quinta-feira, abril 14, 2016

Exegéses de conveniência




Entretanto, sucedem-se os relatos inquietantes...

Da própria frente de combate contra o ISIS, o lider duma brigada cristã - a Brigada Babilónia (devem ser anti-semitas) -,  tece comentários ignorantes acerca do sinistro agrupamento "milenarista" (conforme aqui foi revelado, neo-apocalipticamente, não há muitos dias por uma ex-fã, agora convertida ao bacorismo suicida). Oiçamos o bravo combatente (e notem que a reportagem é da BBC)::

«"So, a Christian militia," I remark.

E, de bónus, na entrevista, ainda levamos com um comentário impagável, quando o jornalista inglês pergunta ao miliciano se acha coisa própria de cristão combater o ISIS. O outro olha para ele com (calculo) um misto de cepticismo e repugnância, inquirindo de chofre   se ele é cristão. Responde o britânico que pertence à Igreja de Inglaterra. "É protestante", diz um dos outros, isso explica tudo". E, por causa das cócegas, exibem-lhe uma passagem de Lucas onde Jesus recomenda a aquisição de espadas. O grunho britânico resmoneia entredentes que "comprar a espada não terá sido em sentido literal", mas em contrapartida "dar a outra face" já deve ser lido nesse mesmo literal sentido. Portanto, é como convém ao freguês. Em prol do cristanicídio não faz falta a exegése; mas se o cristão se defende, cuidado com a leitura abusiva. Isto oriundo de protestantes que cada qual lê consoante lhe apetece e interpreta conforme a alucinação do momento, só não dá vontade de rir porque uma gana de lhes largar aos pontapés no assento da inteligência se sobrepõe. A falta que S.Bernardo cá faz!...

Todavia, para o que interessa, não só ainda não foram informados das leituras apocalípticas dos tais ISIS, bem como o seu plano alucinado de se sentarem ao lado de Cristo, durante o reinado do milénio, como os confundem com o grande derrotado desse evento, o meu primo mutante e ultra perverso, que eles nomeiam pelo seu título mais plebeu: o diabo. Por conseguinte, tal qual eu também estultamente imaginava, os tais trastes são milenaristas às avessas: querem reinar no ante-final dos tempos, mas não é com Cristo: é com a serpente satânica (e ovelha ronhosa da família, mil raios o partam!).

Por outro lado, sobrevêm também notícias preocupantes (de emissores altamente credíveis, nada de fantasistas conspirativos) que relatam um carregamento naval remetido dos Estados Unidos para a nebulosa da Síria (Al-Caeda e o diabo, passe a redundância). Além daquelas bugigangas típicas dos matadouros itinerantes a bem do Mercado, seguem várias toneladas de literatura subversiva e obsidiante. Que, segundo fonte mais que segura, inexpugnável!, é a mesma que, em várias urbes da Europa, tem circulado entre os círculos fundamentalistas e abastecedores de mercenár..., digo, fanáticos islamilenóicos do ISIS. Curiosamente, não se trata de quaisquer traduções ou adaptações do "The Porsuit of The Millennium", de Norman Cohn, mas outrossim, de algo bem mais ominoso e transtornante. Mas como uma imagem vale mais que mil palavras  (e hoje em dia, até com desenho dificilmente compreendem),  segue, em primeira mão, para o mundo e arredores, uma amostra do paradigma inspirador e mentalizador das hostes malignas. É só conferir a personagem adiante com as personagens em epígrafe. Estamos ao nível da BD e da play-station? Cada vez mais. Basta atentar no nível das geo-elites e respectivos insectos coadjuvantes.




PS: Por conseguinte, agora já podemos garantir de ciência segura: vão reinar no ante-fim dos tempos... com o Mancha-negra.

11 comentários:

João Nobre disse...

