De qualquer modo, cara Helena, a última coisa que eu desejaria é que a estimada senhora passasse vergonhas ou fizesse figuras tristes por minha causa. Diabos me levem, se hei-de permitir que a tomem por alguma paranóica descabelada ou harpia de plantão à redoma da Fé.
Ainda para mais quando todos sabemos que foi por via daquele tremendo impropério meu, - de chamar “pencudos” aos semideuses que fazem lobby lá nas américas, um raio me parta!-, que a Helena, alma sensível e facilmente sugestionável, mergulhou nesse lastimável estado de choque, deveras consumptivo e calamitoso, pobrezinha!... Aquilo prostrou-a. Mergulhou-a num transe entre balhelhas e esperneabundo. E o caso não era para menos, uma obscenidade blasfema de tal ordem é de arrasar com os nervos e transtornar o juízo a qualquer um. Mesmo um estivador das docas experimentaria, no mínimo, vertigens; fará agora uma intelectual superior da sua categoria, um baluarte vivo da moral e dos costumes modernos! Dos delírios subsequentes, das alucinações e pesadelos que a atormentaram nem quero falar - a consciência pesada, um sentimento avassalador de culpa não mo permite.
O que lhe posso garantir, à guisa de indemnização, se bem que nenhuma reparação será bastante, é que, no que depender de mim, não passará por tolinha ou desaparafusada. Entrego-me já a estudos e catequeses rápidas nessas manias em que me fantasia, de modo a poder corresponder, plena e condignamente, às suas expectativas, tanto quanto às suas profecias. Hão-de felicitá-la e premiá-la pela sua aruspiciência, vai ver. Clamarão embevecidos: “Ah, a Helena, a nova pitonisa de Delfos?...Que vidente, que vidente!...”
Assim, com toda a abnegação e temeridade de que sou capaz, encomendei já os “Protocolos dos Sábios de Sião” a um alfarrabista esotérico meu conhecido; o “Mein Kampf”, dum tal Adolfo Hitler, e o “Manual dos Inquisidores” já os tenho ali prontinhos para, em jeito de sobremesa, com eles calafetar o espírito; e, neste instante, com uma volúpia que nunca suspeitei, entrego-me avidamente ao repasto da Bíblia Sagrada. Faço questão de me industriar, esmerada e proficientemente, nestes mistérios. Nestas coisas, de resto, sou um metódico, um meticuloso. Diante dum edifício novo, estimo sempre de cognoscê-lo a partir dos alicerces. Agora mesmo, refastelo-me nesta passagem deslumbrante:
Ainda para mais quando todos sabemos que foi por via daquele tremendo impropério meu, - de chamar “pencudos” aos semideuses que fazem lobby lá nas américas, um raio me parta!-, que a Helena, alma sensível e facilmente sugestionável, mergulhou nesse lastimável estado de choque, deveras consumptivo e calamitoso, pobrezinha!... Aquilo prostrou-a. Mergulhou-a num transe entre balhelhas e esperneabundo. E o caso não era para menos, uma obscenidade blasfema de tal ordem é de arrasar com os nervos e transtornar o juízo a qualquer um. Mesmo um estivador das docas experimentaria, no mínimo, vertigens; fará agora uma intelectual superior da sua categoria, um baluarte vivo da moral e dos costumes modernos! Dos delírios subsequentes, das alucinações e pesadelos que a atormentaram nem quero falar - a consciência pesada, um sentimento avassalador de culpa não mo permite.
O que lhe posso garantir, à guisa de indemnização, se bem que nenhuma reparação será bastante, é que, no que depender de mim, não passará por tolinha ou desaparafusada. Entrego-me já a estudos e catequeses rápidas nessas manias em que me fantasia, de modo a poder corresponder, plena e condignamente, às suas expectativas, tanto quanto às suas profecias. Hão-de felicitá-la e premiá-la pela sua aruspiciência, vai ver. Clamarão embevecidos: “Ah, a Helena, a nova pitonisa de Delfos?...Que vidente, que vidente!...”
