Os leitores mais antigos sabem que este blogue tem censura. Liberdadices não são comigo. Se eu não censurasse metade das coisas que escrevo, a esta hora já estaria preso. E tal não seria injusto, reconheço. Mesmo assim, surpreende-me como é que o Pacheco Pereira ainda não me mandou prender. Se calhar vai lançar-me uma praga mórbida sobre o primogénito; ou então, um dia destes, chovem-me rãs no quintal. Fico à espera. Mas vamos ao que interessa...
Ocasionalmente, sabem-no também os masoquistas que aqui desperdiçam algum tempo da sua vida infelizmente a prazo, resgato aos arquivos da censura alguns desses textos interditos. Porque sim. Este, aviso desde já as almas mais sensíveis e virtuosas, é um desses. O melhor é não lerem.
Confesso: Eu sou xenófobo. Um filho da mãe dum xenófobo furioso, encartado, impenitente, se querem saber. Incorrigível também. Impenitente, deveras. Podeis ameaçar-me com os tribunais, com as masmorras, com a deportação ou a cicuta, que eu não abdico, não recuo nem um mílimetro, nem um cagagésimo de polegada sequer: Sou xenófobo dos quatro costados! Xenofobíssimo! Mais xenófobo que eu não encontrareis, garanto-vos! Sou devotado à xenofobia! Fundamentalista! Profeta vociferante! Dou urros e esmurro a peitaça, só de matutar nisto!
Pretos? Ciganos? Ucranianos? Marroquinos? Alentejanos ?... –Quem são esses? Uns desgraçados que não têm onde cair mortos, certamente. Não sei porquê (ou então até sei) lembram-me esta nova vaga de portugueses pós-Restauração. Uns tristes à cata de Eldorados, mendigos de aluguer, arrumadores de sonhos alheios em parque de hipermercado global. Exceptuando o Moita Flores e meia dúzia de outras amibas congéneres, que mal me fizeram? Zanzam para aí, com vampiros na garupa, ainda mais frustrados e infelizes que os que pr’àqui se arrastam. Autênticos burros atrás da cenoura, coitados.
Quando muito gostaria que a minha filha não se embeiçasse por nenhum deles. Educo-a nesses louváveis princípios. Anátema extensível, de resto, a americanos, espanhóis, ingleses e outras tribos ranhosas. Considero-os a todos excelentes pessoas, mas vão ser pais dos netos de outro- já que inútil seria recomendar-lhes o retrocesso urgente à cloaca imunda e comunitária que os despejou neste mundo. Sim, insisto: que vão ser família de outro, de preferência, bem longe! Serei xenófobo, mas não sou hipócrita.
Não, nada de confusões: quando digo xenófobo não é apenas asseado, é xenófobo mesmo. Xenófobo a sério, com todas as letras. O que eu não suporto realmente são alienígenas, marcianos, aberrações oriundas de outro planeta, constelação ou galáxia. E isto está a ficar infestado deles, caralho! Proliferam à desfilada! É a profetizada invasão das abóboras mutantes! Os outros –os tais pretos, ucranianos et al (que os pseudo-xenófobos, os xenófobos de pacotilha, de meia-tigela, embicam, perseguem, azucrinam) -, só lhes constróem as casas; só lhes erigem –a esses, aos verdadeiros, aos puros alienígenas, aos xenopóides e xenúnculos – os condóminos fechados, os bairros pin&pon, as casotas barbie, as coelheiras estandardizadas para hamster novo-rico. Experimentem vosselências, meus estimados e geniais leitores, passar uma temporada num atoleiro transgaláctico desses e vinde depois contar-me que tal foi. Garanto-vos, é uma experiência inesquecível! Um suplício cinco estrelas!... Subitamente, despertamos mergulhados num pesadelo lovecraftiano. Por breves instantes, até o Marx e o Lenine nos parecem uns santos. Por escassos momentos, até a Revolução Cultural chinesa nos transparece coberta de sentido e damos connosco a suspirar por ela! Vou mais longe e arrisco mesmo o pão dos meus filhos e toda uma carreira meteórica nas artes: Por uma fracção de segundo, até o holocausto a granel nos surge como prioridade benemérita. Como é que eu sei?
Nem imaginam...Tenho algo de abominável a confessar-vos. Um mergulho de cabeça na infâmia. É verdade, pesem inúmeros atenuantes, eu habitei uma escumalhopolis dessas. Uma favela de patos-bravos. Fui assunto de comentário entre uma vizinhança de criaturinhas esverdeadas com gelatina gordurosa em vez de alma. Aliões antropomórficos com a distinta singularidade de terem o sistema digestivo trocado com o sanguíneo, com sangue a fermentar-lhes nas vísceras e fezes a correrem-lhes pelas veias. Participei num reality-show dos autênticos, nada de pechisbeque televisivo. The real stuff! É certo que nunca lhes falei, ignorava-os olimpicamente, desprezava-os com militância. Mas isso não é desculpa. Morei entre essa escória cósmica, entre essa ciganada interestelar, no meio dessa corja. Não muito tempo, é certo, apenas o necessário a vender a casa, mas mesmo assim, o suficiente para me sentir emporcalhado para o resto da vida. Ainda que fossem cinco minutos, já seria uma eternidade. Já mereceria tortura retorcida e pena capital.
