sábado, janeiro 10, 2009

Paludismo Esthérico

Há três dias, confessava-nos o Miguel:
«Finalmente, catorze meses no Sudeste-Asiático cobrados pela natureza. Um febrão misterioso, chegado com a fulminância de um raio, deixa-me imóvel na cama, com picos de 40 graus, uma transpiração aluvial e um frio gélido que atinge o tutano. Ontem, após doze horas de convulsões, até tive uma alucinação. É verdade, a luz do dia passou a ser vermelho, de um vermelho cor de sangue e cheguei a perder acuidade auditiva.»

O relato mais detalhado da alucinação e do dodecadromo convulsivo, publicou-o ontem. Um delírio verdadeiramente esgazeado, perdoe-se a ironia, onde a cassete e a floresta australiana se entrepenetram num perfeito crepúsculo de baratas, centopeias, bichos-de-faz-de-conta e outros invertebrados igualmente rastejantes. Em resumo, depois de ver tudo a vermelho, o pobre Miguel começou a ver-se ao espelho e descobriu plantada neste a figura soturna e tutorial da dona Esther Mitzeschlenãoseiquantos. Pior pesadelo e mais adunca penca não se conhecem.

Daqui, comiserado, envio os sinceros votos de melhoras.

Até porque daí, donde delira, coitadinho, piorar, convenhamos, é muito difícil.
Sugiro-lhe até um método de prioridades na recuperação da saúde: procure primeiro os óculos, ou as lentes, hão-de andar algures por aí. Depois, já equipado destes, recuperada a capacidade mínima de focagem, procure no chão, nas gavetas, nos armários, porque também por lá andarão, decerto, esquecidas e dispersas: as vértebras. Uma vez restaurado na plena posse destas, vai ver que se põe de pé num instantinho. Remédio santo!






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