Assim, com toda a abnegação e temeridade de que sou capaz, encomendei já os “Protocolos dos Sábios de Sião” a um alfarrabista esotérico meu conhecido; o “Mein Kampf”, dum tal Adolfo Hitler, e o “Manual dos Inquisidores” já os tenho ali prontinhos para, em jeito de sobremesa, com eles calafetar o espírito; e, neste instante, com uma volúpia que nunca suspeitei, entrego-me avidamente ao repasto da Bíblia Sagrada. Faço questão de me industriar, esmerada e proficientemente, nestes mistérios. Nestas coisas, de resto, sou um metódico, um meticuloso. Diante dum edifício novo, estimo sempre de cognoscê-lo a partir dos alicerces. Agora mesmo, refastelo-me nesta passagem deslumbrante:
«Pilatos, vendo que nada conseguia e que o tumulto aumentava cada vez mais, mandou vir água e lavou as mãos na presença da multidão dizendo: “Estou inocente deste sangue. Isso é convosco”. E todo o povo respondeu: “Que o seu sangue caia sobre nós e sobre os nossos filhos!” Então soltou-lhes Barrabás. Quanto a Jesus, depois de o mandar flagelar, entregou-o para ser crucificado.»
Isto sim, isto é estimulante, didáctico, educativo. Já sinto o ódio a essa gente a impregnar-me os ossos, a tetanizar-me os músculos, a espadanar-se, em perfeito crol, pelas veias. A custo, larguei o Antigo Testamento, sobretudo o Pentateuco. Era capaz de acampar ali pela eternidade. Que ginásio para a alma! O próprio Yahvé, o Deus deles, passa o tempo a urdir planos para lhes dar cabo do canastro. Um mimo! Uma delícia!... Se quem os criou os detesta e destrata daquela maneira, como não havemos nós, simples mortais, de armar pogrooms e churrascoss?!...
E nada tolerantes, ao contrário do que apregoam e exigem aos outros, os tais. Repare só neste salmo (o 137), a letra deste fado judeu intitulado “junto aos rios da Babilónia”:
«Cidade da babilónia devastadora
Feliz de quem te retribuir
Com o mesmo mal que nos fizeste!
Feliz de quem agarrar nas tuas crianças
E a esmagar contra as rochas!»
Isto sim, isto é estimulante, didáctico, educativo. Já sinto o ódio a essa gente a impregnar-me os ossos, a tetanizar-me os músculos, a espadanar-se, em perfeito crol, pelas veias. A custo, larguei o Antigo Testamento, sobretudo o Pentateuco. Era capaz de acampar ali pela eternidade. Que ginásio para a alma! O próprio Yahvé, o Deus deles, passa o tempo a urdir planos para lhes dar cabo do canastro. Um mimo! Uma delícia!... Se quem os criou os detesta e destrata daquela maneira, como não havemos nós, simples mortais, de armar pogrooms e churrascoss?!...
E nada tolerantes, ao contrário do que apregoam e exigem aos outros, os tais. Repare só neste salmo (o 137), a letra deste fado judeu intitulado “junto aos rios da Babilónia”:
«Cidade da babilónia devastadora
Feliz de quem te retribuir
Com o mesmo mal que nos fizeste!
Feliz de quem agarrar nas tuas crianças
E a esmagar contra as rochas!»
Não rima, mas é duma grande força evocativa, não acha?
Portanto, pode Vossa Senhoria ficar descansada: a este ritmo, em menos de uma semana, estou um racista, um anti-semita e, espero bem, um nazi diplomado. Não há-de ser por minha causa, que não há-de fazer um figuraço junto dos seus amigos.
Até porque isto não parece nada difícil. Estes cursos por correspondência são canja.
Mais fácil mesmo só os de democratas talibãs e virtuosos exibicionistas on-line. Isto, segundo consta, porque, ao contrário da justiça ou da verdade, a hipocrisia há-de estar sempre na moda.
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