Devolvido ao reino animal, sujeito às leis mecânicas da restante bicharada, o homem torna-se apenas um espécime mais desenvolvido -um animal superior - cuja alma é produto apenas do seu corpo. Por um lado, isto significa que o homem se torna "o animal doméstico de si próprio"; por outro, que adquire as características típicas dos animais domésticos, designadamente, a raça. Podem, assim, e doravante, criar-se e melhorar-se homens como se criam e melhoram cães, ou cavalos, ou ovinos. Este será o fascínio de Francis Galton, primo de Darwin e pai da eugenia. Mas juntamente com ele, em paralelo com ele, ou movidos de semelhante axiomática, na senda da nova antropologia racial, outros peregrinos avançam. Especialmente na Alemanha, onde Haeckel estabelecera a história do homem como mero fragmento da história do mundo orgânico. Como é o caso de Woltmann. Abandona os elementos psico-culturais em prol da estrutura física. Condena o método de escrever história como relato da evolução das instituições e ideias políticas. Advoga, ao invés, uma modalidade que proporcione uma descrição da evolução das diversas raças humanas. Segundo ele, estas encontram-se tão sujeitas às leis naturais - hereditariedade, variação, adaptação, selecção natural, hibridismo, progresso e decadência - quanto quaisquer outros organismos vivos.
No virar do século, Woltmann, que estudara com Haeckel, é tido como o campeão da ideia da "raça nórdica superior", cuja defesa e manutenção propala na revista racista Politisch-anthropologische Revue, por ele próprio fundada em 1902. Antes disso, em 1900, participa no concurso académico patrocinado por Alfred Krupp, sob o tema: "O que podemos aprender dos princípios do Darwinismo para aplicação ao desenvolvimento político interno e às leis do Estado?"
Em obras posteriores, todavia, esforça-se por fundir as ideias de Marx com as de Haeckel. Embora crítico das posições deste em relação ao socialismo, aceita a sua tese fundamental que estipula um paralelismo exacto entre as leis da natureza e as leis da sociedade. A partir daí, Woltmann transforma o conceito marxista da "luta de classes" no conceito mais darwinizado da "luta mundial de raças". E é a essa luz que descreve os alemães como o padrão mais elevado da humanidade. Segundo ele, a suas perfeitas proporções físicas expressariam uma superior intelectualidade e um espiritualidade mais profunda. Avisa dramaticamente contra as misturas, nefastas contaminações que só podem causar a deterioração desta raça superior.
Outro antropólogo racial alemão, ainda mais próximo do social-darwinismo de Haeckel, é Otto Ammon. Acredita igualmente que as leis da natureza - luta pela existência, desigualdade, etc - são as leis da sociedade humana. Na senda de Haeckel, advoga que o Darwinismo deve tornar-se a nova religião alemã. E vaticina que, graças ao monismo evolucionista, chegará o dia em que filosofia e religião chilrearão de contentamento e unanimidade. Acredita também que a "luta de raças" traduz uma necessidade de apuramento da espécie humana. Apenas quando as raças mais débeis desaparecerem, diagonstica, poderá extrair-se o cabal benefício de todo esse formidável processo para toda a humanidade. Naturalmente, Ammon também reconhece nos alemães o exemplo acabado da superioridade racial e sugere mesmo um retorno à matriz tribal alemã, de vitalidade brava ainda não arrefecida pelos equívocos da civilização cristã.
Galopantemente, portanto, a ciência deslumbra-se com o invólucro humano. Mais importante e determinante que a alma, outrora legada por Deus, torna-se agora a embalagem fabricada pela natureza. A aventura iniciada no Homo-faber medieval atinge finalmente o seu desenlace lógico: a Homo-factura. O pensamento pode medir-se e avaliar-se agora a peso -da massa encefálica -, e a metro - da caixa craneal. De Lapouge, outro destes prospectores visionários da raça, di-lo expressamente em 1888, na Revista de Antropologia, sob o título "A hereditariedade na ciência política": "Quase todos os grandes homens pertencem à raça dolicocéfala, de cabelo louro, ainda quando alguns pareçam pertencer a outro povo. Não me surpreenderia que a cultura desenvolvida por algumas outras raças, se deva à circunstância de se terem misturado elementos dolicocéfalos de cabelo louro com outros de sangue mais espesso, mistura, essa, que foi dissimulada pelo passar do tempo. Esta mesma raça de cabelo louro constituía provavelmente a classe dirigente do Egipto, Caldeia e Assíria. O facto está quase demonstrado para a Pérsia e para a Índia, e é possivelmente certo na antiga China. A sua importância na civilização Greco-Romana está praticamente demonstrada, e nos tempos modernos a influência das diversas raças vivas é directamente proporcional ao número de dolicocéfalos louros nas classes dirigentes da sua população. Desta raça provêm os elementos gauleses e francos que propulsionaram o esplendor da França; o mesmo povo dava vida e movimento às massas na Alemanha.»
