O que se segue é um trecho de um artigo de João Pereira Coutinho no "Independente", retirado do site do personagem. Não está minimamente em causa a genialidade do autor. Basta pertencer à classe JP (neste caso, C), para usufruir dum talento superlativo, duma sabedoria excelsa e acima de qualquer suspeita.
E depois, há toda a elegância, a infinita seriedade incomensurável de assinar com o próprio nome. De dar a cara com valentia. Que coragem! Os JPês, de facto, são os maiores (o JPC, o JPH, o JPP, o JPT, e todos os outros vinte que ora me não lembram), e pensa-se, há mesmo provas disso, que a sapiência (senão a Deusa Razão em pessoa) os visita e mantém com eles comércio; por ordem alfabética, claro está.
Ora, eu também assino com o próprio nome, mas, como ninguém me conhece, degradam-me à categoria dos anónimos. Pertencer a essa família, resulta num tremendo opróbrio: sou cobarde, vil, biltre, e uma lista de desqualificações que seria agora fastidioso elencar. Todas elas merecidas, que ninguém duvide.
Pois bem, não discuto. Diante de valentões destes, biltre, pulha, tratante convêm-me.
Em conformidade, convido Vªs Excªas a assistirem ao que um biltre como eu faz, por pura maldade, a um génio encartado como o JPC.
Transcrevo em primeiro lugar o belíssimo trecho da sua imaculada prosa por inteiro. E depois passo à análise comentada, em partes. A itálico negro, os meus comentários. A roxo, normal, as pérolas dele.
«GOSTO de trabalhar. Gosto do trabalho bem feito. E bem pago. Mas prefiro livros e silêncios e mais livros. Demasiado anglófilo? Not really. Mas entre Joyce ou Lídia Jorge, o meu coração balança. Não acredito em nenhuma ideologia redentora capaz de ordenar o caos que nos consome. Vamos indo e vamos vendo. Sabemos pouco. Sabemos nada. Respeito a política, a única actividade verdadeiramente nobre do ser humano. Mas desprezo os políticos. Como, aliás, o grosso da espécie humana. Somos capazes de tudo. Tudo. Auschwitz e o gulag não foram páginas singulares. O pior, como sempre, ainda está para vir. Sociedade ideal? Uma sociedade onde não exista nenhum ideal. Isto faz de mim um conservador? Talvez. Prefiro a certeza do que tenho à incerteza do que não tenho (...)»
Ora bem, vamos lá então desconstruir isto. É fácil. Como se trata duma escrita Lego, ou aglomerado de telegramas, basta desmontar pecinha por pecinha.
GOSTO de trabalhar
Os chineses também.
Gosto do trabalho bem feito
O dos outros, claro está. Porque o dele, pela amostra em presença, bem pode limpar as mãos à parede.
E bem pago.
O dele, logicamente.
Mas prefiro livros e silêncios e mais livros.
A avaliar pelo que escreve, melhor seria concentrar-se nos silêncios. E, já agora, também no branco imaculado das páginas, que também é uma espécie de silêncio. Dourado, se pensarmos nos derrames dele.
Demasiado Anglófilo?
Estava a pensar mais em cretino, bacoco. Enfim, o conceito puro, sem o eufemismo.
Mas entre Joyce ou Lidia Jorge, o meu coração balança.
Acredito que sim. E entre Vaugh ou Margarida Pinto deve brincar à cabra-cega. Aliás, mais que de coração, é uma questão de estômago.
Não acredito em nenhuma ideologia redentora capaz de ordenar o caos que nos consome.
As ideologias redentoras, quando desatam a redimir, estão-se bem pouco marimbando para que se acredite nelas ou não. Em todo o caso, prefere ser consumido pelo caos, que pela fé numa qualquer ideologia. Está bem. No fundo, os seus antepassados espirituais, grandes ginastas, prosseguem a sua saga arborícola, enriquecendo com a estridência dos seus guinchos o verde luxuriante e pitoresco da selva.
Vamos indo e vamos vendo.
Sem dúvida. E os outros vão levando e vão-se despindo.
Sabemos pouco.
E fazem o mínimo.
Sabemos nada.
Por isso fazem pouco.
Respeito a política, a única actividade verdadeiramente nobre do ser humano.
Falta referir em que planeta. E, já agora, que época.
Mas desprezo os políticos.
Lá está. Não pode estar a referir-se ao mesmo planeta e à mesma época.
Como, aliás, o grosso da espécie humana.
Pois, só aprecia o fino. É um misantropo selectivo, esquisito, afectado. Em suma: um snob.
O meu amigo Caguinchas, que não é génio, sublinhe-se, também gosta muito de finos. Desde que possa bebê-los.
Somos capazes de tudo. Tudo.
Deve referir-se à quadrilha dele. Mas um pouco de modéstia não lhe ficava mal. A não ser que se trate de propaganda, marketing promocional, slogan de campanha... Ou magalomania.
Auschwitz e o gulag não foram páginas singulares.
Pelo contrário, foram páginas singularíssimas, duma grande bizarria. E Hiroshima e Dresden também.
O pior, como sempre, está ainda para vir.
Acredito que sim. Infelizmente, como não sou assinante on line, nem gasto dinheiro com lixo, não tive acesso ao resto do artigo. Mas este preâmbulo promete.
Sociedade ideal? Uma sociedade onde não exista nenhum ideal.
Um formigueiro, portanto. Ou uma aldeia global dos macacos, com uns a fazer macaquinhos, outros a tirá-los do nariz, em profunda meditação, e uns terceiros a tocar punhetas.
Isto faz de mim um conservador?
De maneira nenhuma. Temo bem que não exceda o mentecapto.O pelintra mental, melhor dizendo.
Prefiro a certeza do que tenho à incerteza do que não tenho.
A engomadeira dum amigo meu também pensa assim. E já faz férias nas caraíbas. Criatura desprezível, convenhamos. Até porque é grossa. Grossíssima. Mas anda a treinar para fina. Quando regressar de Varadero, já ameaçou, vai equipar-se com uma banda gástrica.
Moral da história:
Num mundo justo, este indivíduo trabalharia nos CTT e rabiscaria telegramas. No paraíso da mediocridade, escreve num "Semanário de referência" e há-de ser condecorado um dia destes.
2 comentários:
Olha só, tanta inveja...
seu biltre, seu elenco, seu fastio. erga-se em Jp e escolha armas
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