«Além disso, um guia das visitações episcopais redigido por volta de 906 a pedido do Arcebispo de Trèves – o célebre Cannon espiscopi – denunciava como ilusória a velha crença nas cavalgadas nocturnas (...). Dar crédito a tais miragens era seguramente deixar-se enganar por Satã. No entanto, já que se tratava de ilusão, não era caso de punir. Assim, diante das massas que permaneciam amplamente pagãs e de uma lei civil teoricamente draconiana a respeito da magia, a autoridade religiosa, durante a alta Idade Média, dera provas de um relativo espírito crítico e, em todo o caso, de pragmatismo.
Eass atitude modificou-se a partir do final do século XII (...)
Capital foi a intervenção de João XXII, que fora precedida por retumbantes processos que provaram, todos, uma escalada de obsessão satánica [processo dos Templários, acusação de assassínio mágico da rainha de França ao Bispo de Troyes, acusação de feitiçaria à Condessa d’Artois] (...)
Foi nessa atmosfera turva e porque ouvia falar de práticas mágicas na corte de Avignon que João XXII, após consulta de bispos, de superiores de ordens e de teólogos, redigiu a bula Super Illius specula (1326). Sendo a feitiçaria doravante assimilada a uma heresia, os inquisidores recebiam habilitação para persegui-la. Pois os mágicos, adorando o diabo e assinando um pacto com ele, ou mantendo demónios ao seu serviço em espelhos, anéis ou frascos, voltavam as costas à verdadeira fé. Mereciam portanto a sorte dos heréticos. »
Eass atitude modificou-se a partir do final do século XII (...)
Capital foi a intervenção de João XXII, que fora precedida por retumbantes processos que provaram, todos, uma escalada de obsessão satánica [processo dos Templários, acusação de assassínio mágico da rainha de França ao Bispo de Troyes, acusação de feitiçaria à Condessa d’Artois] (...)
Foi nessa atmosfera turva e porque ouvia falar de práticas mágicas na corte de Avignon que João XXII, após consulta de bispos, de superiores de ordens e de teólogos, redigiu a bula Super Illius specula (1326). Sendo a feitiçaria doravante assimilada a uma heresia, os inquisidores recebiam habilitação para persegui-la. Pois os mágicos, adorando o diabo e assinando um pacto com ele, ou mantendo demónios ao seu serviço em espelhos, anéis ou frascos, voltavam as costas à verdadeira fé. Mereciam portanto a sorte dos heréticos. »
- Jean Delumeau, “Le peur en Occident (XIV-XVIII siècles): une cite assiégée”
2 comentários:
ora bem! assim está bem! e a associação ao beijo dos templários e cultos pagãos heréticos é mesmo essa. tratava-se de poder, como sempre. O resto veio por arrasto. E muito dele também foi iniciado por senhores feudais.
É claro que lá por haver gente analfabeta no campo a adorar as pedrinhas e esconder filactérias nas a´rvores não vinha mal ao mundo. E muito menos com padres a fazerem grandes pandemónios por esta altura ou durante o "riso pascal".Agora a ameaça da heresia era outra coisa. E tinha teóricos!não era só maralhal nu numa de hipie. Assim como os sabats das bruxas também tiveram oficiantes. E se formos a ver que muitos deles eram padres a coisa muda de figura.
Quanto à transformação do demónio horrendo em grande sedutor é curioso porque as representações que aparecem são mais em gravura que na iconografia da pedra.
Naquele post do kiss my ass até se vê bem um destes rituais acompanhado por religiosos embora o iniciado seja um homem. E no alto lá andam as bruxas a voar...
Quem sabia estas histórias todas era o Goya que até figurou um "pregador" com a lamparina na mão em encontro nocturno com o bode sabático, num grande gozo com isto tudo.
está aqui: http://photos1.blogger.com/blogger/5941/289/1600/heresia.gif
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