«O grunho britânico resmoneia entredentes que "comprar a espada não terá sido em sentido literal", mas em contrapartida "dar a outra face" já deve ser lido nesse mesmo literal sentido. Portanto, é como convém ao freguês.»

O problema do Cristianismo é exactamente esse, aquilo é "pau para toda a obra", mas não estou em crer que o Cristianismo possa justificar a violência mesmo em auto-defesa. Jesus Cristo se vivesse hoje seria considerado como sendo um pacifista lunático de estilo hippie e não tardaria a cair no esquecimento.

dragão disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
dragão disse...

«Cristianismo possa justificar a violência mesmo em auto-defesa»

Essa ideia é mirabolante. Cito-lhe alguns epifenómenos deveras pacifistas: Cruzadas (abençoadas, a falta que nos fazem hoje!); expansão espanhola nas américas; expansão portuguesa no Oriente (o Albuquerque, por exemplo, era só meiguices aos incréus e, aobretudo, à muçulmanada); Carlos Magno e o avô dele; católicos versus protestantes; ainda hoje na Irlanda e na Escócia é só paz e amor; etc, etc. Para mim um dos momentos altos que sempre recordarei com saudade: Godofredo de Bulhão em Jerusálem, aquando da primeira visita.
Às vezes, pergunto-me onde é que se vão buscar essa ideias peregrinas.

Aliás, a história do cristianismo é muito curiosa, E cheia de recantos surpreendentes. Recantos e grandes avenidas. Algumas, quase todas, até vêm da Grécia Antiga, veja lá bem.

muja disse...

Na guerra com razão, anda Deus por capitão.

dragão disse...

O próprio catecismo actual da Igreja católica é claro sobre a "legítima Defesa":

«2263. A defesa legítima das pessoas e das sociedades não é uma excepção à proibição de matar o inocente que constitui o homicídio voluntário. «Do acto de defesa pode seguir-se um duplo efeito: um, a conservação da própria vida; outro, a morte do agressor» (39). «Nada impede que um acto possa ter dois efeitos, dos quais só um esteja na intenção, estando o outro para além da intenção» (40).

2264. O amor para consigo mesmo permanece um princípio fundamental de moralidade. E, portanto, legítimo fazer respeitar o seu próprio direito à vida. Quem defende a sua vida não é réu de homicídio, mesmo que se veja constrangido a desferir sobre o agressor um golpe mortal:

«Se, para nos defendermos, usarmos duma violência maior do que a necessária, isso será ilícito. Mas se repelirmos a violência com moderação, isso será lícito [...]. E não é necessário à salvação que se deixe de praticar tal acto de defesa moderada para evitar a morte do outro: porque se está mais obrigado a velar pela própria vida do que pela alheia» (41).

2265. A legítima defesa pode ser não somente um direito, mas até um grave dever para aquele que é responsável pela vida de outrem. Defender o bem comum implica colocar o agressor injusto na impossibilidade de fazer mal. É por esta razão que os detentores legítimos da autoridade têm o direito de recorrer mesmo às armas para repelir os agressores da comunidade civil confiada à sua responsabilidade.»

João Nobre disse...

«Cito-lhe alguns epifenómenos deveras pacifistas: Cruzadas (abençoadas, a falta que nos fazem hoje!); expansão espanhola nas américas; expansão portuguesa no Oriente (o Albuquerque, por exemplo, era só meiguices aos incréus e, aobretudo, à muçulmanada); Carlos Magno e o avô dele; católicos versus protestantes; ainda hoje na Irlanda e na Escócia é só paz e amor; etc, etc. Para mim um dos momentos altos que sempre recordarei com saudade: Godofredo de Bulhão em Jerusálem, aquando da primeira visita.
Às vezes, pergunto-me onde é que se vão buscar essa ideias peregrinas.»

