sábado, janeiro 10, 2004

O PLANO

Tenho um plano. Mas aviso-vos, desde já: se sois criaturas sensíveis, amantes da paz e da ecologia, o melhor é navegardes para outras paragens. Porque o meu plano é tenebroso, fruto duma mente perversa e brilhante. E transborda de requintes maléficos indigestos para os estômagos mais sensíveis, fulminantes para o comum dos mortais.
Aqueles que, mesmo avisados, persistirem -movidos certamente por alguma curiosidade mórbida ou necrófila -, que fiquem desde já sabendo que não me responsabilizo por eventuais colapsos, possessões ou alienações irrecuperáveis que os devastem.
Pois bem, agora que, porventura, só já restam monstros no auditório, aqui vai...
Vou derrubar o governo. É isso mesmo: vou decapitá-lo como a uma serpente venenosa e peçonhenta. Incrédulos? Duvidais? Espreitais cépticos para trás de mim, à procura de exércitos, terroristas, comandos suicidas?...Que ingenuidade a vossa!
As coisas mais terríveis são sempre as coisas mais simples. O horror está sempre debaixo do nosso nariz - às vezes até dorme ao nosso lado na cama e toma connosco o café todas as manhãs... Durante anos não o vemos. Mas, todavia, ele esteve sempre ali... Até que um dia, como a esse canalha do S.Paulo, um clarão derruba-nos e tudo se clarifica.
Quereis ver a perfeição? Pois é tão simples como isto: alugam-se cinco ou seis miúdos, numa qualquer agência de modelos, onde mães gordas se acotovelam à procura duma oportunidade para os rebentos; subornam-se dois ou três polícias, precisamente aqueles que estão nessa noite de turno à casa do Primeiro-Ministro; vestem-se os fedelhos com roupas angelicais; infesta-se a casa do PM com os mesmos, industriados previamente para saírem a determinado sinal; convocam-se os jornalistas, quantos mais melhor; fazem-se sair os crianços ao encontro dos jornalistas. O resto é automático e inexorável. Assassinos mais implacáveis que os da imprensa e televisão, carniceiros mais desumanos, nunca, em tempo algum, existiram. O que a seguir sucede, não é bonito de se ver: um quadrúpede a ser esfacelado por crocodilos, ou esviscerado em corrida por hienas, é mais humano.
É melhor irem já pensando na merda que vão fazer nas próximas eleições; que caterva de anormais vão eleger desta vez.
Sim, eu sei: sou maquiavélico.

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