segunda-feira, janeiro 05, 2009

Pura e Imaculada Devoção

Há aqui algo que não bate certo. Por um lado, as pessoas delicadas e sensíveis da nossa esquerda de trazer por causa, cheias de temor ao labéu anti-semita, apressam-se a proclamar o mais solene direito do Estado de Israel à existência naquele preciso local. Por outro, esses mesmos tele-samaritanos barafustam escandalizados com o exercício da existência do Estado de Israel. Como quem atira com o fósforo ao rastilho e depois clama para que o rastilho não arda.
Poupando perpilóquios (escusam de procurar no dicionário, porque acabo de inventá-la) e peripaideias, deixem que pergunte: porquê ali e não noutro sítio qualquer? Porquê na Palestina e não no Hawai, em Sacavém, nas Bermudas ou no Ruanda de Baixo? Então, por causa dos pergaminhos históricos, explicam-me. Com certeza não se referem à história laica, porque o primeiro a despachá-los para lá em larga escala, por pura motivação profana, foi o Adolfo Hitler. Referem-se, portanto, e necessariamente, à história religiosa. Até porque como se trata da teocracia mais antiga (e obsessiva) do planeta, não há como separar uma coisa da outra. O Ihavé deles é, como sempre foi, tanto quanto o Padroeiro-Mentor da Estratégia, o General Supremo dos Exércitos. É Deus Guerreiro, Deus-tempestade, lá dos desertos, ainda vocês não palitavam dentes e já eu sacrificava pestanas na hecatombe destas coisas. São Deuses cruéis, os desta gente. Basta recordar os Assírios. Ora, os Hebraicos ancestrais o que fizerem foi simplificar o panteão num monoteão (e miniteão, também). Ou seja, um panteão portátil. Como eram nómadas, uma ciganada transumante daquelas, necessitavam duma divindade facilmente transportável. Um Pronto-a-levar e Pronto-a-invocar que coubesse na mochila. Também, porque não tinham terra, um deus em forma de gás, um aero-teos (como diria um grego), um deus de certa forma exacerbado dos deuses da família, que, como bem sabemos, cabiam e eram transportados em garrafas. Ihavé, bem vistas as coisas, é apenas um Super-Génio (da garrafa). Aliás, também não é por acaso que os neo-judeus (vulgarmente conhecidos por protestantes) retornaram gulosamente a este conceito catita de Deus-celular, Deus-telemóvel (para usar uma terminologia mais lusíada). E, simultaneamente, garrafinha de mau cheiro. Mas não nos extraviemos, senão daqui a nada ainda vos estou a maçar com aventuras dos meus tempos heróicos de brioso garimpeiro do aramaico. E para Massada já bastou a que os Romanos tiveram que aturar.
Resumindo e concluindo... Por conseguinte, ó flausinos, não se compreende o escândalo com criancinhas chacinadas e demais familiares aos pedaços. Dais de bandeja o reto e depois quereis preservar o esfíncter? Se os tampinhas têm direito àquilo por Dádiva divina, não há como contornar nem evitar a coisa: o Ihavézinho não lhes deu apenas a concessão territorial - ordenou imperativamente que exterminassem quem lá estivesse. Ora, com um intervalozinho de meia dúzia de milénios (uma mera gota de água no mar da eternidade, convenhamos), é exactamente isso que eles, com paulatino método, vêm ultimando.
Açougueiros? Carniceiros? Nem por sombras. Talibuns? Superficial relance. Ogres? Nem nunca! Gente ultra-devota, isso sim. Serafinórios até mais não. A vós, ignaros incréus, parece-vos chacina. Mas, para eles, claustrofílicos do tabernáculo, é ritual.

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