terça-feira, maio 11, 2004
DA SINARQUIA - I. O Golem
«Quando os meus ossos estavam a ser formados,
e eu, em segredo, me desenvolvia,
tecido nas profundezas da terra,
nada disso te era oculto.
Os teus olhos viram-me em embrião.»
in Bíblia Sagrada, Salmos, 139
Embrião, em hebraico, diz-se "Golem".
Rezam as lendas, que, «na época das cruzadas, os judeus, para se defenderem, criaram essa arma terrível mas incontrolável que foi o Golem.»
Segundo os rabinos, Deus, para criar Adão, demorara 7 dias. Moldara-o a partir de terra (barro) e, ao sétimo dia, insuflara-lhe a vida, soprando-lhe nas narinas. Alguns Santos Talmúdicos teriam, de algum modo, conseguido imitar Deus, animando massas com a força e a forma de um homem...
Para o efeito, moldava-se uma figura, em argila vermelha, da estatura duma criança de 10 anos e, por fim, escrevia-se-lhe na testa a palavra judaica para "vida": Emeth. Feito isto, a criatura animava-se e tornava-se um servo dócil do seu criador, capaz de executar as mais árduas tarefas. Sobrava, contudo, uma pequena contrariedade: o Golem crescia rapidamente, tornando-se um gigante. Conforme adquiria proporções gigantescas, devinha cada vez mais instável e, a limite, descontrolado, podia tornar-se perigosamente destrutivo. A única forma de fazê-lo retornar à matéria informe originária consistia em apagar a palavra "vida" (Emeth) inscrita na testa, e substitui-la pela palavra contrária - "morte" (Meth).
O Golem, naturalmente, para nós, vale como metáfora.
Registem-se, entretanto, dois aspectos que me parecem essenciais: é retirado da massa informe (embrionária); é usado como mão de obra escrava, ou seja: é incutida uma vontade e uma obediência na massa informe.
Além disso, tem o condão de crescer desmesuradamente, até se tornar já não um auxílio, mas uma ameaça.
Podemos conceber a "massa informe" de muitas maneiras: o barro para moldar um ser individual; ou, num outro sentido (se calhar não muito diverso), a "massa humana" -a oclos grega -, a multidão anónima que, de alguma forma, se consegue manipular para um determinado fim -neste caso, de serviço cego ou mão de obra escrava. Em qualquer dos casos, trata-se da extracção a partir da "massa amorfa" duma forma humana, individualizada, que se utiliza para determinadas tarefas.
O resto deixo a cargo da inteligência e da imaginação do leitor.
Acrescento apenas que há por aí estudiosos da "cabala" que reconhecem na demência actual americana alguns traços inquietantes do Golem judaico.
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