Figurar - ou melhor dizendo: fantasiar – no voto a realização de uma qualquer vontade popular, não abona muito em prol da qualidade da democracia. Muito menos do teor. Ou sequer do aroma... A imagem do deputado como emissário ou recipiente da vontade popular, quanto a mim, não é feliz. A vontade é, quer queiramos quer não, ainda mais em se tratando do "povo", um conceito que nos remete para determinadas urgências, premências ou necessidades.
Dir-se-ia, assim, que, ao ir às urnas, o povo, com toda a soberania inerente, está a ir à casa de banho. Não fica muito claro se vota ou se se alivia, se elege ou meramente despeja, se sufraga ou, pura e simplesmente, descarrega. Tão pouco esclarece ou ilustra se, no decurso de tamanhas tribulações, a mesma e peregrina entidade está à tabela ou simplesmente à rasca.
É certo que, dados os resultados de grande parte dos sufrágios (sejamos por um breve instante benevolentes) , esta visão escatofântica do acto até acaba por nem causar grande espanto. Mas, que diabo, no mínimo há que ter respeito por uma instituição tão antiga e animada de tão boas intenções.
8 comentários:
A instituição é a democracia ou a retrete? Ficou-me a dúvida...
Abraço.
A imagem é feliz, de facto. Os locais de voto assemelham-se aos mais insalubres sanitários públicos. Quem vota fá-lo meio escondido, como nas retretes, por trás de uns biombos democráticos, alegando os mesmos "sigilo" e "direito ao segredo" comuns aos intestinos mais desarranjados. E a caneta do voto está presa por um cordel metálico que semelha o cordel dos autoclismos. No final, o papelinho (higiénico) é atirado urna abaixo — o cheiro «oblige».
Aos ditos "representantes do povo", se o acto lhes confere algum mandato — é o de fazer merda, e da grossa! Anunciam todos que é preciso tomar medidas 'drásticas'; verificamos depois que não tomam senão medidas 'gástricas'.
Obrigad(inh)a pelos parabéns!!
Justifica-se, pois, que quando não exercemos esse mais que direito, necessidade, nos sobre apenas aquela sensação: "É que não tinha vontade...".
Agora tais tempos estão a acabar.
Com o voto electrónico, dentro de duas ou três eleições acabaram-se as canetinhas,os papeluchos, os cubículos e as urnas.
Carrega-se com o dedo num ecrã, e mais nada.
;)
A imagem é boa, de facto, apesar de fedorenta.
Não votes, Caga no Voto...ou, Vota a Cagar...ou, vota que eles continuam a cagar para ti!
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