segunda-feira, abril 18, 2016

O Flagelo dos Partidos

«Nos nossos dias, chegámos ao ponto de já não nos podermos representar a vida política sem partidos, tal como a vida privada sem família.
Um mês antes do golpe de Estado de Outubro, Trotski exclama: "Que é um partido? Um grupo de pessoas que tenta obter o poder para ter a possibilidade de realizar o seu programa. Um partido que não deseja o poder é indigno desse nome."
Decerto que o partido bolchevique é único no mundo. Todavia o fenómeno dos partidos é antigo e desde longa data compreendido, ao ponto de já Tito Lívio escrever: "A luta entre partidos é, e será sempre, um infortúnio muito maior que a guerra, a fome, a peste ou qualquer outro flagelo divino".
"Partido" significa parte. Dividir-se em partidos é dividir-se em partes. A quem se opõe um partido - parte do povo?  Evidentemente, ao resto do povo que o não seguiu. Cada partido desenvolve esforços acima de tudo para si próprio, para os seus membros e não para a nação no seu conjunto. O interesse nacional é superado pelos fins partidaristas, sobretudo o que é necessário ao partido para ser reeleito na próxima vez. Se alguma medida útil ao Estado e ao povo tem por origem um partido que nos é hostil, resulta admissível não lhe concedermos o apoio. Os interesses dos partidos, a sua própria existência, de resto, não coincidem em nada com os vícios e até a derrocada do regime parlamentar proveniente precisamente dos partidos, que negam a existência da nação e até o conceito de pátria. A luta dos partidos substitui a busca da verdade - é uma batalha pelo prestígio do partido e conquistas de fatias do poder executivo. Os grupos dirigentes dos partidos políticos transformam-se inevitavelmente numa oligarquia. E a quem prestam eles contas senão aos seus próprios comités, instância que não está prevista em qualquer constituição?
A competição entre os partidos desnatura a vontade popular. O próprio princípio da pertença a um partido abafa a personalidade e o seu papael - todo o partido é simplificação e engrandecimento da pessoa. O homem tem concepções e o partido... uma ideologia.
Que podemos agora desejar à futura União da Rússia?
Nenhuma decisão radical respeitante aos destinos do Estado é da competência dos partidos, pelo que não lhes pode ser confiada. Se deixarmos que actuem livremente, será o fim das nossas províncias, a aniquilação total dos campos. Não concedamos aos "políticos profissionais" a possibilidade de substituírem a voz do país pelas suas pessoas. para tudo o que carece de conhecimentos profissionais, há o aparelho dos funcionários do Estado.
Qualquer partido, tal como qualquer associação ou união, existe livremente, nem mais nem menos, exprime e defende qualquer opinião, mas deve ser pública, registada no seu programa. (Em contrapartida, toda a união secreta será perseguida como criminosa, uma conspiração contra a sociedade). Mas não é tolerável a interferência dos partidos nos processos de produção, administração ou instrução - tudo isto está fora da política.
Em todas as eleições respeitantes ao Estado, os partidos, concorrentemente com quaisquer grupos independentes, têm o direito de propor candidatos, fazer propaganda a seu favor, mas sem constituiição de listas de partido - elegem-se indivíduos e não partidos. Contudo, um candidato eleito deve, ao longo de toda a duração do seu mandato, abandonar o partido a que pertence e agir apenas sob a sua própria responsabilidade perante toda a massa dos eleitores. O poder é uma coisa sagrada, consiste em servir e não deve ser objecto da concorrência dos partidos.
Consequência: em todos os graus do governo do estado, da base ao topo, é proibido formar grupos de membros de um mesmo partido. E a noção de "partido dirigente" cessa de existir por si.»
- Alexander Soljenitsyne,  in "Como reoordenar a nossa Rússia"

