sábado, novembro 10, 2007

A Volúpia ao espelho - Peça num acto e várias cenas

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Cena 1

Josué recebe Samuel e Esther, pela primeira vez, em sua casa. Na qualidade de anfitrião, apresenta o domicílio às visitas...

Josué - O meu escritório!... Aqui é o nosso quarto!... E este é o quarto do Davidezinho.
Samuel - Oh, espaçoso!... E que belas suásticas na porta!...
Josué - Pois, o pequeno David é um excelente aluno. Já está no primeiro ano do Simulador de Anti-semitismo. É o primeiro da idade dele a consegui-lo.
Samuel - E que excelente caligrafia que ele tem!...
Josué (vaidoso) - De facto. No outro dia, o rabi Isaías até o destacou diante da comunidade. Como prémio, deixou-o dactilografar nas paredes do cemitério. Diz que se continuar assim, no Yom Kipour até pode assinar uma campa.
Esther - Que inveja! O vosso filho é um predestinado. Já o nosso Daniel saiu ao pai e lá continua a marcar passo no Monopólio.
Samuel - É, não sai da prisão. Suspeito que os dados não são "kosher".
Esther (viperina) - Já eu suspeito da tua mãe e da mãe dela.
Samuel (agastado) - E tu que não embirrasses com a mãezinha!...
Josué - Calma, meus amigos. Se calhar vocês não estão a estimulá-lo devidamente. Se não os habituamos a vandalizar desde pequeninos, depois custa mais. Os bons hábitos adquirem-se desde a mais tenra idade. O nosso David ainda tinha dois anos e já se auto-flagelava na perfeição.
Esther (sempre viperina) - O nosso Daniel só aos quatro anos conseguiu imaginar o seu primeiro nazi! Tudo por culpa do Samuel, que é um ortodoxo e acha que não deviamos poluir com porcarias a mente das crianças!
Josué - Erro crasso, meu caro. A capacidade de imaginar e inventar nazis é fundamental. Sem esse poder conceptual da mente, nada feito! O nosso David foi habituado, desde o berço, a sentir-se acompanhado de hordas negras. Devidamente fardados de SS Totenkopf todos eles. Às vezes, quando não conseguia dormir, porque se sentia sozinho, desameaçado, eu ia lá tranquilizá-lo. Garantia-lhe que havia pelo menos um batalhão emboscado debaixo da cama, duas brigadas de extermínio no armário e uma companhia motorizada de prevenção na casa de banho. Era remédio santo. Dormia que nem uma vítima do Holocausto.
Esther (cada vez mais venenosa) - O nosso Daniel, por causa dos anacronismos do pai e da estirpe duvidosa da avó, no outro dia até esboçou uma certa dúvida de que o Mundo tivesse começado no Holocausto. Intrigavam-no rumores sobre uma grande explosão...
Josué - Meu Deus, um ateu em potência!...
Esther - Foi o que eu disse ao Samuel. Pões-te com ortodoxias obsoletas e o teu filho ainda acaba a ir à Igreja.
Josué - O Holocausto lavou todos os nossos pecados. Santificou-nos a todos. É fundamental que eles bebam isso com o leite materno.
Esther - Pois é. Mas o teimoso do meu marido, assessorado pela mãe dele, acha-se imune ao progresso, marimba-se nas novas pedagogias.
Josué - O melhor é fazerem uma peregrinação a Auschwitz. A fé, quando sincera e ginasticada, tem poderes milagrosos. Com a pequena Judite, dos Flinstein, resultou. Veio de lá curada. Agora já acha que todos os meninos gentios do bairro são seres inferiores que têm inveja dela e planeiam exterminá-la.
Esther - Apesar dos meus esforços, o meu Daniel brinca com os outros miúdos do bairro. E nenhum o odeia. É uma vergonha."Vais ser um Zé Ninguém na vida", farto-me de admoestá-lo. Ralo-me. Em vão. Até o rabi Isaías desespera. A semana passada, chamou-me e disse-me, em tom fúnebre: "no hebraico lá avança, com dificuldade. Mas não há maneira do Desprezo lhe entrar na cabeça!..."
Josué - Ah, felizmente que o meu David por onde passa deixa um rasto de ódio, aversão e fobia muito prometedor. Tem uma capacidade conceptual prodigiosa. Ansiamos pela hora em que passe do simulador à realidade. E até já sabe preencher impressos de queixa e relatórios de denúncia na perfeição. E está a desenvolver uma destas susceptibilidades!... E quando o circuncisámos, vacinámo-lo logo contra todo o sentido de humor. Medida crucial, reitero-vos: o riso, esse inimigo do negócio, também é preciso desencorajá-lo desde bebézinhos. Se bem que no caso dele, nem requereu grande trabalho: é de índole patibular desde a barriga da mãe. Nasceu já sanhudo e de celho carregado, com ar de quem todos lhe devem e ningém lhe paga o suficiente. Um pai não podia pedir melhor a Deus.
Esther - Que felicidade e bênção a sua!...
Samuel - E tem imenso jeito para o desenho, não me canso de admirar... Então aquele Adolph Hitler grafitado ali à cabeceira da cama até dá arrepios!... No mínimo, vai ser artista.