E com que hostilidade velhaca me alvejavam aquelas trombas patibulares, grunhomórficas, extraterráqueas (e infra também). Primeiro, porque não participava nos seus arraiais populares, por altura dos santos e manjericos, onde se encharcavam em comezaina e chinfrim pimba em altos berros, mais o foguetório da ordem. Depois, porque não lhes imitava os tiques de pato bravo, a merda dos cães de importação, os barbecues de jardim, os gramados a imitar relva tosquiados a preceito (com que gozo celebrei o capim, o pomar, a horta de feijões; cheguei a plantar couves). Finalmente, horror dos horrores, porque tinha livros em casa - uma biblioteca, imagine-se! - em vez de televisão em todas as divisões, mesas de bilhar na cave, piscinas de aviário no jardim (com o mar a dois quilómetros).
Elas claramente mal fodidas, eles tipicamente semi-impotentes, com que afã se desunhavam para sustentar a vaidadezinha de pseudúrbio ajardinado e esbracejavam para se manter à tona! Com que selvajaria vampiresca a Autarquia, as finanças, as águas, os telefones e parasitas de todas as castas e proveniências os sugavam sem perdão e montavam à canzana! E eles delirantes, ufanos, sísifos!... Minto: elas sobretudo. E com que argúcia se espreitavam e controlavam uns aos outros, de plantão aos teres e haveres de cada qual – com que volúpia e espírito de missão se entregavam à osmose aquisitiva, ao concurso de açambarcamento de quinquilharias; e com que astúcia se insinuavam, a tentar meter o bedelho, o fedelho, o chavelho! E iam prá neve, os filhos da puta, imagine-se! E as crias no ballet, no karate, na prostituiçãozinha mental desde tenra idade. À coca do Big-brother, das novelas chungas e de toda a toinice desbragada deste mundo! De todo o lixo de que aqueles verdadeiros aterros sanitários mentais eram capazes! E que capacidade absorvente, Deus meu!...Que hiper-ausonia deglutidora do mênstruo social! Que super-arrastadeiras compulsivas!...
Por isso, por tudo isso e muito mais, que o vómito me tresmalha a pena, nada de piedade, meus amigos! Nada de perdões, compreensõezinhas ou piedades balofas.
Se me topardes na rua, apontai-me a dedo, aos gritos, aos tiros! Enxovalhai-me os ancestrais! Cuspi-me, apedrejai-me, atiçai-me cães, jornalistas, sogras! Eu mereço. É justo!
E é verdade. Descabelemo-nos! Eles vivem. E não haver um Shelltox, um Raid, um Ratak, um 605 Ultra Forte que nos livre de tal praga!...
Já não são apenas alienados: são alienígenas!...
Pretos? Ciganos? Ucranianos? Marroquinos? Alentejanos ?... –Quem são esses? Uns desgraçados que não têm onde cair mortos, certamente. Não sei porquê (ou então até sei) lembram-me esta nova vaga de portugueses pós-Restauração. Uns tristes à cata de Eldorados, mendigos de aluguer, arrumadores de sonhos alheios em parque de hipermercado global. Exceptuando o Moita Flores e meia dúzia de outras amibas congéneres, que mal me fizeram? Zanzam para aí, com vampiros na garupa, ainda mais frustrados e infelizes que os que pr’àqui se arrastam. Autênticos burros atrás da cenoura, coitados.
Quando muito gostaria que a minha filha não se embeiçasse por nenhum deles. Educo-a nesses louváveis princípios. Anátema extensível, de resto, a americanos, espanhóis, ingleses e outras tribos ranhosas. Considero-os a todos excelentes pessoas, mas vão ser pais dos netos de outro- já que inútil seria recomendar-lhes o retrocesso urgente à cloaca imunda e comunitária que os despejou neste mundo. Sim, insisto: que vão ser família de outro, de preferência, bem longe! Serei xenófobo, mas não sou hipócrita.
