse...

Portugal hoje em dia podia ser aproveitado para se aproveitar de ser uma porta para os interesses do Brasil, Angola, Moçambique, Timor na Europa. Duvido que alguém me leve a sério.
Ser um importante Cluster de Portos Europeus. Acho que ninguém quer acreditar nisso.
Ser um importante factor de inovação de tecnologias de informação e fontes renováveis de energia. Quem me liga?
Deveria ser isso tudo ao mesmo tempo e tirar vantagens das sinergias de isso tudo ser. Sou um imbecil?...
Claro que nenhuma destas ideias é nova, claro que nenhuma é minha, mas também podem ter a certeza que não foram os que agora clamam por elas que as pensaram. São demasiado estúpidos para isso...

Anónimo disse...

Portugal hoje em dia podia ser aproveitado para se aproveitar de ser uma porta para os interesses do Brasil, Angola, Moçambique, Timor na Europa. Duvido que alguém me leve a sério.

Era o que nos faltava agora. Ser a plataforma do terceiro Mundo na Europa. De facto, ninguém o pode levar a sério, em vez de evoluir estaríamos a regredir. Estamos fartos e enjoados de africanos e brasileiros, queremos evoluir e não ser cicerone dessa gente na Europa. Basta de terceiro-mundismos.

lusgon disse...

O dinheiro não se rala com a cor, riqueza ou cultura do dono. Não podemos fazer nada pelos grandes e o pequenos podem fazer alguma coisa por nós, nomeadamente, encher-nos os bolsos. Mas não se preocupe, os Ingleses e os americanos já andam a ver como é que nos haverão de substituir como o principal exportador para Angola. Ao que parece os grandes do 1º mundo não têm o seu elevado valor moral como busola...

dragão disse...

Uma ligeira correcção, ó Lusgon: na verdade quem nos está a substituir em África (e sobretudo em Angola) são os chineses.
Quanto a estes europeístas pacóvios, lembram-me cada vez mais os pretos assimilados do antigamente. São brancos por fora e pretos por dentro. E cheios de vaidade nisso.

lusgon disse...

Chineses, Americanos, Ingleses, nenhum deles se irá ralar se ficar com aquilo que conseguir arrebatar a quem quer que seja. Detesto essas mariquices de "Galinha que se caga eu não como"...Por acaso existe ou espécie que não o faça?...

Anónimo disse...

. São brancos por fora e pretos por dentro

Então porquê?

Anónimo disse...

"São brancos por fora e pretos por dentro. E cheios de vaidade nisso."

Este é um dos pontos fracturantes da nossa sociedade!

E o pior é que a maioria dos Portugueses não sabe disso. Portugal não é só Lisboa e arredores, existe muita gente que se esquece disso nos dias que correm...

azagaia

Anónimo disse...

Ainda não perceberam que os fatigados da colonização, os dispépticos do Império estão prometidos a colónia ou, no melhor dos casos, a protectorado de Impérios alheios. Vão ser os pretos do Império anglo-saxónico, ou da "Metrópole" Espanhola, ou, sublime perspectiva,mainates na colónia balnear da Europa Esterilizada. É claro que os assimilados sonham sempre com gerências e gorjetas chorudas.

Dragão

lusgon disse...

O Brasil é o único mercado sul americano em que só por se ter consolidado uma posição lá se tem todos os mercados da América. A logística necessária para fornecer o Brasil permite suportar, depois, quase toda a América do sul.
Angola deve ser o único sítio do mundo onde os portugueses além de ainda terem prestigio, pasmem-se, ele ainda serve para alguma coisa. O maior fornecedor de Angola é Portugal e esse mercado ainda pode crescer.
Por mim eles até podem vender o país ao estrangeiros que ainda renderam alguma coisa, nem que seja só juízo...

Anónimo disse...

Ainda não perceberam que os fatigados da colonização, os dispépticos do Império estão prometidos a colónia ou, no melhor dos casos, a protectorado de Impérios alheios.

Fale por si, se está velho e cansado de lutar, ou se simplesmente é um derrotado natural que já parte vencido para a "guerra". Em Portugal abundam exemplos de empresas e pessoas que vingam no 1ªMundo, os fracassados e os fatigados, resumem-se ao 3º Mundo, ao chinelinho de enfiar no dedo.

Vão ser os pretos do Império anglo-saxónico, ou da "Metrópole" Espanhola,

Os mesmos que a par dos chineses estão a conquistar as nossas antigas colónias, e significativo, os nossos pretos preferem-nos a eles. Dizem mesmo que se em vez de serem colonizados por portugueses se tivessem sido colonizados por estes, estariam muito melhor.
Por essa perspectiva, no futuro, nem ao pretos e brasileiros interessaremos. Até os pretos de se borrifarão para nós. Portugal será um cais de desembarque/plataforma aeroportuária utilizada pelas ex-colónias para aceder à Europa.

