"Quando espreitas no abismo, o abismo também espreita para dentro de ti.» - Este sempre foi um dos aforismos nietzschieanos que mais me fascinaram. Até há bem pouco tempo eu contemplava o enigma, como Édipo diante da Esfinge, e estasiava-me, perplexo. Até que uma noite destas, por concessão da musa Insónia, a mais generosa de todas as musas, percebi. Acho que percebi... Eis a tradução: "Tu és o abismo."
"Conhece-te a ti mesmo", prescrevia o Oráculo de Delfos. Quer dizer: "Abisma-te."
"O espanto é o pai da filosofia", reconhecia Aristóteles, na sua "Metafísica". Haverá maior espanto que debruçados no abismo, ou seja, diante de nós próprios?... Tragédia mais terrífica e digna de piedade?...
Tudo está ligado. Tudo eternamente passa e retorna. Tudo. E nós em tudo. Quem tiver olhos que se abisme.
Entendeste, boneco?
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