Há em nós, portugueses, uma qualquer costela calcorreadora de mundos. Há, direi mesmo, uma força misteriosa, mas irresistível, que nos pulveriza em todas as direcções. Quem nunca partiu e voltou, dessa viagem a casa do diabo mais velho, é como se ainda não tivesse nascido. Debate-se em trabalhos de parto. Extrai-se a ferros. Ou põe-se a ferros, caso cisme de não partir, posto que se obstine em não nascer.
Mas não se pense que zarpamos à procura de não sei que Eldorados ou fontes maravilhosas. Experimentem a viagem e depois digam-me... Não é nada disso. Vamos só à procura do caminho de regresso – é para o encontrar que nos perdemos, que nos empurramos para lá de todas a fronteiras, rotas e mapas conhecidos. Porque a mesma força que nos expulsa, que nos expande, é aquela que, depois, nunca mais deixa de nos atrair. Aquela que nos derrama, que nos perde, é também aquela que vai sempre atrás de nós, à nossa procura. É como um coração de terra, magnético, a palpitar – um coração de que nós somos o sangue.
E é como se fugíssemos de casa só para irmos contemplá-la de fora, da distância, de longe, de nenhures.
No fim, lá nos limites do assombro, à beira do sorvedouro, nos confins da odisseia, vencidos monstros e abismos, não são terras ignotas e exóticas aquilo que descobrimos –ou melhor, não são quaisquer terras ignotas e exóticas, mas uma em especial... Uma que nunca imagináramos que existisse: a nossa própria terra. Essa que nos viu nascer e que nos espera à hora da morte. Descobrimo-la nesse dia, lá longe, quando descobrimos que afinal a viagem não foi no mundo, mas no nosso próprio coração. Quando descobrimos que o maior monstro e o maior abismo somos nós próprios. Quando, enfim, descobrimos que a nossa única e verdadeira descoberta foi descobrir que a amamos.
Foi por isso que eu voltei, terra minha, porque te amo!
É contigo que me quero deitar para a eternidade.
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