Soljenitsyne sabia bem o que significava "partido". A lógica dos partidos é uma lógica de divisão e é utilizada como espécie de "cavalo de Tróia" por parte de quem pretende enfraquecer para melhor reinar (por telecomando à distância"). Em Portugal, o regime partidocrata é simultaneamente um esquema partidofágico e uma zaragata civil de baixa intensidade (baixíssima, aliás, intensidade e o resto) em permanência. Por outro lado, e o mais nefasto da insídia partidária, é que o grupelho (tanto mais mafioso quanto maior alcance da coisa pública aufira) não experimenta quaisquer escrúpulos em  aceitar patrocínio ou aliança externa contra os seus adversários internos (em bom rigor, toda a restante população que não representa). E isto é  tão verdade para os partidos que no passado professavam a obediência soviética, como para aqueles que, no passado e ainda hoje, buscam outros tipos de cobertura noutros internacionalismos mais ou menos globalizantes. É certo que nenhum país vive isolado, mas mais certo ainda é que ninguém sobrevive na eterna dependência e a servir de capacho ou guardanapo às potências (e respectivos comissáurios domésticos).

De resto, com o 25 de Abril de 1974, houve a implantação dum paradigma político que tem vigorado até à presente data: o Partido Comunista tornou-se o modelo de todos os outros. Que significa isto? Que o Estado é o partido, a nação é a ideologia e a realidade é a propaganda. Essa receita tem variado apenas na maquilhagem e ruído da propaganda com que se promove, impinge e justifica. Nas outras duas componentes, da redução do Estado ao partido e da nação à ideologia (ou seja, da nação à dinâmica monolítica de um qualquer grémio internacional), não apenas tem havido um decalque, como esse decalque, com o correr do tempo, se torna cada vez mais descarado, frenético e opressivo.
Algumas características disso são a metástases do aparelho partidário ao aparelho do estado; a sujeição das políticas públicas de educação às taras ideológicas; a ingerência na economia segundo a conveniência da economia partidária; a submissão absoluta da política externa ao patrono internacional; a promiscuidade dos poderes, tendo como vértice  - da pirâmide de vasos comunicantes - o chefe partidártio; a auto-ilibação permanente de qualquer tipo de mal ou culpa, através da transferência de responsabilidade total para o passado ou adversários internos do presente; a demonização do passado em prol da redenção garantida no futuro, por obra e graça dos sacrifícios, trabalhos hercúleos e esforços abnegados do presente; etc.
A zaragata partidária, assim, não constitui sequer um sistema político, mas apenas um flagelo artificial. Ou dito ainda com mais propriedade, uma forma continuada de castração política... Num país impotente gerido por eunucos, em comissão externa. Sim, porque neste  neocomunismo global, há um partido único trans-nacional, que mantém sob estreito controlo uma rede de pseudo-governos de pseudo-nações satélites devidamente tripulados pelos seus comissários políticos.  Estes neocomunistas odeiam tanto os paleocomunistas como os neoconservadores abominam os paleoconservadores. Estratégias de cucos, enfim.




9 comentários:

Ricciardi disse...

A democracia (portuguesa) tem uma coisa boa. O poder de remoção. Remover um imbecil para colocar um palerma não é poder para menosprezar. À vezes é bom trocar um pelo outro.

A monarquia (portuguesa) tinha uma coisa boa. Os imbecis e os palermas normalmente não ascendiam a Rei. As excepções são isso mesmo: excepcoes. E quando as houve, foi o diabo.

A autocracia portuguesa (estado novo) tinha uma coisa boa. O Salazar. Sem ele (ou com ele num nível inadequado) a imbecilidade e a palermice regressaram aos níveis naturais.

Afinal de contas, um país não deve aspirar a ser mais do que aquilo de que é composta a sociedade. Imbecis e palermas em maioria e os restantes em minoria. Pelo que governar para palermas só o imbecil o sabe fazer bem.

Os imbecis tem uma particularidade interessante que os afasta dos palermas. O apego aos interesses nacionais e a interpretação que uns e outros fazem dos interesses.
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O imbecil vende o país aos interesses estrangeiros. O palerma oferece o país a qualquer interesse.

