Sem mais delongas nem rosarices, vamos à primeira - de Eça de Queirós a Oliveira Martins (em 1884).
«Meu querido Oliveira Martins
Estive ontem ainda bastante incomodado; estou agora à espera do meu doutor; e não creio que possa ainda hoje fazer essa peregrinação de amizade, a Santo Antero e ao bom Lobo. Pois apetecia-me bem esse passeio!
Estou aborrecido com a persistência deste incómodo e indignado por ter descoberto que a sua causa está nestas comidas do Hotel feitas à francesa. Sempre a França e a reles tradução que dela fazemos! Tudo isto se deve à revolução de 89; e eu agora sempre que me dirijo ao water-closet, de calças na mão, vou rosnando as piores pragas contra os Enciclopedistas! Quando voltará este desventuroso país à sua tradição que é o senhor D.João VI, o padre, o arrieiro, o belo caldo de galinha, o rico assado no espeto e o patriótico arroz no forno! Mas não! Querem ser liberais, filósofos, franceses, polidos, ligeiros... Consequência: o País como tu sabes, e eu com soltura há oito dias. Irra!
Vê se me mandas outro Friedlaender (que trate do luxo, das belas-artes, etc). E se fores à Póvoa, dá um grande abraço ao querido Antero e ao velho amigo Lobo.Teu do c.
Queirós»
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