sábado, janeiro 17, 2009

Os sub-animais cujo suplício os animais tanto gostam

Bem, pode até nem ser psicopatia arreigada e atávica. Que até já esqueceram o salmo 109 e se contentam com o saldo actual do 137. Digamos então que é por mero tédio, por simples lazer e entretenimento. E, falando com franqueza, quem os impede? Ora, se ninguém os impede é porque, decerto, não há nenhum mal nisso. Oferecem-lhes, de mão (e cu) beijados, toda aquela panóplia santa, pagam-lhes as contas todas, dão-lhe cobertura, mimo e encorajamento, sejamos francos: aquilo não é um país, é um parque infantil. Plantado bem no meio duma reserva animal. Escavacam coisas? Torturam e sacrificam animaizinhos mai-las respectivas crias? São crianças, querubins travessos. E as crianças são mesmo assim: irrequietas e traquinas. Cruéis, muitas vezes; destrutivas e violentas, sobretudo quando lhes dá a birra. Ou quando as contraria algum obstáculo, comichão ou borbulha. Mas não fazem por mal. Como poderiam fazer uma coisa que nem sequer conhecem? Não pensam; andam à bolina da gana e do aleive. São selvagens, mas são bons. A excepção à regra. A civilização ainda não os contaminou nem perverteu. São imunes a esse contágio. Resistem ainda num estágio pré-adâmico. Regrediram miraculosamente ao éden primordial. Não comem porco, nem a maçã que o porco abocanha, tão pouco. Ainda desconhecem, assim, incólumes, tanto o pecado original quanto a antropofagia familiar. Como não há-de toda a humanidade invejá-los? Impossível não detestar uma cornucópia vitalícia, uma liberdade pródiga destas. Como não hão-de os nossos liberdadeiros fitá-los em êxtase? São os seus pequenos heróis, o seu action-me de carne e osso, a vedeta a que aspiram quando forem grandes. Quando o girino cabeçudo, um dia, dobrado o cabo do batráquio anfíbio, chegar a gente. Ou ainda, nos casos mais assanhados, quando, finalmente, em todo o seu esplendor zelota, de dentro da barbie histérica com o ratinho, desabrochar o Judas Macabeu latente.
Metamorfose, essa, que, felizmente, já se vai assistindo por aí. Pena que, à semelhança da poção mágica do Asterix, seja de efeitos passageiros. O que resulta, fatalmente, em recaídas caricatas. Como, por exemplo, a do bravo JCD, que agora, como lhe compete e a claque obriga, se baba e ulula, viril, diante daquele matadouro completo, mas que, mal nova trégua advenha, logo retorna àquela florzinha delicada e sensível que lacrimeja e quase desmaia diante do sangue e do sofrimento do pobre toiro a ser lidado na arena.

E, realmente, «como é que alguém consegue gostar de um "espectáculo" que nos mostra imagens destas»:



Quando temos espectáculos que nos disponibilizam imagens bem mais edificantes e mais dignas da nossa galhofa como esta:


Hein??!...

Bela questão, de facto.
Bem podiam, estes liberdadeiros da tanga, limpar-se nela.

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