O que une ambos, o imbecil ao palerma, é o facto de não percebem o essencial. Os primeiros são levados a crer que vendendo o país estão a fazer boa política e que estão a ser bem vistos pelos estrangeiros. Os segundos crêem que oferecendo fazem política boa porque estão em linha com a ideologia.


separatista-50-50 disse...

A DEMOCRACIA É UMA FORMA de dotar o contribuinte/consumidor de algum poder negocial...mas, todavia, no entanto, esse poder negocial deverá ser aprofundado (ver o Exemplo I).
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De facto, apontar 'isto ou aquilo' é insuficiente... há que combater os parolizadores de contribuintes... isto é, ou seja, há que reivindicar/criar:
- MAIS CAPACIDADE NEGOCIAL PARA OS CONTRIBUINTES/CONSUMIDORES!
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Ora, de facto, o contribuinte não pode ir atrás da conversa dos parolizadores de contribuintes - estes, ao mesmo tempo que se armam em 'arautos/milagreiros' em economia (etc) - por outro lado, procuram retirar capacidade negocial ao contribuinte [isto é, querem que os contribuintes passem carta branca aos políticos... para que estes possam fazer as mais variadas negociatas com os mais variados lobbys].
---» EXPLICANDO MELHOR: um político não se pode limitar a apresentar propostas (promessas) eleitorais... tem também de referir que possui a capacidade de apresentar as suas mais variadas ideias de governação em condições aonde o contribuinte/consumidor esteja dotado de um elevado poder negocial!
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EXEMPLO I:
O CONTRIBUINTE TEM QUE SE DAR AO TRABALHO!!!
-» Leia-se: o contribuinte tem de ajudar no combate aos lobbys que se consideram os donos da democracia!
---»»» Democracia Semi-Directa «««---
-» Isto é, votar em políticos não é (não pode ser) passar um cheque em branco... isto é, ou seja, os políticos e os lobbys pró-despesa/endividamento poderão discutir à vontade a utilização de dinheiros públicos... só que depois... a ‘coisa’ terá que passar pelo crivo de quem paga (vulgo contribuinte).
Explicando melhor, em vez de ficar à espera que apareça um político/governo 'resolve tudo e mais alguma coisa'... o contribuinte deve, isso sim, é reivindicar que os políticos apresentem as suas mais variadas ideias de governação caso a caso, situação a situação, (e respectivas consequências)... de forma a que... possa existir o DIREITO AO VETO de quem paga!
[ver blog « http://fimcidadaniainfantil.blogspot.pt/ »]

Ricciardi disse...

Isto dá imbecilidade e palermice vem a propósito duma pressão (da UE) que vem sendo exercida sobre a governança portuguesa. Conseguiram convencer os imbecis de que os interesses empresariais em Angola prejudicam o rating de Portugal. Hoje vem a notícia demonstrativa. A UE exige que Portugal se desfaça dos activos em angola com muita urgência. Uma urgência inusitada.

Ora, seria precisamente agora que devíamos 'atacar' angola. Em vez de sair, devíamos entrar. 'Para angola e em força'. O preço está bom para entrar, não está bom para sair.

Rb

Vivendi disse...

Mais um post de se tirar o chapéu.

Anónimo disse...

"...o Estado é o partido, a nação é a ideologia e a realidade é a propaganda."

Está tudo aqui. Excelente.


Tiago

Anónimo disse...

Ricciardi,

remover um idiota implica participar na coisa.

Tiago

Maria disse...

Mais um texto de antologia. Mais uma vez parabéns.

muja disse...

O poder de remoção ou a democracia OMO segundo Machambas de Ricciardi.

Então agora é que era para Angola rapidamente e em força? Ahahah
A bem dos interesses empresariais!

Agora é que era desafiar o mundo, encher o peito de ar e mostrar como é!
A bem dos interesses empresariais!

Tudo pelos interesses empresariais, nada contra os interesses empresariais!

muja disse...

Mas tenho uma dúvida: se eu oferecer o país aos israelitas também sou palerma? E se vender sou imbecil?