Não contem com gorjetas, nem com agradecimentos. Para os ex-colonizados será a nossa obrigação, para os nossos fracassados e pobres de espírito mas que se julgam com o exclusivo da clarividência, será o tal de desígnio nacional de que tanto se fala.

lusgon disse...

Mas a gente quer comprar, transformar, acrescentar coisas ou quer beijinhos.
Podemos também utilizar a nossa óbvia compreensão de sistemas corruptos e ir construir estradas e pontes para a Rússia e países de leste.
O mundo tresanda a oportunidade, só a temos é da agarrar...ROFL

Anónimo disse...

«Em Portugal abundam exemplos de empresas e pessoas que vingam no 1ªMundo».

No Brasil ainda há mais exemplos desses; em Angola também há uns quantos e até em Moçambique.
Suponho que não é o seu caso. Ainda deve andar a lutar valentemente por isso. Por enquanto ainda só é rico de espírito. Ainda só viaja mentalmente na carruagem de 1ª classe.
Mas é verdade que há cada vez mais portugueses a vingar no 1ºMundo: a maior parte, são os que emigram. Aos milhares.
Além disso, não faltam linhas de crédito para todo o tipo de "vingadores" no 1ºMundo. Hoje em dia, só não é rico, triunfante, super-clarividente e cosmopolita quem não quer.
Uma última nota: a si não o vejo de chinelinho de enfiar no pé. De maneira nenhuma. Nitidamente, o seu estilo é mais o salto alto. Ultra finesse. No trottoir.

Dragão

Anónimo disse...

Mas a gente quer comprar, transformar, acrescentar coisas ou quer beijinhos.

Precisamente, quais são os mercados que pagam o que compram. Os desenvolvidos ou o 3 Mundo.

Podemos também utilizar a nossa óbvia compreensão de sistemas corruptos

Para quem o desígnio nacional é África e Brasil, enfim... nem sei o que lhe hei-de responder.

Anónimo disse...

No Brasil ainda há mais exemplos desses;
Actualmente, no sector do turismo talvez. A PT está por lá, em parceria com os espanhóis. Em Angola e Moçambique, umas dependências bancárias, a cerveja e o turismo, e mais alguns fracassados de chinelinho de enfiar no dedo.
Depois há aqueles que foram para lá por motivos sentimentais e galvanizados por aquele grande Napoleão, o Guterres, meteram o rabo entre as pernas e saíram daquele que é o pais do futuro desde sempre. Ex Jerónimo Martins que saiu do Brasil e foi para a Polónia. Pior que errar é repetir o erro de considerar as relações com o terceiro mundo dos PALOP e Brasil como desígnios nacionais, a pensar que nós, os portugueses, teremos alguma vantagem no mercado, só pelo facto de sermos portugueses e termos uma língua em comum, e as tais relações de afinidade.

Suponho que não é o seu caso. Ainda deve andar a lutar valentemente por isso.
Sim, no primeiro mundo. Estou farto de patos bravos. Eu, e muitos outros, ao contrário de si, ainda não desisti, só lhe peço que não arraste Portugal para essa miséria. E os que vão para África e Brasil quando der para o torto, que assumam por inteiro as consequências das suas escolhas.

“Mas é verdade que há cada vez mais portugueses a vingar no 1ºMundo: a maior parte, são os que emigram. Aos milhares.”

Sim. é para que veja ao chegámos. Muitos são forçados a trabalhar no estrangeiro porque o mercado português está saturado de imigrantes, que os PALOP e Brasil quiserem despejar em Portugal. O povo Português obrigado a aturá-los e a aceitá-los em nome das relações de afinidade e demais relações privilegiadas que devemos ter em nome da imagem de Portugal nesses países – desígnio nacional de certa elite visionária.

Outros com qualificações profissionais e académicas emigram em busca de desenvolvimento profissional que não encontram em Portugal. Quando um país não consegue reter os seus cidadãos mais qualificados, a massa critica que o poderia desenvolver, escassas possibilidades terá de se afirmar no Mundo desenvolvido e consequentemente em desenvolver-se.

dragão disse...

« só lhe peço que não arraste Portugal para essa miséria»

Impossível não fazê-lo, com estes meus superpoderes. Virá comigo às putas e depois destrui-lo-ei. Só ainda não decidi se com o meu super-sopro, se com jorro de micção incandescente.

Anónimo disse...

Impossível não fazê-lo, com estes meus superpoderes.
Mesmo assim, tente.

Só ainda não decidi se com o meu super-sopro, se com jorro de micção incandescente.

Com a sua visão é suficiente.

lusgon disse...

