Os Americanos, no exercício da sua idiossincrasia básica, começaram a bombardear a Somália. O pretexto é o do costume: enxames de terroristas islâmicos reclamam tratamento urgente.
Não sei se há, não sei se não há. O que sei, disse-mo um passarinho, é que as Forças Americanas estão equipadas, todas elas, com munições mágicas. Munições mágicas e armas inteligentes, argutas, preclaríssimas. Uma bala, uma granada, uma bomba americana que atinja um qualquer muçulmano, automaticamente, instantaneamente, transforma-o num terrorista islâmico. Desmascara-o sem margem para dúvidas. Actualiza essa íntima potencialidade maligna que palpita nele desde embriãozinho descartável e tendencialmente excessivo. Mesmo que ele não faleça ou gema prontamente ferido, mesmo que fique apenas atordoado e caia prisioneiro das hostes benignas, não tardará a revelar-se. É só o tempo da aplicação dos instrumentos e técnicas de tortura americanas, também elas mágicas e altamente aruspicientes. Infinitamente superiores a qualquer professor Karamba, taróloga Maia ou Pacheco Pereira da nossa praça.
E todo esta panóplia inefável funciona apenas com muçulmanos ou árabes? Nem por sombras. Fraca tecnologia seria então. Bem pelo contrário, funciona com qualquer pessoa, em qualquer parte do mundo, a qualquer hora, mês ou estação. Congratulemo-nos portanto, pois não apenas é capaz duma metamorfose simples, como, acima disso, milagre tecnológico de pasmar, consegue na perfeição a complexíssima metamorfose dupla. Ou seja, não apenas transforma instantaneamente um muçulmano avulso num terrorista encartado, como converte um chinês, um europeu, um papua, um esquimó, ou quem quer que seja num muçulmano e, no mesmo instante, com sortilégio ímpar, o muçulmano num perigoso e diplomado terrorista da Al-Qaeda.
A verdade é que uma bala americana funciona simultaneamente como detector-conversor. Mais que admirável, é já todo um Formidável Mundo Novo.
Portanto, caros leitores, confiemos nesta boa gente. A ciência mais avançada e o armamento derivado conferem-lhes dotes de infalibilidade. Para quem queira acompanhar mais esta campanha benemérita da Somália, abundam por aí as notícias. Todas elas suavizantes, perfumadas, adeptas da barbie-war.
Sem querer ser desmancha-prazeres, eu deixo-vos apenas com esta:
5 comentários:
Caro Dragão
Não posso deixar de pensar que Você adquiriu a sofisticada tecnologia dos bombistas americanos, já que se farta de causar danos colaterais! Mas o que me está a preocupar não é isso. Ultimamente tenho tido alguns pesadelos, acordo sobressaltado e penso, se assim me posso exprimir, em coisas extraordinárias, por exemplo, imagino que Marx tinha razão quando sugeriu que seria num país dito civilizado do Ocidente que se cumpriria o plano igualitário! Que o muro afinal só caíu para deixar passar essa ideologia de consumo obrigatório - o petróleo.
Também fico enternecido com a amizade entre Putin e Bush, bem sei que os inimigos são os mesmos, adivinhem - os terroristas, claro.
A única coisa que me chateia verdadeiramente é a minha memória!
Aquelas minas em Àfrica que rebentavam com as berliets e com as entranhas dos nossos soldados, parece que eram fornecidas pelos 'paisinhos' daqueles dois comparsas!
Caí novamente no desvio, peço desculpa.
Um abraço.
Caro JSM,
A memória, de facto, é um sério embaraço nestes dias que correm, prolixamente lubrificados a vaselina. Especialmente, para quem não adere aos Estados Unidos da Amnésia.
Não obstante, permito-me recordar um lema que a minha avó, uma digníssima senhora transmontana que Deus tenha, em tempo remoto me legou:
Quem nos caga, não nos lambe.
Outro abraço para si.
Dragão,
Eu já adivinhava que essa tua genialidade tinha raízes transmontanas.
A genialidade, caro jv, ainda que a tivesse, não me pertenceria: Algo que nos transcende ma teria emprestado. Agora a teimosia, direi mesmo a obstinação, essa sim, essa herdei-a até à medula desses meus terrenos e graníticos antepassados. Essa corre na família há séculos. É o antes quebrar que torcer.
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