A ter em atenção o exemplar monolítico que lá temos plantado no topo, vai para dez anos, é duvidoso que o nosso regime político possa ser classificado como uma república. Tão pouco reúne as características puras duma monarquia. Eu diria que é um híbrido, quiçá uma quimera, entre ambos. Uma monarpública ou uma reinarquia, por assim dizer.
De facto, é preciso os nossos monárquicos de plantão andarem um pouco catatónicos, ou emparvoecidos com as proezas da família Câmara Pereira e bobos associados, para ainda não terem percebido que, se bem que não tenhamos ainda o rei de volta, já tivemos, pelo menos, um rainho. Nesse desempenho, o nosso Gorge Sampaio, condecorador e larga-comendas compulsivo, constituiu mesmo um paradigma. Se é certo que teve na Rainha de Inglaterra o seu ai jesus, não é menos evidente que a mimicou e transcendeu com requintes gongóricos.
Obstar-me-ão com o seu momento de glória, de inusitada virilidade, quando atirou do cavalo abaixo com o desgoverno do mentecapto Santana e respectiva comandita. Que isso, essa intervenção masculina, jamais seria digna duma rainha. Que isso não mais consubstanciou que a sua índole cavilosa e maçónica, a sua jacobinite empedernida. Bonito!...
Mas, senhores, qual intervenção? Mas houve realmente alguma intervenção? Substituir o desgoverno do Santana - continuação do desgoverno do Durão, herdeiro do desgoverno do Guterres e ab aeternum-, pelo desgoverno do Sócrates, faz alguma diferença que se veja? Tirando essas questões fundamentais e fracturantes para o futuro da humanidade, que preenchem o vosso imaginário e esgotam a vossa indignação –como são os gays em ânsias de matrimónio, a chacina ao desbarato de embriões ou de tetraplégicos vegetais agrilhoados a uma máquina de hospital, os desgraçadinhos da Cochinchina, etc -, restará alguma dissemelhança? O assalto do aparelho partidário às tetas do Estado não é gémeo? A venda a retalho do país não é igual? A delapidação do erário em mordomias e sinecuras não é tirada a papel químico? A promiscuidade com empreiteiros e o regabofe de comissões em contratos, não corre ao despique? E no resto não cumprem todos eles, com desvelo de eunuco, as "directivas comunitárias"?
Mas voltemos ao Rainho.
Está de abalada. Vê esboroarem-se os últimos dias do seu rainhado. Já lá vem o substituto.
Num país em que o sufrágio se tornou, por regra, antecâmara de naufrágio, manda a prudência –e o calo -, que não alimentemos grandes expectativas, para não termos depois que arcar com gordas desilusões. Aguardemos.
Entretanto, sobre este singular hiato de dez anos na nossa história, nem reinado, nem presidência, proponho que fique catalogado para a posteridade como a Nularquia (ou Ausência) de Gorge I, o Con-Decorador.
9 comentários:
Não faz diferença nenhuma. Esta estúpida gente que somos nós, entusiasma-se sempre com estas 'novidades'! E pensar que se não houvesse limitação de mandatos qualquer 'Gorge', como bem lhe chama, era eleito até à morte!
Monárquicos que se desconhecem!
O futuro?
Boa pergunta.
Um abraço.
Querido Dragão:
não gosto que digas essas coisas do mon ami "Gorge"... Ele até é um gajo porreiro...
Já sabes, eu não gosto...
O buicinha olhe que estão a atacar o seu querido Gorge! Não diz nada ? Não se acanhe !
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Which administrator? How many are they? Gee, can´t trust anybody any more.
Tá com medo, tá com medo, o Dragão tá com medo.
Além disso não se escreve "detrás das aparências" mas sim "por detrás ...". Até isso eu sabia e não sou lá muito versada em protuguês.
Vocês são todos tão bons, tão iluminados, devem ocupar altos cargos na administração pública. Estou muito impressionada, sim senhor.
O Dragão é muito inspirado quando não se põe a dizer mal disto ou daquilo. Não acontece muitas vezes mas é por isso que ainda não desisti de vir cá. Boa-noite.
O Dragão é um pobre pedante.
Deve morar num T1 alugado em Massamá.
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