Isso são distorções da filosofia cristã que resultaram apenas da ignorância do povo (na Idade Média 98%-99% da população era analfabeta...):

http://historiamaximus.blogspot.pt/2016/01/o-cristianismo-nao-tem-forca-para.html

http://historiamaximus.blogspot.pt/2016/02/o-papa-francisco-tem-razao.html

http://historiamaximus.blogspot.pt/2016/02/o-cristianismo-apodreceu-alma-europeia.html

http://historiamaximus.blogspot.pt/2016/01/o-cristianismo-falhou.html

dragão disse...

«Isso são distorções da filosofia cristã»

Da filosofia, garanto-lhe que não. Da religião, tão pouco.

Anónimo disse...

«Se, para nos defendermos, usarmos duma violência maior do que a necessária, isso será ilícito. Mas se repelirmos a violência com moderação, isso será lícito [...].
.
Caro Dragão
Como, no meio do rebuliço, se determina isso?
Continuo a ter para mim, embora já me tenha custado alguma coisa, que se o agressor não quer um, possível "ilicito", não o deve procurar...
Carlos

dragão disse...

Caro Carlos,

Apenas expus os artigos do catecismo para demonstrar que a própria Igreja consagra não apenas o direito como o dever da legítima defesa (ainda mais em se tratando de agressão contra a comunidade).

E embora eu me considere culturalmente católico, isso não significa que me considere religiosamente católico, o que, por conseguinte, me transportaria a uma concordância ou obediência formal com a doutrina e os seus depositários do momento.

Todavia, parece-me que o sentido do trecho que indaga é, mais coisa menos coisa, este: se um tipo me dá um murro, dou-lhe uma suave carga de porrada. Não lhe dou um tiro, nem lhe assassino a seguir a família e arraso a casa de habitação. A "moderação" é um conceito bastante elástico. Mas não exageradamente elástico.

Por idiossincrasia própria, nesta matéria como em tantas outras, pratico mais a generosidade do que a moderação, embora sem cair em exageros semitas de vontade obsessiva de extermínio. Lá está: a minha herança helénica (e o cuidado de não deixar que seja contaminada por fungos espúrios). O espancamento de certos energúmenos, junto com um acto de justiça, constitui um dever de caridade.

Mas diga-se que não é o catolicismo que o demove ou sequer inibe sitematicamente: é o fariseísmo roncante e pandémico das sociedades actuais. Até porque os mesmos que praticam exorbitâncias de violência e extermínio inauditos, são os mesmo que promovem a mariquice e o delíquio moral entre as massas ocidentais.

Anónimo disse...

Ok caro Dragão, tem razão.
Vi este vídeo à uns dias e a ser verdadeira a tradução do que Putin diz, não admira a raiva de muitos para com o homem.
Parece que o homem teve a coragem de dizer aos judeus, aquilo que eles à muito sabem. Que a barbárie bolchevique, recai quase exclusivamente sobre os seus ombros.
https://www.youtube.com/watch?v=7bSAB5OPkwQ

Maria disse...

"O espancamento de certos energúmenos, junto com um acto de justiça, constitui um dever de caridade."

"Mas diga-se que não é o catolicismo que o demove ou sequer inibe sitematicamente: é o fariseísmo roncante e pandémico das sociedades actuais. Até porque os mesmos que praticam exorbitâncias de violência e extermínio inauditos, são os mesmo que promovem a mariquice e o delíquio moral entre as massas ocidentais."

É tal e qual como escreveu. Ou, mais concretamente, como descreveu o tema em debate.

Mais uma vez parabéns pelos seus magníficos textos, sobretudo os mais recentes e pelos seus inteligentes comentários ou, se preferir, pelas suas respostas (exíguas, embora e que pena!) aos comentários de alguns leitores. Alguns deles mereciam indubitàvelmente notícia de caixa alta num qualquer jornal de referência. Não dos que há pr'aí e assim erradamente se intitulam, mas num jornal verdadeiramente independente da política e dos negócios - que infelizmente ainda não existe - a ser fundado.