Não, nada de confusões: quando digo xenófobo não é apenas asseado, é xenófobo mesmo. Xenófobo a sério, com todas as letras. O que eu não suporto realmente são alienígenas, marcianos, aberrações oriundas de outro planeta, constelação ou galáxia. E isto está a ficar infestado deles, caralho! Proliferam à desfilada! É a profetizada invasão das abóboras mutantes! Os outros –os tais pretos, ucranianos et al (que os pseudo-xenófobos, os xenófobos de pacotilha, de meia-tigela, embicam, perseguem, azucrinam) -, só lhes constróem as casas; só lhes erigem –a esses, aos verdadeiros, aos puros alienígenas, aos xenopóides e xenúnculos – os condóminos fechados, os bairros pin&pon, as casotas barbie, as coelheiras estandardizadas para hamster novo-rico. Experimentem vosselências, meus estimados e geniais leitores, passar uma temporada num atoleiro transgaláctico desses e vinde depois contar-me que tal foi. Garanto-vos, é uma experiência inesquecível! Um suplício cinco estrelas!... Subitamente, despertamos mergulhados num pesadelo lovecraftiano. Por breves instantes, até o Marx e o Lenine nos parecem uns santos. Por escassos momentos, até a Revolução Cultural chinesa nos transparece coberta de sentido e damos connosco a suspirar por ela! Vou mais longe e arrisco mesmo o pão dos meus filhos e toda uma carreira meteórica nas artes: Por uma fracção de segundo, até o holocausto a granel nos surge como prioridade benemérita. Como é que eu sei?
Nem imaginam...Tenho algo de abominável a confessar-vos. Um mergulho de cabeça na infâmia. É verdade, pesem inúmeros atenuantes, eu habitei uma escumalhopolis dessas. Uma favela de patos-bravos. Fui assunto de comentário entre uma vizinhança de criaturinhas esverdeadas com gelatina gordurosa em vez de alma. Aliões antropomórficos com a distinta singularidade de terem o sistema digestivo trocado com o sanguíneo, com sangue a fermentar-lhes nas vísceras e fezes a correrem-lhes pelas veias. Participei num reality-show dos autênticos, nada de pechisbeque televisivo. The real stuff! É certo que nunca lhes falei, ignorava-os olimpicamente, desprezava-os com militância. Mas isso não é desculpa. Morei entre essa escória cósmica, entre essa ciganada interestelar, no meio dessa corja. Não muito tempo, é certo, apenas o necessário a vender a casa, mas mesmo assim, o suficiente para me sentir emporcalhado para o resto da vida. Ainda que fossem cinco minutos, já seria uma eternidade. Já mereceria tortura retorcida e pena capital.
E com que hostilidade velhaca me alvejavam aquelas trombas patibulares, grunhomórficas, extraterráqueas (e infra também). Primeiro, porque não participava nos seus arraiais populares, por altura dos santos e manjericos, onde se encharcavam em comezaina e chinfrim pimba em altos berros, mais o foguetório da ordem. Depois, porque não lhes imitava os tiques de pato bravo, a merda dos cães de importação, os barbecues de jardim, os gramados a imitar relva tosquiados a preceito (com que gozo celebrei o capim, o pomar, a horta de feijões; cheguei a plantar couves). Finalmente, horror dos horrores, porque tinha livros em casa - uma biblioteca, imagine-se! - em vez de televisão em todas as divisões, mesas de bilhar na cave, piscinas de aviário no jardim (com o mar a dois quilómetros).
Elas claramente mal fodidas, eles tipicamente semi-impotentes, com que afã se desunhavam para sustentar a vaidadezinha de pseudúrbio ajardinado e esbracejavam para se manter à tona! Com que selvajaria vampiresca a Autarquia, as finanças, as águas, os telefones e parasitas de todas as castas e proveniências os sugavam sem perdão e montavam à canzana! E eles delirantes, ufanos, sísifos!... Minto: elas sobretudo. E com que argúcia se espreitavam e controlavam uns aos outros, de plantão aos teres e haveres de cada qual – com que volúpia e espírito de missão se entregavam à osmose aquisitiva, ao concurso de açambarcamento de quinquilharias; e com que astúcia se insinuavam, a tentar meter o bedelho, o fedelho, o chavelho! E iam prá neve, os filhos da puta, imagine-se! E as crias no ballet, no karate, na prostituiçãozinha mental desde tenra idade. À coca do Big-brother, das novelas chungas e de toda a toinice desbragada deste mundo! De todo o lixo de que aqueles verdadeiros aterros sanitários mentais eram capazes! E que capacidade absorvente, Deus meu!...Que hiper-ausonia deglutidora do mênstruo social! Que super-arrastadeiras compulsivas!...
Por isso, por tudo isso e muito mais, que o vómito me tresmalha a pena, nada de piedade, meus amigos! Nada de perdões, compreensõezinhas ou piedades balofas.
Se me topardes na rua, apontai-me a dedo, aos gritos, aos tiros! Enxovalhai-me os ancestrais! Cuspi-me, apedrejai-me, atiçai-me cães, jornalistas, sogras! Eu mereço. É justo!
E é verdade. Descabelemo-nos! Eles vivem. E não haver um Shelltox, um Raid, um Ratak, um 605 Ultra Forte que nos livre de tal praga!...
Já não são apenas alienados: são alienígenas!...
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