O ministro está coberto de razão. É uma mera região, uma pequena parcela do território nacional, e só está a ser fustigada há cinco dias. Se pensarmos que o território completo, mais as ilhas adjacentes, já não falando nas ex-colónias (que, como se sabe, ainda eram maiores) estão a ser fustigados, vai para mais de trinta anos, por agremiações de pujantes e vorazes democratas como aquela em que é filiado o sr. ministro, e nem o Estado de emergência se declara...
Além do mais, a Pampilhosa da Serra, bem como a generalidade das áreas ardidas, em bom rigor, nem fazem parte do país: só fazem parte da paisagem. Ora, o fogo, por muito escalpante e calcinante que seja, nem de perto nem de longe constitui a pior catástrofe que lhe pode acontecer, à paisagem. Ao pé dos empreiteiros e autarcas associados, ninguém tenha dúvidas: as labaredas quase passam despercebidas. Entre o betão e o carvão, o diabo, chamado a escolher, até por hábitos de churrasco, prefere o segundo. E nós, que somos claramente filhos dele, também.
Falta apenas acrescentar que há uma última razão, esta muito simples e óbvia, para o ministro não se pôr com declarações extemporâneas de calamidade: porque dado o estado a que isto chegou, senão mesmo o estado usual em que isto -nos últimos quatro séculos - (des)anda, declarar a "calamidade pública" acabaria por ser, mais que injustificado, perfeitamente redundante.
Declarar, entre nós, a calamidade não remete para o extraordinário, mas para o trivial, para o quotidiano. Em vez duma urgência qualquer, limita-se a referir o nosso modo de vida, a revelá-lo abertamente, a expô-lo sem maquilhagens . A calamidade, bem vistas a coisas, é o nosso negócio, o nossa ganha marisco. Há muito que desistimos de combater catástrofes...Viciámo-nos nelas. Somos vítimas profissionais, desgraçados cósmicos. Coleccionamos escombros e ruínas, chagas e deformações, enfim: tudo o que sirva para engodar e mistificar a esmola alheia, e, sobretudo, para canonizar a nossa própria inércia, para garrir a nossa desvalida e rastejante prostração.
E se no verão deitamos fogo às matas, no resto do ano deitamos fogo aos neurónios. Ou entretemo-nos a quebrar as pernas uns aos outros.
11 comentários:
Brilhante! Está na Loja, copiado.
Pelo que o ministro disse as populaçoes sao mais facilmente ajudadas financeiramente sem a declaraçao de calamidade pública.
Se isto é verdade, a insistencia na dita declaraçao, faz-me suspeitar que há quem tenha outros interesses que nao ajudar propriamente a ajudar a populaçao a enfrentar a calamidade.
Isto é estranho! e suspeito!
Ana:
É notável o seu esforço na defesa à outrance das medidas deste governo.
Acredita mesmo no que escreve ou nunca pensou no assunto?!
V. percebe por que razão se elogia este escrito?!
Não é propriamente pela ideia contrária à do ministro...
Entao nao percebo!? Eu também o elogio. Mas fazia-lhes umas pequenas alteraçoes e ironizava nao com o ministro mas com os que pedem calamidade pública!
:)
Está isto neste estado desde o dia 4 de Agosto de 1578, data da 'morte histórica' de Portugal.
Mas não há mal que sempre dure.
;)
Mas, que diabo, o sôtôr.Costa até tem alguma razão.
O estado de calamidade pública deveria ter sido declarado, isso sim, quando o Horroroso SLB foi campeão
:)
A excelência sempre presente, como só o Dragão sabe dizer.
Estes incêndios, do descontentamento generalizado que alastra vertiginosamente, continuam a escapar completamente, ao controle dos (des)governantes.
- Ai Costa, Costa!!!
Qualquer dia chamo-te Afonso!!!
Mais um diamante que o Dragão oferece aos seus leitores!
Este blog é o meu jornal diário... Aprendo, divirto-me e leio aquilo que eu gostava de ter escrito; é que nem me rala o facto de não ter talento para o fazer; o Dragão fá-lo tão bem !...
Portugal is hoter!
Portuguese flame it better.
Isto é lindo , eu é que não sei o mail do Xôr Costa...
Portugal Sempre...
Alias , Vou ajudar-te a difundir este teu Post...
Continua...
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