sábado, fevereiro 11, 2006

Babilónia

«Ó Zaratustra, esta é a Grande Cidade; aqui nada tens a buscar, mas tudo a perder.
Porque virias chafurdar nesta lama? tem piedade dos teus pés. Mais vale que cuspas na porta da cidade, e sigas o teu caminho.
Aqui é o inferno para os pensamentos dos solitários; aqui os grandes pensamentos são fervidos em vida e reduzidos a caldo.
Aqui apodrecem todos os grandes sentimentos; aqui apenas se autoriza o leve tinir de sentimentos menores, inteiramente descarnados.
Não sentes, já daqui, o cheiro dos matadouros e das espeluncas do espírito? Não exala esta cidade um aroma de espírito massacrado?
Não vês as almas como trapos moles e sujos? E desses trapos ainda fazem jornais!
Não ouves que o espírito não passa aqui de um jogo verbal? Aqui, ele vomita uma repugnante zurrapa de palavras. E desse vómito ainda fazem jornais!
Perseguem-se mutuamente sem saberem para onde vão. Excitam-se uns contra os outros sem saberem porquê. Fazem tinir as suas latas, tilintar os seu oiro.
(...) Cospe sobre esta cidade das almas aviltadas e dos peitos estreitos, dos olhos penetrantes, dos dedos gordurosos - sobre esta cidade dos importunos, dos impudentes, dos escribas e dos vociferadores, dos ardentes ambiciosos - onde fermenta, numa mesma purulência, tudo o que é cariado, desacreditado, lascivo, turvo, sorvado, purulento clandestino - cospe sobre esta Grande Cidade e segue o teu caminho!»

- Nietsche, "Assim falava Zaratustra"

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