(Entretanto, chegam defronte da casa de banho. Ao abrirem a porta, dão de caras com o pequeno David, ao espelho, a acabar de rapar o cabelo e a preparar-se para desenhar uma suástica na cabeça).

Josué (ufano) - Ah, cá está o meu pequeno génio!... Está na hora de jantar, meu filho. Não te demores!
David - Vou já, papá. Estou só a acabar de fazer os trabalhos de casa.

20 comentários:

Anónimo disse...

SILÊNCIO CULPADO disse...
Perante uma grande sacanice que está a ser feita sobre alguns professores que não recebem vencimento,têm horários d e12 horas ou estão a recibos verdes sugere-se que todos os blogues publiquem a notícia que está no http://cegueiralusa.blogspot.com

zazie disse...

ahahahahah

Que coisa mais louca.

"Já o nosso Daniel saiu ao pai e lá continua a marcar passo no Monopólio.

Assim não vale, eu bem queria trabalhar

":O))))

Anónimo disse...

O que estraga tudo é a porra das maiúsculas no holocausto.Quanto ao resto,até fiz chi-chi nas calças.

Arrebenta disse...

Querem mais volúpia?...
Vamos a uma coisa que não precisa de interpretações.
Você sabe que o Concurso de Titulares da Sinistra Lurdes Rodrigues colocou gente com duvidosa habilitação, equivalente a um 12º Ano mal tirado, no Topo da Carreira e a custar 2000 e tal €/mês?...
Pois leia:

http://asvicentinasdebraganza.blogspot.com/2007/11/mestres-mestrandos-mestranos-amestrados.html#links

Anónimo disse...

o anti-semitismo é um fenómeno de natureza económica e social que reaparece em situações de profundos conflitos de classe.

Não há uma questão judaica: há uma questão económico-social, ou, mais clara e simplesmente, uma questão social que se agita com a máscara de lutas religiosas nacionais e raciais.

Anónimo disse...

"Josué - Ah, felizmente que o meu David por onde passa deixa um rasto de ódio, aversão e fobia muito prometedor. Tem uma capacidade conceptual prodigiosa. Ansiamos pela hora em que passe do simulador à realidade. E até já sabe preencher impressos de queixa e relatórios de denúncia na perfeição. E está a desenvolver uma destas susceptibilidades!... "

eheheheh

para quando a cena 2 !!????

Anónimo disse...

"Esther (cada vez mais venenosa) - O nosso Daniel, por causa dos anacronismos do pai e da estirpe duvidosa da avó, no outro dia até esboçou uma certa dúvida de que o Mundo tivesse começado no Holocausto. Intrigavam-no rumores sobre um grande explosão...

Josué - Meu Deus, um ateu em potência!..."

fenix!!
para quando a cena 2 !!!???

Anónimo disse...

Estes diálogos fazem-me imenso tesão.Isso e imaginar o "proletas vermelhusco" a ser enrabado por um sefardita.

Anónimo disse...

Sefardita deu safardana.O povo,na sua sabedoria simples,dá sempre voz à verdade.Marrano = a porco é mais directa.

lusitânea disse...

Bela provocação.A malta já deve ter enviado a queixa para o tribunal inquisitório de bons comportamentos...
Força Dragão.Dá cabo dos chulecos candidatos a bufos.

Anónimo disse...

o rebarbado vem-se de cada vez que sonha que o karl marx lhe está a ir ao cú

pensa que os outros têm os mesmos gostos

Anónimo disse...

Se não me engano o Pruletas velmelhucho é o Flácido: só pensa em pilas e cus!

Foi quando tentou engatar o mário machado que levou logo nos cornos e a partir daí deixou de gostar dele. Juntou-se ao mijado Da Oliveira e foram os dois queixar-se de discriminação racial.
...

...

E viva o Rei Da vida (e da noite) do P. Edu. VIII.
Sai da Sina(com)droga e vai todo feliz entregar o orifício em sacrifício a ya-o-vhélho no P. Edu. VII.

Anónimo disse...

... do P. Edu. VII ... (obviamente)

Flávio disse...

«O que estraga tudo é a porra das maiúsculas no holocausto...»

Nazis mestiços. De que mais se lembrarão a seguir?

Anónimo disse...

Maiúsculas só pela tua peida acima,flávia paneleira.

Flávio disse...

Faço as panelas e tu dás o cu por elas.

Flávio disse...

http://ecurioso.blogs.sapo.pt/arquivo/nazi%20estupido%20.jpg

Anónimo disse...

Hahahaha! Fabuloso!

Anónimo disse...

Não foi o David o das suásticas (no cemitério), foi o Isaac.

Anónimo disse...

Eheh, uma delicía!