No JN, informam-nos que a "maioria das depressões não é tratada por peritos". É claro que não, até porque, em Portugal, praticamente, não existem peritos para tratar de depressões. O que existe, em barda, em catadupa, em viveiro permanente, são peritos em criar depressões: economistas, políticos, jornalistas, politólogos, comentaristas pantófagos e humoristas, entre outros. E fora os meteorologistas.
Quando apontam os psiquiatras como peritos estão claramente a mangar connosco. Os psiquiatras não são peritos, são especialistas. Não no tratamento, mas no desenvolvimento e rentabilização das depressões. Compete-lhes zelar para que cresçam saudáveis e viçosas. Supervisionam a sua nutrição e cultivo.
Resulta disto que os deprimidos mais lúcidos mas menos abonados recorram, geralmente, à auto-medicação, tentando, entre outras panaceias, a taberna mais próxima. Já os mais abonados recolhem-se, por costume, a uma casa de alterne que não exija sufrágio universal, nem filiação partidária.
Alternativa vantajosa ao psiquiatra, para o jet-set, é a bruxa. É igualmente charlatã, mas imensamente mais pitoresca. E o paciente não paga para ainda ter que ser ele a contar a história. Com a nigromante, arrota, mas, ao menos, escuta um monte de histórias. Cada fita mais fabulosa que a anterior. E não é só ele que arrota: ela também. Arrota, ronca, gargafunga. Imita vozes cavernosas. Cavaqueia com os espíritos e convoca congressos de defuntos. Em suma: uma one-woman show. "Belo circo!", congratula-se o paciente à saída. "Dei-lhe mais vinte euros e ainda me ordenhou", gabou-se o Engenheiro Ildefonso, um dia destes, no rescaldo satisfeito duma dessas visitas. -"Mãozinhas milagreiras!" Terapia obscena? Mas, estou em crer, plenamente eficaz. Ele não me pareceu nada deprimido. É certo que também não estava antes, mas podia muito bem tê-lo ficado depois. Como, aliás, e amiúde, acontece. Basta imaginar-mos um desbraçado qualquer diante daquela fronha olheirabunda do Dr. Daniel Sampaio... Até o Conde Drácula, quase garanto, seria mais animador. Pelo menos de papo cheio não teria aquele aspecto macilento dum onanista zombi. Meia hora nas imediações dum psica-veterinário de tal envergadura e fica o assunto arrumado. Ou seja, um gajo entra deprimido e, à falta de eutanásia portátil ou duma janela aberta, sai directo à ponte ou passagem de nível mais próxima. Macacos me mordam se o figurão não tem uma avença choruda com a Servilusa.
Bem, mas perguntar-me-ão, "agora a sério, ó Dragão, então não existem mesmo genuínos peritos no tratamento de depressões em Portugal?". Existem, claro que existem. Mas são cada vez mais raros. E caríssimos! Balurdiosos! Um bom ponta-de-lança, por estes dias, custa uma fortuna. E nunca se sabe se não vai estranhar o clima. Ou a alimentação.
20 comentários:
“Uma convicção baseada no facto de 70% dos que colocaram fim à vida, em média, terem procurado o médico de família seis semanas antes desse acto.”
Fôsca-se. Ainda dizem para irmos ao médico de família...
Carlos
Eis um post verdadeiramente anti-depressivo.
Um leitor assíduo
vai-te foder ó anónimo
já tinha saudades destes posts do dragão
(quando não anda atormentado com os fantasmas dos judeus, este gajo escreve os textos mais humorísticos da blogosfera)
mijei-me a rir
Impõe-se uma correcção nada despicienda, ó Glutão das Hóstias: não sou eu que ando atormentado com o fantasma dos pedantes (judeus, ateus, europeus, tugueus e matateus); acho que é mais o contrário.
A Hidra da Pedantícia supremacionista tem muitas cabeças, mas há uma que, talvez por ser a primogénita, é particularmente sensível.
Já tive oportunidade de explicar aqui uma regra sagrada do kung-fu: acertar sempre onde dói mais. Não tenho culpa se tinhas ido ao confessionário e não ouviste a lição.
Caro Dragão, só não concordo nada é em juntar os matateus, aos outros 'eus'... Mais respeitinho ao Matateu sff :)
Eram matateus com "m" minúsculo e não maiúsculo, naturalmente. :O)
Não tinha dúvidas quanto à diferença, caro Dragão. Mas só porque este é um espaço de grande frequência (e fazem bem os visitantes), fico assim mais descançado... :O)
Seja qual for o assunto, o dragão faz sempre postas absolutamente hilariantes, excepto quando quer falar a sério.
Eu, pelo menos, farto-me de rir.