Finalizo com um excerto duma obra publicada em 1899. Haveria de tornar-se um dos alicerces teóricos da arquitectura mental do Terceiro Reich... E qualquer derivação de todo este húmus que vimos analisando não é pura coincidência.
«Não falo de teorias, discuti-las-ei mais adiante; mas seja qual for a forma que a teoria assuma, daqui em diante será sempre “mecânica”, isto é, a inexorável exigência do pensamento Teutónico, pois apenas assim pode ele manter o mundo externo e o mundo interno agindo e reagindo beneficamente entre si. Isto é tão constantemente verdadeiro a nosso respeito que eu não posso de maneira nenhuma perspectivar a doutrina do mecanismo como uma “teoria”, e, consequentemente, como pertencendo à “ciência”: penso que devo antes vê-la como uma descoberta, como um facto estabelecido. O filósofo pode justificar isto, mas o progresso triunfante das nossas descobertas tangíveis é suficiente garantia para o homem comum; pois o pensamento mecânico, fielmente seguido, tem sido, desde os primórdios até hoje, o fio de Ariadna que nos tem guiado seguramente através das inúmeras vias do labirinto do erro. (…) Aquilo que no mundo da experiência empírica nos tem conduzido e nos continua a conduzir para fora das trevas e na direcção da luz foi e continua a ser a nossa firme adesão ao mecanicismo. Através disto – e apenas disto – adquirimos uma massa de percepções e um comando sobre a natureza jamais igualados por qualquer outra raça humana.
O mecanicismo na filosofia e o materialismo na religião são eternamente irreconciliáveis. Aquele que interpreta mecanicamente a natureza empírica, tal qual esta é percepcionada pelos sentidos, adquire uma religião ideal ou nenhuma religião; tudo o resto é consciente ou inconsciente auto-decepção. O Judeu desconhece qualquer tipo de mecanicismo: desde a criação ab nihil até aos seus sonhos dum futuro messiânico, tudo nele revela o regime livre duma arbitrariedade toda poderosa; essa é a principal razão porque ele nunca descobriu nada; para ele apenas uma coisa é essencial: o Criador; isso explica tudo. As noções mágicas e místicas sobre as quais se baseiam todos os nossos sacramentos eclesiásticos, assentam num plano ainda mais baixo de materialismo; pois eles significam principalmente uma mudança de substância e são, por conseguinte, nada mais nada menos que alquimia das almas. O mecanicismo consistente, em contrapartida, como nós, Teutões, o criámos e do qual já não podemos mais escapar, é compatível apenas com um ideal puro - isto é, transcendente - de religião, como aquela que Jesus Cristo ensinou: o Reino de Deus está em vós. A Religião para nós não pode ser relato crónico, mas apenas experiência – íntima e directa experiência.
O mecanicismo na filosofia e o materialismo na religião são eternamente irreconciliáveis. Aquele que interpreta mecanicamente a natureza empírica, tal qual esta é percepcionada pelos sentidos, adquire uma religião ideal ou nenhuma religião; tudo o resto é consciente ou inconsciente auto-decepção. O Judeu desconhece qualquer tipo de mecanicismo: desde a criação ab nihil até aos seus sonhos dum futuro messiânico, tudo nele revela o regime livre duma arbitrariedade toda poderosa; essa é a principal razão porque ele nunca descobriu nada; para ele apenas uma coisa é essencial: o Criador; isso explica tudo. As noções mágicas e místicas sobre as quais se baseiam todos os nossos sacramentos eclesiásticos, assentam num plano ainda mais baixo de materialismo; pois eles significam principalmente uma mudança de substância e são, por conseguinte, nada mais nada menos que alquimia das almas. O mecanicismo consistente, em contrapartida, como nós, Teutões, o criámos e do qual já não podemos mais escapar, é compatível apenas com um ideal puro - isto é, transcendente - de religião, como aquela que Jesus Cristo ensinou: o Reino de Deus está em vós. A Religião para nós não pode ser relato crónico, mas apenas experiência – íntima e directa experiência.
Durante quantos mais séculos teremos que arrastar o grilhão da fraude consciente de acreditar em absurdos como a verdade revelada? Não sei. Mas espero que não seja por muito mais. Pois o desejo ardente de religião está a crescer tão forte e imperiosamente nos nossos peitos que, necessariamente, chegará um dia em que esse anseio derrubará o carunchoso e obscuro edifício, e então nós sairemos para o novo, brilhante e glorioso reino que há muito nos aguarda. Essa será a coroa para o trabalho teutónico da descoberta.»
- Houston Stewart Chamberlain, "Foundations of the Nineteenth Century" (trad. livre)
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