O Basilisco, como o descreve a mitologia, era um réptil fabuloso que "matava com um simples olhar, ou com o bafo, qualquer pessoa que se aproximasse sem o ter visto e ter sido ele o primeiro a ver." Mas é a sua origem que é especialmente sugestiva e, para o que adiante veremos, nos interessa. Diz a lenda que teria nascido, o pérfido sujeito, dum ovo de galo velho, ovo todo ele redondo, depositado no estrume e incubado por um sapo ou uma rã.
Poderíamos enxertar esta fábula no epílogo duma outra bastante mais conhecida - aquela das rãs que pediam um rei a Zeus. Desdenhosos da tábua e escaldados com a cegonha, os batráquios clarividentíssimos terão, em seguida, cortado relações com o divino, dispondo-se, após geral conciliábulo, a tratarem elas próprias do assunto. Foi então que desencantaram, sabe-se lá vindo donde, um ovo perfeitamente redondo, misterioso, interessante e, com o espírito empresarial que as caracteriza -e distingue sobre toda a criação -, puseram-se a chocá-lo. Iam parir, mais que um rei, um imperador perfeitabilíssimo e de todo conforme aos seus ancestrais anseios - pelo menos, foi o que anunciaram, em delírio, aos quatro-ventos e respectivos catadores. E se o proclamaram, melhor o fizeram: formaram filas e turnos e, sem descanso nem hesitação, colocaram traseiros à obra. Não sei se demorou dias, horas ou séculos. Certo é que ele nasceu, o basilisco (um primo meu muito afastado, a ovelha mais que ranhosa da família).
-"Ahh!... - deslumbraram-se todos, rãs e sapos, ao presenciarem a eclosão de tal portento - Agora sim, agora é que vai ser. Finalmente chegou quem vai olhar pela nação!..."
Não sabiam que era um basilisco pelo que o baptizaram com outro nome, mais a seu gosto. Chamaram-lhe Estado.
Quereis uma moral? Dou-vos um conselho:
É importante olhar para ele... Antes que ele olhe por nós.
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