quinta-feira, maio 27, 2004
EFEMÉRIDE MALDITA
Em 27 de Maio de 1894, pelas 16 horas, faz hoje cento e dez anos, nascia um senhor que viria a escrever uma das mais geniais obras literárias do século XX:
"Voyage au bout de la Nuit".
Podia não ter escrito mais nada. Ter-lhe-ia bastado para ascender onde apenas raros génios da literatura perduram -Rabelais, Sterne, Swift, Sade, Cervantes, Shakeaspeare, Dostoievsky, Quincey, Huysmans, Goethe, Pessoa... (Homero? Sofocles? Esquilo? - Esses não estão nos Campos Elísios: estão no Olimpo).
Mas é de Luis-Ferdinand Céline que falo. Um iconoclasta, num tempo de fariseus santificados. Escarrou nos altares e no egozinho liberal dum pseudo-humanismo burguês. Os burgueses não lhe perdoam. Dizem que foi anti-semita. Dostoevsky também foi e ninguém fala disso. Quero que os burgueses se fodam! E mais as suas mesquinharias liliputianas! E sobretudo os beatos sonsos de todas as paróquias! Lá, no alto do seu batel, em Céline, é a bandeira negra dos piratas que tremula. E isso basta-me. É a "Viagem" que fica, é a "Viagem" que conta, e essa leva-nos desde os abismos aos píncaros da nossa alma. Termina assim:
«Ao longe, o rebocador apitou; o seu apelo ultrapassou a ponte, um arco, ainda outro, a comporta, outra ponte muito longe, cada vez mais longe...Chamava a si todos os lanchões do rio, todos, a cidade inteira, o céu, o campo, e nós, tudo quanto ele arrastava, o Sena também, tudo, e não diremos mais.»
Nem precisavas, ó Céline, raios te partam! Quando se é visitado assim pela musa da literatura, o melhor mesmo é emigrar para outro planeta. Que Deus te guarde!...
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