Depois de pensar muito nisso (Então não! Não tenho eu mais nada que fazer?...) talvez o problema não seja que não tenha havido uma ideia de jeito desde D.º João II. Talvez o problema seja mesmo que ninguém tenha visto as que existiram e vêm todos os dias à existência. O pessoal está tão ocupado em as destruir que não aproveita nenhuma.
Brasil, Angola, Polónia ou mesmo Portugal ninguém segue a porcaria de um objectivo até ao fim. Portugal está infestado de salta-pocinhas e a única coisa que conseguem dizer é "Estão verdes, ninguém as pode tragar"...

Anónimo disse...

Lá está, ó Lusgon: é a dispersão. O saco-de-gatos. A corrida de ratos a nenhures.

josé disse...

Para combater a dispersão, é preciso uma de duas coisas: ou arranjar alguém com visão e competência para apontar um caminho e lá virá então a metáfora do pastor; ou dedicarmo-nos todos, maioritariamente, a escolher aqueles que possam incentivar e pôr em prática uma dessas ideias mutantes e que abrem caminhos. Para mim, essa ideia é apenas a da Educação, com bases diferentes daquelas que estas anémonas adoptaram.

Mônica disse...

"Estamos fartos e enjoados de africanos e brasileiros, queremos evoluir e não ser cicerone dessa gente na Europa. Basta de terceiro-mundismos."

Eu, que sou brasileira e estou me organizando pra ir morar em Portugal, me assusto (na verdade me espanto... sou "cascuda" demais pra me assustar com qualquer coisinha) quando leio este tipo de frase...

dragão disse...

Ñão se espante nem se assuste que não é caso para tanto, cara Mónica.
Esta rapaziada não morde. Só querem evoluir.
Posso garantir-lhe que tanto eu como o Engenheiro Ildefonso Caguinchas (desse então é melhor nem falar) estamos prontos a recebê-la de braços abertos. Compensamos com a nossa xenofilia selectiva toda a xenofobia destes catraios snobes.

:O)

Caturo disse...

Pior que errar é repetir o erro de considerar as relações com o terceiro mundo dos PALOP e Brasil como desígnios nacionais, a pensar que nós, os portugueses, teremos alguma vantagem no mercado, só pelo facto de sermos portugueses e termos uma língua em comum, e as tais relações de afinidade.

(...)

Muitos são forçados a trabalhar no estrangeiro porque o mercado português está saturado de imigrantes, que os PALOP e Brasil quiserem despejar em Portugal. O povo Português obrigado a aturá-los e a aceitá-los em nome das relações de afinidade e demais relações privilegiadas que devemos ter em nome da imagem de Portugal nesses países – desígnio nacional de certa elite visionária.


Ora nem mais. É tempo de entender de vez que Portugal, pobre ou muito pobre, é, e sempre foi, uma nação europeia, tão europeia como as outras nações da Europa, e que as ligações às ex-colónias não trazem necessariamente nada de bom, aliás, têm sido bem mais negativas do que positivas, e nada indica que este panorama venha a alterar-se. Acresce que a imigração vinda de África, e mesmo a maioria da que vem do Brasil, pode, com todas as vantagens e sem qualquer desvantagem, ser substituída pela de leste - e nas vantagens incluo a da língua: efectivamente, os imigrantes ucranianos, russos e romenos (especialmente estes últimos) aprendem o idioma luso em três tempos, falam-no fluente e correctamente e não introduzem expressões estranhas à cultura nacional (pelo menos por enquanto).

Quanto às elites referidas pelo/a Europa 2007...
Não se venha dizer que o problema maior reside no «atraso do povo», porque o único defeito - e bem grave - que a populaça demonstra sobejamente neste contexto é a sua excessiva tolerância para com a elite instituída, que despreza o País e sente repugnância pelo Zé Povinho, tratando-o abaixo de cão, sem que receba o devido castigo. Não há outra explicação para o obsceno fosso salarial «tuga», que mostra tendência para aumentar, contrariando aqui a tendência europeia, que vai no sentido da diminuição das desigualdades.

E o «povinho-que-horror-que-fétido-nos-transportes-públicos-e-leva-garrafão-de-cinco-litros-para-a-praia-e-ouve-a-Rute-Marlene», quando está nos outros países europeus, não se mostra quase sempre exemplar, nunca ou raramente ficando abaixo daquilo que se lhe exige no campo laboral, e, nalguns casos, dando exemplo de competência e dedicação?

Porque será que as elites estrangeiras tratam melhor estes trabalhadores portugueses do que as próprias elites «tugas»?

lusgon disse...

Eu cá acho que só os calões é que têm medo da imigração...

Caturo disse...

Seja quem for que tenha medo da imigração, só os apátridas por natureza é que acham que um País é assim a modos que uma empresa cujo objectivo é alcançar o lucro, ou, para reproduzir o linguajar de tais «destemidos», o «sucesso».

Caturo disse...

E, numa empresa desta natureza, o que interessa é que o empregado dê bom rendimento, pouco interessando a sua cepa ou raiz...

Os capatazes e os capados de tal doutrina é que gostam muito da imigração.