Em democracia, um governo é eleito no pressuposto de representar os interesses da maioria do povo que o elegeu, em matérias de política interna, e os interesses do país que representa, em assuntos de política externa.
As acções dos lobbies, ou grupos de pressão - que podem ser nacionais, internacionais, autárquicos, coorporativos, religiosos, desportivos, etc,etc -, processam-se, no mínimo, a um nível paralelo, numa espécie de mercado negro das influências. A obscuridade, a revelia e o alcance em que todo o processo decorre deveria, no mínimo, a nós, moléculas dum povo supostamente soberano, preocupar-nos, sob pena de acabarmos enclausurados numa sociedade putativamente aberta, mas, na realidade, telecomandada a partir de núcleos secretos e fechados a qualquer escrutínio. Por outras palavras: uma democracia meramente superficial, decorativa, aparente, a mascarar uma criptocracia profunda. E efectiva.
Todos sabemos de alguns lobbies famosos, quer entre nós, quer lá fora, entre os outros. Para consumo interno, a Maçonaria, a Opus Dei, o lobby-gay, o "grupo de Macau", o Sport Lisboa e Benfica, a Liga dos empreiteiros-ao-assalto-da-paisagem, etc, lá vão facilitando acessos e ascensões, sinecuras e mordomias aos respectivos acólitos e associados. E lá vão distorcendo, com efeitos bem notórios (que chegam a ser desavergonhados), as escolhas e expectativas do elitorado. Podemos criticá-los a todos, com contundência à descrição, excepto o lobby gay: se o ousamos é porque somos homofóbicos e sabe-se lá que outras monstruosidades e aberrações soturnas.
Lá fora, nos Estados Unidos, por exemplo, a fauna é bem mais vasta e complexa: o filão justifica-o. Cito alguns exemplos mais notórios: a Mafia, as Petrolíferas, a Indústria de Armamento, as Farmacêuticas, os Think tanks neoconas, os talibãs evangélicos, os sauditas, os ingleses, os cartéis de vários tráficos que pagam eleições e lavam dinheiro em Wall Street, os judeus, etc.
Do mesmo modo, podemos criticá-los a todos, com escândalo e indignação aos molhos, excepto os judeus. Desaba-nos logo o labéu em cima, o pior de todos: anti-semita e, necessariamente, nazi, neonazi, criptonazi, turbonazi, meganazi, islamonazi e por aí adiante.
A argumentação dos patrulheiros de guarda ao tabu assenta em duas linhas predominantes: 1. ou não há lobby nenhum judeu, é tudo teoria da conspiração; 2. Ou, se há, é absolutamente inofensivo, imaculado e angélico, o pobre coitado.
Bem, para se constatar que existe pelo menos um, basta visitar a página da AIPAC (The American Israel Public Affairs Committee) - onde, entre outras preciosidades e apelos enérgicos, em subtítulo, pode ler-se: "America's Pro-Israel Lobby". Outra página interessante a visitar talvez seja o JINSA (Jewish Institute for National Security Affairs). Depois, se não for pedir muito ou constituir tremenda ofensa, basta investigar as relações privilegiadas (para não lhe chamar promiscuidades de vária ordem) destas instituições com os think-tanks neoconas e destes com a Administração Americana, para se ficar com uma panorâmica deveras sugestiva do idílio melífluo que para ali vai.
Quanto a se o que ele faz é inofensivo, caso o nosso estatuto de anti-semita sumário não o interditasse, seria, no mínimo, discutível. Peripécias como esta: « In August 2004, the FBI and the US Justice Department counter-intelligence bureau announced that they were investigating a top Pentagon analyst suspected of spying for Israel and handing over highly confidential documents on US policy toward Iran to AIPAC which in turn handed them over to the Israeli Embassy», que resultaram nisto: "Larry Franklin and Two AIPAC Members Indicted for Espionage", devem passar-se num outro qualquer planeta da Via Láctea.
Uma mera revista pelas notícias dos últimos tempos também nos fornece alguns dados significativos:
Ainda sobre a putativa "inocuidade" do Lobby Santo, um simples relance sobre a política externa americana dos últimos anos, mais as respectivas obsessões com Iraque, Irão e Síria, adicionado à política descarada de dois pesos e duas medidas num conflito (o da Palestina) em que era suposto servir de árbitro (ou polícia), suscitará, no mínimo, sérias dúvidas. A não ser àqueles que partem de preconceitos antecipados e de prévia má fé. Sendo judeus, compreende-se e tolera-se: afinal, estão a pleitear pelos interesses da sua "nação". Não o sendo, só se justifica por um voluntarismo recenseável em três géneros hipotéticos: mercenarismo, ingenuidade ou imbecilidade (passe, num certo sentido, a redundância entre estes dois últimos).
Em todo o caso, o que é sobremaneira bizarro em todo a complexa lógica apologética dos rino-magníficos, cuja aberração se torna cada vez mais evidente, é porque carga de água há-de ter o Lobby Judeu privilégio de excepção. A justificação mais corriqueira flagela-nos com o seguinte: porque foram massacrados pelos nazis, alcançaram uma santidade indubitável e usufruem de prerrogativas únicas. Ora, outros também foram chacinados pelos nazis, ainda em maior quantidade, e, no entanto, ninguém parece disposto a conceder-lhes idênticas benesses. A Humanidade, por todos os continentes e séculos, tem-se entretido, alegremente, com toda a casta de carnificinas e morticínios recorrentes, cíclicos, ignóbeis, e nenhum conjunto de vítimas até à data conseguiu tão providencial estatuto. Regra geral, varre-se para debaixo do tapete. Porquê, então, este carinho especial, este remorso inesgotável, este carpideirismo permanente e descabelado para com o povo eleito? Os mortos deles são mais valiosos que os dos outros?... Grande mistério.
E um dos autores do estudo polémico, um tal Stephen Walt, «will be stepping down in June as academic dean of the prestigious John F. Kennedy School of Government to become an ordinary professor».
É bem feita. E já vai com sorte. Quem o manda meter o nariz onde não era chamado?
Em suma: O Big-Nose Empire strikes back. A Cabala Anti-semita Mundial (na qual, pelos vistos, eu também milito), que se cuide.
Fiquem atentos aos Protocolos dos Nabos de Arião, que lá vem tudo bem explicadinho.
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