Hoje é dia 10 de Junho, mais um, e adivinhem o que lá vem... Pois, as condecorações, comendas e prebendas da praxe. Só com a Ordem do Mérito, é uma romaria. A Torre e Espada é ao desbarato, ao melhor estilo dos brindes da Farinha Amparo. E a insigne comenda de "Vinhos e petiscos", essa, então, é aspergida sobre a turbamulta apinocada que, maldisfarçadamente se comprime e acotovela, à babujem da carcaça. Lúgubre congresso, de facto.
Mas deixem que vos diga, eu acho muita piada a isto da Ordem do Mérito num país onde o mérito -o verdadeiro e não apenas o de pechispeque- só é reconhecível a título póstumo. Como dizia o Almada, "é um país onde Camões morreu de fome e todos enchem a barriga de Camões!"
Em todo o caso, é um protocolo, uma tradição, e ninguém morre por causa disso. Condecorem-se! Ou melhor: vão-se condecorar todos!...
Por mim, só acho que a coisa, além do clássico endoconsolo, está a ficar um pouco obsoleta. Os tempos nunca estão quietos e cada dia reclamam novas premências. É já incontornável: Mais que do Mérito, urge que se crie a Ordem do Martírio. E que seja atribuída, colectivamente, ao bom povo português.
Ainda por cima, não só o merece, como parece ser das poucos cultos cuja devoção não definha. Aqui, "martírio", entenda-se como eufemismo para "auto-flagelação". Pensem nas eleições, nos media, no futebol, entre muitas outras coisas, e confiram.
No fundo, parece repetir-se ad eternum -cá, mais do que na própria Grécia Antiga (e até moderna)- o mito arquétipo de Cronos e Urano: os filhos vêm para mutilar os pais. O que vem depois é sempre uma diminuição do que está antes. Por mais manifestos de puras intenções em que se embrulhe, redunda sempre nisso. E lá se vai, pela enésima vez, o mito do "progresso" para as urtigas!...
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