A propósito, o "cospem. Lhe." deixou-me às gargalhadas. É o meu reflexo condicionado a funcionar, também... só tenho pena de ter que me comedir um bocadinho, agora. Mas vou lá chegar, aos poucos.
Caro Dragão.Faça saber ao engenheiro Ildefonso que mamada é muito melhor que ordenha.Principalmente com a avançar da idade...
Fabuloso. Chega como comentário, mas ainda assim, uma perguntita:
Esses significados rebuscados, vêm de um petit dictionaire de sinónimos ou
é só do Houaiss?
Que a observação não desmereça, porque o texto é dos melhores que tenho lido.
O que me chateia, é ler tanta canalha que nada tem para escrever de jeito, nos jornais diários, quando seria bem preferível abrir um Público, ou um outro pasquim legível e apanhar com uma dose de escrita, bem humorada, como estas.
Anda um tipo a folhear os jornais, para apanhar com textículos resumidos e raquíticos, quando poderia ler-se a incandescência da habilidade na escrita.
A secção anti-psquiatria do Proletário Vermelho tem a honra de convidar o Exmo. Dragão a inscrever-se n'O Proletário vermelho (secção anti-psiquiatria).
Com efeito, a denúncia do camarada Dragão trouxe uma grande contribuição teórica para a luta da classe operária (ver a este propósito a já clássica obra cinematográfica "A Classe Operária Vai ao Paraíso", em que a dimensão e a utilidade da luta anti-psiquiátrica no quadro da revolução popular em curso ficou bem demonstrada).
Com efeito, graças ao contributo intelectual de importantes teóricos (aos quais se junta agora, em boa hora, o camarada Dragão) tem-se tornado evidente que a travadinha é o resultado da intensa luta de classes em curso.
Como ficou demonstrado pelo camarada Franco Basaglia (e pelos camaradas Laing, Cooper e Szasz) a maluqueira é o resultado da opressão da classe dominante e a revolução passa necessariamente por pôr todos os loucos furiosos na rua. A burguesia que cuide dos doentes que fabrica: "Quem fabrica os seus loucos que cuide deles."
Caro o camarada Dragão assim o deseje também pode militar na secção dos loucos furiosos da secção anti-psquiatria do Proletário Vermelho. Com efeito, os camaradas intelectuais acima indicados refrenciam que, dado que os loucos são a classe mais oprimida pela cultura burguesa, devem também ser eles a vanguarda revolucionária, os educadores do povo. A título pessoal, teria aliás imensa honra em conceder-lhe o título de Grande Educador Dos Que Ainda Não São Loucos Mas Para Lá Caminham.
Caro Anónimo das 4.03,
julgo que nessa matéria, nem Vosselência nem eu tenhamos algo para ensinar ao Engenheiro Ildefonso. Acontece que a profissional do Além em causa era senhora de rigorosas tabelas e o dinheiro que ele tinha dava para mais que o manuseamente voluptuoso das mamas, mas não chegava para o felatio simples. Ele, porém, galifão impenitente, garantiu-me que, em duas ou três novas investidas, ainda lhe há-de (na terminologia dele, sublinho) "papar a bilha". À borliu! Suponho que, com isso, quer significar que lhe vai subtrair o gás. Capaz disso é ele. E de muito mais.
Pois é mesmo fabuloso e um autêntico desperdício não vir nos jornais.
- dizia-me ontém o meu irmão ao telefone. O desgraçado também é leitor diário, aqui da casa e eu nem sabia.
eheheh
Caro José,
No vertente caso, nem uma coisa nem outra. Foi directo da tola. Não quer dizer que essas ferramentas não se devam usar, ou desmereçam quem as use -excepto, naturalmente, os junkies patológicos como a Agustina -, mas isso requer tempo. Luxo que eu cada vez tenho menos.
Em todo o caso, fica a curiosidade: há umas décadas atrás, um dos livros que eu li de fio a pavio, pausadamente, foi o Dicionário da Língua Portuguesa. É uma ginástica que recomendo.
PS: Conhecimentos de grego clássico também ajudam.
"O que me chateia, é ler tanta canalha que nada tem para escrever de jeito, nos jornais diários, quando seria bem preferível abrir um Público, ou um outro pasquim legível e apanhar com uma dose de escrita, bem humorada, como estas.
Anda um tipo a folhear os jornais, para apanhar com textículos resumidos e raquíticos, quando poderia ler-se a incandescência da habilidade na escrita."
assino por baixo
LLoooooooooooooooooooooooolllll!!!!
Apelidei-os (psiquiatras e afins) de pedófilos da mente, não sei se vai ao teu encontro...
Gostei do(s) texto(s)
Elypse
"Pedófilos da mente" não está mal apanhado. Se bem que "pedófagos" também não ande longe da realidade.
Isso já remete para os intelectuais - os tais analfabetos que resultam do excesso de cultura ;)
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