Chamam-lhe democracia porque, em tese, o povo é que escolhe, que determina, que elege. Mas mais valia, a bem do rigor e da prática, chamarem-lhe demorreia, já que na verdade o povo não elege, rejeita. É assim entre nós desde 1974 e é assim por esse mundo fora, onde quer que a tranquibérnia fabulosa grasse.
Na primeira vez que fomos às urnas, logo após a golpada florida, tratou-se de rejeitar os comunistas. Depois, rejeitámos, sucessivamente, a "direita", o Bochechas, o Cavaco e, mais recentemente, a Guterrada e os Santanóides. Da próxima, será para deitar ao lixo a actual socratristeza.
Portanto, de eleição a coisa tem muito pouco. Tirando as seitas de apaniguados e amanuenses partidários que, compreensivelmente, lá peregrinam por afazeres profissionais, a generalidade da população não comparece animada de grande intuito ou vocação. Nenhum bem espera desencadear: apenas, por sina, estrebucha para obviar a um mal maior. Por isso mesmo, bem ao contrário de eleger governo, melhor devia dizer-se que aflui para derrubar o governo (mal) eleito. Assim, à demorreia chamam democracia e às rejeições chamam eleições.
Dir-se-ia que, bem no fundo, mais não fazem que replicar, duma forma serôdia e frouxa, a golpada matriz da trôpega cegada. Em resumo, de quatro em quatro anos, derrubam governos. Esporadicamente, nem isso.
8 comentários:
Nem mais...
Pode ser que nas próximas haja surpresas e fiquemos a conhecer a famosa "boa moeda", que já tarda.
Isto acontece porque o que rejeitamos são pessoas e não regimes.
Faz parte na nossa maneira de ser. Nós não nos enganamos porque somos extremamente inteligentes. E sabemos muito bem o que queremos.
Se num restaurante nos servem um bife que nos está a saber mal, chamamos o empregado e pedimos que o cozinhe um pouco mais, eventualmente que o troque por um menos cozinhado.
Trocar de restaurante, ou pedir uma posta de pescada em sua substituição está fora de questão.
Bom texto, boa análise, embora já Karl Popper o tivesse dito. Não sou capaz de reproduzir de memória as palavras exactas, mas ele diz mais ou menos isto: nas chamadas democracias representativas ocidentais, o povo está mesmo reduzido a castigar com o seu voto maus governos e governações.
Aqui no Brasil, a cada novo presidente o povo sente saudades do anterior.
Primeiro derrubamos, depois levamos quatro anos a ver quem é que ficou no lugar dos que derrubamos, damos-lhes o benefício da dúvida e elegemo os que por lá caíram. Passados quatro anos derrubamo-los, e ficamos novamente, por mais quatro anos, a ver quem são os pardais que fanaram o lugar aos que não elegemos, depois elegemo-los....
"Tirando as seitas de apaniguados e amanuenses partidários que, compreensivelmente, lá peregrinam por afazeres profissionais, a generalidade da população não comparece animada de grande intuito ou vocação. Nenhum bem espera desencadear: apenas, por sina, estrebucha para obviar a um mal maior. Por isso mesmo, bem ao contrário de eleger governo, melhor devia dizer-se que aflui para derrubar o governo (mal) eleito. Assim, à demorreia chamam democracia e às rejeições chamam eleições".
Pronto: acabou de definir o propósito da minha existência. Só que eu não o faço com leviandade; pelo contrário, arrogo-me do facto de ser militante entusiasta do derrube de governos. Chamem-me negativista, que eu até gosto. Até estava numa de monarquia e tudo. Só para os irritar um bocadinho, aos filhos do Buiça.
Cum camano!
Enquanto isso os gajos enchem-se sazonalmente. Nunca são responsabilizdos, pelo contrário, acabam a trabalhar para a onu e outas pândegas de faz de conta do mesmo género.
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